Um Acordo Vantajoso

By readjoy_

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Sabem o que dizem? Não se mistura amor e negócios. More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Summer Of Love
Capítulo 25
Capítulo 26
Epílogo

Capítulo 2

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By readjoy_

"Fiquei sabendo agora que nossas empresas estão competindo pela mesma conta. Que ironia não é mesmo Rose?" - J. F

 Senti meu corpo gelar e minha respiração acelerar, mas não tive tempo de associar nada quando ouvi passos vindo em direção a sala de reuniões apenas escondi os sentimentos conflitantes em meu peito e tinha apenas uma coisa em mente: O projeto é nosso.

Amélia Parker:

Assim quem ouvi os passos me recompôs, se eu tivesse que mentir para ganhar então fingir estar apaixonada não seria o fim do mundo. Mas primeiro, queria ter certeza que era necessário porque se não fosse, não teria motivos para isso.

"Bom dia Sr. espero que não tenha pegado muito trânsito no caminho para cá" - Max o cumprimenta e o mais velho aperta sua mão e olha ao redor - "Gostou da nova decoração?"

"Adorei, por isso tenho certeza que seu pai deve ter odiado" - Ele responde rindo - "Não peguei trânsito no caminho e não me chame de senhor, nenhum de vocês, sei a minha idade não quero ser lembrado toda hora me chamem apenas de Paolo"

Paolo sorri, mesmo com os cabelos grisalhos ele é um homem bastante bonito e tem belos olhos verdes.

"Então sente-se, vamos falar sobre o projeto" - Max oferece e então ele o faz.
Passo na frente de Lucy e me sento ao lado de Hastings que me olha com uma grande interrogação no rosto que eu faço questão de ignorar.

"Bom deixe-me apresentar aos meus melhores funcionários" - Max está nervoso, o coitado não para de mexer na gravata - "Lucy Thompson, é a nossa advogada cuida de toda a documentação e contratos necessários; Daniela é minha assistente ela sabe tudo que eu tenho que fazer então está sempre comigo, creio que a sua assistente sabe bem disso; Amélia Parker e Anthony Hastings são os arquitetos mais competentes da empresa, creio eles tenham perguntas visto que são os responsáveis pelo projeto"

"Conheço todos, Mirando fez questão de repassar seus currículos para mim hoje" - Ele diz apontando para mulher parada atrás dele - "Não são as formações e currículos que me interessam, se fosse apenas isso a conta já seria de vocês com todos os prêmios e grandes projeto"

"Bem, então o procura?" - A voz de Anthony saiu mais rouca que o habitual, vendo o olhar do Paolo encontrar os azuis.

"Uma alma. Vocês projetam centenas de imóveis todo ano, sabem muito bem fazer isso, mas o meu resort tem que carregar coisas que acredito"

"Essas coisas seriam?" - Resolvo perguntar de uma vez e o vejo me olhar e sorrir.

"União, amor, família" - Diz e dá de ombros - "É simples.

"Qual o público que deseja atrair?" - Max pergunta.

"Famílias, quero um lugar para descanso e brincadeiras com netos" - Paolo diz e vejo o sorriso em seu rosto - "Mas também quero que seja um lugar onde os jovens casais possam se apaixonar, curtir sua fase lua de mel e pensar em ter sua família"

"Isso nos dá uma ampla visão de coisas que pode ser feita" - Digo e ele assente, quando uma ideia me passa - "Li em alguns lugares que seu primeiro resort é seu sonho realizado, se importaria se eu e meu colega fossemos qualquer dia desses para conversarmos e vê o que você gostaria de incrementar igual ou o que mudaria?"

De repente o senhor olhou para Max e coçou o queixo, parecia pensar.

"Ela é boa" - Diz ao meu chefe que ri e balança a cabeça positivamente - "Vamos fazer melhor, um final de semana para você e as outras empresas no resort para avaliarem, me fazerem perguntas e abrirem as mentes para ideias novas. O que acha?"

Anthony e Max tinham petrificado, acredito que Lucy também, pois meu pedido inocente foi transformado em um passeio entre rivais. Mas a proposta de Paolo era do tipo que não poderia ser negada.

