CHANTAGEM - SARIETTE

By xuxufreire

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Juliette encontrará o ódio e o amor na figura de uma mulher do passado. More

AVISO
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
QUATORZE
QUINZE
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
TRINTA E QUATRO
TRINTA E CINCO
TRINTA E SEIS

TRINTA E UM

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By xuxufreire

Juliette Freire.

Tomei um susto quando o celular começou a tocar, me fazendo voltar a realidade. Eu havia deixado o aparelho no braço do sofá, sentei-me rapidamente e atendi.

- Oi Jully. Como estão as coisas por aí? - Fechei os olhos ao ouvir a voz dela.

- Bem... - Disse baixo, recostando-me no encosto, tentando afastar aquele aperto do coração.

- E a Cecile? Vocês estão melhores?

- A Ceci não entende bem o que aconteceu. Carla disse a ela que o papai foi para o céu e ela aceitou. As vezes pergunta por ele, mas está bem.

- E você? Como está lidando com isso?

- Estou legal. - Menti.

- Bom saber. Só liguei para saber como vocês estavam. Estou preocupada de verdade.

Eu não queria que ela desligasse. Pensei desesperadamente em algo para dizer.

- Não se preocupe, Sarah, eu estou bem. É bom passar um tempo com a Ceci e a Carla, mas também fico feliz que tenha ligado.

A linha ficou muda por alguns segundos, a respiração um pouco desregulada de Sarah dava para ser ouvida com clareza, o silêncio desconfortável já estava me deixando agoniada fazendo todas as minhas preocupações voltarem a mente como um baque, e elas apenas seriam resolvidas com o dinheiro do nosso acordo.

- Sarah... Sobre o dinheiro do acordo. - Engoli em seco, nervosa. - Você poderia fazer o adiantamento? É que eu preciso fazer o pagamento para a funerária.

- Juliette...

- Sarah! Por favor! Eu preciso do dinheiro! Se quiser pode aumentar o prazo do contrato.

- Tá, tudo bem... - Um suspiro escapou de sua boca. - Me passa o número da sua conta por mensagem, depois irei fazer o depósito dos cinco mil.

Um alívio tomou conta do meu corpo, como se uma pedra fosse retiradas das minhas costas. Um problema já estava resolvido.

- Obrigada, Sarah. Nem sei como te agradecer...

- Esquece isso, Juliette. O dinheiro é seu, não tem motivos para eu negá-lo a você.

- Bom... É que eu não cumpri o um mês de serviço a você.

- O meu tá, tudo bem. - Ela deu ênfase nas três últimas palavras em um tom de deboche. - Também foi concordando com o aumento do prazo do acordo. E eu que vou decidir por mais quantos dias eu vou querer você.

A resposta de Sarah veio como um balde de água fria. Tá certo que eu havia dito para ela aumentar o prazo em troca do adiantamento do dinheiro, mas eu não imaginaria que ela daria essa sentença dessa maneira. Ela não parecia aquela Sarah que me ajudou e protegeu no dia anterior, mas apenas decidi concordar com isso.

- Ok, mesmo assim obrigada. Sei que não gosta da gente. Quero dizer...

- Eu sei o que você quer dizer. Não vou fingir que sinto pela morte de Bil, mas lamento que ele tenha sofrido tanto e que tenha deixado uma filha tão pequena. Como eu lamentaria por qualquer ser humano.

- Eu sei... Sarah. - A chamo depois de um tempo. - Como você está? Em relação a Vitória.

- Desculpe-me, Juliette, mas não quero conversar sobre isso por telefone.

- Ah! Tudo bem...

- Se precisar de algo, fale comigo. Você sabe que eu estou aqui. Já sabe o que vai fazer da sua vida daqui para a frente?

- Mais ou menos. trabalhar, voltar a estudar...

- Fazia faculdade do que?

- Direito. - Respondi um pouco ressabiada. Como diabos ela sabia que eu fazia faculdade? Eu não me lembrava de ter mencionado em nossas conversas que eu havia entrado na faculdade, e também durante os dez anos eu só a vi uma única vez, na época em que eu e Bil havíamos nos separado e de uma coisa eu tenho certeza, nós não conversamos naquela noite, o que também seria impossível, já que ela estava completamente embriagada. - Mas tive que trancar quando a doença do Bil piorou. E agora pretendo voltar a estudar. - Tentei dizer sem deixar voz vacilar.

- Ótimo. Vai dar tudo certo.

- Sim. Obrigada novamente. Agora eu preciso desligar.

- Boa noite!

- Sarah! - Falei antes de perder a coragem. - Eu preciso te pedir mais uma coisa.

