Indecente • COMPLETO

Oleh autoramillyferreira

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Não é permitido se apaixonar. Apenas é permitido sentir prazer. Jade West fugiu do convento. A fim de começa... Lebih Banyak

Notas da autora
Epígrafe
um
dois
três
quatro
cinco
seis
sete
oito
nove
dez
onze
doze
treze
catorze
quinze
dezesseis
dezessete
dezoito
dezenove
vinte
vinte e um
vinte e dois
vinte e três
vinte e quatro
vinte e seis
vinte e sete
vinte e oito
vinte e nove
trinta
trinta e um
trinta e dois
trinta e três
trinta e quatro
trinta e cinco
trinta e seis
trinta e sete
trinta e oito
trinta e nove
quarenta
Epílogo
Epílogo 2
Bônus
Notas da autora
Livro novo

vinte e cinco

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Oleh autoramillyferreira

— Aonde você está indo? 

Paro no meio do caminho e vejo o meu irmão saindo da cozinha. Ele parece cansado. Conciliar trabalho com estudos está o matando, e eu entendo perfeitamente, porque estou no mesmo barco furado. Mas acredito que seja ainda mais pesado para ele, porque seu trabalho é muito mais complexo do que servir mesas. 

— Vou à uma festa — respondo. 

Ele repara na minha roupa. Estou usando um vestido preto de tecido brilhante que vai até o meio das minhas coxas. Ele é composto de uma manga só, longa, tendo o tecido dessa parte em específico um pouco mais transparente. Meu cabelo está solto, simples, mas bem escovado, e meus lábios cheios estão preenchidos por um batom vermelho vívido. 

Não sou mais a garotinha assustada que chegou aqui. Me sinto mais determinada, empoderada e… gostosa. Muito gostosa. E esse vestido só acentua mais isso. 

— Sozinha? — questiona ele. — Ou vai com o Ryan?

— Agnes está me esperando lá embaixo — replico. — Mas provavelmente eu verei o Ryan lá — eu acrescento. 

Ele concorda com a cabeça lentamente; não está aprovando, mas também não está reprovando. 

— Você está bonita — diz ele. 

Sorrio fracamente. 

— Obrigada. 

— Vou deixar você ir agora — ele vem até mim e beija minha testa. — Se cuida. 

Agnes está esperando no carro quando saio do prédio. Ela me elogia, e eu faço o mesmo, porque ela está linda naquele vestido verde escuro e uma faixa no cabelo. Vamos o caminho todo cantando música pop, já entrando no clima da festa. Eu me considero uma pessoa tranquila, mas quando saio, gosto de me divertir. Essa é uma parte de mim que eu acabei de descobrir e estou gostando muito disso. 

A festa é na casa de um dos atletas da faculdade. Muitas pessoas que estudam lá são podres de ricas, então não me surpreendo quando paramos em uma mansão à beira mar, de dois andares. 

Agnes consegue espremer o seu pequeno carro entre duas caminhonetes enormes e depois que conseguimos escapar da vaga de ladinho, ela segura minha mão e me puxa para dentro da casa como se eu fosse uma criancinha. 

Dou uma olhada na casa. Há portas de vidros por todo canto que estão abertas, deixando uma brisa deliciosa e salgada invadir os cômodos. As cores brancas das paredes se contrastam com os copos vermelhos que as pessoas carregam em mãos. Parece haver muitas entradas e saídas, muitos corredores, e o anfitrião da festa parece ter dado um jeito de sumir com os móveis, deixando apenas dois sofás para a galera socializar. 

"Beautiful Mistake", do Maroon 5, está tocando em um volume agradável, um pouco baixo dentro da casa, até que eu percebo que a verdadeira festa está rolando nos fundos. É uma espécie de luau, com tochas fincadas na areia e um tablado enorme montado com mesas repletas de comida.   

— Uau — eu digo, realmente impressionada.

Agnes abre um sorrisinho ao ver a minha cara de boba. 

