Jardim de Papel (taekook ABO)

By Nyx-in07

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Kim Taehyung, um garoto simples e único criado numa fazenda no interior de Daegu, Coreia do Sul, tem o sonho... More

Margaridas na Janela
O Almoxarifado N° 1
Azul Hortênsia
Luz na Escuridão
Florzinhas de Papel
Cabelos de Fogo
Dia de Cão
Garrinhas Afiadas... Ou Nem Tanto
Especial - O quê era Antes para se tornar Depois
O Vencedor
A Mui Nobre Família Ling
Se Queima em mim, Queima em você?
A Família Que Escolhemos
Amor Entorpecido e Instigado
Onde Deve Estar
Não Pode Ser Escondido
Profundezas do Desespero
Estou Aqui Agora
Incêndio
O Pardal Perdido Que Não Podia Planar
A Mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas

Um Chefinho Muito Estranho

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By Nyx-in07


                                                         🌸🌸


Jeongguk não veio.

Taehyung esperou ansiosamente pelo resto da tarde, olhando para a porta e imaginando Jeongguk passando por ela, vendo a maravilhosa mudança que Taehyung fez e parabenizando-o, quem sabe até sorrindo. Como seria ver o sorriso de Jeongguk ao vivo? Taehyung apenas idealizava.

No entanto, horas e horas se passaram e nada dele.

Taehyung voltava cabisbaixo de uma entrega para o setor criativo, esperando o elevador e segurando sua caixa contra o estômago. Talvez Jeongguk esteja muito ocupado para ir, ou tenha esquecido. Quem sabe amanhã... Sim, certamente ele iria amanhã...

– Socorro!

Taehyung arregalou os olhos para a figura que disparava desesperadamente pelo corredor. Era um rapaz alto de cabelo loiro que fazia umas caretas engraçadas enquanto corria.

– Você, por tudo que é mais sagrado, me esconda! – exclamou, agarrando Taehyung pelos ombros.

– Qual é o problema? – perguntou Taehyung, assustado, sentindo a respiração ofegante e o desespero nos olhos dele contagiando-o.

– Não há tempo para explicações! Ela está me perseguindo! Rápido, me esconda!

Taehyung sondou ao redor. Na esquina do corredor, apareceu uma mulher de cabelo roxo e roupas escuras. Ela olhava de um lado para o outro, procurando sua presa fujona.

Taehyung empurrou o rapaz para o elevador bruscamente, fazendo com que ele batesse as costas na parede do fundo.

– Aperte no primeiro andar, eu vou despistar ela. – explicou Tae rapidamente.

As portas se fecharam. Taehyung olhou para a mulher, que corria em sua direção parecendo um rinoceronte furioso.

– Ei você! Viu um cara loiro, mais ou menos dessa altura, passar por aqui? – indagou ela, vermelha e ofegante.

– Hm? Ah, sim, ele usava uma camisa rosa?

– Sim!

– Jeans azul claro?

– Sim, sim!

– Uma boina preta, brincos dourados e uma pulseira bracelete de brilhantes?

– Vai dizer onde ele foi ou não?! – sibilou a raivosa mulher, seus cabelos púrpura bagunçados pela corrida.

– Ah! Sim, certamente, eu digo. Ele foi para o décimo quinto andar.

– Tem certeza?

– Ora, mas é claro. Eu nunca, nunquinha, tive tanta certeza de algo! – ele piscou os olhos duas vezes, cerrando os lábios num sorriso.

A mulher pegou o elevador para o décimo quinto andar. Quando ela se foi, Taehyung suspirou aliviado.

– Ufa! Que mulher assustadora! Achei que ela iria fazer picadinho de mim!

Quando Taehyung chegou ao primeiro andar, o rapaz o esperava em frente ao elevador.

– E então? Despistou ela? – perguntou ele, olhando ao redor como se a mulher pudesse aparecer do nada com o mero som de sua voz.

– Uhum! Ela foi para o décimo quinto andar! Você está seguro, moço.

– Ainda bem! A minha agente, Naeun, é uma pessoa legal na maior parte do tempo, mas é muito mandona. Às vezes preciso fugir dela para ter um pouco de paz. E... nós nos conhecemos? Parece que já vi você em algum lugar... Ah! Lembrei. Você é o menino da cafeteria!

– Sou o Taehyung. Agora eu me lembrei. Seu nome é Jin, você é o moço bonito!

Jin deu uma risada um pouco convencida.

– As pessoas me acham bonito, mas não costumam dizer tão diretamente. Obrigado, Taehyung, por me acobertar.

– Não foi nada, senhor moço bonito, eu sei bem o quê é querer fugir de alguém. Ela não vai te achar aqui. Quer vir até meu almoxarifado?

– Ah, eu não sei...

– Ainda tem um pouco de bolo de chocolate!

– Ora, o que estamos esperando? Vamos logo!


                                                              🌸


20 minutos de conversa depois, Taehyung e Jin já sabiam tudo da vida um do outro. Ambos eram tagarelas e conversavam pelos cotovelos e Jin adorava falar sobre si mesmo tanto quanto Taehyung gostava de ouvir. Jin havia surrupiado o bolo de chocolate para ele, e Taehyung estava muito contente por ter um novo amigo.

– Então você fugiu de casa e veio até Seul sozinho? Que loucura! E está morando com o Jimin? Nós somos amigos há bastante tempo. Ele tem toda aquela pose, mas é muito coração mole.... O quê? Você jogou uma Enciclopédia no Hoseok?! Ainda bem que foi nele, qualquer outro teria ficado uma fera, mas Hoseok é calmo como um padre e nunca fica irritado. E se prepare para receber muitas ligações de Namjoon, aquele lá perde até a própria cabeça se duvidar.

Jin estava muito entretido ouvindo as aventuras de Taehyung em um único dia de trabalho. Ele falava umas palavras difíceis eventualmente, mas era adorável e sempre ria de suas piadas.

Já Taehyung ficou admirado com o fato de Jin conhecer todo mundo. Ele era modelo há muito tempo e trabalhava com a JE-ON desde o início de sua carreira. Também era amigo íntimo de Jeongguk, o que deixou Taehyung particularmente interessado.

– Ah, Jeongguk é um caso à parte – falou Jin com um aceno de mão, depois de Tae ter mencionado Jeongguk "casualmente". – Ele sempre estudou e trabalhou muito. Fez duas faculdades ao mesmo tempo, acredita? E passou com êxito em ambas. Moda e Administração. Ele fazia de tudo para impressionar o pai, mas o velho morreu antes que ele se formasse. Se quer saber, Jeongguk administra a JE-ON muito melhor que o pai dele e deu muito poder à marca. Expandiu horizontes.

– Ele não parece muito feliz, entretanto. – continuou Taehyung.

– Bem, sim... – concordou Jin, parecendo aflito de repente. – Mas é o preço que se paga por tanto sucesso, não é? É necessário trabalho duro...

– Imagino que sim... – sopesou Taehyung.

– Não se preocupe com o Jeongguk. Se fizer seu trabalho direito, ele não vai te incomodar. – garantiu Jin, mas Taehyung não estava menos apreensivo. Ele não sabia porquê, mas Jeon Jeongguk habitava cada vez mais seus pensamentos.

– Poxa vida! Já são cinco horas! – exclamou Taehyung, olhando para o relógio na parede. – Preciso ir para casa.

– Quer carona? O Jimin ainda vai ficar preso numa reunião até as 18.

– Ah! Muito obrigado, senhor moço bonito! Eu adoraria.

– Certo, então vamos. E pare de me chamar assim. – riu Jin. – Pode ser só Jin-hyung.

