{RETA FINAL} Aluna Nota A

Par autoranonima__

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Sophia Scott, uma garota de família rica e bem sucedida, acaba tendo seu destino cruzado com o temido profess... Plus

AVISOS!
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Bônus
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 35
AVISO!
Capítulo 36

Capítulo 34

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Par autoranonima__

POV SOPHIA:

Dizem que quando estamos prestes a morrer, nossa vida passa diante dos nossos olhos durante cinco minutos, e que com esses cinco minutos o medo, a angústia, e tanto outros sentimentos se apossam da nossa alma por completo, como se estivessem penetrando tão profundamente, que você ficasse inerte enquanto recebe o estrago que eles fazem no seu ser.

Já parou para pensar nisso? Todas as cenas nos mínimos detalhes e como se não bastasse, até os sentimentos que sentimos durante cada momento da nossa vida.

Eu podia sentir meu peito apertado, e meu coração acelerado. Parecia que tudo estava em câmera lenta, e a minha respiração no mesmo ritmo. Meu corpo estava preparado para atravessar o outro plano, mas, a única diferença, era que a pessoa atingida naquele momento e que estava entre a vida e a morta não era eu, e sim, o homem da minha vida.

— Eu preciso do desfibrilador agora! — Ouvi alguém gritar um pouco distante de onde eu estava, enquanto meu corpo se mantinha inerte na mesma posição.

Estática.

Sem emoção.

Sem esperança.

Oliver não parecia reagir a nenhum dos esforços dos médicos que passavam para lá e para cá naquela sala branca e fria.

Fria igual ele, fria igual seu corpo imóvel na maca.

— Eu preciso que vocês tirem ela daqui agora, isso é uma ordem! — Um dos homens vestidos de terno, empunhando uma arma disse, para logo em seguida aparecer outro vestido do mesmo jeito e me pegar com força pela cintura, me levantando como se eu não pesasse nada e me retirando da sala.

A ação fez meu cérebro acordar rapidamente e meus braços começarem a se debater, para tentar sair do seu aperto e de algum jeito, ficar próxima de Oliver e nutrir alguma esperança que seus olhos abrissem novamente.

— Eu preciso que você me deixe ficar, por favor! — Implorei, sem saber para onde correr, para onde pedir ajuda.

Olhei ao redor, tentando achar alguma porta que me ajudasse na minha entrada de volta ao quarto do professor, mas as duas de acesso pareciam trancadas e muito bem abarrotadas na entrada por seguranças.

— A senhorita precisa ficar, sinto muito, mas esse é o protocolo! — Olhei embasbacada para o homem alto e robusto na minha frente. Claramente ele não fazia ideia do quanto me manter afastada do homem atrás daquela porta poderia afetar totalmente a minha estrutura, ou melhor, ela já estava afetada.

Pensei em todas as vezes que abaixei minha cabeça para os meus pais, colegas da escola e até mesmo aqueles na qual eu pensei que poderia confiar, e percebi que eu fui um fantoche na mão de todos esse tempo todo. Sempre manipulada e moldada, nunca ouvida e muito menos dada a devida importância.

— Olha, eu não estou em condições de acatar ordens agora. Passei praticamente a minha vida toda fazendo isso e nesse momento, eu não me importo com nenhuma consequência, na verdade, eu não me importo com nada, e sim, com o amor da minha vida do outro lado daquela porta! — Respirei fundo, sentindo as lágrimas se formarem e a vontade de chorar querer vim a tona de forma brusca. — Então, se você tiver pelo menos um pingo de sensibilidade com a minha pessoa e com a minha situação, se você se colocar no meu lugar e procurar entender o que eu estou passando aqui, nesse estado, você vai me deixar passar! — Esbravejei a última parte, sentido minha garganta secar e minhas pernas travarem no lugar, tentando me manter firme para não mostrar o meu abalo.

