CHANTAGEM - SARIETTE

By xuxufreire

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Juliette encontrará o ódio e o amor na figura de uma mulher do passado. More

AVISO
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
QUATORZE
QUINZE
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
TRINTA E QUATRO
TRINTA E CINCO
TRINTA E SEIS

VINTE E DOIS

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By xuxufreire

Juliette Freire.

Eu evitei responder as perguntas da Carla. Ela percebia que eu não estava bem, comentando meu abatimento e palidez. Mas eu desconversava. Pela primeira vez não desabafei com ela e nem contei o que me preocupava. Tinha vergonha que ela soubesse o modo humilhante e violento com que eu fora tratada.

Há quase três dias eu não via e nem falava com Sarah. Desde quarta-feira de manhã bem cedo, quando ela bateu na porta do banheiro avisando que Rodolffo me levaria para casa com Cecile. Sim, eu tinha passado a noite no banheiro aquele dia. Foi incrivelmente fria. Eu saí de lá humilhada e dolorida, com um ódio imenso dela. Passei aqueles dias apavorada, com medo que ela me chamasse e me machucasse novamente.

...

Era impossível comparar aquela Sarah bruta e violenta com a mulher que me deu tanto prazer todo esse tempo. Mas ela era a mesma mulher fria e que me desprezava.

Na madrugada de sexta para sábado eu dispensei Mary.

Dormia em meu colchonete, por volta das quatro horas da manhã, quando eu acordei com a voz baixa e fraca de Bil a me chamar. Levantei em um pulo, olhando-o. Meus olhos encheram-se de lágrimas ao fitar os seus, embaçados e foscos.

- Babe?

- Sim, meu amor. Sou eu.

Segurei carinhosamente a sua mão fria e inerte e beijei-a.

- Estou aqui.

- Não consigo... Me mexer.

Notei que ele estava consciente da realidade que o cercava. Há muito tempo isso não acontecia e um medo atroz me dominou. Lembrei que os médicos haviam dito que ele teria uma melhora relativa antes de falecer, recobrando a consciência.

- Sente dor?

- Não.

- Sede? Eu...

- Não. Não consigo te ver direito.

Seus olhos sem vida tentavam se fixar em mim. Percebi o desespero em seu rosto.

- Acabou, não é? Eu cheguei ao fim.

- Não! Você está aqui comigo! Vivo!

- Isso não é vida. - Sua voz era muito fraca e baixa. - Não posso nem tocar em você. Não posso mais nada. Acabe com isso, por favor. Acabe com o meu sofrimento.

Fiquei muda e surpresa, fitando-o. Ele foi mais explícito:

- Deixe-me morrer, Juliette. Ninguém vai saber, por favor, estou implorando. Você pode fazer isso.

- Não! Bil... Não! Eu não posso perder você. - Falei horrorizada, começando a chorar. - Nunca! Acha que eu poderia matar você?

- Eu já estou morto. Por favor, agora...

- Não! Vou cuidar de você, Bil. Farei de tudo para que não sinta dor e não volte para o hospital. Mas não me peça para ser a sua assassina. Isso nunca. Vamos esperar a hora que Deus quiser.

Apesar de seus olhos meio paralisados e de sua fraqueza, percebi sua expressão de raiva. Por um momento eu me lembrei que ele costumava ficar assim quando se sentia contrariado. Sempre fora mimado e voluntarioso, pois gostava que tudo fosse feito do seu jeito.

- Você é uma egoísta! Esperar a vontade de Deus! Essa é boa! Diz isso porque não é você nessa cama! Merda, não posso nem me mexer! Quando fiquei assim? Não consigo me lembrar.

- Bil... Não diz isso...

- Você sempre me amou. Sempre acabava fazendo tudo o que eu queria. Eu quero morrer, Juliette. Me ajuda agora.

Beijei todo seu rosto frio e magro, chorando.

- Me perdoa, meu amor, mas eu não posso. Não posso.

- Juliette...

- Estarei com você sempre, até o final. Farei de tudo para que não sofra. Mas não posso matá-lo.