Jin-hyung é perfeito! 

No hall, eles encontraram com Namjoon, que carregava uma enorme caixa de papelão entupida de coisas de escritório e pastas.

– Jin-hyung! Oh, e o garoto do almoxarifado! – declarou ele, sorrindo e mostrando suas covinhas.

– Namjoonie, que bom ver você! – disse Jin, abrindo um sorriso sem tirar os olhos do chefe de contabilidade.

– Sr. Kim das Covinhas! Onde está indo com tantas coisas? – perguntou Taehyung, indicando a caixa que ele segurava.

– Para casa. Resolvi seguir seu conselho e organizar minha sala.

– Isso é muito bom! Agora não vai mais perder suas coisas!

– Ah, isso seria impossível! – corrigiu Jin – Quando Namjoon não está perdendo suas coisas, ele está quebrando-as!

Todos riram, as bochechas de Namjoon ficando levemente coradas.

– Que bom que voltou, Jin-hyung. Essa empresa estava um tédio sem você. –confessou Namjoon, sorrindo.

– E deixar esses modelos novinhos roubarem toda a atenção da coleção de primavera? Puff, eu ainda não estou louco. Ainda consigo desfilar numa passarela.

– Ninguém seria capaz de ofuscar você, Jin-hyung. – falou Namjoon, os olhos brilhantes e enternecedores admirando Jin.

Eles trocaram sorrisos. Taehyung olhava de um para o outro, erguendo as sobrancelhas. Alguma coisa acontecia ali, ele só não sabia o quê era.

– Preciso deixar o mocinho em casa. – informou Jin, sem tirar os olhos de Namjoon.

– Nos vemos amanhã, então.

– Tudo bem.

– Uhum.

– Certo.

Depois de uma longa despedida, Taehyung estava intrigado, mordiscando por dentro da boca e franzindo o cenho. Eles já estavam no carro de Jin quando Taehyung perguntou:

– Jin-hyung, você sabe como é o amor?

Jin riu num engasgo.

– Que pergunta é essa, garoto?

– Ah, bem, eu nunca me apaixonei, sabe. Nunca pude. Então como vou saber se estiver? Eu já vi filmes de romance e já li livros, mas são todos tão diferentes... Como se sabe?

– Hm, acho que você simplesmente sabe.

– Mas não tem nada que indique? Quando você fica doente, tem os sintomas para saber qual é a doença. Então, quais são os sintomas do amor?

– Bem, digamos que você ache uma pessoa interessante. – começou ele – Quando ela entra no ambiente, seu olhar é automaticamente atraído para ela. Mas não é qualquer olhar. É admiração, seu coração bate forte e você sente um misto de vergonha e felicidade. Começa assim.

– É mesmo? – sondou Taehyung, encarando quase sem piscar o hyung que dirigia sem tirar os olhos da rua.

– É. Então, começa a notar os detalhes dela. As qualidades e defeitos. E todas te atraem.

– Até os defeitos? – Ele franziu o cenho, interessado e confuso.

– Aham. E, quando perceber, ela não sai mais dos seus pensamentos. Isso é estar apaixonado. É querer ver uma pessoa todos os dias, simplesmente porque a presença dela te deixa bem. É querer fazê-la feliz, porque você não suporta a ideia dela estar triste.

– Estar apaixonado parece ser incrível... – disse um Taehyung sonhador, olhando pela janela.

– É bom, mas também pode ser bem ruim se a outra pessoa não sentir o mesmo.

– E como eu sei se ela sente o mesmo?

– Hmm.... – Jin se esforçava para responder todas as perguntas do pequeno ômega. – Não tem como, na verdade. Você pode notar os sinais, ou a pessoa pode simplesmente confessar seu amor. Agora, se você está apaixonado por uma pessoa que não sente o mesmo, pode tentar conquistá-la. É um pouco difícil, mas não impossível.

– Acho que entendi... É tão complicado. Você já se apaixonou, Jin-hyung?

– Sim, mas meus namoros não duraram. Acho que não estava tão apaixonado quanto achei.

Taehyung queria perguntar o quê aquilo significava, mas eles já haviam chegado ao prédio.

– Obrigado pela carona, Jin-hyung. Vou te fazer outro bolo de chocolate para agradecer!

Enquanto Taehyung saltitava pelas escadas da entrada do prédio, Jin o observava da janela do carro com um sorriso.

"Esse garotinho é uma figura. E todas aquelas perguntas sobre amor... Será que está interessado em alguém? Mas quem poderia ser?"


                                                          🌸


Quando Jimin chegou, Taehyung estava assistindo o noticiário. Ele se ofereceu para fazer o jantar, mas Jimin estava com uma receita na cabeça e queria tentar. Além disso, ele precisava fazer alguma coisa para dissolver o estresse da longa e enfadonha reunião.

Taehyung ouvia o som das panelas vindo da cozinha, os olhos atentos na mulher da previsão do tempo, mas os pensamentos corriam longe daquele cenário. Sua imaginação o levava de um alfa de cabelos pretos e semblante soturno até sua recente conversa com Jin.

"Digamos que você ache uma pessoa interessante. Quando ela entra no ambiente, seu olhar é automaticamente atraído para ela".

Na primeira vez que viu Jeongguk não conseguiu tirar os olhos dele. Nem mesmo reparou na decoração austera e requintada da sala dele, nem na formidável vista que a janela proporcionava. Se fosse o antigo Taehyung, teria se encantado com a paisagem e decorado todos os seus minuciosos e altivos detalhes. Porém, o novo Taehyung não consegue admirar nada além de Jeongguk.

Admirar. Taehyung admirava Jeon Jeongguk.

"E, quando perceber, ela não sai mais dos seus pensamentos".

Será que isso era estar apaixonado? Taehyung gemeu de frustração, jogando a cabeça para trás, apoiando-a no estofado confortável do sofá.

Ele olhou para a televisão. O noticiário tinha dado lugar a um drama, onde os atores se encaravam sem nem piscar. Uma chuva torrencial molhava-os por inteiro, mas eles não pareciam se importar.

Areum-ssi, eu te amo! – disse o protagonista masculino, encarando sua amada com desespero e paixão.

Então porque quebrou meu coração? Eu era apaixonada por você e você me magoou da pior forma! – gritou a protagonista feminina, a voz esmagada pelo choro, suas lágrimas se misturando à água da chuva.

Me perdoe, eu achei que estava fazendo o melhor para nós dois. Seu pai nunca iria permitir...

Você disse que eu não significava nada. Que era apenas mais uma garota na sua lista.

Taehyung mal piscava, as mãos cobrindo a boca, concentrado na televisão.

Era mentira! Por favor, acredite em mim!

Como posso confiar em você? Como podemos namorar com o medo de que a qualquer momento meu pai vá interferir? Como saberei se está dizendo a verdade?

Eu te amo, Areum-ssi. Nunca mais irei mentir, eu prometo!

Eu também te amo, Sunghoonie, mas só o amor não é suficiente.

"Como pode o amor não ser suficiente?", pensava Tae. Não era ele o patrono de todos os outros sentimentos? As pessoas não cometiam loucuras por amor, não eram felizes amando, não ficavam tristes quando sofriam a rejeição?

– O jantar está pronto e, olha, eu realmente me superei... Por que está com essa cara? – perscrutou Jimin, indo até a sala e encontrando um Taehyung roendo as unhas.

– Ah, Jimin-ssi, parece que tem um terremoto na minha cabeça! Nada mais faz sentido!

– É claro, você está vendo esse drama horrível. – ele fez uma careta para a televisão. – Pode ser fome ou cansaço, você trabalhou demais hoje.