"Adorei" - Respondo sorrindo, já que parece que nenhum deles se propôs a isso.

"Ótimo, minha assistente vai enviar os detalhes por email ainda hoje" - Responde e então desvia seu olhar para o homem sentado ao meu lado - "E ao fim do final de semana, todos terão duas semanas para apresentar o projeto finalizado"

Duas semanas, merda, um curto período de tempo para um projeto tão grande. Mas olhando para meus colegas de trabalho, não seria algo que eu poderia questionar.

"Tenho certeza que iremos voltar de lá revigorados e cheios de ideias" - Anthony sorri  - "Agora me diga, vai fazer uma rede de resorts quer seguir um padrão ou cada um terá suas próprias características?"

"Gosto de coisas únicas" - Paolo responde - "Por isso o cuidado para escolher quem vai ser o responsável, não quero cópias e sim uma coisa que carregue meu legado por anos quando meus filhos assumirem"

"Fala com muito carinho da família" - Digo - "É raro vê um homem que seja assim depois de tantos anos de negócios"

"Nem sempre fui assim" - Ele responde - "Quase destruí tudo anos atrás, não os negócios, mas minha família. Aprendi na marra que eles vem sempre em primeiro e valorizo isso"

"Aliás, sua esposa se juntará ao nosso final de semana?" - Max pergunta sorrindo - "Nunca esqueci da forma como ela toca piano divinamente, faz falta nos jantares tediosos do meu pai"

"Ela vai adorar rever você, com certeza vai querer ir" - Ele diz - "Bom, não vou mais ocupá-los. Vamos conversar melhor no final de semana, tirar todas as dúvidas e nos conhecer"

"Tenho certeza que sim" - Digo e então num gesto impensado acabo colocando minha mão sobre a de Anthony e ele parece entender, pois sorri para mim.

"Nós vemos no sábado de manhã então" - Ele responde - "Foi bom conhecê-los e encontrar você Max, estou ansioso para vê o que podem criar"

Assim que ele se coloca de pé, nós fazemos o mesmo e o cumprimentamos antes que ele saia e só então parece que o clima tenso se vai.

"Ele é um cara estranho" - Lucy é a primeira a falar e Max ri - "E você, nem sequer contou que ele é um amigo?"

"Ele era nosso vizinho" - Ele dá de ombros - "Isso não garante a conta, na verdade não interfere em nada, ele só vai entregar o projeto para quem se encaixar no que ele quer"

"União, amor e família" - Anthony repete em voz alta - "Vamos fazer o máximo, aproveitar esse final de semana para conhecê-los pelo que vi ele não vai deixar fácil"

"Sem dicas do que quer, ele quer que nós vejamos" - Digo firme e então eles concordam - "O velho é jogo duro"

"Vamos fazer nós termos dele então" - Lucy diz - "Vocês dois fizeram bem em levantar a bandeira branca, esse daí vai dar trabalho"

"Nossa bandeira branca não tem somente a ver com o trabalho" - Anthony diz e eu sinto meu coração acelerar quando os olhares vão para mim - "Essa manhã eu pedi a Parker em namoro"

Merda, merda ele estava mesmo fazendo isso?
Sinto ele estender seu braço sobre meus ombros e me trazer para perto do seu corpo, sou invadida pelo perfume inebriante dele e não reajo.

"Essa manhã?" - Max parece confuso - "Por que estão falando isso só agora? Finalmente minha preocupação de vocês brigarem vai diminuir"

"Porque não me contou?" - Lucy perguntou com os olhos cor de avelã semicerrados para mim - "Perguntei ontem, disse que era só um almoço. Agora estão namorando? Quanto tempo vem rolando?"