— Os pais do Finley, o anfitrião da festa, são cheios de grana — informa ela, enquanto damos uma volta por aí. — Eles têm uma siderúrgica ou algo assim. Enfim. O que importa é que as festas do Finley são memoráveis. Quem tem dinheiro tem tudo. 

— Não o mais importante — murmuro. 

— Que seria? — ela ergue a sobrancelha. 

— Amor — dou de ombros. — Quando se é rico, você não sabe em quem confiar. Tipo… estão ali do seu lado pelo que você é ou pelo seu dinheiro?

Agnes parece refletir. 

— Tem razão. Mas viemos aqui para nos divertir, não para filosofar, então vamos encontrar alguma coisa para beber — determina ela, ansiosa, o que me faz rir.   

Encontramos a cozinha com muita facilidade. Há cinco expositoras de bebidas cheias de cervejas, e fica a critério nosso beber direto da garrafa ou pegar um copo vermelho. Eu opto pela garrafa, assim como Agnes. Não sou muito fã do gosto da bebida alcoólica, mas como dizem que você apenas se acostuma com o sabor, estou a fim de embarcar nessa jornada hoje. 

— Vamos dançar um pouco — Agnes novamente segura a minha mão e me puxa para fora. 

Vamos até o tablado, onde a verdadeira festa está acontecendo. Estão todos dançando e se esbaldando com a comida que parece uma mistura de fast food, petiscos de frutos do mar, salgadinhos e frutas. Só consigo pegar uma rodela de kiwi antes de Agnes me puxar para o centro do tablado para dançar. Está tocando "Look At Her Now", da Selena Gomez, e eu deixo a letra da música me dominar e as batidas moverem o meu corpo. 

Uma sequência de músicas eletrizantes se segue, me fazendo rebolar, pular ou jogar os braços para cima e apenas movimentá-los no ar. Até que "Streets", da Doja Cat, com uma batida mais sensual e mais lenta começa a me envolver. Fecho os olhos e passo as mãos pelo corpo enquanto meus quadris se movimentam lentamente em um ritmo sensual. É como se um leão enjaulado tivesse acabado de se libertar, e estivesse correndo como se sua vida dependesse disso, temendo ser preso novamente. 

— Seu bad boy selvagem não para de olhar para cá. 

A voz de Agnes me desperta do transe. Lanço um olhar para ela antes de olhar ao redor, discretamente, procurando pelo tal bad boy. E lá está ele. E está olhando diretamente para mim com os olhos azuis profundos brilhantes, escorado em uma parede da casa, usando jeans e camisa simples, mas tão bonito… 

Nossos olhares se encontram e ele pisca antes de beber mais um gole de cerveja direto da garrafa, com os anéis prateados brilhando em alguns dos dedos longos. 

— O que está esperando? — ela me cutuca com o cotovelo. — Vai lá. 

— Mas… — hesito. — Mas e você?

Ela revira os olhos. 

— Ai, me poupe. Daqui a pouco eu arrumo um gatinho e você não vai ver mais a minha cara. Vai, aproveita, pega o seu gato na frente de todo mundo! 

Acho graça. Agnes ama um escândalo, ainda mais se for uma fofoca das boas que é capaz de deixar todas as garotas ao nosso redor com inveja. 

— Tudo bem — concordo. — Juízo, hein? 

— Digo o mesmo, mocinha. 

É a minha vez de revirar os olhos. Eu sempre tenho juízo.

Ando até Ryan com cuidado para não tropeçar. Graças a Deus Agnes me deu um toque para não usar salto alto. Imagina que brega seria vir de salto para uma festa na praia. 

Aquela sombra de um sorriso brinca no canto da boca  de Ryan quando eu me aproximo, e ele dá uma olhada nada sutil para o meu corpo.  

— Oi — digo quando estou perto o suficiente.

