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By autoramillyferreira

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Não é permitido se apaixonar. Apenas é permitido sentir prazer. Jade West fugiu do convento. A fim de começa... More

Notas da autora
Epígrafe
um
dois
três
quatro
cinco
seis
sete
oito
nove
dez
onze
doze
treze
catorze
quinze
dezesseis
dezessete
dezoito
dezenove
vinte
vinte e um
vinte e dois
vinte e três
vinte e cinco
vinte e seis
vinte e sete
vinte e oito
vinte e nove
trinta
trinta e um
trinta e dois
trinta e três
trinta e quatro
trinta e cinco
trinta e seis
trinta e sete
trinta e oito
trinta e nove
quarenta
Epílogo
Epílogo 2
Bônus
Notas da autora
Livro novo

vinte e quatro

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By autoramillyferreira

RYAN

Pedi um cappuccino. Por que diabos eu pedi isso? Não vou beber café. Não quero. Estou enjoado, e beber alguma coisa só deixaria tudo pior. Mas, de qualquer forma, parece a distração ideal, pois me dá um pouco mais de tempo para pensar no que dizer para a mulher sentada à minha frente. Não quero fazer nenhuma besteira, apesar de estar com muita raiva. 

— Sua namorada é bonita — ela quebra o silêncio. 

Reprimo a vontade de rir com sarcasmo. Isso é mesmo sério? Depois de todo esse tempo, isso é tudo o que ela tem para me dizer? Que minha namorada é bonita? Primeiramente, Jade não é minha namorada, mas não vou dar informações pessoais da minha vida para esta mulher. Ela não merece isso. 

— Ela é, sim — digo secamente.

Vejo-a engolir em seco. Estou sendo muito duro? Talvez. Mas realmente não me importo. 

— Filho… 

— Primeiramente, não sou seu filho — retruco bruscamente; a irritação evidente em cada palavra. — Segundo… admiro muito a sua coragem de vir até aqui me procurar. 

Me recuso a reconhecer a expressão de dor em seu rosto. 

— Eu precisava me desculpar. 

Dou risada uma única vez, desprovido de qualquer humor. 

— Então você desaparece por, sei lá, treze anos?, e acha que é só chegar aqui e pedir desculpas e tudo vai estar resolvido? Desculpe, mas é muito cinismo da sua parte. 

Ela me olha com uma onda de culpa. É bom mesmo que se sinta assim. 

— Eu só não quis te fazer sofrer. — Que merda de desculpa é essa? 

— Que engraçado — abro um sorriso cruel. — Você fez justamente o que não queria fazer. Parece um pouco contraditório da sua parte. 

Os olhos dela brilham, azuis como as águas mais profundas do oceano. 

— Você disse que poderíamos conversar, mas até agora só fez me insultar — ela tem a audácia de reclamar. — Você está mesmo disposto a me ouvir? Ou só veio aqui desferir a sua raiva? 

— Quer mesmo que eu responda? — retruco. — Mas… confesso que estou curioso para saber a desculpa que você vai dar. Então, por favor, conte sua história. 

Seus olhos miram a xícara repousada à sua frente. Ela pediu apenas um café preto simples, e creio que, assim como eu, está usando isso para se distrair. Sempre podemos olhar para a xícara sem graça quando as coisas ficarem difíceis. 

Quando acho que ela não vai abrir o bico, sua voz baixa e cheia de tristeza ressoa nos meus ouvidos. 

— Eu não sei se você sabe o quanto a vida pode ser difícil, meu filho — diz ela. — Às vezes… tomamos algumas decisões que nos arrependemos, mas somos tolos demais para enxergar naquele exato momento. 

Reviro os olhos. 

— Se eu quisesse escutar sobre ética, estaria cursando filosofia na faculdade. Por que não vamos direto ao ponto? — Sugiro, impaciente. — Sem enrolação, por favor. Por que foi embora? 

Ela engole em seco. 

— Me apaixonei por outra pessoa. — Sua resposta é direta desta vez. 

Balanço a cabeça lentamente. 

— Bom. — Digo. — Você se apaixonou por outra pessoa ou pelo dinheiro dela? 

Ela parece ofendida. 

— Eu não vou permitir… 

— Nem começa — corto-a, exasperado. — Sinceramente, eu não tenho nada a ver com o casamento de você e o papai, apesar de eu estar bem no olho do furacão. Pelo menos você teve a decência de dar um pé na bunda dele antes de fugir com outro cara. — Faço uma pausa e respiro fundo. A dor está se alastrando pelo meu peito como um veneno. — O que eu não entendo é: por que você foi embora e abandonou seu filho? Onde você esteve todo esse tempo? Por que não deu notícias? 

Os olhos dela se enchem de lágrimas. 

— Eu senti vergonha. 

Franzo o cenho. 

— Vergonha de quê? — pergunto, sem conseguir entender aonde ela quer chegar. 

— Eu sabia que a errada da história era eu — sua voz embarga. Ela vai chorar agora? Era só o que me faltava. — Não queria que você me odiasse, filho. 

A queimação no meu estômago aumenta. 

