Minhas mãos estavam atadas nas minhas costas e eu sentia o suor escorrendo da minha testa. O cheiro do lugar era de sangue, pânico e sêmen. Eu não via nada. Meus olhos estavam tampados por uma venda. Eu só tinha meus ouvidos para se guiar.
O local onde eu estava era silencioso e úmido. Meu corpo todo doía. Meu corpo inteiro se retesava ainda mais quando eu ouvia as gotas de alguma fonte de água caindo em uma poça.
-Nos encontramos novamente, não é, Kaya?
Aquela voz. Aquela maldita voz e a maldita risada ecoaram nas paredes de onde quer que eu estivesse. Virei a cabeça de um lado ao outro, desesperada. Eu não sabia nem onde estava, quanto mais me defender ou fugir.
Eu ouvi passos e lágrimas grossas escaparam dos meus olhos. Na boca, o gosto amargo de desespero e sangue. Eu senti alguém na minha frente, segurando meu rosto com força e violência.
Eu paralisei, incapaz de me defender.
-Você vai pagar pelo que fez comigo, Kaya. E vai pagar muito caro!
Me debati, sentindo um homem me segurar pelos ombros. Eu batia nele e berrava. Só acordei quando meu punho foi de encontro ao rosto de alguém e pela arfada que a pessoa deu, reconheci Bucky.
Abri os olhos e sentei na cama, sentindo minhas costas inteiras molhadas de suor. Tirei o cabelo preso no meu rosto, tentando enxergar alguma coisa. Achei a tomada do abajur e liguei, encarando Bucky.
A porta do quarto na Shield abriu e a luz acendeu quando metade dos Vingadores apareceram. Bucky ainda segurava o nariz, que sangrava por entre os dedos dele.
-O que aconteceu?
-Que gritos foram esses?!
-Meu Deus! Vocês foram atacados?!
-Por quê o deememoriado está sangrando?!
-Eu fô fem! - Bucky se desvencilhou de Steve e Clint e veio até mim.
Só reparei que estava chorando quando Bucky me puxou para o peito dele e eu soltei um soluço alto. Bucky me abraçou apertado, contra o corpo dele. Senti meus cabelos molharem com sangue.
-Foi um pesadelo? - Ouvi a voz de Clint ao meu lado.
Acenei que sim com a cabeça, tentando controlar os soluços sem sucesso nenhum. Meu corpo inteiro tremia e meu coração estava acelerado. Meu pulmão ardia e doía quando eu tentava respirar.
-Não é melhor vocês irem para a Clínica? - Tony sugeriu. - Você está sangrando, ela parece que vai ter um treco...
-Afor? - Bucky questionou, contra os meus cabelos. - Famos fara a fínica?
Meus olhos fecharam. Havia tanto zunido nos meus ouvidos... Minha cabeça parecia que ia explodir!
-Gente, pelo amor de Deus! - Ouvi a voz de Wanda. - Vocês não estão vendo que a Naomi precisa de espaço e silêncio?! Vamos sair daqui!
Aos poucos, o pessoal foi saindo do quarto e eles fecharam a porta. Tentei argumentar para Bucky ir ver o nariz, mas ele foi firme em dizer que só saía do quarto quando eu me acalmasse.
Levei vários minutos para parar de tremer e conseguir sair do peito dele. Eu estava esgotada. Bucky me encarou, sério e preocupado, enquanto o nariz parava de sangrar. Havia sangue nas nossas roupas, na cama, no chão...
-Eu te soquei muito forte? - Questionei, em um fio de voz.
-Tá tudo bem... - Bucky respondeu, ainda anasalado. - Não quebrou, amor.
-Desculpe... - Algumas lágrimas ameaçaram cair dos meus olhos.
Bucky limpou o sangue das mãos no lençol da cama e segurou meu rosto, negando com a cabeça.
-Hey, olha para mim... Está tudo bem!
-Eu soquei você!