Olhei-o bem de perto, tentando controlar meu desespero. Como uma pessoa podia se acabar tanto, sofrer tanto? Ele era tão jovem! Senti-me impotente, pois não poderia tirá-lo daquela situação.

Pela primeira vez desde que acordou, ele conseguiu fixar o olhar no meu, talvez porque eu estivesse muito perto. Vi ali uma enxurrada de sentimentos, há muito tempo perdidos dentro dele, em sua inconsciência e em suas divagações.

- Você sempre foi melhor que eu, meu amor. Merecia alguém melhor, que te desse valor.

- Não diga isso.

- Eu me arrependo... Por magoar você tantas vezes. Me perdoa.

- Para com isso. Não há o que perdoar. Sou feliz com você.

Menti para tentar tirar essa ideia da cabeça dele.

Ele tentou sorrir, mas fez apenas uma careta. Respirou com certa dificuldade. Depois continuou:

- Deixe-me desabafar. Quero morrer com a consciência tranquila. Não sei quando terei oportunidade novamente. Eu... Não fui um bom marido, nem bom pai. Não me lembro direito da minha própria filha... Cecile. Passei a vida toda me divertindo. Tive mais mulheres do que posso contar. Gastei com elas, em jogos, farras. Nunca dei o valor que você merecia.

- Deixe isso para lá, Bil. É passado.

- Você sempre foi diferente. Linda. Todos os homens que viam você a queriam. Eu me sentia tão... Orgulhoso... Porque você me amava. Sempre, desde pequenina. Fui seu marido. Mas nunca dei realmente valor a você, Ju. Como me arrependo!

- Bil...

- Fui egoísta. Agora estou pagando.

- Não. Todo mundo comete erros.

- Eu sei. - Ele parou de falar e fechou os olhos por um momento, muito cansado. Fiquei com medo que ele voltasse a inconsciência, mas ele abriu novamente os olhos embaçados.

- Eu te amo Ju... Você sempre foi tão inocente e...

Comecei a chorar novamente, sem controle.

- Não sou inocente! Não sou perfeita como você pensa, Bil.

- Você é. De coração. Sempre foi melhor que a gente. Nunca se deslumbrou com o dinheiro como eu e a minha mãe. Nunca se deslumbrou por se tornar rica ou ser a mais linda que a maioria das mulheres. Sempre a mesma doce, estudiosa, simples. Isso me irritava. Achava você uma boba por ser assim. Agora a invejo.

- Não.

Eu não conseguia encará-lo. Não podia dizer a ele que eu era suja, que me prostituía com a Sarah, que além do dinheiro eu ganhava prazer. Que enquanto ele estava ali, eu me resfolegava na cama de outra.

- Bil...

- Nunca percebi que amava tanto você, até agora.

Olhei-o sem entender.

- Você era um prêmio, Juliette. Se outros homens e mulheres não a cobiçassem tanto, eu não me envolveria com você. Gostava de saber que era minha esposa doce, terna, apaixonada. Que sempre esperaria por mim. Mas agora vejo que eu te amava de verdade. Só que nunca dei valor a isso.

- Não importa. Não se canse tanto falando. Quer um pouco de água?

- Não. Quero falar enquanto consigo. Talvez seja a última vez. Deus do céu, queria poder ver você melhor! Queria tocar em você. Só de pensar que vou morrer e que outras pessoas vão tocá-la... É egoísmo, eu sei. Mas não posso evitar.

Fiquei quieta, respirando fundo para parar de chorar. Sentia raiva e vergonha de mim mesma. Não era outra pessoa que me tocaria, e sim sua própria "irmã", e ela já me tocava.

- Lembro de um colega meu. Ficou caidinho por você quando a viu. Ele e eu... Bem, farreávamos juntos. Às vezes dividíamos a mesma mulher. Uma vez ele sugeriu que dividíssemos você.

Fiquei olhando-o, chocada.

- Sou tão canalha que fiquei excitado com a proposta. Se eu não tivesse certeza de que você não aceitaria e me odiaria, eu teria conversado com você e aceitado. Desculpe.

