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By autoramillyferreira

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Não é permitido se apaixonar. Apenas é permitido sentir prazer. Jade West fugiu do convento. A fim de começa... More

Notas da autora
Epígrafe
um
dois
três
quatro
cinco
seis
sete
oito
nove
dez
onze
doze
treze
catorze
quinze
dezesseis
dezessete
dezoito
dezenove
vinte
vinte e um
vinte e dois
vinte e três
vinte e quatro
vinte e cinco
vinte e seis
vinte e sete
vinte e oito
vinte e nove
trinta
trinta e um
trinta e dois
trinta e três
trinta e cinco
trinta e seis
trinta e sete
trinta e oito
trinta e nove
quarenta
Epílogo
Epílogo 2
Bônus
Notas da autora
Livro novo

trinta e quatro

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By autoramillyferreira

— Você tem mesmo certeza de que quer fazer isso? 

Olho para Agnes, sem emoção. Estou cansada de encarar a preocupação nos rostos das pessoas, exatamente como está presente no dela neste momento. Estou cansada de… tudo. Essa sensação de vazio profundo está me matando aos poucos, e não tenho a mínima vontade de colocar um freio nisso. 

— Tenho. 

Um sentimento de tristeza brilha nos seus olhos. 

— Mas você estava adorando a faculdade — insiste ela, tentando me persuadir. — Estava adorando a cidade, as festas… qual é, Jade. Não deixe um único momento interferir em todos os outros. 

Eu me proíbo de reconhecer a dor na voz dela. 

— Já tomei minha decisão — digo secamente. 

Agora os olhos dela se enchem de lágrimas. Desvio o olhar porque não quero chorar junto com ela. Isso está sendo muito difícil para mim. Queria poder largar tudo sem olhar para trás, mas eu não podia ir embora sem antes me despedir dela. Agnes é uma amiga que vou levar pelo resto da vida em meu coração, e espero que possamos manter contato de alguma forma. 

— Eu só quero o que for melhor pra você — a voz dela soa embargada. — Mas quero que saiba que vou sentir muito a sua falta. 

Eu apenas a abraço. Às vezes um gesto vale mais que mil palavras. Vou sentir muita falta dela. Agnes, em tão pouco tempo, se tornou uma pessoa muito especial para mim. Sempre precisamos de alguém com quem se possa conversar que não seja alguém de grau parentesco, e essa pessoa é Agnes. Minha amiga. 

— Promete que vai ligar? — Ela se afasta com lágrimas nos olhos. — Ou mandar um email, uma carta, sei lá. 

Sorrio, triste. 

— Prometo. 

Ela espera enquanto eu pego minha bolsa. Também espera que eu me despeça de JP e dos outros funcionários da lanchonete. Por fim, vamos em silêncio até o estacionamento e entramos em seu carro. Ela vai me dar uma carona até o apartamento do meu irmão, onde mamãe já está me esperando. 

Não olho para trás uma única vez. Não quero ter que encarar a fachada daquela oficina localizada no fim da rua, nem encontrá-lo parado em frente à ela, talvez me observando. Mesmo que doa, preciso arrumar meios de arrancar Ryan do meu coração. Mas como podemos esquecer uma pessoa que simplesmente nos mudou? Que nos fez enxergar a vida de uma maneira muito mais colorida e prazerosa? Acho que é uma missão impossível, mas estou disposta a tentar. 

A viagem de carro é silenciosa. O ar parece carregado de uma tristeza palpável, mas me recuso a reconhecer esse sentimento de angústia que se apodera do meu peito. A única coisa pela qual realmente me permito lamentar é a dor de ficar longe de Agnes. Talvez ela possa me visitar. Talvez eu possa visitá-la. Mas por enquanto, preciso ficar longe de tudo e de todos que me fazem lembrar dessa maldita cidade. 

— Bom… está entregue — anuncia Agnes depois de sairmos do carro. Agora estamos paradas na calçada. 

Olho para ela e forço um sorriso. 

— Obrigada pela carona e… por todo o resto. 

Ela se aproxima e me abraça bem apertado. 

— Você vai fazer muita falta — sua voz é embargada, e eu aperto mais os braços ao redor dela para consolá-la. — Eu não concordo com sua decisão, pois acho que você está agindo pelo calor do momento, mas eu respeito suas escolhas e vou te apoiar. — Ela se afasta e me segura pelos ombros, me olhando com os olhos inebriados pelas lágrimas. — Você sempre terá uma família aqui, caso decida voltar. 

— Obrigada — sussurro. — Podemos estar a quilômetros de distância, mas eu sempre vou te considerar uma amiga. 

Nos abraçamos mais uma vez. 

— Boa viagem, amiga. 

— Obrigada. 

Ela entra no carro e fico observando da calçada enquanto o veículo se afasta cada vez mais até o fim da rua e desaparece por completo do meu campo de vista. Continuo na calçada por um tempo, limpando as lágrimas que insistem em cair, e só depois tomo coragem para subir. As malas já estão prontas ao lado da porta e mamãe está me esperando.