"2 meses" - Anthony diz

"2 semanas" - Digo e então eles nos olham confusos - "Começamos a sair a 2 meses atrás, temos sido discretos e tem ficado mais sério nas últimas 2 semanas" - A primeira mentira sai da minha boca e tenho certeza que até o fim disso, não vai ser a única - "E como ele me pediu em namoro oficialmente hoje, então, não temos motivos para esconder mais"

"Contando que não causem problemas ou tragam o pessoal para o escritório, então felicidades ao casal" - Max diz e então dá de ombros, melhor que eu esperava - "Lucy, preciso que comece o contrato da obra que já está em andamento, não quero atrasos"
E assim saímos da sala, juntos, Anthony ainda com os braços ao meu redor enquanto caminhamos para a minha sala pude ver as pessoas olhando de soslaio para nós.

"O que mudou?" - Foi a primeira pergunta assim que entramos na minha sala e fechamos a porta - "Estava decidida a dizer não, mas antes do fim da conversa colocou sua mão sobre a minha. O que aconteceu nesses poucos minutos?"

"Precisamos ganhar essa conta" - Digo firme enquanto sento na cadeira - "Aliás, você poderia deixar minha cadeira na altura que estava? Eu mal consigo alcançar o chão"

"Porque precisamos ganhar?" - Ele insiste vindo até mim e girando a cadeira para o encarar - "Foi o meu charme? Ou as peônias?"

"Se seu charme for receber uma mensagem da concorrência, então sim, foi seu charme" - Irritada, foi como minha voz soou e ele enrugou a testa claramente confuso - "Não quero falar sobre mim, vamos jogar e ganhar. Então logo acaba"

"Certo, então vamos jantar hoje, quero combinar como isso vai ser" - Ele disse se afastando e eu apenas assenti - "Nossas histórias devem bater, como vimos Paolo vai querer saber de tudo"

"Certo, vou pedir para Lizzie procurar um restaurante" - Digo ligando meu notebook e abrindo o projeto, olho para cima e ele ainda está parado me encarando - "Algo mais?"

"Não, nós falamos no jantar" - Ele diz respira fundo e sai sem mais nenhuma palavra.

Respiro aliviada assim que ele desaparece do meu campo de visão, que diabos estamos fazendo? Acabamos de nos comprometer, um compromisso falso e mal nos conhecemos sem contar que nossa relação é cheia de diferenças. Menos de 24 horas e eu já estava metida em uma confusão.

Mas eu vi os olhos verdes brilharem do Santorini quando falava da família, principalmente da esposa e sua forma de pensar, os princípios… Sendo os profissionais focados e objetivos que sempre fomos, não ia rolar com ele. Um relacionamento apaixonado, mais um projeto bem elaborado e focado no que ele quer, talvez, funcione.
Ouço meu celular tocar e sem nem olhar quem é, atendo.

"Alô" - Minha voz sai distraída.

"Ei, finalmente você atendeu" - Karl fala animado - "Nosso jantar está de pé maninha?"

"Sexta, certo?" - Pergunto e ele confirma - "Vai levar a namorada nova?"

"Na verdade, estou solteiro" - Ele fala e sei que está sorrindo - "Dando um tempo de relacionamentos"

Paro imediatamente o que estou fazendo no notebook, se conheço bem meu irmão é que ele e seu belo par de olhos castanhos, corpo definido e cabelos enrolados nunca estiveram solteiros nos últimos 10 anos.

"Descobriu que está doente?" - Pergunto e ele gargalhou do outro lado da linha - "Deus, você só pode estar com o pé na cova para tomar uma decisão assim"

"Só estou tentando viver de outra forma" - Diz quando se recupera - "Mas vou levar acompanhantes para nosso jantar, Papai e Mamãe querem que conheça um amigo meu"

"Um amigo?" - Me recostei na cadeira e soltei um longo suspiro, não posso ser vista em encontros agora e muito menos quero ir a eles - "Não vai dá, tenho trabalho na sexta"

"Haha, engraçadinha. Não vai fugir assim" - revirou os olhos - "Não vai ser tão ruim, não vou atirar ele em sua direção"

"Você não vai, mas o papai com toda a certeza já está marcando um noivado" - Respondo irritada.

"Ele só está preocupado, já faz um tempo Lia" - O tom de sua voz é baixo.

