Marcella
Já faz uma semana que saí do hospital e Gael fugiu, sem falar mais nada com a gente. Achávamos que ele voltaria uma hora depois e bem, acabou virando uma semana como eu disse.
Preocupada? Nem um pouco, ele já fez isso e depois de um mês voltou. É só um surto.
Bom, atualizações. Debora obviamente ficou triste, mas agora está puta da vida com o meu irmão. Não só ela, todos o moleque do nada fala que vai embora e não volta. É muito sem nexo, já avisamos os policiais uns dias atrás e dizem que estão atrás. Eu e Breno estamos de boa, apenas melhores amigos e nem fomos para a cabana depois daquele dia viemos direto para o apartamento.
Avisei os meus pais, permitiram que eu continuasse em Araçatuba. E pagariam os remédios e as consultas com a psiquiatra, falando nisso.
Fui e foi até aliviante, me senti outra pessoa. Mentira, chorei horrores e não consegui dizer nenhuma palavra se quer. Só que não próxima consulta tentarei ser um pouco mais forte e ela não recomendou os remédios, porque preciso falar o que estou sentindo para então começar. E em questão disso, estou muito tensa, ansiosa, nervosa, tudo que termina com "osa" eu estou.
Maysa: Marcella!- volto para a realidade. Olhando para a mesma me chamando.- se acalma.- ela pega na minha mão sorrindo, paro de bater o pé e estalar os dedos.
Esqueci de dizer, estou na delegacia. Para dar o meu depoimento sobre o caso e ver sobre a minha irmã.
Policial: senhorita Rodrigues.- o olho.- me acompanhe.
O segui até uma sala, bem de filmes. Apenas uma mesa com duas cadeiras e um vidro escuro, que obviamente sabemos que dá para ver atrás.
Senhor Carvalho: bom dia senhorita Rodrigues.- apenas sorri.- bom, vou fazer algumas perguntas.
Marcella: respondo apenas com o meu advogado presente.
Senhor Carvalho: por que senhorita?
Marcella: porque sei muito bem, que qualquer coisa eu falar. Vocês não vão acreditar em mim e já que vocês escutem apenas os homens, quero o meu padrinho presente nesse caso.
Senhor Carvalho: claro que vamos acreditar em você.- sorri com a "ironia" dele, negando com a cabeça.- qual a graça.
Marcella: falar é fácil, quero ver na prática.- cruzo os braços.- não importa o que eu falar. Pois o que aquele idiota disser vão ficar no lado dele e me taxar de falsa, se eu chorar vão me chamar de chorona e de dramática e só estou aqui por conta do delegado Guilberth. Porque nem sentada eu estaria aqui.
Senhor Carvalho: está querendo dizer o que com isso?
Marcella: que só quero mulheres no meu caso. Até mesmo a delegada e a juíza. Elas sim vão me escutar e entender um pouco do meu lado, e até mesmo de longe. Elas conseguem enxergar um filha da puta, diferente de vocês que pega o caso e joga no lixo como se aquilo não se importasse.- seu rosto se fecha.- que foi? Conheço a mulher do delegado.- sorri de canto arqueando a sobrancelha.
Senhor Carvalho: isso é mentira.
Marcella: seríssimo. Pode perguntar aos seus colegas.- aponto para o vidro.- e olhar até mesmo nas câmeras de segurança. Me pergunto até hoje porque não jogaram o meu fora.
Senhor Carvalho: por hoje está encerrado.- fechou a pasta.- conversarei com a delegada e até semana que vem você fará o seu depoimento, a propósito. Passei o caso da sua irmã para o Guilberth, a verdade, não tava nem aí e ele que começou a resolveu isso.- se levantou e abriu a porta.- pode se dirigir a recepção, que já já iram te chamar.
Levanto e paro perto dele
Marcella: obrigada e bom dia.- saiu e sento ao lado da Maysa, tomando fôlego novamente e tentando manter as lágrimas.