Ele coloca a cerveja equilibrada em cima de um jarro de planta e me puxa para mais perto, colando nossos corpos, me fazendo perder o fôlego. Um sorriso lento, quase canalha — não, literalmente canalha — se espalha pelos seus lábios convidativos. 

— Você está gostosa — diz ele. 

Abro um sorriso tímido. 

— É só o vestido. 

Ele coloca uma mecha de cabelo para trás da minha orelha e depois se inclina para sussurrar no meu ouvido:

— Não tem nada a ver com o vestido, apesar de ele ser lindo. Mas acho que você sabe que eu prefiro quando você não está usando nada. 

Meu corpo se enche de arrepios, os mesmos que se intensificam quando ele mordisca a ponta da minha orelha e depois beija o meu pescoço, descendo os lábios para o ombro exposto pelo vestido. E na frente de todos! Posso sentir alguns olhares sobre a gente, mas não me importo; tudo o que importa é apenas ele. 

— Você quer beber alguma coisa? — pergunta ele, voltando a atenção para o meu rosto. 

— Estou bem — asseguro. 

— Dançar, então? 

Ergo a sobrancelha. 

— Achei que não gostasse desse tipo de coisa. Achei que fosse mais na sua.

Ele sorri de canto de boca. 

— Eu meio que sou. Mas hoje estou pensando em abrir uma exceção. Então, topa? 

Fico feliz em saber que sou um tipo de exceção na vida de Ryan. Talvez eu seja mesmo importante para ele de alguma forma, o que sempre acaba me dando mais esperança do que deveria. Eu preciso começar a entender a minha posição na vida dele se não quiser me magoar; sou apenas a garota com quem ele dorme de vez em quando. Mas isso já quer dizer alguma coisa. Pelo menos, até mesmo na cama eu sou uma exceção, já que ele não dorme com a mesma mulher mais de uma vez. 

Aceito a dança e Ryan me conduz para dentro de casa, onde há menos pessoas e não está muito cheio quanto lá fora. Tem mais espaço para dançarmos e menos olhos sobre nós. Me sinto um pouco mais à vontade assim. 

Ele me puxa para mais perto ao som de "Peaches", do Justin Bieber. A música tem um ritmo mais lento, uma batida mais sensual, o que nos permite dançar coladinhos em movimentos sincronizados. Ryan Blossom dançando, quem diria? O que mais me impressiona é perceber o quanto ele é ajeitadinho. Não é rígido como uma pedra; seus quadris se movem de forma suave, sem pressão, e ele me faz girar algumas vezes pela sala de estar. O fato de ele estar se divertindo comigo já me deixa muito satisfeita. 

Dançamos mais algumas músicas, e Ryan aproveita algumas deixas para tomar os meus lábios nos seus em um beijo voraz e cheio de desejo. Ele aperta o meu corpo junto ao dele, tão cheio de saudade e necessidade, que minha mente não consegue pensar em mais nada além de se render a esse desejo tão primitivo. 

— Venha comigo — ele murmura contra os meus lábios antes de escorregar os lábios para minha bochecha e depositar ali um beijo carinhoso. 

Seus dedos se entrelaçam nos meus e ele me puxa pela sala de estar, desviando-se de alguns corpos que surgem no nosso caminho. Pode até ser impressão minha, mas parece que todos abrem caminho para passarmos, e isso é, no mínimo, estranho. Vamos até o segundo andar onde há uma fila de tamanho mediana para o banheiro. 

— Precisa usar o banheiro? — pergunto, meio incerta do motivo pelo qual estamos aqui. 

Como resposta, ele apenas beija minha têmpora e me puxa para mais perto mais uma vez, envolvendo o meu corpo nos seus braços fortes e calorosos. As pessoas na fila olham por cima do ombro para nos observar com curiosidade, como se o fato de Ryan estar me abraçando fosse a coisa mais inusitada que existe. À medida que eu enrubesço, ele apenas oferece para cada um deles um sorriso cínicamente frio. 