- Pode falar.

- Eu sei que já pedi o dinheiro adiantado, mas também queria pedir mais um tempo... É que agora eu não tenho cabeça para...

- Transar? Você acha mesmo que eu exigiria que transasse comigo agora? Não mesmo...

- Não. Eu sei que não. Mas é que preciso saber o que você planeja.

- O que eu planejo é aumentar ainda mais o prazo do acordo, simples. Temos um acordo e ele será cumprido, com as novas regras, é claro. Mas posso esperar, ainda mais que amanhã irei fazer uma pequena cirurgia.

- Cirurgia? - Perguntei intrigada.

- Sim, mas não se preocupe, não é nada muito grave. Acredito que em dois dia eu estarei novinha em folha. - Sua risada sarcástica preencheu meus ouvidos.

- Certo. Boa noite.

- Boa noite. - Desliguei o celular e fechei os olhos. Não consegui entender o alívio que senti por saber que a veria novamente.

...

Era estranho ver o quarto vazio daquele jeito.

Agora, na terça feira de manhã, eu saía do quarto que havíamos ocupado por anos. Eu ainda não conseguia dormir ali sozinha e o deixava fechado por enquanto.

Eu e Carla havíamos arrumado todo o quarto na segunda na parte da manhã, já que a tarde eu era obrigada a ir ao banco sacar o dinheiro que Sarah depositou em minha conta para poder ir pagar a funerária, mas imagina a minha surpresa quando o gerente do banco me disse que a minha conta tinha bem mais que apenas os cinco mil dólares.

Perguntei a ele se foi Sarah que havia feito o depósito, mas ele me garantiu que não tinha sido ela, que o dinheiro que estava agora em minha conta era de um seguro de vida que Bil havia feito um pouco antes de saber que estava doente, o que era praticamente impossível, já que meu falecido marido esbanjava dinheiro por onde passava sem se preocupar com o futuro e também porque a seguradora que é denominada por MAA Seguradora - na qual eu nunca tinha ouvido falar - não entrou em contato comigo uma única vez.

Estranho era pouco para aquela situação, tanto é que fiquei insistindo para o gerente confirmar que era Sarah a dona daquele dinheiro, mas ele negou em todas as vezes que perguntei.

Então a única coisa que me restou foi me conformar que eu estava rica novamente.

Só não sabia por quanto tempo, porque se foi Sarah que depositou o dinheiro eu irei entregá-lo a ela de novo.

Mas confesso que me sentia um pouco aliviada de saber que tinha aquele dinheiro em mãos, ele me livraria de boas encrencas caso ele fosse mesmo de algum seguro que Bil fez, porém mesmo assim a tristeza permanecia.

Na sala Ceci brincava e assistia desenho. Às vezes eu me culpava por ela ser tão sozinha.

Fui para a cozinha, onde fazia comida e pensava em como começar a procurar um emprego, porque como disse o dinheiro poderia ser muito bem de Sarah e eu não quero o dinheiro dela, é questão de dignidade.

Carla já se oferecera para cuidar de Cecile, o que era uma preocupação a menos. Logo Carla chegou e ficamos conversando em volta da mesa da cozinha.

- Ela telefonou? - Perguntou ela, em determinado momento. Olhei-a de relance.

- No domingo a noite.

- Vocês vão se ver ainda? - A sobrancelha da loira se arqueou e ela cruzou o braços acima dos peitos.

- Sim. Nosso acordo não acabou, na verdade aumentou.

- É o que? - Ela perguntou desacreditada.

- Algum problema, Carla? - Parei o que estava fazendo e a encarei.

- N-não. Nenhum. É que você me pegou de surpresa.

- Hum... Entendi. - Voltei a fazer a comida enquanto Carla se sentava em uma das cadeiras ali. - Sabe Carla, o dinheiro que sobrou do meu acordo com Sarah é pouco, eu preciso esticá-lo pelo menos até eu arranjar um emprego e receber o primeiro salário. Eu não tenho a menos vontade de tocar agora naquele dinheiro que apareceu misteriosamente na minha conta.

- Mas você vai precisar daquele dinheiro, Juliette. Precisa pagar aluguel, as contas da casa, por comida na mesa. E, mesmo que arrumasse um emprego hoje, teria que esperar pelo menos um mês para receber.

- Eu sei, é que me sinto mal, como uma mercenária.

- Não diga bobagens, Juliette. Vai ver a Sarah depositou aquele dinheiro porque aumentou o prazo do acordo de vocês, como você mesma disse. - Virei-me em sua direção e encarei-a novamente.