Na verdade, por dentro, eu não tinha forças. Não tinha como me manter de pé. A única coisa que eu tentava me agarrar e torcia para que pudesse me fazer viver novamente, era olhar para aqueles olhos castanhos claros e sentir que tudo ficaria bem de novo.

O homem a minha frente suspirou. Passou a mão pelos cabelos e balançou a cabeça, como se estivesse entendendo o meu pedido, mas, quando pensei que o mesmo fosse fazer a menção de sair da minha frente e me dar passagem, sua mão rodeou meu braço, me levando para longe do quarto barulhento pelas vozes de vários médicos e o som dos equipamentos.

— Eu preciso que você fique aqui, sinto muito mas só estou fazendo o meu trabalho, senhora! — Ele declara por fim, se afastando e me deixando cair sentada na sala de espera com apenas uma moça na recepção que parecia estar dando ordens a alguém do outro lado da linha telefônica.

Olhei ao redor procurando por Luiza, e torcendo muito para ela não demorar a chegar, já que os policiais começaram a interrogar ela primeiro e logo partiriam para fazer o mesmo comigo.

Levantei da cadeira impaciente, roendo a unha do dedão e andando de lá para cá, quando o som alto da televisão na sala, preencheu o ambiente onde eu me encontrava e da apresentadora, que informava a matéria do dia.

"Os policiais disseram que toda a ação foi muito rápida e que os bandidos não deram sequer a mínima chance do professor de línguas Oliver James e de sua aluna, que pelo que parece, é sua suposta namorada, a se defenderem do ataque. As autoridades estão também investigando o motivo que levou o atirador, que é sobrinho de uma das diretoras mais bem respeitadas no seu campo de atuação, a cometer tal ato hediondo juntamente com sua parceira Betânia...."

Deus, o que minha vida virou? — Perguntei em voz alta para mim mesma enquanto ainda encarava a tela na minha frente, me sentindo culpada por toda aquela situação e por ter deixado chegar onde chegou.

Se eu, pelo menos soubesse o que estava por vim, poderia ter evitado tanta coisa, tanto sofrimento para Oliver e para mim.

Burra, burra, mil vezes burra!

Desde o começo a vida estava me dando os sinais. Betânia tinha tramado tudo com Flyn, e estava mais do que óbvio que ela iria querer se vingar. Eu só não entendia como ela acabou descobrindo o meu envolvimento com o professor.

— E se...— Antes que eu concluísse o raciocínio sobre a cumplicidade da professora e do me ex namorado, Luiza corria ao meu encontro desesperada e com os olhos inchados.

Me assustei e a amparei antes que a mesma chocasse o seu corpo junto ao meu pela velocidade.

— Sophia, eles sabem...— Ela começou a falar, mas antes que eu pudesse entender o que ela estava dizendo, meu pai e minha mãe adentraram a recepção furiosos e aos berros.

—Onde está minha filha? — Segurei a respiração, temendo pelo pior e entendendo o que Luiza queria dizer.

Eles sabem, sabem que me envolvi com um professor e não com uma pessoa "qualquer". A tv tinha dado todas as possíveis informações, e não seria necessário juntar 1+1 para os fatos virem a tona.

O circo tinha se fechado e todos os segredos começaram a ficarem expostos.

— Papai, eu posso explicar...— Não consegui terminar a fala, pois em seguida senti o tapa sendo desferido contra meu rosto e o mesmo sendo puxado com brusquidão.

— Como você pode se envolver com o seu professor, Sophia! — Os berros ecoavam em todas as direções do hospital, e não demorou muito para um pequena plateia de enfermeiros e estagiários observassem a cena em frente a eles. — Virou uma sem rumo agora? UMA PERDIDA, MINHA FILHA! — Minha mãe estava horrorizada e com os olhos cheios de lágrimas, enquanto me fitava. Tudo estava em câmera lenta e as palavras que continuavam saindo da boca do meu pai, pareciam não chegar aos meus ouvidos.

O mundo ao meu redor estava no mudo.

Tudo estava desabando.