A fila vai diminuindo aos poucos, até que só resta apenas nós dois. 

— Eu vou te esperar aqui — anuncio, apesar de não ser necessário. 

Ele abre um sorrisinho. 

— Tenho uma ideia melhor — segura a minha mão. — Você vem comigo. 

Não tenho tempo de protestar, nem entender o que isso quer dizer, pois Ryan me puxa para dentro do banheiro e tranca a porta. Não consigo reparar em nada além de que tudo parece limpo e muito branco, com cheiro de detergente, pois no segundo seguinte ele me agarra e me beija com uma necessidade tão profunda que me faz gemer contra os seus lábios selvagens. 

— O que você está fazendo? — consigo perguntar, já sem fôlego, enquanto ele me prensa contra a parede. 

Ryan se afasta apenas o suficiente para olhar no meu rosto. Seus olhos estão mais escuros e profundos, com aquele brilho de antecipação que sempre surge quando ele está prestes a tirar a minha roupa. 

Ai, meu Deus… 

— Isso se chama rapidinha, gata. Isso significa que não vou aguentar mais nem um minuto para te comer. 

O centro da minha perna reage da forma mais satisfatória possível. Como este homem consegue me excitar sem nem ter encostado em mim direito? 

— Mas… — engulo em seco. — Você quer fazer isso… aqui? 

— Qual é o problema? — ele pressiona ainda mais os nossos corpos, me fazendo sentir a dureza entre suas pernas. 

— Mas… — balbucio. — Pode ter alguém no corredor e… e se alguém nos ouvir? 

Sua risada baixa ecoa pelos meus ouvidos e ele se inclina para sussurrar em meu ouvido. 

— Proibido é mais gostoso. 

Eis aí o mantra. Ele repete tanto isso que estou começando a acreditar. Mas não são só as palavras… A forma como meu corpo reage a essa adrenalina é surreal. É como se ele tivesse o controle de tudo o tempo todo. 

Ryan não perde tempo. Ele agarra minhas coxas e me põe montada nos seus quadris. Seguro a sua cabeça e enfio a língua dentro da sua boca, possessa, querendo receber tudo o que ele está disposto a me dar. Enquanto isso, seus quadris se esfregam contra o centro do meu corpo, me deixando excitada em um nível arrebatador. 

— Temos que ser rápidos — ele resmunga, abrindo a calça comigo ainda montada no seu colo. — Está pronta para isso? 

Minha resposta é imediata. 

— Estou sempre pronta para você. 

Ele sorri, satisfeito, e pega a camisinha no bolso traseiro da calça. Parece que demora uma eternidade enquanto ele a veste, mas tenho noção de que é apenas eu morrendo de tesão, ansiando para tê-lo dentro de mim o mais rápido possível. 

— Você é uma delícia — diz ele, enfiando uma mão entre nossos corpos e me acariciando por cima da calcinha molhada. — Tão excitada… parece um ótimo conteúdo para o seu diário. 

Um gemido baixo escapa por entre os meus lábios. 

— Hum, nossa, quero estar dentro de você — seus dedos escorregam pela lateral da calcinha e me penetram, me fazendo gemer mais uma vez. — Você é tão safadinha. Gosta disso, não gosta? Você quer que eu te coma bem aqui, não quer? 

Agarro os ombros dele, tentando controlar minha boca inquieta, mas é impossível. 

— Ah, Ryan — choramingo. — Por favor… vem logo. 

A sombra de um sorriso brota no canto da sua boca. Não sinto mais seus dedos lá embaixo, e demora apenas um instante para eu sentir novamente uma penetração, mas desta vez é algo bem maior e mais grosso. Arregalo os olhos e não consigo segurar o grito que escapa do fundo da minha garganta. Sou pega totalmente de surpresa. 

Ryan abre um sorrisinho. 

— Assim? — provoca. 

— Ah, porra — arfo, fazendo-o rir. 