– Não, Jimin-ssi, eu estou confuso com o amor.

– Amor? Por que isso de repente? – Jimin sentou ao lado do amigo no sofá, curioso e preocupado com o pequeno ômega inquieto que mordia o interior da bochecha.

– Você já se apaixonou, Jimin-ssi?

– Sim, e foi uma droga. – ele fez uma careta. – Não era recíproco. Mas foi a única vez que eu me apaixonei de verdade. Foi quando eu estava no ensino médio. No fim, era eu, Yoongi e Jeongguk. Eles sempre foram meus melhores amigos.

Taehyung gostaria que Jimin não mencionasse Jeon Jeongguk, porque suas bochechas ardiam instantaneamente e seus neurônios davam um nó.

– Enfim – prosseguiu Jimin. – O amor é relativo, como o tempo. Funciona para alguns, é um desastre para outros. É preciso muita sorte para encontrar a pessoa certa.

– E como eu sei que é a pessoa certa? – perguntou Taehyung, baixinho.

– Não tem como, eu acho. Você vai convivendo com ela e a resposta simplesmente aparece. Sim ou não. – De repente, Jimin fez silêncio e estreitou os olhos para Taehyung. – Por que essas dúvidas? Está interessado em alguém?

– Bem... sim.

– Sim?! - gritou Jimin, sobressaltado. Ele definitivamente não esperava uma afirmação. – Como pode estar interessado em alguém?! Você está há dois dias em Seul!

– Eu não sei, Jimin-ssi. – choramingou Taehyung, cobrindo o rosto com as mãos. – Meu coração está maluquinho e meu rosto fica muito quente sempre que eu chego perto dele! E eu não paro de pensar no quanto ele é bonito. E eu fico todo estrebuchado para falar com ele. Você sabe que eu não tenho dificuldade para falar com ninguém, mas com ele eu tenho!

– Tudo bem, tudo bem. – anuiu Jimin, interrompendo a tagarelice. – Sabe, existem fases no amor. Começa com o interesse, o gostar. Você acha a pessoa bonita, admira as qualidades dela. Eu acho que você está nessa fase.

– Você acha, Jimin-ssi?

– Aham. E não se preocupe. Talvez seja só um crush, já que você nunca gostou de ninguém antes. Raramente o gostar evolui para uma paixão. Não esquente sua cabeça com isso agora.

Taehyung suspirou, o mar revolto dentro de si se acalmando.

– Acho que você está certo, Jimin-ssi.

– É claro, eu sempre estou certo! - Jimin mordeu os lábios, chegando de mansinho perto de Taehyung. – Então... Quem é, hein?

Taehyung escancarou a boca, olhando feio para um Jimin bisbilhoteiro.

– Eu não vou dizer!

– Ah, Tae, por favor! Eu não conto pra ninguém!

– Não, não! Mil vezes não!

– Tae, não me deixa curioso, por favor... Ei, não corre, seu pilantra! Volta aquiii!


                                                        🌸


Na manhã seguinte, Jimin já tinha se conformado que Taehyung não iria abrir o bico. Eles estavam a caminho da empresa, cada um levando o que sobrara do bolo de chocolate em suas bolsas. Jimin, vestido numa jaqueta jeans com bordado de abelhas e uma calça social preta, se mordia de curiosidade para saber de quem Taehyung gostava.

Já Taehyung, com uma camisa branca e jeans claro, apreciava tranquilamente a paisagem da janela, nem um pouco abalado. Ele havia pensado a noite inteira e decidiu que Jimin estava certo. Ele só gostava de Jeongguk, e não estava apaixonado por ele. O que significava que estava apenas levemente interessado. Nada de mais. Nada para se preocupar.

Taehyung, alegre e saltitante como um grilo no verão, desceu para o primeiro andar até o almoxarifado número 1. Já Jimin, resmungando, foi à direção contrária, para o último andar.

Ele entrou sem bater na sala de Jeongguk, encontrando todos os seus amigos ali, sentados no sofá e nos puffs cor de osso que Jeongguk mantinha ali por mera decoração ou para seus amigos espaçosos sentarem. A sala em si tinha paredes pretas, e os móveis brancos davam um contraste significativo. Jimin não entendia o gosto de seu amigo por preto e branco, já que preferia cores mais vivas.

– O quê é isso? – indagou. – Reunião do Clube Secreto dos Caras Perversos? Não acredito que fui excluído.

O Clube Secreto dos Caras Perversos foi criado por Jimin, Yoongi e Jeongguk na adolescência. Eles se reuniam na cabana do sótão da casa de Jimin e se divertiam à beça, às vezes bebendo umas garrafas roubadas do pai de Yoongi, lendo coisas proibidas ou simplesmente comendo pizza. Hoseok fora adicionado ao grupo quando chegou à Coreia, depois Namjoon e por último Seokjin.

– Tá atrasado, hein? Ficou fazendo hora na cama? – debochou Jin, esparramado num puff, suas longas pernas apoiadas na mesa de centro cheia de copos de cafés vazios.

– Eu estava tomando um café da manhã maravilhoso preparado pelo meu mais novo inquilino. – gabou-se, se jogando no sofá ao lado de Jeongguk, que lia uma edição da Vogue e tomava café gelado.

– Quem é? Nós conhecemos? – quis saber Namjoon, ajeitando os óculos. Ele estava especialmente arrumado hoje. Nem parecia o Namjoon que vinha para o trabalho com o terno amassado e o cabelo despenteado. Jimin tinha uma leve - não tão leve - ideia do que poderia ser.

– Tenho certeza que sim. É o Kim Taehyung, do A1.

Isso chamou a atenção de Jeongguk, que olhou horrorizado para Jimin.

– Você chamou um cara que nem conhece para morar na sua casa?! Perdeu o juízo?!

– Até eu chamaria o Taehyung para morar comigo. – ressaltou Jin. – Ele é adorável.

– Preciso concordar. – anuiu Hoseok. Namjoon fez um movimento com a cabeça, meio ponderando meio concordando.

– Eu também. – falou Yoongi, pela primeira vez desde que Jimin entrara. Ele já estava com o uniforme cinza do trabalho, o cabelo preto numa bagunça arrumada. Jimin sempre se perguntara como alguém podia ficar tão bonito em uma roupa feia de faxineiro.

– Vocês estão todos loucos. – concluiu Jeongguk, negando com a cabeça.

– Pra começar, eu estou aqui com minha pançinha cheia de café da manhã caseiro e delicioso, enquanto vocês estão tomando esses instantâneos horrorosos. Só isso já é mais do que uma vantagem para mim.

– Então é daí que veio aquele bolo de chocolate de ontem né, seu safado. – acusou Hoseok, fazendo sua melhor cara de drama.

– Morra de inveja. – disse Jimin de modo afetado, fingindo jogar o cabelo por cima do ombro.

– Para sua informação... – começou Hoseok, erguendo o indicador. – Eu conheci o Taehyung ontem no almoxarifado e ele disse que iria separar uma prateleira só pra mim.

– Grande coisa, eu fui o primeiro hyung dele. – disse Yoongi, mexendo as sobrancelhas.

– Ele riu de todas as minhas piadas e me deu bolo. – emendou Jin.

– Seus fracotes, eu fui o primeiro amigo dele. – Jimin claramente estava em vantagem.

– O quê é isso? Uma competição? – Jeongguk olhava incrédulo para cada um de seus amigos.

– Eu... Acho que ele me achou meio maluco. Ou muito desastrado. – comentou Namjoon, sopesando.