— Senhor, peço que se acalme e largue a menina, agora! — Um dos seguranças diz, tentando afastar meu pai que cada vez mais aumentava o aperto de sua mão nas minhas duas bochechas, provavelmente com a intenção de deixar aquele local marcado.

Tentei me desvencilhar do seu toque, conseguindo com muito custo me afastar um pouco dele, mas não totalmente, já que suas mãos foram em direção aos meus braços, apertando-os.

— Vamos para casa agora e você irá me explicar essa história desde o começo, depois, sua mãe irá arrumar suas coisas para você embarcar ainda hoje para Londres. Passará um bom tempo longe de casa, até entender que você ainda vive debaixo do meu teto e vai acatar todas as minhas ordens, entendeu mocinha? — Ele revela, me fazendo vibrar por dentro, mas não de medo e sim de raiva. Raiva por tudo o que estava acontecendo e por perceber que ele só controlava minha vida, pelo simples fato de não ter dado um basta nisso até agora.

Mas, aquilo iria acabar, e seria hoje mesmo!

— Não, eu não vou a lugar nenhum com você e também não irei para Londres como o senhor deseja! — Falei pausadamente, olhando em seus olhos e observando sua expressão mudar lentamente, enquanto ainda fitava meu rosto.

Meu pai sorriu de um modo sarcástico, me soltando por fim, coçando a cabeça e se afastando, mas não completamente.

— Acho que eu não ouvi bem, Sophia. Você disse que...

— Eu disse que não, não irei fazer o que você quer. Não sou sua marionete e muito menos o seu brinquedinho! Sou sua filha e acho que você me deve respeito, não sou nenhuma criança e tão pouco fui induzida por terceiros a me envolver com Oliver para conseguir notas maiores ou passar em alguma prova, se é isso o que o senhor está pensando. — Respirei fundo, tentando me recompor e não demonstrar fraqueza perante sua pessoa. Ele, no entanto, parecia está a beira de um colapso com as minhas declarações, mas eu já não ligava mais, nada mais me importava, a não ser o homem naquela outra sala entre a vida e a morte. — Eu irei ficar aqui e esperar por notícias, só sairei daqui quando tiver a plena certeza de que Oliver está fora de perigo, só então eu e você iremos conversar. Você me entendeu? — Perguntei, em alto e bom som, sentindo meu sangue correr mais rápidos nas veias e meu coração disparar na mesma velocidade.

— Como você ousa levantar a voz para mim, Sophia?  — Ele perguntou, pronto para avançar em cima de mim, mas antes que fizesse isso, um médico adentrou a sala de espera as pressas.

— Senhorita, o paciente está estabilizado no momento, mas não sabemos até quando, eu não admitiria visitas agora para ele, mas o mesmo insiste em falar com você o quanto antes! — O homem de cabelos castanhos e óculos fundo de garrafa diz, se direcionando a mim, fazendo todos os presentes me encararem, até mesmo meu pai.

Assenti com a cabeça, pronta para ir até o quarto, quando senti a mão áspera do meu pai puxar meu braço, numa tentativa de me segurar no lugar.

— Você não vai! — Ele declarou, com certa raiva, me fazendo sorrir de um jeito triste em sua direção, foi nesse momento que eu tomei mais coragem ainda para o responder a altura.

Cheguei próximo ao seu rosto, observando seus olhos me acompanharem em cada movimento que eu fazia enquanto ficava quase nas pontas dos pés para sussurrar no seu ouvido a minha resposta.

— Quero ver você me impedir! — Me afastei ao dizer aquilo, antes mesmo que ele tomasse alguma atitude em relação a me segurar e não me deixar encontrar o professor.

Segui atrás do médico, escutando os protestos do meu pai ao fundo e a voz da minha mãe tentando acalmar o mesmo. Luiza seguia atrás de mim, segurei sua mão e a apertei, indicando que eu estava bem e que não era para ela se preocupar comigo.