— De santa você não tem nada, West. É uma pequena diabinha. Adoro essa sua boca suja. 

Ele me beija de novo, com força, enquanto se movimenta dentro de mim. O ritmo de vaivém começa lento, mas logo ganha velocidade, intensidade, e quando percebo ele está me penetrando com muita força e precisão, fazendo as minhas costas se chocarem contra a parede de azulejos a cada investida. O momento de torpor é tão alucinante que não me importo mais se estou gritando e se as pessoas lá fora estão me ouvindo; tudo o que importa é esse momento, enquanto estamos presos em uma bolha de prazer. 

Não satisfeito, Ryan me põe no chão e me faz virar de costas para ele. Sou induzida a me apoiar contra a pia, com a bunda inclinada para ele, enquanto observo seu olhar animalesco pelo reflexo do espelho. Ele torna a entrar em mim novamente. Está me comendo e eu estou assistindo tudo. Suas mãos fortes e firmes seguram meus cabelos, dando leves puxões, e suas mordidas no meu pescoço são suaves, mas satisfatórias. Seus olhos estão cravados nos meus. 

Sinto todo o meu rosto esquentar quando o orgasmo me atinge. A cada vez que ele me faz chegar lá, parece ainda mais intenso do que da última vez. Minha visão embaça e minhas pernas fraquejam, mas Ryan me segura bem firme. Ele é tão grande e forte, tão quente, e toda vez que sinto seu toque, todas as minhas dúvidas desaparecem; eu só quero ficar aqui com ele. 

Os minutos que se seguem são de silêncio. Ele se livra da camisinha, ajeita a calça e eu me limpo com um pedaço de papel higiênico antes de ajeitar a calcinha. Também tento arrumar o cabelo pós-foda, mas ele continua um pouco desgrenhado. Posso dizer o mesmo de Ryan, mas ele não se importa de ajeitar o dele; é sexy. 

— Está tudo bem? — ele me puxa para ele. 

— Eu vou acabar indo para o inferno por sua causa — murmuro, e um sorriso gigantesco se delineia pelos seus lábios. Não consigo resistir e acabo sorrindo também. — Não se preocupe — acrescento. — Estou mais do que bem. 

— Que bom — seus lábios tocam a minha testa, e acho que ele não tem noção do quanto isso é adorável. 

Fica quietinho aí, coração de merda. 

— Será que você poderia me dar um segundo? — pergunto. — Preciso usar o banheiro — acrescento. 

— Claro. Vou pegar uma cerveja. Te encontro lá embaixo? 

— Combinado. 

Ryan beija os meus lábios mais uma vez antes de sair do banheiro e me deixar sozinha. Olho-me no espelho e percebo que, mesmo com a minha cor de chocolate, o rubor presente nas minhas bochechas é bem notável. Meu rosto sempre fica assim depois de uma transa. Meus olhos também estão bem maiores, com as pupilas levemente dilatadas. 

Faço xixi e aproveito a deixa para me limpar melhor. A parte ruim depois do sexo é que sempre fica uma bagunça. Gostaria de um banho, mas agora não será possível. Em frente ao espelho, arrumo o vestido que até então estava um pouco torto e finalmente estou pronta para sair do banheiro. 

Péssima ideia. Tem uma fila pequena esperando, e todos me olham com um olhar de julgamento quando apareço. Será que todas essas pessoas estavam aqui enquanto eu e Ryan…? Ai, meu Deus! Mais uma vez, estou corando, só que mais violentamente desta vez. Com o pouco de dignidade que me resta — se é que resta alguma —, eu faço a caminhada da vergonha até o fim do corredor, e quando chego no topo da escada, praticamente fujo correndo. 

Ah, merda, agora todo mundo sabe que transei com Ryan no banheiro! 

Agora eu entendo o que todo mundo quer dizer quando falam que Ryan Blossom é sinônimo de problema. Eu, em perfeitas condições, nunca faria algo assim. Mas confesso que… faria de novo. 