Maysa: o que rolou e aí?- falei para ela.- que corajosa, esperamos que você consiga e todas as outras que estão passando por isso.- assenti.
Meu padrinho aparece, cumprimento o mesmo. Ele olha em volta procurando por alguém.
Ricardo: cadê o Gael?
Marcella: bem.- engulo em seco.- não conta para a minha mãe.- cruzou os braços e conto tudo.- agora não temos nem a localização.
Ricardo: não acredito.- bufou.- vamos logo resolver isso e vou conseguir achar o seu irmão em dois dias.- agradeço.
Ainda bem que meu padrinho é calmo pegou essa personalidade do meu avô. Porque se já fosse as irmãs dele, estaria berrando aqui dentro e aproveitei. Já contei o barraco que fiz lá dentro.
Meu padrinho não falou mais nada e foi para a recepção.
Olho para a porta. Está Guilberth e Breno conversando, eles acenem e aceno de volta. Droga agora estão vindo na minha direção.
Guilberth: olá senhorita Rodrigues.- me levanto e o cumprimento.
Marcella: apenas Marcella está ótimo.
Guilberth: okay, vou esperar o seu tio resolver umas coisas lá e já já iremos conversar. E já soube do bafafa que você deu lá dentro.- olho para Breno discretamente chocada. Ele está segurando a risada.- não está errada, tem o seu direito. Só que às vezes tem que tomar cuidado principalmente com o senhor Carvalho.
Marcella: eu entendo. Só que apenas deixei fluir e acabei me soltando, e provavelmente devo ter falado algumas coisas a mais.- ele faz uma cara de preocupado.
Guilberth: Breno só me contou um pedaço e o Carvalho o resto, foi até uma boa você ter dito aquilo do lixo. Foram muitos casos que já peguei no lixo, porque aquele sem coração pediu para jogar e tive que resolver. Foi dizer isso que ele teve um pouco de "compaixão".- fez aspas.
Ricardo: bom dia.- levo um susto.- senhor...- se cumprimentam.
Guilberth: delegado Wick, mas pode me chamar de Guilberth sem problemas.- soltaram.- bom, vamos resolver algumas coisas.- meus amigos levantam e segue a gente, Guilberth parou e olhou para trás.- vocês conhecem as regras meninos, infelizmente não posso permitir. Apenas o advogado e a testemunha.- assentiram.- vão comer alguma coisa ou fazer algo, porque vai demorar.- saíram de lá cabisbaixo.
Entramos na sala e sentamos na sua frente, minha ansiedade ataca novamente sem hesitar. E dessa vez não consegui controlar rapidamente, minhas respirações foi ficando mais profundas e coração a mil. Eles percebem a minha situação e tentam fazer algo, falam para eu me controlar mas não conseguia, já estava tudo fora eixo.
Marcella: chama o Breno.- digo com dificuldade.
Guilberth: o que?
Marcella: chama o Breno, por favor.- meu padrinho saiu de lá rapidamente.
Breno: calma, está tudo bem.- pegou a cadeira e se sentou ao meu lado.- respira.
Marcella: eu não consigo.- começo a chorar.
Breno: você consegue, se chegou até aqui. Você consegue respirar vou fazer junto, vamos lá. Respira fundo e prende.- foi contando até dez.- solta devagar com a boca.- fiz isso e repetimos o processo. Consegui me acalmar um pouco.- trazem um pouco de água.- alguém foi.- agora lembra de um momento engraçado.- riu lembrando de um vídeo que vi no tik tok.- um momento marcante.- lembro da primeira vez.- canta uma música pop para mim.- canto Earned It todo errado e rimos. Ele continuou perguntando.
Não reparei mais nada em minha volta, na minha imaginação estava apenas eu e ele. Se eu me distraisse voltava tudo de novo.
E como ele sabe desse truque? A psicóloga pediu para que fizéssemos isso juntos.