— Vou lhe dar apenas alguns minutos, ele não pode falar muito e se começar a se cansar, teremos um problema! — Assenti, olhando para minha melhor amiga e indicando que ela me esperasse ali.

Suspirei e abri a porta, fechando ela em seguida e avistando Oliver com vários equipamentos ao seu redor, juntamente com seu corpo cheio de fios e curativos.

Sua pele estava pálida e ele parecia cansado. Lábios ressecados, o cabelo fora do lugar e os olhos sem aquele brilho que eu conhecia bem.

Mordi os lábios, tentando segurar as lágrimas e avançando em direção ao seu encontro. Eu não sabia como iria ser daqui pra frente, se iríamos ficar bem, se meus pais tentariam mais uma vez me manter afastada dele, mas, de uma coisa eu tinha plena certeza: Ninguém iria me fazer ficar longe do amor da minha vida.

— Oi...— Falei baixinho, sentando perto dele e segurando suas mãos, e as levando em direção a minha boca para beijar, tentando me segurar ao máximo para não pular em cima dele, já que seu peito estava todo enfaixado e alguns hematomas estavam descobertos pelas bandagens. — Eu senti tanto a sua falta, eu amo tanto você, pensei que iria te perder para sempre. E todo aquele sangue, saindo de dentro de você, foi tão...— Senti uma vontade imensa de vomitar ao relembrar as cenas aos poucos na minha mente.

Parecia que o pesadelo ainda estava vivo e que o momento nunca acabaria.

— Oliver, eu...

— Precisamos conversar, Sophia! — Ele diz de forma rouca, trazendo minha atenção rapidamente até sua face, encarando o castanho dos seus olhos.

Algo estava estranho. Ele não parecia a mesma pessoa, eu poderia até colocar a culpa totalmente no que aconteceu a mim e a ele naquele galpão, o choque poderia ainda estar bem vivo em sua memória. Mas, parecia que tinha algo mais, eu só não sabia ou poderia dizer se estava pronta para escutar algo dele naquele momento.

— Claro, mas, não acha que seria melhor adiar essa conversa para uma outra hora? Você deve estar bastante cansado, precisa se recuperar do que aconteceu e eu não irei sair do seu lado agora. Vou passar todas as noites aqui com você, cuidando da sua recuperação e da sua melhora. Eu só preciso que você..

— A questão é essa: eu não quero você aqui, comigo! — Ele dispara, firme ao falar, encarando minha face.

Pisco algumas vezes para processar o que eu acabei de escutar. Achando que poderia ter ouvido algo errado ou fora do contexto.

— Desculpe, mas, eu acho que não entendi bem. Você...

— Eu não quero você aqui comigo, Sophia. Na verdade, não quero mais você aqui nesse hospital e muito menos na minha vida! — Ele me interrompe, falando pausadamente, como se estivesse explicando algo muito complexo para um aluno sobre algo em sua sala de aula. — Fui claro o suficiente? — Sua indagação me faz levantar abruptamente, franzindo a sobrancelha e sentindo um gosto amargo no céu da boca.

— Porque? O que eu fiz de errado? — Parecia que tudo estava fora do lugar naquela conversa. Oliver não seria do tipo que falaria aquilo para mim, ainda mais depois de tudo o que vivemos e passamos juntos.

Algo estava errado. Alguma coisa tinha acontecido para chegar aquele ponto.

— Você não fez nada. Acredito que talvez eu que tenha feito, não fui certo em me envolver com você e tão pouco em criar sentimentos pela minha aluna, na qual eu deveria manter distância. Passei do ponto, passei do meu limite como profissional e como ser humano! — Ele falava tudo tão calmamente, que nem parecia se dar conta de estar me partindo por inteiro. As palavras perfurando cada parte do meu coração e o meu cérebro tentando entender ou ligar os pontos do que exatamente estava acontecendo.

Oliver estava me deixando, e mesmo com essa conversa, eu não sabia dizer se isso tudo era sério ou algo criado pela minha cabeça.