Procuro por Ryan no andar de baixo. Ele não está na sala de estar nem na cozinha. Vou para o lado de fora, pensando que, talvez, ele tenha saído para fumar um cigarro, mas também não o encontro. Ao invés disso, dou de cara com Agnes, que está com o batom todo borrado e o cabelo desgrenhado. Pelo visto, não fui a única que estava se divertindo. 

— O Ryan passou por aqui? — pergunto para ela. 

— Eu vi ele indo naquela direção — ela aponta para a praia. 

Franzo o cenho. 

— Tem certeza? 

— Acho que não dá para confundir a beleza de Ryan Blossom — seu comentário sarcástico me faz sorrir. — Pode confiar. Ele passou aqui faz uns cinco minutos. 

— Tudo bem — digo. — Vou ver se está tudo bem. 

Vou andando pela areia, sentindo a música ficar cada vez mais distante à medida que avanço. Consigo ver duas silhuetas um pouco distantes, e reconheço a camisa de Ryan. Ele está na frente de um cara loiro que está agachado, acho que amarrando o cadarço do sapato, e parece estar segurando algo. Um cigarro, talvez. 

O desconhecido se ergue e parece estar rolando uma conversa particular entre eles. Hesito por um momento, temendo estar prestes a enfiar o nariz onde não me convém, e quando estou a um segundo de voltar, um cheiro forte invade minhas narinas, tão forte que me faz parar e assimilar. Meu cérebro trabalha arduamente, reconhecendo o cheiro. Por um momento, me recuso a acreditar, mas tenho certeza que o odor está vindo daquele pequeno rolinho que Ryan está segurando. 

Não… não pode ser maconha… Mas eu sei que é. Esse cheiro é bastante familiar, porque esse mesmo cheiro impregnava o meu antigo quarto em Chester sempre que eu ia visitar a minha mãe. O filho do nosso vizinho usava maconha, e a janela do quarto dele era virada para a minha. 

Sou tomada por um sentimento sufocante de decepção. 

— Ryan? 

Vejo o exato momento em que os seus ombros se empertigam. Ele se vira lentamente, os olhos levemente arregalados, e vejo-o engolir em seco diante do meu olhar de mágoa. Seus olhos se desviam para o rolinho em suas mãos antes de voltarem para os meus. 

— Jade… 

Apenas balanço a cabeça como um sinal de reprovação e saio andando o mais depressa que consigo, mas a areia dificulta os meus passos. Ouço-o xingar baixinho e sei que está vindo atrás de mim, mas estou disposta a ignorá-lo. 

— Jade, por favor, espera. 

— Não! — Grito, sem olhar para trás. — Não quero falar com você. Me deixe em paz. 

— Você entendeu tudo errado, caramba! Me deixa explicar!

— Sei muito bem o que eu vi — rebato. 

— Não, você não sabe — sua mão firme alcança meu pulso, me impedindo de andar. Ele me puxa para si, me obrigando a olhar para o seu rosto. Seus olhos estão mais sombrios do que jamais vi. — Você tem de me escutar. 

Olho dentro dos olhos dele. 

— Me. Solta. Agora. — Digo pausadamente, enfatizando cada palavra para que ele saiba que não estou brincando. 

Ryan fica ainda mais rígido, mas seu toque ao redor do meu pulso afrouxa aos poucos e ele me solta. Ficamos olhando um para o outro, tão perto um do outro, mas ao mesmo tempo tão longe… Parece haver um conflito interno dentro dele, assim como labaredas de raiva preenchem minhas íris. 

— Me deixa explicar — ele pede de novo, com a voz baixa. 

— Explicar o quê? — cuspo as palavras. — Que depois de tudo o que você passou, do sofrimento que causou ao seu pai e a si mesmo, você voltou a fumar?

Um vinco se forma entre suas sobrancelhas diante das minhas palavras duras. 

— Não voltei a fumar — garante ele; a voz seca. 