– E quem não acha... – resmungou Jeongguk. – Eu ainda não acredito que você está morando com ele.

– Você entenderia se o conhecesse. Taehyung é especial. Ele é realmente mais do que os olhos veem. – explicou Jimin, sorrindo ao se lembrar de seu amigo e colega de apartamento.

– Pra mim ele é só tagarela e doido. – sentenciou Jeongguk, folheando a revista preguiçosamente.

Jimin escancarou a boca, dando um tapinha no ombro dele.

– Não fale assim dele, Jeongguk mal, muito mal!

Jeongguk olhou para Jimin como se ele tivesse quatro olhos e usasse um peixe na cabeça. Jimin deu uma risadinha.

– Conviver com o Taehyung está me fazendo falar igual ele.

– Eu fui no almoxarifado ontem e mal reconheci aquele lugar. – anunciou Jin. – Ele fez uma senhora mudança. Ficou tão bonito e organizado. Ele é bem esforçado.

– Eu o achei inteligente. – emendou Namjoon.

– Porque estamos falando desse ômega? – murmurou Jeongguk, secamente.

– Podemos falar sobre o desenho que Hyeon fez na escola ontem? – sugeriu Yoongi, tirando um papel dobrado do bolso. – Eu trouxe pra vocês verem.

Então, todos desviaram suas atenções para o desenho fofo e colorido de Hyeon. Eram todos eles em bonecos palitos, com Hyeon no meio de Yoongi e Jimin. Ele pintou o cabelo loiro de Jin e os óculos de Namjoon. Todos morreram de amores e até mesmo Jeongguk não foi páreo. Ele deu um pequeno e significativo sorriso, os tímidos dentes de coelho aparecendo por trás dos lábios.

Porém, logo o assunto Kim Taehyung voltou à tona.

– Eu 'tô dizendo. Aquele almoxarifado tá um brinco! Limpíssimo e cheirando à lavanda. Eu daria o título de funcionário do mês para ele só por isso. – dizia um Seokjin convicto.

– Só pode estar exagerando. – Jeongguk ainda estava cético. – Ninguém arrumaria aquela zona num único dia.

– Vá até lá e veja você mesmo, então. – desafiou Jin, arqueando uma sobrancelha atrevida.

Jeongguk ia responder quando seu celular tocou. Ele atendeu e ouviu, e sua expressão de transformou numa mistura de fúria, choque e desentendimento.

O quê?! - bradou, assustando a todos. – Como assim você... Eu não... – ele suspirou, contendo suas emoções e voltando a falar com calma. – Tudo bem, melhoras para você, Seo-min.

Ele desligou e apertou a ponte do nariz entre os olhos.

– O quê houve? – perguntou Hoseok, o único que teve coragem de questionar a fera.

– Seo-min está com catapora e eu estou sem secretário no começo da temporada de primavera – ele se jogou contra o encosto do sofá, encarando o teto. – Que maravilha! O quê falta acontecer? Cair um meteoro na minha cabeça?

– Jeongguk, para de drama. – replicou Jimin. – Você não pode contratar um substituto temporário?

– Levaria tempo para achar alguém qualificado. Droga, eu estou cheio de trabalho e compromissos. Parece que vou ter ainda mais. – ele deu um longo e sofrido suspiro.

Os outros se entreolharam, se comunicando em silêncio. Todos compartilhavam do mesmo desejo e objetivo: que Jeongguk parasse de trabalhar tanto e se distraísse mais, se divertisse mais. Porém, a sorte não parecia estar do lado deles. Ou, talvez...

– Por que não chama o Taehyung para te ajudar? – sugeriu Jin.

Todos haviam pensado a mesma coisa, mas nenhum teve coragem de falar porque temiam a reação de Jeongguk. Bem, exceto Jin, que sempre falava o quê vinha à cabeça.

Jeongguk lançou um olhar desacreditado para o amigo.

– Enlouqueceu, é? Como que eu... Isso... Não tem o menor cabimento! Ele nunca foi secretário e acabaria me dando mais dor de cabeça.

– Acho que está subestimando ele – falou Namjoon, seriamente, o quê era uma surpresa. – Taehyung pode ser meio avoado, mas é inteligente. Eu sei reconhecer alguém brilhante quando vejo um. Se ele fez um trabalho tão bom quanto Jin-hyung diz, acho que se sairia bem num cargo de secretário. Além disso, não é por muito tempo.

Jeongguk ponderou. Namjoon era a pessoa que ele mais confiava no quesito empresa e negócios, e se estava disposto a dar uma chance para o ômega, então ele tinha um ponto.

– Ainda preciso ver com meus próprios olhos. – declarou Jeongguk.


                                                  🌸


– Se você me ama, então me deixe sabeeer.... – cantava Taehyung, no primeiro andar, almoxarifado 1, enquanto organizava dicionários por cor na prateleira mais alta da primeira estante. – Me deixe saber, saber, sabeeer...

Taehyung pegou um dicionário e um lápis para anotar suas palavras favoritas, como forma de se distrair. Quando se virou, porém, tomou um susto tão grande que deixou tudo ir ao chão, o pesado dicionário caindo certeiramente em seu pé.

– Senhor Jeon! – gritou, pulando num pé só, vendo o homem vestido elegantemente num terno risca de giz azul sem gravata. – O senhor veio mesmo...

O homem desviou o olhar da bagunça que Kim Taehyung havia se tornado, com as bochechas vermelhas e segurando o pé esquerdo - em dúvida se abaixava para pegar o que derrubara ou se fazia uma mesura para seu chefe -, para o resto da sala.

Jin realmente não havia exagerado. O lugar estava completamente mudado. O quê antes era um caos de caixas espalhadas pelo chão e poeira flutuando no ar havia se tornado um conjunto de prateleiras organizadas com cheiro de lavanda.

Taehyung encarava Jeongguk sem piscar. Ele não parecia mais tão abatido quanto ontem. O cabelo estava mais brilhoso e caía em mechas sedosas ao redor da cabeça, tocando as orelhas. Sua pele estava mais lustrosa num tom suave como cetim. A espinha se fora e era como se ele nunca houvesse tido olheiras. Tão bonito quanto um herói de um conto romântico. O príncipe de alguma sortuda princesa. Ou outro príncipe.

– Você está bem? – inquiriu ele, olhando estranho para Taehyung que segurava o pé esquerdo com as duas mãos e franzia o cenho em dor.

Ele pigarreou e se aprumou, juntando as mãos em frente ao corpo, envergonhado tanto pela sua situação quanto por reparar na beleza de Jeongguk.

– Sim, sim, desculpe, eu me assustei. Não ouvi o senhor chegar.

– Você estava cantando mais alto que os meus passos.

O rubor das bochechas de Taehyung se espalhou pelo pescoço e chegou até as orelhas.

– Ah...

– Você fez um ótimo trabalho aqui, preciso admitir. – continuou Jeongguk, olhando ao redor. – Onde conseguiu tantas latinhas?

– Peguei no lixo, senhor Jeon. Na verdade, tudo que eu usei para organizar a sala foi material reciclável. Tinha um monte dessas latinhas e garrafas de leite de banana. Não sei quem é o doido que toma tanto leite de banana, sendo que faz mal para o....

– Eu tomo.

A fala de Taehyung morreu em seus lábios. Ele arregalou os olhos, sentindo-se começar a suar de nervoso. Minha nossa, que vergonha. Como era difícil ficar perto daquele homem sem passar todos os tipos de micos.

– É uma ótima ideia reciclar o lixo. – prosseguiu Jeongguk, sem demonstrar nenhuma afetação e alheio ao ômega prestes a ter um colapso. – De onde a tirou?