Comecei a andar pelo quarto, sentindo o frio na barriga subir rapidamente, as mãos tremendo e o coração disparado, só não sabia dizer se era pelo dor, surpresa, decepção e os outros sentimentos que atacavam todo o meu ser naquele momento ao mesmo tempo.

— Eu não entendo, eu pensei que já tínhamos passado dessa fase. Que iríamos passar por cima disso de aluna e professor, já que eu iria para a faculdade e não teríamos mais um vínculo, eu pensei que...

— Pensou errado, Sophia, não temos tempo para isso mais. Eu sou o adulto aqui, mais do que você, e acho que essa brincadeira de mamãe e papai foi longe demais, você mesma viu no que deu e parece ainda não entender o quão grave foi para ambas as partes esse relacionamento! — Minha cabeça parecia não processar o que meus ouvidos escutavam. Parecia tudo tão absurdo e fora da casinha, que eu poderia jurar estar sonhando.

— Mas, Oliver, eu amo você e você me ama! Porque isso agora da sua parte? O que aconteceu? Você sabe que por contar comigo, meu amor! — Eu disse, tentando alcançar sua mão por cima da coberta e o mesmo retirando rapidamente do meu alcance.

— Mas eu não amo mais você, Sophia! — Os segundos pareciam ter parado naquele momento, tudo ficou borrado e eu não sabia dizer se eram pelas lágrimas que desciam freneticamente ou se era porque eu estava prestes a ir ao chão.

Oliver não me amava mais e dizia aquilo com tanta naturalidade, que eu duvidava estar falando com a mesma pessoa que me amou na minha cama, no acampamento da escola, dentro do seu carro. Tudo parecia mentira de sua parte e eu não sabia se aquilo mesmo estava acontecendo.

— Acho que não temos mais nada para conversar, a partir de agora, não quero mais ter nenhum tipo de contato com você e se for possível, gostaria de ficar sozinho agora, já que demos esse assunto por encerrado! — Olhei uma última vez em sua direção, tentando encontrar novamente a sombra do antigo Oliver naqueles olhos, mas sua expressão estava do mesmo jeito.

Imóvel.

Fria.

Distante.

Eu não sabia dizer o que mais me quebrava naquele momento, mas eu podia ter a plena certeza de que algo tinha acontecido e ele não queria me contar ou provavelmente, tinha tomado sua decisão final com base nos últimos acontecimentos e chegado a conclusão de que, eu não era digna dele naquele momento.

— Sophia, você está bem? — Senti uma mão aconchegando a minha, como se estivesse me reconfortando. Olhei em direção para a pessoa e me deparei com a mãe de Oliver, me olhando com uma expressão preocupada.

—Eu..desculpe, não ouvi a senhora chegar! — Tentei me recompor rapidamente, sem me dirigir a Oliver para não começar a querer fraquejar mais uma vez. — Vou deixar vocês dois a sós, com licença. — Sai às pressas, sem nem mesmo me despedi direito dela e de Oliver, já que o mesmo tinha deixado bem claro que não desejava minha presença ali.

Esperei tempo suficiente até sair do quarto, para desabar por completo do lado de fora do mesmo. Chorei que nem uma criança que acabara de perder algo muito importante e não pudesse mais ter de volta, chorei sentindo a dor penetrar ainda mais minha carne, juntamente nos meus ossos, indo tão profundamente que eu só sabia chorar e soluçar.

A dor as vezes precisava fazer efeito, para sentir que eu estava viva. E naquele momento, depois de passar por cima de todos, até mesmo dos meus pais para ficar com Oliver e decidir o que eu queria para minha própria vida no futuro, para chegar aqui e receber esse baque, só me fazia ter certeza de uma coisa: Eu estava amadurecendo e aquilo doía como um inferno.

× Meses depois ×

Sabe quando a vida te dá um baque muito forte e você pensa que se recuperar pode ser a coisa mais difícil que você irá fazer?