— Então o que era aquilo que você estava segurando? — questiono. 

Ele abre a boca, mas depois fecha. Isso está ficando cada vez pior. 

— Não era meu. — A resposta dele me entristece. Ele não é homem o suficiente para admitir os próprios erros? — Eu apenas estava segurando para que o Brian pudesse amarrar o sapato. Não passou disso. 

— Que tipo de desculpa esfarrapada é essa? 

— Não é desculpa — rosna. — É a porra da verdade! Por que você não pode simplesmente acreditar em mim?

— O que você estava fazendo aqui, pra começo de conversa? — exijo saber. 

Ele passa a mão pelo cabelo, parecendo nervoso. 

— Olha só, Jade, você não é a minha mãe para ficar me monitorando — a raiva dele transcende. 

— Eu só estou preocupada com você! — Grito. 

— Isso não é preocupação. Você está apenas me acusando. 

Paro por um instante e respiro fundo. 

— Então você não usou aquela merda? — pergunto, apesar de ainda estar relutante. 

Agora ele parece furioso. 

— Porra, eu já disse que não! Brian me chamou aqui, me ofereceu maconha, mas eu disse que não. Se você acredita ou não na minha palavra, não é problema meu. 

Faço a maior cara de ofendida. 

— Não fala assim comigo, Ryan.

— Não fala você assim comigo — rebate. — Achei que você fosse diferente, mas pelo visto é igual a todas as outras pessoas. 

Meus olhos se enchem de lágrimas. Uma mistura de dor, mágoa e raiva toma conta do meu peito. 

— Você não tem o direito de falar isso de mim. Sabe que não é verdade. Eu fui a única a acreditar em você, que não te julgou em nenhum momento. Pensei que depois de tudo o que compartilhamos, você fosse mais sensato. 

Ele abre um sorriso sem qualquer humor. 

— E depois de tudo o que compartilhamos, eu pensei que você confiasse em mim. 

Suas palavras são como um tapa na minha face. Apesar desse momento em específico, eu confiei muitas coisas à Ryan. Meu passado, o meu corpo e… até o meu coração. Não posso mais continuar mentindo para mim mesma e dizer que não estou me envolvendo mais profundamente nisso. Sei que esse momento de cabeça quente não vai nos levar a nada, mas ainda assim… machuca. Não só a mim, mas como evidentemente a ele também. 

— Vou embora — anuncio, querendo pôr um fim nesse episódio. Não quero que continuemos machucando um ao outro com palavras sem pensar. 

Ele suspira. 

— Levo você. 

— Não — digo com muita convicção. — Agnes me leva para casa. 

Ele me encara. Sua expressão endurece, e seus olhos parecem mais frios que a Antártida. 

— Como quiser — diz ele secamente. 

Depois de uma última olhada, Ryan passa por mim, tão perto que sinto uma eletricidade passear pelo meu corpo quando nossos braços quase se tocam, e então vai embora, deixando-me para trás, sozinha e angustiada. 

Em um surto de raiva, eu chuto um bocado de areia que voa em várias direções diferentes. Respiro fundo e tento controlar as lágrimas, mas elas insistem em cair. Não queria brigar com ele. Talvez eu tenha exagerado em chegar cheia de acusações, de não deixar que ele explicasse sua versão da história, mas eu me preocupo tanto… Não estive aqui nos piores momentos dele, e sei que o passado dele é sombrio e doloroso, e eu só… Não quero que ele volte para lá. Tenho medo que ele se perca novamente. Quero protegê-lo, mas eu também sou ser humano e falho muitas vezes, ainda mais quando sou tomada por essa sensação de pânico que aperta o meu peito. 

Quero sair correndo atrás dele, mas não o faço. Ele precisa esfriar a cabeça, e eu também. 

O meu maior medo, além de magoar Ryan, é acabar me dando conta de que estou me apaixonando por um cara que não sente o mesmo por mim. 

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