-Eu te acordei de qualquer forma, Naomi! Qualquer um podia ter me socado...
-Mas eu sangrei você! - Contra-argumentei. - Eu sangrei você...
Bucky não respondeu, apenas continuou de mãos dadas comigo, me observando. Meus olhos começaram a pesar e eu os fechei, deitando de volta nos travesseiros e sentindo a umidade presente neles.
-Naomi... É melhor você ir tomar um banho. Quer ir na Clínica tomar um calmante?
Neguei. Abri os olhos e o encarei de novo.
-Vai você, Zangão.
-Eu vou depois que você me contar o que aconteceu com você.
Neguei com a cabeça, indicando que eu não queria falar nada. Depois de muita insistência, cedi e admiti que tinha sido um sonho com o Barão.
Faziam três dias que tínhamos saído de Washington e que a garota da pele de neve entregou tudo que queríamos: Localização, objetivos, segredos... Tínhamos o Barão na palma da nossa mão.
Mesmo assim, Fury achou melhor esperarmos. Os contatos dele estavam presos conosco e ele não ia entender porquê ninguém mais passava nada a ele. Saí de Washington e entrei na Shield escondida. Fury soltou um boato que eu, Arthur e Bucky tínhamos sumido junto com essa garota.
O objetivo do Fury era o provocar para fazer ele sair da zona de conforto. Fury tinha mandado alguns agentes para Portland, disfarçados, junto com o novo rosto do Barão.
Já eu? Eu não tinha orgulho nenhum do que eu fiz, mas invadi a sala de provas durante a noite com a ajuda de Natasha e peguei a caixa que continha a cabeça de Sophie, a surrupiando para dentro de uma sala de interrogatório.
Entramos nela e ficamos alguns minutos decidindo o que íamos fazer. Por fim, não me igualei a ele. Apenas mandei a caixa de volta até Portland com um bilhete dentro, que dizia apenas a frase: "Te achei".
O Barão não ia se mexer se ele não sentisse que estava ameaçado. O filho da puta gostava de estar na zona de conforto.
Depois que contei do sonho, Bucky fez o prometido e foi para a Clínica, dar uma olhada no nariz. Levantei da cama e fui até o armário, puxando lençóis novos. Troquei a roupa de cama, me sentindo uma merda. Eu mal sabia diferenciar sonho de realidade e agredi meu namorado...
Depois, fui até o banheiro e decidi tomar um banho de banheira. Sinceramente, perdi a noção de quanto tempo fiquei por lá. Poderiam ter sido dez minutos ou duas horas. Talvez, eu tenha cochilado.
Quando levantei, me enxuguei e coloquei uma roupa nova, saindo do banheiro e indo direto até a lavanderia, botando a suada e suja de sangue, para lavar.
Depois, fui até a cozinha e achei Clint e Natasha sentados na mesa, conversando. Eles calaram a boca quando me viram. Ignorei isso e fui até a geladeira, pegando uma garrafa de água pequena.
Sentei entre os dois e deixei minha cabeça cair para frente.
-Está tudo bem, Mia?
-Tudo ótimo. - Menti. - Que horas são?
-Cerca de quatro. - Clint comentou, depois de consultar o celular.
Ouvi um miado alto e Café se jogou no meu colo, afofando as unhas afiadas na minha barriga. Fiz um carinho atrás da orelha dele e encarei os dois na minha frente.
-Desculpe acordar vocês...
-Já estávamos acordados. - Natasha deu de ombros.
-Mas acordei o resto da casa.
-Já foram dormir. - Natasha explicou. - Ninguém ficou chateado. Só preocupado.
Café miou mais alto de novo. Fiz maia carinho nele.
-O Bucky já voltou?
-Não. - Clint negou.
Levantei da cadeira e deixei Café no meu lugar, o vendo choramingar e miar alto, tentando subir no meu colo. Eu até deixaria ele lá, se Kitty não tivessr entrado correndo pela cozinha, arrepiada e rosnando, enquanto corria direto para o gato.