Taehyung estava com medo de falar alguma asneira, abrindo e fechando as mãos para descontar seu nervosismo.

"Gostar de alguém te faz agir igual um bobalhão?" Pensou. "Eu não quero mais".

– Hm... Desde pequeno eu gosto de fazer isso. Reciclar, quero dizer. Não gosto de desperdiçar nada. – explicou baixinho, evitando olhar para seu chefe.

Jeongguk encarou o rapaz, que parecia diminuir a cada palavra que saía de sua boca. Ele era tão estranho... Uma hora falava até gastar as cordas vocais, e outra parecia lutar para dizer uma única palavra. Qual era o problema dele? Parecia uma pimenta de tão vermelho. Jeongguk pensou em perguntar se ele não queria um copo d'água.

– Estou impressionado. – admitiu Jeongguk. – Gosto de funcionários que fazem bem o seu trabalho.

– Você... gostou mesmo, chefinho? – ele voltou a olhar Jeongguk, aquele brilho infantil voltando a seus olhos, acendendo-os como dois vagalumes. – Não foi nada demais, sabe... Eu estou acostumado a manter tudo no lugar.

– Estou vendo. – falou Jeongguk, olhando com interesse para as placas sinalizadoras em cada estante. "Sessão do Papel" na da esquerda e "Sessão de Escritório" na da direita, escritas com caneta gel colorida. Mais ao fundo, uma estante estava sinalizada como "Sessão do Senhor Sorriso". O quê diabos aquilo queria dizer, Jeongguk não fazia ideia. – Mas eu vim aqui por outro motivo, além desse.

Taehyung tombou a cabeça para o lado, interessado.

– Meu secretário está doente – explicou – e eu realmente preciso de alguém para me auxiliar nesse início de coleção. Não consigo criar se estiver estressado, e a empresa toma muito do meu tempo.

– Puxa, que pena, chefinho...

Jeongguk olhou para ele com expectativa, mas Taehyung não pareceu entender onde ele queria chegar.

– Quero que você seja o meu secretário até Seo-min melhorar.

Taehyung exclamou um "Ah!" e escancarou a boca.

– Eu? Eu, chefinho? Mas eu nem comecei a ser um almoxarife, como posso já ser um secretário? É uma mudança muito, muito grande. E eu não sei como ser um secretário. E secretário não é uma palavra tão legal quanto almoxarifado.

– Eu não pediria se não estivesse desesperado, mas entendo se não quiser e achar que é demais pra você.

Taehyung olhou para Jeongguk, sentindo uma pontada direto em seu coração. Jeongguk parecia tão cansado ontem, e hoje estava um pouco melhor, mas agora era como se tivesse regredido. A sombra da exaustão estava de volta ao seu lindo rosto, e Taehyung queria tirá-la dali. Ele faria qualquer coisa para deixá-lo bem.

"É querer fazê-la feliz, porque você não suporta a ideia dela estar triste". A voz de Jin surgiu como um fantasma em sua mente. Taehyung engoliu em seco.

– Se for pra te ajudar, chefinho, então tudo bem ser um secretário.

– Quer dizer que aceita?

– É claro! Só me diga o quê eu preciso fazer!

– Marcar reuniões, atender telefonemas, imprimir papéis para eu assinar, buscar café... – citou Jeongguk. – Não é tão difícil. E é por pouco tempo.

– Nenhuma tarefa é grande demais para Kim Taehyung! – afirmou o ômega, erguendo o punho com determinação. – Quando eu começo?

– Agora mesmo. Pode me ajudar de manhã e passar a tarde aqui. – falou Jeongguk, já parecendo menos preocupado do que há dois minutos atrás, para o deleite de Taehyung.

– Certo... – murmurou Tae, admirando a face de Jeon Jeongguk como um pintor admira sua obra. O alfa deu dois tapinhas em seu ombro, saindo da sala logo em seguida.

Taehyung congelou como uma estátua, tocando seu ombro e sorrindo, rubor pintando suas bochechas de vermelho. Ele mordeu o lábio inferior, decidindo que era bom sim gostar de alguém, e seguiu seu chefe.


                                                     🌸


– E então? – quis saber Jin, erguendo as sobrancelhas para Jeongguk, que suspirou, já sabendo o que viria.

– O garoto não é tão ruim, eu admito.

– Rá! Eu estava certo, como sempre...

– Como ele se saiu? – perguntou Hoseok, bebendo um suco de laranja de caixinha.

– Ele está meio confuso ainda, não sabe direito mexer no computador, mas organiza bem os papéis e não faz corpo mole. – Jeongguk remexeu seu almoço, nem um pouco com fome e preocupado com sua falta de inspiração para criar. Felizmente ele tinha Jimin e os outros estilistas, mas sentia falta de ver uma peça desenhada por si na coleção. Nenhuma era boa o suficiente para seu próprio olhar crítico.

– Ele cresceu numa fazenda e não lida bem com tecnologias, vou pedir para Taeyeon ajudá-lo. – decidiu Jimin, citando sua própria estagiária. – Oh, aí vem ele!

Estavam todos na praça de alimentação almoçando, exceto Namjoon, que foi comer na casa da mãe. Taehyung vinha rapidamente na direção deles, sorrindo.

– Jimin-ssi... Oh, estão todos aqui! Olá! – cumprimentou, acenando com a mão.

– Olá, Taehyung-ssi. Como vai? – inquiriu Hoseok com um sorriso luminoso.

– Muito bem, senhor Sorriso, como está sua testa? – ele se sentou, apoiando os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos.

Hoseok riu e negou com a cabeça.

– Está melhor.

– O quê há com sua testa? – perguntou Jeongguk, sempre desconfiado.

– Quando nos conhecemos, Taehyung jogou uma Enciclopédia na minha cabeça. –explicou Hoseok.

– O quê?

– Eu achei que ele fosse um ladrão. – falou Taehyung, com um bico.

Yoongi engasgou com a risada, sendo acudido por Jin. Jimin sorriu e balançou a cabeça, mais acostumado com as loucuras de Taehyung. Jeongguk resmungou, voltando a comer em seu estado ensimesmado.

– Yoongi-hyung, onde está o seu filho-gêmeo? – indagou para Yoongi, que o encarou com interrogação.

– Filho-gêmeo?

– Sim, porque ele é igualzinho a você. Bom, diga a ele que o chiclete que ele me deu realmente dá sorte. Nossa, nossa, eu estou com muita fome. Ser secretário dá fome.

Então se levantou e foi atrás de comida, sem dar tempo de ninguém falar nada.

– Filho-gêmeo... – riu Yoongi. – Ele é tão engraçado. Parece uma criança num corpo de adulto.

– Taehyung é mesmo adorável – disse Jimin como um pai orgulhoso. – Acreditam que ele nunca havia comido Mac antes? Eu até gravei um vídeo...

Jimin mostrou em seu celular o vídeo de Taehyung comendo um Bic Mac como se estivesse provando néctar dos deuses. Os olhinhos arregalados, as bochechas coradas sujas de molho. Todos riram da fofura dele, exceto Jeongguk, que nem se deu ao trabalho de ver.

Enquanto o grupo se desmanchava em risadas, Jeongguk olhou ao redor da praça de alimentação de sua empresa, encontrando o ômega comprando seu almoço e conversando animadamente com a moça do caixa. Ele parecia o tipo de pessoa que fazia amizade com todo mundo, que encantava a todos com seu charme, piscando aqueles olhos meninis e sorrindo em excesso. E, pelo visto, já havia conquistado seus amigos também.