Eu pensei que isso só existia em filmes e até mesmos nos livros, mas sentir na própria pele, era algo totalmente diferente. Esquecer e até mesmo superar Oliver não tinha sido algo agradável de se fazer. Acredito que, eu ainda tenha ele em meus pensamentos e coração, mas com o passar do tempo, tive que empurrar e enterrar isso tão profundamente dentro de mim, que até mesmo a menção do nome dele ou de sua imagem na minha memória, eu tentava não lembrar, para acabar caindo em tentação de ir atrás dele novamente.

Depois na nossa conversa no hospital, tentei algumas vezes reatar o que tínhamos. Mandei mensagens, liguei, até mesmo passei por sua casa para tentar obter uma resposta mais digna daquela que ele me deu na última vez que nós vimos. Mas, de nada adiantou.

Quanto mais eu tentava buscar por ele, mais ele escapava entre os meus dedos.

Até que, recorri a única pessoa que me tratava com carinho e ainda tinha um pingo de consideração: Sua mãe.

Falei, contatei a mesma a procura do homem da minha vida, mas depois de uma longa conversa sobre o assunto, percebi que ela estava tentando me poupar de mais sofrimento. Ela mesma não sabia como Oliver estava e dizia não reconhecer mais o filho. Ele não atendia suas ligações e quase não parava em casa.

Débora dizia que ele estava passando por um momento difícil e que provavelmente, só fez o que fez comigo, porque queria me manter afastada por medo da minha imagem ficar ainda mais prejudicada. Os jornais não paravam de noticiar o quanto o meu envolvimento e o dele estava mais quente que o asfalto do Texas.

Sem falar na diretora, que quando descobriu tudo, surtou e fechou a instituição, alegando que iria cuidar dos problemas internos da sua família, que no caso era o enterro de Flyn.

O padre então, acabou declarando que iria iniciar uma missa durante sete dias para todos os fiéis que tiveram seus filhos matriculados na minha escola, alegando que as almas dos mesmos deveriam ser purificadas e que era necessário a colaboração de todos os pais e responsáveis. O mal não deveria ser disseminado, juntamente com o pecado, e aquilo deveria ser extinto, se todos pudessem comparecer a igreja e rezar pela alma dos seus filhos.

Felizmente, Flyn acabou falecendo na tentativa de fuga, a polícia atirou sem parar no mesmo. Betânia até tentou fugir do local, mas acabou sendo perseguida na moto de Flyn, na qual a mesma pegou fogo a 400 metros do galpão onde Oliver se encontrava.

Eu não iria mentir e dizer que fiquei feliz com isso. Mesmo com tanta maldade, acredito que eles mereciam pelo menos passar um bom tempo na cadeia. Betânia foi uma amiga para mim, mas acho que seu caráter começou a ficar distorcido depois da descoberta do meu envolvimento com o professor e a sua relação com Flyn. Conhecendo ele, não duvido que tenha feito a cabeça dela no processo.

Mas, nada disso importava mais. Eu decidi por tudo dentro no baú bem fundo dentro da minha alma e seguir em frente. Nesse momento, eu me encontrava dentro do quarto da faculdade onde eu iria começar a estudar.

Nunca pensei que o processo seletivo tivesse dado tão certo e eu acabasse tirando nota máxima na prova. Entrei em primeiro lugar na faculdade de Direito de uma das instituições mais bem consagradas de todo o país.

Meus pais é claro, surtaram com a ideia. Não falavam comigo desde o dia que descobriram toda a verdade. Até que, meu pai tomou a iniciativa de conversar comigo sobre o que realmente aconteceu, e como ninguém é de ferro, nem mesmo ele, não gostou do que ouviu.

No fim, fui clara o suficiente dizendo que já não precisava e nem queria o seu apoio para essa nova mudança na minha vida. Que não precisava dele e muito menos do seu dinheiro para andar por aí. Eu iria atrás de tudo sozinha, até mesmo de um emprego se fosse possível, moveria céus e terra, só para não ter que dar mais nenhum tipo de satisfação para o mesmo, já que debaixo do seu teto eu não iria mais residir.