Ergui Café ao mesmo tempo que Kitty pulava na cadeira e por não ter ele lá, fazia um arco no ar e caía direto no chão.
-Kitty! Para! - Reclamei, por cima das risadas de Clint e Natasha. - Não, Kitty! Gatinha má!
Joguei Café em cima de Clint e peguei Kitty no colo. Ela ficou calminha em segundos. Dei um tapinha na orelha dela.
-Ciumenta!
-Parece o pai, né? - Natasha comentou, sorrindo.
-Quem parece o pai, amor?
Encarei Sam e o vi entrando na cozinha, carregando uma caixa de documentos e arquivos. Ele caminhou às cegas para a mesa e a depositou nela quando bateu com o joelho. Então, nos encarou.
-Quem parece com o pai?
-A Kitty! - Mostrei a gata no meu colo. - Ela tentou matar o Café quando ele estava no meu colo...
-Ah, eu sei bem disso! - Sam sorriu e ergueu o dedo indicador, mostrando uma cicatriz fina e branca. - Ela tentou arrancar ele por ordem do Bucky!
-Ah, não começa, Sam... - Natasha riu, revirando os olhos. - O que é isso aí?
Sam deu de ombros e pegou uma caneta do bolso, sentando na minha frente, me encarando.
-Todos os documentos relacionados ao caso da Naomi. Fury acha que passou alguma coisa despercebida, já que tanta coisa passou despercebida. Por quê você está em pé, Naomi?
Dei de ombros e empurrei Café para o chão. Sentei.
-Eu ia até a Clínica ver o Bucky...
-Ah... Ele está bem. Acho que tomou algum analgésico para dor.
Assenti, esticando minha mão e pegando uma pasta. Abri minha ficha, lendo tudo que já tinha feito para a Shield. Uma foto 3x4 de quando cheguei aqui me encarava de volta e eu senti meu corpo inteiro arrepiar com a intensidade do meu olhar.
Joguei a ficha longe e peguei outro relatório. O da minha internação. Li detalhe por detalhe da minha retirada de estômago, dos mil exames... Achei a autorização para desligar as máquinas e vi que quem assinou foi Fury. Bucky não deve ter conseguido...
Larguei de lado e peguei a pasta que Sam tinha acabado de soltar. Era um documento com informações da Hydra, no geral. Desde os movimentos da Época do Capitão América, até os últimos movimentos. Realmente, a impressão que dava, era que o Barão Von Strucker tinha sido a última cabeça...
-Você é canadense, não é?
Ergui o olhar da ficha e encarei Clint, confusa. Ele apontou para uma ficha que tinha uma foto de Arthur.
-Ah... Bem, eu sou alemã. - Expliquei. - Ou ao menos, fui criada como alemã.
-Hmm...
-Pessoal!
Peter Parker entrou aos tropeços na cozinha, assustando os gatos. Sam apenas o observou, enquanto Arthur também entrava correndo, caindo por cima de Peter.
-Ai! Mas o que...?
-Meu fígado!
-Opa, cara! Desculpe...
-Tudo bem...
Natasha e Clint foram até eles e os ajudaram a levantar. Eu e Sam trocamos um olhar, controlando a vontade de rir.
-O que foi que aconteceu, Peter?
-Ah... Isso! - Peter deu um pulo do chão e começou a andar de um lado ao outro da cozinha. - O Fury ligou agora para o Senhor Stark. E aí, o Senhor Stark ligou para o Senhor Rogers e ele veio até mim para me contar que aconteceu uma coisa. De primeiro momento eu achei que...
-Vai direto ao ponto, Parker! - Sam reclamou. - Qual a tragédia?
Peter chegou a abrir a boca, mas Arthur foi mais rápido que ele, vindo até mim e me encarando, assustado.
-O Barão saiu do esconderijo. Parece que enviaram alguma encomenda a ele pelos correios. Vamos atacar!