- É, pode ser isso... Nunca pensei que um dia iria me prostituir. Às vezes penso que agora Bil pode ver o que eu faço e vai saber que eu dormi com ela enquanto estava doente e morrendo.

Sem controle, meus olhos encheram-se de lágrimas.

- Ele vai saber quem eu sou. Ele vai saber quem eu fui a quase quatro anos atrás.

- Não entendi a última parte. - Carla da um tapinha no ar em descaso rindo. - Mas ele vai saber que você é forte e que fez o que foi preciso para dar o melhor para sua família. Vem senta aqui, Ju.

Carla chamou, batendo a mão na cadeira ao seu lado, fiz o que ela disse e então ela segurou a minha mão e começou a acariciá-la.

- Escute, eu conheço você há anos. Sei que você não é nenhuma prostituta. Assim como sei tudo o que aconteceu entre você e a Sarah. Não foi só um acordo que envolvia sexo e dinheiro. Olhando para vocês, deu para perceber que há algo mais as ligando. Vocês tinham um passado em comum e já se desejavam.

- Isso não muda nada, Carla. - Sequei os olhos com as pontas dos dedos. - Naquela época o agiota não estava me ameaçando. Se fosse o caso, talvez eu dormisse com ela.

- Claro que muda. Aquele seu último patrão ofereceu muitas vantagens para que você dormisse com ele e você recusou.

- Faria mesmo isso? - Olhei-a. Não. Só de pensar naquele homem eu sentia asco. Ele era rico e bonito, mas não era a Sarah.

- Sabe o que eu acho, Juliette? Que no fundo, você e a Sarah queriam se tornar amantes desde dez anos atrás. Inventaram desculpas. Ela fingiu comprar e você fingiu vender. Mas o que queriam mesmo eram ficar juntas.

- Que loucura! Você viu naquela época como eu estava desesperada pelo dinheiro!

- Mas acho que recusaria a proposta de qualquer outra pessoa. Fugiria, daria outro jeito. Aceitou porque no fundo você a desejava, estava sozinha, carente, cansada de lutar.

Balancei a cabeça negativamente, mas pensei sobre o que ela falou. Só de me imaginar com outra pessoa eu tinha vontade de vomitar. Mas não com Sarah. Mesmo com raiva eu a desejava. Nunca foi horrível ficar com ela. Só naquele ocorrido trágico.

- Ela é muito diferente do que eu pensava. - Continuou a minha amiga, pensativa. - Imaginei uma mulher arrogante, nojenta, de nariz em pé. Apesar de ser bem séria, foi educada e eu vi que ela estava muito preocupada contigo e depois que vi ela e Cecile juntas, parecendo mãe e filha, percebi que ela é a pessoa certa para você, existe uma conexão gigante entre vocês três. Pelo que diz, que ela desprezava vocês, pensei que ela a largaria aqui e sumiria. Mas ela só foi embora depois que resolveu tudo e viu você cercada de amigos.

- Ela faria isso por qualquer pessoa. - Falei, não querendo ter esperanças vãs.

- Pode ser, mas vi o modo que ela olhava para você, Juliette. - Parei o que fazia e fitei-a.

- Que modo?

- Como se você fosse dela. Com intensidade. Do modo como uma pessoas apaixonada olha. - Carla não falava de brincadeira. - Do mesmo modo que você olha para ela.

Lembrei-me do que Sarah disse na noite em que conversamos "você é minha".

- Você está imaginando coisas, Carla.

- Ah, mas não estou mesmo! Lamento que tudo sempre tenha começado mal entre vocês. Se fosse diferente, estariam juntas.

- Isso é loucura. - Recostei-me na cadeira. - Você só a viu uma vez. Não pode saber de tudo isso.

- Aí é que você se engana... - Carla cantarola, com um sorriso travesso nos lábios e eu a olho desconfiada, a loira rapidamente se recompõe. - Eu já pensava assim, através do que você dizia. Só tive certeza ao conhece-la.

- Isso não importa. - Dei de ombros, fingindo não me abalar. Mas tudo que ela me disse mexeu comigo. - Acabei de ficar viúva e... O que tenho com a Sarah é um acordo. Não quero e não posso confundir as coisas. Preciso manter minha cabeça no lugar.

Carla não insistiu no assunto, mas Sarah não saiu da minha cabeça pelo resto do dia.

Na quarta-feira de manhã saí para procurar emprego, com o jornal debaixo do braço, e fiz várias entrevistas. Voltei para casa a noite com os pés doendo, faminta e apenas com promessas de "entraremos em contato".

Na quinta-feira foi o mesmo processo. E igualmente infrutífero.

E tudo que eu queria era Sarah.

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