Jeongguk ainda tinha algumas ressalvas quanto a ele. E se todo esse jeito meigo fosse só teatro para conseguir amizades e proteção e privilégios? E se essa gentileza que ele oferecia de graça fosse só por interesse? Não, ele não cairia nessa...

Um estrondo o tirou de suas divagações. Um funcionário tinha derrubado uma bandeja inteira de comida no chão, alguma coisa com carne e molho vermelho que agora formava uma poça horrenda no piso espelhado. Jeongguk se lembrava dele. Alguns funcionários cruéis o apelidavam de Hong-Malfeito, por sua aparência não muito atraente. Ele podia não ser bonito, mas era muito bom desenhista. Entretanto, era estabanado e tropeçava nos próprios pés.

Como agora, quando foi tentar limpar a sujeira e escorregou no molho, caindo de bunda no chão.

O salão explodiu em risadas. Jimin deu uma risadinha, Hoseok tentou se conter sem sucesso, Yoongi cobriu a boca com a mão e Jin nem fez questão de tentar esconder. Jeongguk também teria rido, mas seus olhos se atraíram para o ômega, que observava Hong-Malfeito com pena e o resto do salão com raiva. Ele foi até lá e ajudou o pobre homem a se levantar. A calça jeans dele estava completamente manchada de comida e molho, e ele estava escarlate de vergonha.

Taehyung falou alguma coisa pra ele, parecendo preocupado. Hong-Malfeito negou com a cabeça, sem conseguir olhar para nada a não ser os próprios pés. Taehyung franziu o cenho para as outras pessoas do salão, que ainda riam e apontavam como se estivessem num circo. O ômega foi até o balcão, pegou uma bandeja com uma tijela e uma latinha de refrigerante, fingiu tropeçar e caiu, sujando toda a sua roupa de sopa e a calça com o molho que já estava no chão.

– Mas o quê...! – exclamou Jimin, a risada cessou, sem conseguir terminar a frase. Seus amigos soltaram arquejos surpresos. Jeongguk arqueou uma sobrancelha e olhou estupefato para cena. Até Hong-Malfeito parecia abismado.

– Vamos, riam de mim. Vocês não acham isso engraçado? Riam! – ele falou para as pessoas no recinto.

Não deu outra. Todos começaram a gargalhar, esquecendo-se de Hong-Malfeito e olhando estranho para o ômega todo sujo, molho escorrendo por sua camisa e arruinando-a.

Jeongguk trocou olhares com seus amigos, que já não riam mais, parecendo procurar uma explicação no rosto um do outro. Bem, exceto Jimin, que sorriu e encarou Jeongguk, apontando com o indicador para o próprio olho.

"Ele é mais do que os olhos podem ver". Jimin lhe disse no dia da entrevista do ômega.

Jeongguk bufou e revirou os olhos.

– Taehyung, o quê foi aquilo? – inquiriu Hoseok, assim que o ômega se aproximou, imundo e cheirando a comida.

– Vocês viram?! Aquelas pessoas ficaram rindo do coitadinho ao invés de ajudar. Ele estava mortinho de vergonha e mesmo assim elas continuaram. Elas são muito, muito más, e eu odeio pessoas más! – ele fez um bico e cruzou os braços, despencando na cadeira ao lado de Jeongguk, que se afastou uns bons centímetros.

Jin pigarreou, dando um sorriso amarelo. Hoseok franziu os lábios e desviou o olhar. Yoongi começou a assobiar, olhando para o teto.

– E precisava se sujar inteiro? – questionou Jeongguk, fazendo uma careta para o estado de Taehyung.

– Ora, chefinho, eu me senti muito mal por ele e quis fazê-lo se sentir melhor. Se as pessoas também rissem de mim, ele não ficaria com tanta vergonha.

Jimin trocou outro olhar com Jeongguk, que dizia "Viu só? Eu estava certo!".

– Precisa trocar essa roupa, Tae. Não pode trabalhar assim. – falou Jimin, gentilmente.

– Eu não tinha pensado nisso. – ele mordeu o lábio. – Não tenho outra roupa para trocar.

– Eu tenho! – comunicou Jin. – Nunca se sabe quando vamos ter uma emergência. Talvez fiquem um pouco grandes em você, mas vai dar pro gasto.

– Muito obrigado, Jin-hyung! – ele sorriu, fechando os olhos em fendas. Mas o sorriso se desmanchou quando um barulho alto veio do estômago dele. Ele ficou vermelho e deu uma risadinha. – Opa. Eu acabei esquecendo que estava com fome.

Todos encararam Jeongguk, o único que ainda tinha comida na bandeja. Ele olhou de um para o outro, até chegar nos olhos gigantes de expectativa de Taehyung. O alfa bufou e empurrou a bandeja para o ômega, cruzando os braços.

Ele suspirou, mordendo um sorriso.

– Obrigado, chefinho. Aqui, nós podemos dividir...

– Não precisa, eu estou satisfeito.

– Tem certeza? Eu não me...

– Sim.

– Mesmo?

– Coma logo, garoto!


                                                     🌸


– Olha, até que não ficou ruim. – falou Jin, analisando o ômega de cima a baixo com uma mão no queixo.

Taehyung havia trocado a roupa melecada e fedida por uma camiseta rosa pastel com estampa de um gatinho amarelo falando "Miau" e uma calça branca com um rasgo grande na coxa e nos joelhos. A sua botinha marrom fora salva com papel higiênico e sabonete líquido.

Tae havia gostado tanto daquela roupa que não ligava mais se a mancha das suas nunca saísse. Como Jin era mais alto e magro, a calça ficava um pouco apertada na cintura e no bumbum. A camisa deixava um tiquinho de sua clavícula a mostra.

– Você 'tá um gato! – afirmou Jin, erguendo o polegar.

Taehyung ficou vermelho e deu uma risadinha. "Será que Jeongguk também vai achar?", pensou. Depois, sacudiu a cabeça para espantar esses devaneios.

– Eu gostei muito, é tão bonita. – ele alisou o tecido de algodão da camisa como se fosse uma peça rara.

– Mesmo? Então pode ficar pra você. – disse Jin, com um sorriso. Tae arregalou os olhos.

– Tem certeza, Jin-hyung?

– Claro. Eu comprei essa camisa num surto kawaii, mas eu nem gosto tanto dela assim. E a calça, eu tenho outra igual que ganhei da marca.

– Sendo assim, então eu quero! Muito obrigado, Jinzinho!

Taehyung estava radiante com sua nova roupinha. Ele andava quase saltitando, sempre se admirando quando via algum espelho. Quando chegou ao décimo sexto andar, arrumou o cabelo e a barra da camisa antes de entrar na sala de Jeongguk.

– Chefinho! Sua agenda pra semana já está prontinha! Eu até coloquei um adesivo escrito "Fighting"!

Jeongguk ergueu o rosto dos papéis, fitando a figura cor-de-rosa sorridente. A mão que segurava a caneta congelou e ele piscou devagar, olhando Taehyung de cima a baixo. A reação durou segundos até ele pigarrear e voltar a postura taciturna de sempre. Porém, foi o bastante para o coraçãozinho do ômega bater mais forte.

– Pode deixar aqui. – disse com a voz aérea, voltando a escrever.

– O Jimin me contou que vocês vão sair no sábado, então tomei a liberdade de colocar o compromisso na agenda.

– Não precisava. Eu não vou. – contou Jeongguk, secamente.

Taehyung tombou a cabeça para o lado.

– Como assim não vai?

– Tenho outro compromisso.

– Não tem, não. Seus compromissos acabam na sexta, com a reunião com os acionistas majoritários.