Silêncio. Eu e Natasha nos encaramos. Sam e Peter tinham pontos de interrogação na testa. Clint estava prestes a perguntar o que ele tinha dito.
-Temos que ir para Portland! Agora! O homem saiu da toca! Há uma equipe o seguindo e se ele tentar alguma coisa, eles tem autorização para matar o Barão!
-Ai, meu Deus! Por quê você não disse logo?!
-Eu é que vou matar ele! - Levantei correndo e indo até o telefone da sala.
Pedi para transferirem a ligação para a sala de Fury, mas ele não estava lá. Xinguei mentalmente, chutando a beirada do sofá, com raiva.
Eu não podia ficar para trás. Eu não podia deixar um agente qualquer matar aquele desgraçado no meu lugar! Não quando minha vida era um inferno por causa dele...
-Guarda sua raiva para quando estiver em frente ao Barão, Naomi.
Estremeci de susto e encarei Fury, parado atrás de mim. Pelo jeito, havia acabado de entrar pela porta. Andei até ele.
-Fury, o que a gente está esperando?
-Calma! - Fury segurou meus ombros e me encarou, sério. - Ele ainda não está fugindo. Eu coloquei uma equipe de fuga para o caso dele fugir. Mas ele saiu da cabana e temos a confirmação visual de que é ele. Naomi, se acalma!
-Como você pode me pedir para ficar calma e passiva quando ele está em uma cabana no meio de uma floresta?! Quando eu podia estar lá, fazendo ele sofrer o inferno que eu sofri?!
-Naomi Steel, me escuta!
-Não, Fury! Me escuta você! - Me desvencilhei dele. - Eu sei que você gosta de mim e não quer me ver arriscando a minha vida de novo! Eu entendo isso! Mas você me usou como isca há dias atrás, você deixou eu ir para a Hydra...
-Eu não fazia idéia do que ia acontecer! - Fury argumentou, se exaltando. - Eu não fazia idéia de que íamos quase perder você! E você dava conta de um agentezinho! Eu não ia te mandar para Washington se soubesse que aquela garota ia estar por lá! Eu não quero perder você, Naomi... E eu Não estou falando isso baseado apenas em uma baixa na equipe. - Fury respirou fundo. - Eu não sei se você lembra, mas eu disse que você era como se fosse a minha filha... E eu Não quero perder você por causa de uma vingança idiota!
-Não é idiota! - Retruquei, limpando algumas lágrimas que rolaram. - Você tem acesso aos relatórios psicológicos e psiquiatricos... Você sabe o que eles fizeram comigo!
-É, eu sei! - Fury esfregou o rosto. Me encarou, cansado. - Eu não vou impedir você porque eu sei que não adiantaria. Eu só estou pedindo paciência! Tenha paciência para atacarmos na hora certa!
A porta abriu atrás dele. Steve, Bucky e Bruce entraram pela sala. Eles pareciam sérios e tensos.
-Vamos que horas? - Steve questionou.
-Deixa amanhecer. - Fury respondeu, me olhando, sério. - Paciência, Naomi. Por favor! Eu volto em algum tempo. Vão se arrumando!
Fury bateu a porta com mais força que o necessário. Em um momento de ódio, peguei o vaso de cima da mesa e taquei com força contra a parede, gritando de ódio e frustração.
Bruce se estremeceu de susto e Arthur teve que sair correndo da frente do vaso, já que eu não vi ele.
Bucky me encarou. Sustentei o olhar e entrei para dentro do apartamento.
Oiie, Pessoal! 💕
Eu atrasei um pouco, mas como ainda não fui dormir, para mim ainda é terça feira! E como prometido, atingimos 40 mil visualizações e vamos ter capítulo duplo! 🥳❤
Vocês são os melhores leitores do mundo! Obrigada por tanto! 🥺
Mais tarde eu volto com mais um capítulo!
Até lá!
Bjs 💋💋