O resultado depois daquela conversa foi um mês em silêncio de sua parte. Enquanto ele me via empacotando as coisas depois de ter passado na prova, o meu orgulho em relação a mim mesma crescia mais ainda, me dando a certeza de que eu tinha tomado a decisão certa, ainda mais depois de Oliver ter me deixado.

Eu precisava daquele recomeço e dessa vez, só a mim importava agora no momento.

Terminei de arrumar todas as roupas dentro do armário, escutando uma batida na porta em seguida.

— Já está pronta? A celebração irá começar em poucos minutos, e eu tô doida para a chegada da Judith, acredita que ela acabou se perdendo vindo para cá? — Luiza falava freneticamente, enquanto me puxava rumo aos corredores da faculdade.

Quando finalmente minha carta de alforria tinha saído, não pensei duas vezes e a trouxe comigo. Deus foi tão maravilhoso, que acabou passando tanto ela quanto a mim na nova instituição. Agora ela fazia um curso na área da saúde e como se fosse o destino, Judith também tinha sido aceita no mesmo lugar.

Sua mãe, desde o dia que descobriu sobre seu envolvimento com Judith, não queria mais saber da filha. Luiza no fundo achou isso a melhor coisa para ela, de acordo com a mesma "era melhor a verdade ter sido revelada como foi , do que o sentimento ter a sufocado e ela não pudesse se libertar no final."

No começo, fiquei receosa, já que a minha fama não andava muito boa. Meu rosto estava estampado em todo lugar, jornais, revistas, como a garota que tinha seduzido o professor. Pensei que seria muito difícil entrar e chegar onde cheguei, mas conforme fui conversando com o corpo docente, o entendimento em relação a minha situação, foi esclarecido, não possuindo problemas futuros que pudessem me prejudicar aqui.

Claro que, se surgisse alguma piadinha de cunho sexual para cima de mim, por parte dos colegas daqui, eu teria que contatar a direção. Mas até o atual presente, tudo estava perfeito.

Quer dizer, nem tudo. Eu ainda sentia falta dele. Falta do seu cheiro, dos seus olhos, lábios, mãos. Das suas carícias e dos seus Eu te amo. Tudo ainda estava muito vivido dentro de mim, nada podia apagar aquilo, nem mesmo o tempo.

O sofrimento que ele me causou e a sua frieza, só me fizeram ter mais certeza ainda, de que no fundo, eu tinha ficado marcada nele, no mesmo jeito que ele ficou em mim.

Eu evitava falar disso com Luiza, sabia o que ela iria dizer e o papo de superação iria surgir na conversa. Mas, quanto mais eu pudesse evitar, mais eu corria disso e sabia que quando o momento chegasse, eu não teria como escapar.

Parecia que meu corpo, coração e mente sabiam que não tinha acabado, e talvez, não tivesse mesmo chegado ao fim. Eu só não sabia se valia a pena ainda esperar.

— Parece que vai haver algumas apresentações antes do discurso inicial de cada coordenador dos cursos daqui. Você vai? — Luiza me perguntou, me tirando dos meus pensamentos e olhando ao meu redor pelo campus.

— Sim, você e Judith irão comigo? — Perguntei, andando ao seu lado e observando a grama sobre meus pés.

Até que, sinto um corpo esbarrar no meu e braços enlaçarem minha cintura, apertando aquela região. Levantei os olhos e fitei dois pares de safiras me encarando de volta.

Franzi o cenho, observando o sorriso contido daquele garoto em minha direção. Como se estivesse se divertindo com a cena toda.

— Princesas como você, devem andar de cabeça erguida para a coroa não cair! — O estranho diz, fazendo Luiza rir freneticamente e o rubor em minhas bochechas me atingir com força total.

— Ora, mas foi você quem topou em mim primeiro! — Esbravejei, me afastando do completo estranho.