Droga, pensou Jeongguk.

– É um compromisso pessoal.

– Entendi... – Taehyung fez um bico. – É uma pena. O Jimin-ssi estava muito animado falando desse encontro, onde o Clube-Sei-lá-o-quê se reuniria novamente depois de muito tempo. Sabe, se eu tivesse um grupo de amigos tão legais, iria querer sair com eles todo dia. É muito triste estar sozinho sem amigos, eu sei porque já passei por isso. - ele deu uma risada triste. – Precisa de mais alguma coisa, chefinho?

– Não, Taehyung, pode ir. – dispensou Jeongguk, com um suspiro cansado.

– Certo, não esqueça de olhar o adesivinho quando precisar de incentivo!

Ele saiu, e Jeongguk ficou encarando a porta.

É muito triste estar sozinho sem amigos. Jeongguk soltou a caneta e massageou as têmporas. Pegou sua agenda e viu o tal adesivo, uma mãozinha fechada em punho e letras exageradas dizendo "Fighting". Ele riu pelo nariz e negou com a cabeça.

"Será que eu devo?"


                                                      🌸


Sábado chegou rápido como um suspiro. Jimin se arrumava no quarto, enquanto Taehyung estava assistindo um drama na televisão, esparramado no sofá e bebendo vitamina de maracujá num canudinho.

– Então, como eu estou? – perguntou Jimin, parando na frente da televisão e fazendo uma pose.

Ele vestia um jeans preto bem justinho, botinhas caramelo, uma camisa branca e uma jaqueta dourada com renda branca nos punhos. O cabelo rosa estava penteado para trás.

– Uau, Jimin-ssi, você 'tá um gato. – ele ergueu o polegar, algo que havia aprendido com Jin.

– Obrigado. – riu Jimin. Ele pegou sua bolsa e guardou o celular, a carteira e as chaves. – Não vou voltar tarde, a geladeira está cheia, se precisar de algo use o...

Ele se interrompeu ao ver o semblante tristonho do outro ômega, cutucando o estofado do sofá e fazendo um biquinho.

– Tae, o quê acha de ir também? – Jimin se perguntava como não havia pensado nisso antes. Era um encontro com seus amigos mais antigos, os melhores que tinha, mas ele sentia que não seria tão divertido se aquele ômegazinho - que havia entrado de cabeça em sua vida e em seu coração em poucos dias - não fosse também.

– Eu adoraria, Jimin-ssi, mas não tenho dinheiro.

– Não se preocupe, eu pago pra você.

– Não precisa, Jimin-ssi...

– Eu insisto. – ele foi até Taehyung e agarrou sua mão, erguendo-o do sofá e arrastando-o até seu quarto. – Anda, coloca uma roupa e penteia o cabelo.

– Okay. – ele riu, parecendo mais animado.

Taehyung colocou a roupa que Jin lhe deu, arrumou o cabelo da forma mais rápida que conseguiu e correu até a sala, apressando Jimin e empurrando-o para a porta.

– Vamos, Jimin-ssi! Não temos tempo a perder! Quanto mais cedo formos, mais vamos poder nos divertir!

– Garoto, calma! Eu preciso trancar a porta! Taehyung!


                                                   🌸


Jeongguk estava parado na frente do restaurante, com as mãos nos bolsos da jaqueta de couro e hesitando. Já havia ameaçado entrar e desistido mil vezes. Ele nem sabia porque tinha tanto medo. Eram seus amigos que via todo dia e que conhecia há anos. Porém, a ideia de se divertir, de voltar a ser feliz, parecia uma traição. Ele não tinha certeza se conseguiria.

Jeongguk suspirou e virou as costas. Sabia que decepcionaria seus amigos, mas...

– Chefinho!

Jeongguk estagnou e fez uma careta. Não era possível.

– Chefinho! Você veio!

Jeongguk se virou, dando de cara com um Taehyung sorridente de olhos brilhantes, vestindo aquela roupa.

– Taehyung...Oi.

– Oi! – repetiu, muito mais animado que o outro. – O quê está fazendo? Você tá parado aí há um tempão. Vamos entrar, todos estão te esperando.

– Eu... Eu...

– Vamos logo, tá ventando e eu não trouxe casaco, mas lá dentro está quentinho.

Vendo que Jeongguk parecia congelado como uma estátua, a boca levemente aberta, Taehyung pegou a mão dele, puxando para o restaurante.

– Vem, chefinho, só falta você. Estávamos te esperando, mas o Jimin-ssi tinha perdido as esperanças. Eu não. Eu sabia que você viria, tanto que só eu te vi lá de dentro.

Jeongguk estava tão estupefato, sentindo a mão quente do ômega contra a sua gelada, que mal percebeu quando eles entraram no restaurante de decoração moderna e aconchegante e caminharam até a mesa onde Namjoon, Jin, Hoseok, Jimin e Yoongi estavam sentados, com dois lugares vagos.

Voltando a si, Jeongguk soltou sua mão da de Taehyung com um movimento brusco. Ele não pareceu perceber.

– Jeongguk?! – exclamou Jimin, a surpresa dando lugar a um sorriso. – Você veio! Não acredito!

– Eu disse – falou Taehyung, sentando no seu lugar, pomposo como um leão. – Agora todos me devem suas sobremesas.

– Vocês apostaram? – questionou Jeongguk, desacreditado.

– Sim. – resmungou Jin. – Todo mundo falou que você não viria, menos o Taehyung. Droga. Eu realmente gosto da sobremesa daqui.

Jeongguk olhou para o ômega, que batucava os dedos na mesa e tinha uma expressão orgulhosa no rosto. O único lugar vago era ao lado dele, na ponta da mesa. Jeongguk suspirou e se sentou.

– TaeTae, você não vai deixar seus pobres hyungs sem sobremesa, né? – insinuou Hoseok, com uma carinha triste e fingida.

– Uma aposta é uma aposta. – Taehyung estava irredutível.

– Eu cruzei os dedos. – revelou Yoongi, com um sorriso convencido.

Taehyung escancarou a boca, como se Yoongi tivesse dito que afogara uma ninhada de cachorrinhos.

– Yoongi-hyung! Como você pôde? Seu trapaceiro!

Taehyung era a alma da mesa. Com seu jeitinho único, ele encantava e fazia questão de incluir todo mundo na conversa. Até Jeongguk, que não dava muita abertura, se via obrigado a participar dos assuntos que ele trazia.

Com alguns minutos de conversa ele já havia descoberto a classificação lupina de todo mundo: Yoongi era alfa assim como Namjoon, Hoseok era beta, Seokjin era ômega e Jeongguk um alfa, como Tae já imaginava. Jin também comentara o quanto odiava a época de cio, algo que Taehyung nunca teve. Geralmente começava na adolescência, e ele não sabia porque ainda não tinha.

O cio era o período de reprodução dos lupinos, quando eles se conectavam com seus instintos e procuravam parceiros. Durava quatro dias contados e, de acordo com Jin, era uma época terrível de dor e sofrimento e vergonha.

– Chefinho, é verdade que você fez duas faculdades ao mesmo tempo? – Taehyung perguntou para Jeongguk, arregalando aqueles olhos castanhos tão sedentos por informação.

– Sim, é verdade.

– E foi muito difícil?

– Um pouco.

– Um pouco pouco ou um pouco pouquinho?

– Não tenho ideia do que isso quer dizer, Taehyung.

Ele não desistia. Parecia realmente ávido por saber mais sobre seus hyungs, principalmente Jeongguk. É claro, todos sabiam tudo um sobre o outro, menos Taehyung, que havia entrado há pouco tempo para grupo. Bem, arrombado a porta e invadido seria um termo melhor.