— Você está pronta? — pergunta ela. — O ônibus sai em menos de duas horas. 

— Eu só vou pegar uma coisa no quarto e podemos ir. 

Ela não se opõe. Vou até o quarto em passos arrastados e tudo parece meio vazio, mesmo com os móveis. Os armários foram esvaziados e os pequenos utensílios de decoração sumiram. Tento não olhar muito para esse pequeno espaço que se tornou muito pessoal para mim e vou direto para a cama. Ergo um pouco o colchão e enfio a mão debaixo dele. Encontro o diário com muita facilidade. Encaro a capa de couro vermelha meio gasta e folheio as páginas marcadas de tinta preta, às vezes azul. Não é apenas o dia a dia de uma garota, mas também são lembranças e emoções. É toda a minha vida. 

Guardo o diário dentro da bolsa no mesmo instante em que a porta se abre atrás de mim. Espio por cima do ombro e vejo Justin entrando. Ele aperta os lábios em um sorriso e eu faço o mesmo, mas não saio do lugar; espero que ele venha até mim. 

— Tudo bem? — pergunta ele. 

Não há porque mentir. 

— Vou ficar… em alguma hora — acrescento. 

— Você tem mesmo certeza que quer ir embora? — As pessoas têm me feito muito essa pergunta. — Não quero que faça algo pela qual possa se arrepender. 

Um nó teima em subir até o meio da minha garganta, mas eu o obrigo a voltar para o fundo do estômago. Chega de chorar. 

— Minha decisão já foi tomada — reforço. — Não vou voltar atrás. 

Ele acena com a cabeça uma única vez, sem esconder a decepção. 

— Só quero que saiba que, se mudar de ideia, vai ser sempre bem-vinda aqui. 

Mais uma vez, sou obrigada a engolir o nó que volta para a garganta. Puta merda. 

— Podemos ir? — mudo totalmente de assunto. — Não podemos perder o ônibus. 

Um suspiro escapa por entre seus lábios, mas é só isso que eu recebo. Nenhuma palavra, nenhum conselho. Ele vai na frente e eu vou logo atrás. Com ajuda da mamãe, levamos as malas até o carro. São poucas coisas. 

Vou no banco de trás porque quero ficar sozinha, isolada. Está tocando Lynyrd Skynyrd em um volume agradável que preenche todo o ambiente apertado. É uma melodia triste que faz o meu corpo encolher por completo, mas, estranhamente, quero sentir essa dor. É como uma cicatriz que serve como aviso para não cometer o mesmo erro. 

Quando chegamos na rodoviária, tudo se passa como um borrão. Mamãe vai pegar as nossas passagens reservadas enquanto eu me despeço de Justin com um abraço apertado. Juro que vi algumas lágrimas despontar pelo canto dos seus globos oculares, mas não comento nada a respeito; já tivemos drama suficiente por hoje. 

— Querida, já está na hora — mamãe avisa antes de entrar no ônibus. 

Olho para ela e depois para o meu irmão. É hora de ir embora, e a dor da despedida nunca foi tão profunda. 

— Promete que vai manter contato? — pergunta ele, apreensivo. 

— Prometo. — Jogo os braços ao redor do pescoço dele e descanso a cabeça em seu peito. — Eu te amo. 

Ele suspira e me abraça mais forte. 

— Também te amo. 

Custa-me muito largá-lo, mas sei que é necessário. Seguro as lágrimas por mais um tempo e subo o primeiro degrau do ônibus. Mas eu paro. Olho por cima do ombro. Vejo o meu irmão me encarando com os ombros encolhidos, mas esperava encontrar algo mais. Mas ele não virá. Talvez nem saiba que estou indo embora. É melhor assim. 

Eu me acomodo ao lado da minha mãe, sentada ao lado da janela. O ônibus entra em movimento e eu me despeço de Justin através do reflexo do espelho, acenando para sua figura que fica perdida para trás. 

A viagem será longa, e não demora muito para mamãe pegar no sono. Aproveito a deixa para pegar meu diário dentro da bolsa. Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver o nome de Ryan ser citado em tantas e tantas páginas, em tantas memórias que vão ficar marcadas para sempre na minha alma. Pior do que isso é encontrar uma foto nossa perdida por entre as páginas do diário. Foi tirada em um dia qualquer, no meu celular, debaixo da nossa árvore. Ele tirou a foto depois de "roubar" o meu celular. Está com uma careta engraçada, de gozação, enquanto eu estou com uma expressão brava. 

Sorrio, e algumas lágrimas pingam sobre a fotografia. Empurro-a para dentro do diário novamente e coloco os fones de ouvido, a fim de me desligar para o restante do mundo. Logo "drivers license", da Olivia Rodrigo, começa a tocar e ali eu me afundo um pouco mais na minha dor. 