— E você achou que sumindo durante todos esses anos iria fazer com que eu morresse de amores por você? — minhas palavras são afiadas como a ponta de uma adaga. 

— Não, mas… Eu só… eu não sabia o que fazer — suas lágrimas começam a rolar. 

— Eu iria entender o término da sua relação com o meu pai com o tempo — digo, cansado e desanimado. — Mas nada que você diga vai justificar a dor do abandono. Eu sofri todos esses anos achando que eu tinha culpa de você ter ido embora. 

— Não foi culpa sua — ela se apressa em pontuar. 

— Não foi — concordo, mantendo o nó que teima a subir para a garganta no fundo do estômago. — Hoje eu sei que a culpa é única e exclusivamente sua. 

— Ryan, por favor, tente entender… 

— Perdi tempo demais tentando entender os seus motivos — desabafo. — Todos esses anos, eu precisei de você. Precisei de uma mãe. De amor materno. E onde estava você, Zaya? — Espero que ela tenha a decência de responder, mas o que ganho em troca é um soluço profundo. — Eu posso responder, então. Enquanto seu filho estava aqui, sem notícias, se culpando por ser menosprezado e abandonado, você estava por aí com um milionário metido a besta, gastando o dinheiro dele e vivendo um conto de fadas. 

As lágrimas de crocodilo dela não me enganam. Eu esperei mais de uma década por este momento e agora que ele está finalmente acontecendo, eu vou colocar tudo para fora até não restar mais nada.  

— Todos esses anos eu liguei para você, mantive a esperança de que um dia você voltaria para casa, e só agora eu percebo o quanto fui tolo — acrescento com mágoa e tristeza. — Tudo que eu precisava estava bem aqui debaixo do meu nariz. Meu pai foi a única pessoa que se importou, que cuidou de mim e que me deu apoio no momento mais difícil da minha vida. 

— Por favor, filho, me perdoa — ela implora. — Me dê uma segunda chance. 

— Eu perdoo você — digo sinceramente. Uma luz se acende nos seus olhos, mas mantenho uma chama escura nos meus. — Mas isso não significa que te quero de volta na minha vida. Porque não quero. Talvez Deus tenha arquitetado esse momento porque Ele sabia o quanto eu precisava me livrar desse ódio e rancor que sinto por você. Não há mais como recuperar a nossa relação. Acabou. Você fez uma escolha no passado, escolheu me abandonar, e agora terá que conviver com essa culpa pelo resto da sua vida. Mas eu te peço uma coisa.

Ela limpa o rosto com as mãos e me encara. 

— O quê? 

— Seja para aquele moleque a mãe que você não foi para mim — eu replico. — Você me pediu uma segunda chance, então aí está. 

Minhas palavras parecem que causam nela a mesma reação que um tapa. Mas é bom que ela sinta a dor e o impacto. Talvez essa seja a única forma de ela reconhecer o tamanho do seu erro no passado. 

— Nossa jornada termina aqui — decreto. — Senti muita raiva de você, mas agora que estou aqui… Não sinto mais nada. Então… desejo que seja feliz. E tenha uma boa vida. Mas longe de mim — eu acrescento, olhando dentro dos seus olhos. 

Depois de uma última olhada para ela, eu me ponho de pé. Deixo o dinheiro de ambos os cafés sobre a mesa e saio andando até a porta de saída. Não olho para trás. A partir de agora, esse é um capítulo concluído na minha vida, e seguirei olhando para a frente. Sempre. 

Eu vou para o único lugar que parece certo: a oficina do meu pai. Quando chego lá, ele está terminando de apertar a mão de um cliente. O homem entra em um AUDI discreto e vai embora. Aproveito a deixa para ir até o meu velho e, pegando-o completamente de surpresa, envolvo-o em um abraço apertado. 

— Opa! — ele ri um pouco, confuso, mas depois passa os braços ao meu redor. — É meu aniversário ou algo assim? 

Sorrio fracamente. Eu amo esse cara incondicionalmente. 

— Te amo, pai — declaro, descansando o queixo no seu ombro. 

Ouço seu suspiro. Ele me aperta ainda mais em seus braços tatuados. 

— Também te amo, moleque. 

Jade deixou a porta aberta para mim. Não me sinto muito à vontade de entrar no apartamento do irmão dela assim, mas já que tive carta branca, não tenho motivos para hesitar. 

Fecho a porta atrás do meu corpo e desconfio do silêncio que preenche o apartamento. Atravesso o pequeno hall e não encontro ninguém. Então acontece de repente: um cheiro completamente agradável invade as minhas narinas e agrada o meu paladar. Como o bom amante de comida que eu sou, apenas sigo o cheiro, sendo levado direto para a cozinha. 

No primeiro instante, não vejo ninguém, mas um segundo depois Jade surge no meu campo de visão, carregando uma travessa de vidro que parece ter acabado de sair do forno. Recosto-me no batente da porta e olho para ela com um sorriso. As luvas azuis claras ao redor das suas pequenas mãos, somadas ao avental rosa, a deixam adorável. 

— Ei — ela sorri quando me vê. — Está com fome? 

Cruzo os braços. 