Ele calou-se por um momento.

- Fui um atraso na sua vida, Juliette. Quis ser seu dono. Afastei homens e mulheres que poderiam ter te amado de verdade.

- Eu só queria você, Bil. Nada disso importa. Fui feliz ao seu lado. E não havia nenhuma outra pessoa apaixonada por mim.

- Como você é boba! - Ele não conseguia rir, mas parecia muito cansado. - Não havia uma pessoa só. Ao longo do tempo conheci várias. Seus colega de faculdade, amigos nossos, conhecidos. Lembra quando moramos na mansão do Sr. Andrade com a minha mãe? Lembra da filha dele?

Fiquei imóvel e gelada. Sarah. Ele continuou a falar.

- Ela comia você com os olhos. Tive medo que a roubasse de mim. Usei todo seu amor adolescente e sua devoção a meu favor, para afastar aquela garota do meu caminho. Lembra disso? É. Minha mãe era louca por ela. Percebi que você também se sentia atraída. Foi o mais perto que cheguei de perder você. Tive medo que ela a tirasse de mim.

- Sarah?

Lembrei que Bil só me deu atenção naquela época. Antes me tratava como criança, divertindo-se com a minha adoração desde pequena. Mas quando vivemos na mansão e me assumiu, ele tirou a minha virgindade e me assumiu como namorada e noiva.

- O desejo dela por você me fez ter medo de perdê-la. Percebi que você poderia se ligar a ela. Era o que ela pretendia. Você só ficou comigo por causa dela?

- Não. Ela nos odiava. A todos nós.

- Ela queria você, Juliette. Muito. Minha mãe tinha ciúmes. Ela também percebia como a Sarah te olhava. Mas eu a afastei. Eu mostrei que você era minha. Depois ela saiu de casa e o risco passou. Teve aquele irmão da sua amiga de faculdade. Lembra como ele também dava sempre um jeito de ficar perto de você? Eu sabia que precisava me casar com você e afastar o perigo. Queria segurar você com uma mão e ter a minha liberdade com a outra. Agora não posso mais impedir você. Vou morrer. Algum esperto vai ter você.

- Bil, pare com isso...

Eu me sentia horrível. Por tudo. Sentia-me usada por ele, surpresa e nervosa com tudo que ele disse. Culpada, por já ser de outra. Aquela mulher do passado que agora me comprava. A mulher que Bil diz me desejar. A mulher que talvez tivesse sido muito mais, se o Bil não tivesse me afastado dela.

- Estou muito cansado, mas não quero dormir de novo.

- Não durma.

Percebi que em nenhuma vez ele perguntou da filha.

- Cecile gostaria de vê-lo acordado. Pena ser de madrugada. Ela está linda. Tão esperta e doce! Todo mundo se apaixona por ela.

Ele tentava me focalizar. Não ligou muito para o que eu disse.

- Você não vai me esquecer, não é? Sempre vai saber que fui o primeiro em tudo. Sempre vai lembrar que, se não fosse a maldita doença, eu não morreria logo e você seria só minha. Queria que ninguém mais a tocasse. Queria que só eu pudesse ser seu amante.

Senti uma mescla de dor, vergonha e raiva. Eu já o traía. Eu já sentia prazer com outra, muito mais prazer do que já senti com ele. Eu não prestava e devia mesmo me envergonhar. Mas a raiva também estava presente. Porque eu percebia o egoísmo dele. Mesmo naquele momento, ele me queria só para ele. Ele queria que eu me enterrasse para a vida depois que ele se fosse. Desejava me controlar mesmo depois de morto. Ele confessou que me manipulou aquele tempo todo e mesmo assim não se arrependia de nada.

- Nunca deixe outra pessoa destruir o que vivemos. Não deixe outra criar Cecile. Não deixe outra pessoa tocar em você. Por favor, Juliette.

Balancei a cabeça, não como se tivesse concordando com o que ele falava, mas em incredulidade do seu pedido. Se ele soubesse que não é outra pessoa que está me tocando, e sim a sua irmã, a mulher que ele mais odeia.

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