O corpo de Thomas estava ali mas a sua mente tinha sido roubada, enfeitiçada e já não lhe pertencia, por momentos esqueceu-se do que estava ali a fazer, esqueceu-se até do próprio nome. Abanou a cabeça com alguma violência enquanto falava consigo dentro da sua própria cabeça. 'Fookin hell, Thomas, o meu nome é Thomas!'
Voltou a olhar para ela que agora fazia o caminho através do salão, havia uma pequena abertura entre o amontoado de pessoas que ali estavam que lhe permitiu não a perder de vista, viu-a pegar no pequeno cinto que tinha um nó no lado esquerdo da sua cintura para o ajeitar até que foi interrompida pela mão de um homem na sua perna desnuda que a puxou para si. Thomas não pensou apenas reagiu, mandou o cigarro para o chão e meteu a mão por dentro do casaco para tirar a arma e matar aquele filho da puta que se atreveu a tocar-lhe.
-"Tommy que merda estás a fazer?"- Artur disse agarrando o irmão fazendo-o sair do transe por breves segundos. Quando os seus olhos voltaram a ela, toda aquela cena passou em câmara lenta à sua frente. Ela travou o seu andar quando sentiu a mão daquele homem em si, sorriu levemente de lado e numa fracção de segundo pegou na cabeça do homem fazendo-a bater com toda a força contra a mesa. Desviou a saia através da abertura para tirar a arma que tinha presa na liga mais acima, pegou-lhe novamente nos cabelos puxando-o para trás e enfiou-lhe o cano da arma por baixo do queixo.
-"Toca-me outra vez e és um homem morto!"- ela já o tinha visto mais cedo naquela noite, sabia que era estrangeiro por isso falou-lhe em inglês para deixar bem clara a sua posição. O homem ensanguentado gemia de dor, enquanto os seus amigos se afastavam de braços no ar com receio de serem os próximos. Thomas abriu a boca sem acreditar no que tinha visto, ela não podia ser real.
-"Fook ela tem de ser cigana! Que mulher!"- Arthur deu uma gargalhada e meteu as mãos atrás da cabeça, divertindo-se com a cena.
-"Tommy é ela o plano? Ela fala inglês, será que nos ouviu e somos os próximos?"- Perguntou Finn com a garganta seca. Thomas abriu o sorriso com o comentário do irmão, não era ela o plano mas ia dar um jeito de se aproximar.
-"Podemos precisar de uma tradutora no meio desta porra toda."- respondeu para em seguida voltar a meter um cigarro nos seus lábios.
-"Sim claro, uma tradutora! Estás enfeitiçado, irmão?"- Arthur abriu ainda mais o sorriso.
-"Hey, basta Arthur!"- Thomas apontou o dedo na cara de divertimento do irmão e voltou a olhar para ela que já tinha guardado a arma na liga e fazia agora o caminho para o balcão, assim que a viu entrar para dentro do bar e começar a servir bebidas e a limpar o mesmo as suas sobrancelhas subiram de espanto.
O balcão ficou desimpedido o que deu uma visão perfeita da morena aos Shelby que depois de servir um cliente retirou da frente dos seus olhos uma madeixa do seu cabelo ondulado e foi quando olhou para Thomas. O primeiro olhar foi de relance mas a fracção de milésimos de segundo que o seu cérebro levou a processar a imagem do homem mais bonito que já vira obrigou-a de forma involuntária a fixar-se novamente naqueles olhos azuis cor de oceano. E essa foi a primeira vez que ela se perdeu naquele olhar, que estava tão despedaçado quanto o seu. Thomas soltou a fumaça quando reparou na presença de um homem mais velho ao fundo do bar, este olhava fixamente para a mesa dos Shelby enquanto um outro homem lhe dizia algo em segredo e apontava discretamente para a sua mesa.
-"Tommy é ele."- Disse Arthur aproximando-se do ouvido de Thomas que assentiu com a cabeça, sem quebrar a troca de olhares com a morena. Ela continuava paralisada, perdida nos seus pensamentos, atraída por um estranho de uma maneira quase fatal, despertou quando sentiu a presença do homem mais velho perto de si que sem deixar de olhar para a mesa dos Shelby lhe segredou algo, o que a fez olhar novamente para Thomas. Virou-se, pegou numa garrafa de whisky e 3 copos e passou pelo mais velho que dava um trago profundo no seu charuto. -"Aqui vamos nós.."- disse Thomas para si.
Helena saiu do bar com a cabeça a mil e a respiração descompensada, enquanto que Thomas guardava para si aquele momento que se desenrolava em câmara lenta na sua cabeça, aquela mulher que agora vinha direita a si parecia saída do céu. Helena aproximou-se da mesa sem quebrar o olhar com Thomas e o primeiro copo que deixou na mesa foi o de Finn, em seguida o de Arthur e o copo de Thomas só o posou depois de dar a volta à mesa e passar por trás do mesmo sentido o seu perfume amadeirado.
-"É irlandês, por conta da casa." disse Helena novamente em inglês, enviando uma mensagem clara aos Shelby de que Joaquim sabia que tinham chegado.
'Fodasse que tom angelical..'
-"Sabe quem somos?"- Perguntou Thomas olhando para a morena que tinha começado a servir o copo de Finn.
-"Os Peaky Blinders não precisam de apresentações."- Helena aproximou-se de Thomas para lhe encher o copo, dando-lhe a possibilidade de cheirar o perfume a mirtilo e rosas daquela mulher, que lhe provocou uma estranha sensação. Olhou para a mão da linda morena e viu anéis e símbolos que lhe eram familiares.
-"E a senhora é?"- Perguntou Thomas em expectativa.
-"Helena Marques."- ela disse deixando a garrafa em cima da mesa.
-"É cigana, Helena?"- Thomas tirou tempo para pronunciar o seu nome de forma sedutora. Helena deteve-se uns segundos no seu olhar tentando a todo o custo lê-lo, assustou-se com o que viu, não era altura para aquilo. Formou um pequeno sorriso nos seus lábios vermelhos.
-"O meu tio virá visitá-los daqui a pouco."- Helena disse olhando também para Arthur e Finn que tinha um ar de criança embalada pela morena.
-"Bem-vindo a Portugal, Mr.Shelby"- Thomas arrepiou-se, o nome dele vindo da sua boca parecia quase poético. Helena voltou para junto de Joaquim que viu toda aquela cena atentamente, iria deixar esvaziar o pub antes de ir até aos Shelby.