— Achei que não soubesse cozinhar — digo, lembrando de uma das nossas conversas. 

— Não sei — dá de ombros. — Mas arrisquei. 

Ela deixa a travessa em cima de um suporte de madeira sobre a mesa e tira as luvas, depois o avental. Ela vem até mim, toda bonita em um vestido leve, e passa os braços ao redor do meu pescoço antes de se inclinar e beijar os meus lábios. 

— Se o gosto estiver tão bom quanto o cheiro, então você acertou na mosca — eu toco a ponta do seu nariz. 

— Vamos esperar esfriar um pouco. Você será minha cobaia hoje, Sr. Paladar Aguçado. 

Abro um sorriso genuíno. Depois dos acontecimentos de hoje, esta mulher é a única razão que eu tenho para sorrir. 

— Enquanto isso — Jade acrescenta —, vamos conversar um pouco. 

Deixo ela me levar até a mesa. Ela tenta se sentar em outra cadeira, mas eu a puxo para o meu colo. Gosto dela desse jeito, bem pertinho de mim. É um consolo, digamos assim. Não sei bem explicar… eu apenas sinto. 

Relaxo um pouco quando seus dedos mergulham no meu cabelo. Gosto disso. 

— Está tudo bem? — pergunta ela com a voz mansinha. 

— Vai ficar — digo. — Conversei com ela. 

— E…? 

— Apenas confirmei o que já sabia: ela foi uma escrota comigo e com o meu velho. Mas já passou. Pelo menos eu coloquei um ponto final nessa história. 

Ela se afasta apenas um pouquinho para me olhar e passa a mão pelo meu rosto. Há compaixão nos seus olhos. 

— Sinto muito que sua mãe não tenha sido a melhor figura materna para você — suas palavras são genuinamente sinceras. — Eu não fui abandonada pela minha mãe, mas, em partes, entendo sua dor. Minha mãe sempre esteve lá, mas nunca senti que ela estava presente de verdade. 

Cubro sua mão com a minha no meu rosto. 

— Somos filhos incompreendidos. 

Ela sorri fracamente. Um daqueles sorrisos forçados. Não gosto de vê-la triste. 

— O importante é que temos outras pessoas que nos amam. Você tem o seu pai, e eu tenho o meu. E também tenho o meu irmão. 

Então eu lembro do meu irmão. Nossa. Até um segundo atrás eu era filho único, mas agora… seria legal ter tido um irmão. Aquela mulher tirou isso de mim, e agora não vou ter a chance de conhecer o moleque. Ele é tão vítima quanto eu. 

— Você tem razão. 

— Bom. — Ela sai do meu colo. — Vamos comer, então. Estou ansiosa para provar a minha primeira lasanha. 

Sorrio.

— Manda ver, gata. Meu paladar a espera. 

Ela ri e depois vai até os armários para pegar pratos e talheres. Depois de arrumar tudo sobre a mesa, Jade traz uma garrafa de vinho — que ela deixou claro que roubou do próprio irmão — e eu removo a rolha com muita habilidade, fazendo um estalo seco cortar o ar. Derramo o líquido vermelho escuro na minha taça enquanto ela coloca em nossos pratos uma fatia de lasanha cada. 

— Nossa, o cheiro está realmente bom — eu elogio, já preparando os talheres. 

— Vai, come. Quero saber sua opinião. 

Ela me encara com muita ânsia. Corto um pedaço pequeno da fatia no meu prato apenas para a degustação. Levo o garfo à boca e mastigo devagar, saboreando. Mas à medida que o gosto vai ganhando forma na ponta da minha língua, o meu paladar vai rejeitando toda aquela ansiedade que antes eu sentia. Tento disfarçar, mas não consigo. Minha vontade é de rir, mas só consigo segurar até certo ponto. Isso aqui está muito salgado. 

— Que foi? — Sua confusão é evidente. — Está ruim? 

— Não. — Minto. E então outro riso me escapa. Tento cobrir a boca com a mão, mas a maldita risada continua escapando por entre os dedos. 

— Ryan! — ela me repreende. 

— Desculpa — faço um esforço para engolir, e depois tomo um gole generoso de vinho. — Quantos quilos de sal você colocou nessa lasanha?

Ela franze o cenho e come um pedacinho. Assisto, com diversão, a careta que se forma no seu rosto antes de ela levantar e cuspir a massa no lixo. 

Não consigo me aguentar e gargalho. 

— Que horror! 

Sua incredulidade só me faz rir mais. 

— Ai, Ryan, para — Jade choraminga. 

— Desculpa — engulo o riso. — Olha, até que não está ruim. Você só errou no sal, só isso. 

Ela faz um beicinho. 

— Estraguei nosso jantar. 

Puxo ela para o meu colo novamente. 

— Relaxa, foi apenas a sua primeira tentativa — eu a consolo. — Você pode tentar até acertar. No início eu não sabia sequer fritar um ovo. 

Ela suspira. 

— E agora? 

Olho para ela com diversão. 

— Só temos uma solução. 

Seus olhos se estreitam, cúmplices. 

— Que seria…? 

Tomo fôlego, tentando criar algum suspense. 

— Vamos pedir comida. 

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