– Yoongi-hyung, quantos anos o Hyeon tem?

– 10 anos. – respondeu Yoongi, com aquele sorrisinho orgulhoso com o qual sempre se referia ao filho.

– Uau, eu me lembro que com dez anos eu subi no telhado do celeiro para resgatar uma galinha, mas acabei caindo e quebrando o pulso. Foi a primeira vez que fui num hospital. O Hyeon já quebrou o pulso?

Um fato sobre Taehyung é que ele nunca fazia perguntas invasivas ou ofensivas. Ele era movido pela sua curiosidade sobre coisas banais que ninguém se importava, mas que tinham importância para ele.

– A Amazônia é incrível. – contava Hoseok para um Taehyung de olhos radiantes, quase tremendo de empolgação. – Eu tirei muitas fotos lindas lá. É como se a floresta mesmo se preparasse para ser fotografada. Não precisei fazer coisa alguma.

– Uau... – ele suspirava. Hoseok adorava contar sobre suas viagens em busca da foto perfeita, e quem melhor que um pequeno ômega entusiasmado como ouvinte?

– Então você já morou na rua, Namjoon-hyung? – perguntou, abismado, o ômega.

– Sim, foi uma época realmente difícil. É como se você se tornasse invisível para as outras pessoas, exceto para as que queriam fazer algum mal. Como se deixasse de ser humano. Mas eu não queria desistir da minha vida, então continuei lutando e lutando. –relatou Namjoon, com aquela sombra no olhar que aparecia sempre que ele recordava o passado. – Jeongguk viu potencial em mim e me contratou.

– A JE-ON não seria nada do que é hoje sem a sua contribuição, hyung. – falou Jeongguk, sem perceber o olhar de completa admiração que Taehyung lhe lançou, junto a um suspiro.

– Deve ser muito difícil administrar uma empresa tããão grande, não é, chefinho? – indagou Taehyung em mais uma tentativa de puxar assunto com Jeongguk.

– Na verdade é sim, mas eu não faço tudo sozinho. Tenho muita ajuda.

"Ah, ele é tão modesto", pensou Taehyung com um sorrisinho.

– Ainda bem que você é o dono, chefinho, se fosse outro jamais teria me contratado. Eu sei que pareço um estabanado, mas todos os meus desastres até hoje foram acidentais. Bem, exceto aquele lá... Você lembra, chefinho, que eu fiquei coberto de sopa e molho? Mas parece que você gosta de pessoas desastradas, igual o Namjoon-hyung e... Caramba! Eu preciso ir no banheiro, licença, chefinho.

"Graças a Deus", pensou Jeongguk, tentado a erguer as mãos para o céu.

O ômega quase tropeçou no seu pé ao tentar sair da mesa. Jeongguk precisou segurá-lo no braço para equilibrá-lo. Ele saiu correndo em direção ao banheiro.

– Onde o Tae foi? – perguntou Jimin.

– Banheiro. – e Jeongguk não disse mais nenhuma palavra. Se concentrava em comer seu churrasco enquanto seus amigos discutiam algo que não tinha a menor lógica, apreciando o silêncio e a calmaria. Porém, os minutos se passaram e ele começou a se incomodar. – Ora essa, ele já não deveria ter voltado?

Os outros rapazes pareciam alheios à saída de Taehyung. Jeongguk tentou dizer a si mesmo que parasse de ser paranóico e voltasse a comer, mas aquele ômega era um perigo. E se tivesse se afogado na privada?

Jeongguk deu um suspiro conformado e levantou da cadeira, indo atrás do ômega no banheiro masculino, se espantando ao ver que não havia divisão por classificação, o quê era quase uma regra hoje em dia. 

– Senhor, você é muito gentil, mas meus amigos estão me esperando... – ele ouviu a voz dele, grave ainda que melodiosa, vindo de dentro do banheiro.

– Vamos, vai ser rapidinho, eles nem vão perceber. – a outra voz, uma mais grossa e com um quê de malícia, preocupou Jeongguk.

– Tenho certeza que já devem ter sentido minha falta...

– Mas que merda! Anda logo!

– O quê está fazendo?! Me solta! Ai!

Jeongguk entrou no banheiro como um furacão monstruoso, vendo o ômega sendo agarrado por outro homem, alto e encorpado, usando um terno de segunda mão barato. Ele segurava o braço de Taehyung com tanta força que a pele de oliva estava avermelhada naquela região.

– O quê pensa que está fazendo? – perguntou Jeongguk, calmamente, mas com fogo ardendo nos olhos escuros.

– E quem é você? Dê o fora daqui!

– Solte-o enquanto ainda estou calmo.

Ele deu uma gargalhada alta e nojenta.

– Ai! Meu braço... – choramingou Taehyung, tentando puxar seu braço para longe do aperto daquele homem. A expressão no rosto dele - a dor, o medo - acendeu alguma coisa dentro de Jeongguk. Seus instintos gritavam e a raiva contida queimou para fora.

Jeongguk deu um soco tão forte naquele infeliz que seu punho ardeu e formigou. Ele caiu para trás contra o azulejo do banheiro, soltando Taehyung. Jeongguk trouxe o ômega para trás de si e deu mais um chute no estômago do homem, que arquejou.

– Isso é para você se lembrar de nunca mais tocar em nenhum ômega sem permissão – ameaçou, sua voz tranquila era como um lobo em pele de cordeiro.

O homem mal fez menção de se levantar, o soco o desnorteou completamente. Jeongguk agarrou Taehyung pelo pulso e o arrastou brutalmente para fora daquele banheiro. No corredor, ele olhou para o ômega assustado.

– Qual o seu problema?! – a calma se fora. Agora, Jeongguk parecia quase desesperado de tão furioso.

– E-eu... – balbuciou ele, aterrorizado com o quê acabara de acontecer.

– Não pode deixar esses caras mexerem com você! – repreendeu Jeongguk severamente – Devia ter mandado ele à merda ou socado a cara dele! Tem ideia do que ele faria com você?! Te arrastaria para um beco  e nós só o encontraríamos quando já fosse tarde.

– Mas... Agredir os outros não é legal... – Taehyung se encolhia como um filhote sendo censurado pela mãe, falando baixinho. Jeongguk não o assustava, o acontecimento anterior, sim. Ele estava mais do que aterrorizado.

– Não mesmo, a não ser que essa pessoa queira fazer pior com você. Nem todas as pessoas do mundo são boas. Desconfie, sempre. E não espere alguém vir te salvar, dê um chute no meio das pernas dele e saia correndo!

Taehyung prendeu-se ao olhar de Jeongguk. Ele parecia uma fera que havia sido cutucada por um espinho afiado. Ele tinha... sentido a sua falta e viera lhe procurar. Tinha salvado-o de um homem mal. E, agora, estava repreendendo-o duramente porque... estava preocupado. Os olhos dele, que nunca demonstravam emoção nenhuma, encaravam-no com raiva e medo do que poderia ter acontecido.

Taehyung soube. Simplesmente soube. Como a borboleta sabe que pode voar e a flor sabe que precisa desabrochar.

Estava apaixonado por Jeon Jeongguk.


No próximo capítulo...

Taehyung realiza uma significativa mudança em si mesmo. Hyeon causa um grande reboliço na empresa. Um convite inesperado instala uma tensão entre Jimin e Yoongi. 


                                                       🌸🌸

Se você gostou, aperte na estrelinha! Apertou? Obrigada! 

Próxima atualização daqui 12 dias! 

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