A viagem de quase dois dias me deixou muito enjoada. Quando descemos na rodoviária já em Chester, depois da última parada, preciso me afastar para vomitar. É como se eu estivesse despejando toda a minha angústia em jatos de comida. Mal me alimentei nos últimos dias, e por mais que meu estômago grite por um pouco de nutriente, não tenho a mínima vontade de engolir nem água. 

Estar de volta em Chester é como pôr o pé na entrada de um cemitério. Conheço todas essas pessoas rasas, as mesmas que nos cumprimentam à medida que arrastamos nossas coisas pela calçada. Mamãe, por outro lado, parece extremamente satisfeita consigo mesma. Ela tagarela sobre como a minha volta para a cidade vai ser boa para mim, e eu só consigo ouvi-la e, às vezes, murmurar um "humrum".

Não vamos para casa. Pensei que teria tempo para respirar e chorar mais um pouco, mas mamãe me leva direto para a Igreja, onde a irmã Dorothy, que é a coordenadora do lugar, já nos espera. Ela me lança um olhar frio de desaprovação que me deixaria encolhida em outra ocasião, mas realmente não ligo mais.

Mamãe se despede e vai embora. Ela simplesmente me largou na porta da Igreja como se eu fosse um recém-nascido que acaba de ser entregue para a adoção. Ignoro a pontada no coração e sigo a Irmã porta à dentro. 

Sei que todos estão falando mal de mim à medida que sou levada pelos corredores frios da Igreja, mas fico surpresa com meu nível de "foda-se". 

Sou levada para o dormitório. É um cômodo enorme com camas de solteiro uma ao lado da outra, enfileiradas, onde todas as noviças são abrigadas. Reconheço todos esses rostos quando adentramos o cômodo, e um silêncio perturbador se instala enquanto caminho até a minha antiga cama. Sinto os olhares de julgamento queimando minhas costas, mas mantenho o queixo erguido e um olhar firme. Não vou pedir desculpas. 

— Troque de roupa — a Irmã Dorothy instrui com uma voz severa. — Depois vá até o padre; ele quer conversar a sós com você. — Com conversar, ela quer dizer "dar sermão". Minha mão pinica com a sensação antecipada das varadas sobre as palmas. — As demais — volta-se para as outras noviças —, vão para a catequese. Vamos! Circulando. 

O quarto vai se esvaziando aos poucos até restar apenas eu. Obedeça aos comandos da Irmã e vou me trocar. Usar essas roupas longas com golas sufocantes é estranho a essa altura do campeonato, mas essa é a parte mais relevante disso tudo. 

Antes de ir falar com o padre, sento-me na cama e pego mais uma vez o diário, determinada a dar um fim nele. Tiro a foto por entre as páginas e esfrego suavemente o polegar no rosto contorcido em uma careta de Ryan. Um sorriso melancólico brota no meu rosto. Por que você fez isso? Eu gostava muito de você... Ainda gosto. Mas se referir a esse sentimento no passado talvez ajude a deixá-lo cada vez mais distante de mim. 

Enxugo as lágrimas e escondo a foto debaixo do colchão. É um lugar seguro para guardá-la. Mas quando pego o diário novamente, sinto raiva. Estou chorando por Ryan faz quase uma semana, mas ele não merece isso. Ele deixou claro que eu não significo nada para ele, então é justo que ele não signifique nada para mim também. Sei que estou apenas me iludindo por pensar que ele vai desaparecer tão facilmente assim do meu coração, mas dar uma de idiota faz tudo parecer mais fácil. 

Ajeito o cabelo sob o cornette e respiro fundo antes de levantar da cama. Pego o diário e o abraço frente ao corpo como se minha vida dependesse apenas de segurá-lo. Caminho pelos corredores escuros da igreja, recebendo alguns olhares tortos pelo caminho, mas mantenho a minha visão fixamente no caminho à minha frente. Ao invés de seguir reto para a sala do padre, eu dobro à esquerda e chego à sala privada das Irmãs. Sei que nenhuma delas está por aqui nesse horário, então é seguro por um tempo. 

Vou até a lareira de tijolos ao fundo e acendo a fogueira. A madeira começa a queimar e um cheiro de fumaça se espalha pelo cômodo até se dissipar completamente e a sala é engolida por um calor natural. As chamas começam a ficar cada vez maiores e meu rosto se ilumina com a claridade do fogo. 

Olho para o diário nas minhas mãos. Sinto um aperto no peito que atinge diretamente o meu coração. Aquele caroço que eu venho ignorando há dias volta a surgir, impedindo a passagem de ar pela minha garganta. A vontade de reler todas aquelas páginas para, de alguma forma, matar a saudade de Ryan é como uma coceira impossível de ignorar, mas eu me repreendo por sequer deixá-lo tomar novamente meus pensamentos. Então, sem pensar muito, eu atiro o diário no fogo. Fico parada enquanto observo a capa de couro se deteriorar e as páginas virarem borralha que flutuam ao redor das chamas e depois pousam sobre a madeira queimada. 

E como todas aquelas páginas, espero transformar o amor que sinto por Ryan em nada mais além de cinzas. 

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