Desculpe. Eu não contei verdade. Breno foi junto só que estava do lado de fora e enquanto eu chorava, ela perguntou se tinha alguém junto respondi que sim. Ela chamou e explicou esse exercício para o Breno, para quando eu tivesse um ataque de pânico. No consultório deu certo, mas como já tinha acabado a hora não deu para contar as coisas para ela e bem, estamos repetindo esse processo que deu certo pela a segunda vez.
Finalmente fiquei um pouco mais calma, eles queriam que eu fosse para casa e neguei. Preciso saber sobre a minha irmã logo estou preocupada desde do momento que começou o caso.
Está meu padrinho na ponta, Breno no meio e eu na outra. Guilberth está apoiado na mesa olhando os papéis, aperto a mão do Breno que acaba soltando um aí, desculpo.
Guilberth: vamos lá, o cara morto que achamos. Não era o Felipe e sim outro cara.- fico confusa.- a gente achou um corpo morto e pensamos que era ele, mas alarme falso. Sua irmã foi achada.- respiro leve.- com alguns ferimentos, uns profundos e outros leves, ela estava dopada e já está sendo cuidada em Ji-Paraná.
Ricardo: você quer dizer, que eles não estavam aqui e sim em Ji-Paraná?- assentiu.- tá, mas e o Felipe? E as ameaças?
Guilberth: esse cara morto, era um dos ajudantes dele e quem nos disse isso. Foi Kaio o seu ex, ele viu esse cara um dia tentando entrar no apartamento e impediu.
Breno: quando?- o aperto.
Guilberth: quando vocês dois voltaram sozinhos de uma festa e pegaram vocês se pegando. Quer dizer, ele foi lá conversar com você.- apontou para mim.- e viu esse cara tentando entrar. Aí saiu nos tapas, o rapaz contou e logo fugiu e quando entrou, viu ambos e diz ele que tentou avisar sobre isso. E não deram bola.- olho para Breno, que está coçando o queixo e forçando o maxilar.- não sabemos como esse cara morreu, mas que era o "pombo correio" do Felipe ele era.
Ricardo: e aonde está Felipe?- abaixou a cabeça engolindo seco.- diga Senhor Wick.
Guilberth: aqui, em Araçatuba.- a ansiedade ataca, Breno está acariciando a minha mão.
Ricardo: e porque não pegaram ele?
Guilberth: soubemos que ele veio de táxi, de Ji-Paraná até aqui e foi ameaçando o taxista. Agora estamos a busca. Vou precisar do seu telefone Marcella, para quando ele ligar ou mandar mensagem já termos uma localização direta.
Marcella: vou entregar, mas Felipe não é burro desse tanto.- o entrego.- podemos ir?
Guilberth: podem, conversarei um pouco mais com o seu padrinho.- assenti levanto e saindo de lá rapidamente.
Breno
Marcella saiu sem dizer nada para ambos e nem me esperou. Fui até a porta, Ricardo me chama o olho.
Ricardo: garoto, cuida bem da minha sobrinha e não a perca. Você é muito especial para ela.
Breno: somos apenas amigos.
Ricardo: não importa o que sejam, apenas continue cuidando dela. Porque o quanto essa menina sofreu e sofre, não está escrito. Você é um anjo na vida dela e te digo uma coisa.- se aproximou.- os destinos vão se entrelaçar e vão até se casar.- sorri.- tô te falando e quero ver você no altar.- o abraço.- obrigado garoto.- nos soltamos.
Guilberth: Friends don't look at friends that way.-- amigos não olham para amigos dessa maneira.-- ele diz o trecho de uma música e sorri mais.- tchau Breno.
Aceno para ambos e vou até ela, vejo sentada na escadaria. Me aproximo chamando para ir embora e voltamos para o carro, um pouco mais leve. Porém, bem mais preocupados.
***
ANSIEDADE e DEPRESSÃO não é brincadeira, procure um profissional para te ajudar o quanto antes.
Saiba que tudo ficará bem ❤:)