— Se quiser, posso topar mais vezes só para admirar esse seu rostinho vermelho de vergonha! — E saiu, gargalhando pelo local.

— Até que ele não é nada mal, hein! — Luiza diz, me fazendo revirar os olhos e olhar por cima do ombro, observando o garoto de afastar.

Seu cabelo estava preso em um coque apertado, sua pele era morena e seus olhos claros davam um ar de mistério na figura dele por completo. Ele era alto e um pouco musculoso, fazendo a roupa abraçar os músculos que existia ali. Sua boca era pequena e bem desenhada, nariz arrebitado e um sorriso de dentes alinhados.

Mas, meu coração não pretendia seguir em frente e eu muito menos desejava isso. Ainda sentia que algo estava para acontecer, só não saberia dizer o que exatamente.

— Olha, vai haver uma apresentação agora, vem! — Luiza me puxou, me fazendo andar por alguma pessoas pedindo desculpas pelos esbarrões.

No centro do campo, tinha um palco enorme, alguns microfones e até mesmo uma banda. Ao fundo, o som estava sendo testado, e uma música eletrônica começava a querer eclodir no ambiente.

Suspirei, me sentindo um pouco deslocada e com um sentimento de melancólia. Eu não entendia porque tudo aquilo tinha chegado naquele ponto. Eu só queria ter ele de volta e parecia que nada iria trazer aqueles dias de glória novamente.

A música começou a tocar. Ao longe, alguns casais dançavam e se divertiam. Alguns estavam se beijando e outros apenas conversavam baixinho.

— Acho que você precisa superar. Já vai fazer um bom tempo desde o último encontro de vocês no hospital. Precisa virar essa página, Sophia! — Luiza dizia, enquanto me abraçava levemente.

A verdade é que eu não estava pronta ainda, tudo o que eu podia fazer era talvez me forçar a isso, e eu não sabia até que ponto poderia tentar ser uma outra pessoa que não fosse eu.

— Não sei se consigo! — Falei, sendo sincera. — Nem sei qual o próximo passo tomar agora. — Mordi o lábio e olhei mais uma vez ao redor, avistando um garoto de cabelos loiros me encarando. Ele parecia estar me analisando, quando fiz menção de sair de onde eu me encontrava, seu corpo começava a se encaminhar em direção onde eu me encontrava.

— Porque não deixa ele te mostrar? — Luiza diz no meu ouvido, se referindo ao cara que vinha até mim.

Antes que eu pudesse tomar alguma iniciativa, ele já estava a poucos passos de mim, sorrindo e pronto para falar algo, mas minha atenção foi totalmente perdida quando escutei meu nome ser mencionado perto dali nas várias caixas de som distribuídas pelo local.

— Senhorita Scott! — Aquela voz, a mesma que invadiu meus pensamentos desde o primeiro momento que eu o encontrei. A voz que me fez delirar quando me tomou a primeira vez e me fez chegar ao ápice naquele quarto. A voz que disse que me amava e precisava de mim.

A voz dele. Vívida e tão real, que eu podia jurar estar alucinando.

Olhei em direção a mesma, me deparando com sua figura alta e imponente no centro do palco, com o microfone na mão e a atenção de todos nele.

Oliver estava ali, com o rosto abatido e as expressões cansadas. Pequenas olheiras ao redor dos seus olhos castanhos ocupavam espaço naquele rosto cheio de sardas.

Engoli em seco, sentindo meu coração bater tão forte que o som chegava aos meus ouvidos. Ele tinha voltado, eu só não sabia se o seu retorno iria me destruir por completo ou me reerguer definitivamente.
  

Oioi, espero que tenham gostado desse capítulo. Só lembrando que teremos somente mais um e finalmente o epílogo.

Desculpem a minha demora, com a faculdade e agora um bebê que tem três meses, as coisas começaram a ficar bastante corridas. Agradeço quem está por aqui até hoje acompanhando a obra, votando e comentando, foram vocês que me deram força para terminar esse capítulo.

❤️🌹

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