"Não quero conhecer ninguém, na verdade, não é muito adequado nesse momento…" - Estou incerta de falar isso com ele, mas Karl sempre teve tendência a ideias mais estúpidas que eu.

"O quê, você conheceu alguém?" - Ele grita animado - "Conte logo, quem é?"

  Já havia reclamado sobre Anthony para ele, na verdade para todo o meu pequeno círculo de amigos e para meus pais também. Bom, agora eu vou ter que dizer que o namoro, não vai ser nada estranho!

"An, sabe o Anthony Hastings? - Pergunto meio incerta e a linha fica em silêncio - "Andamos saindo, acabamos de oficializar o namoro…"

"Que diabos?" - Ele sequer esperou eu terminar de falar - "Você não detestava ele até a semana passada? Como se tornou namorada do dia para noite?"

"Karl, eu vou explicar tudo no nosso jantar enquanto me dá cobertura do seu amigo" - Digo - "Só não posso ser vista em um encontro, vou te contar tudo, prometo"

"Sabe, sempre achei que essas briguinhas de vocês iam resultar em romance" - Ele parece pensar sobre isso - "O amor eo ódio são divididos por uma linha muito tênue, nunca se sabe de qual lado está, quando vê… bem já era"

"Antes de qualquer teoria maluca espere até eu lhe contar tudo, expert em relacionamentos" - brinco me deixando sorrir um pouco - "E não conte ao nossos pais, acho que não vai ser necessário"

Converso com Karl por mais alguns minutos, ele é meu único irmão e mesmo sendo o mais velho por 2 anos consegue ser um adolescente. Nossa relação sempre foi ótima, é meu melhor amigo e sei que posso confiar esse segredo a ele, não acho que consiga esconder isso dele.
Continuo o trabalho a tarde inteira, até o almoço foi Lizzie que trouxe para mim no escritório. Estava exausta, minha cabeça estava consumida por salas, ilhas, quartos, paredes e tetos… Suspiro levando a mão até a têmpora.

"Você me parece uma confusão" - A voz de Lucy chega aos meus ouvidos e eu fecho os olhos, ela não vai desistir - "Agora que estou mais livre, que diabos aconteceu?"

"Como?" - Perguntei abrindo os olhos lentamente e me esforçando para olhá-la.

"Parker e Hastings!" - Ela diz e bate na mesa - "Como não me contou isso?"

"Achei que não era nada ok? Realmente achei, não sabia que ele ia querer algo sério assim tão rápido" - Isso que é ser uma mentirosa de primeira - "Mas trabalhamos a anos juntos, nunca tínhamos parado para conversar e então… Aconteceu"

"Então está apaixonada?" - Ela pergunta e o nó se forma em minha garganta.

"Talvez, é recente" - Falo e então desvio de seu olhar - "Só sei que quero tentar, não foi você mesma que disse que eu tinha que me comprometer com alguém novamente?"

"Disse" - Ela suspira - "É que ele… Anthony realmente leva as coisas a sério Lia, o último relacionamento dele durou anos"

O escritório todo sabia disso, Hastings mesmo com a beleza, poder e dinheiro não era um homem galinha, ele gostava de relacionamentos. Por isso, a maioria das mulheres e até alguns homens suspiravam por ele.

"Eu sei, por isso estou tentando" - Resolvi apelar - "Eu quero um futuro, Lucy. Com ele isso me parece possível"
Ela parece ceder, já que me olha e logo um sorriso surge nos lábios pintados de nude.

"Bem, ao menos vocês ficam lindos juntos " - Diz animada e me esforço para sorrir - "Vocês já…?"

Sexo! Deus, pelo menos sobre isso eu não preciso mentir né?!

"Não, decidimos ir devagar" - Explico - "Caso não desse certo não queríamos um clima estranho"

"Mas agora estão namorando" - O seu olhar é sugestivo e eu dou de ombros - "Esse final de semana? Oh, durante o dia dois arquitetos focados e a noite essas faíscas que soltaram ao longo dos anos queimam loucamente"

Não aguentei e ri da forma como ela fala, não dava pra levar a sério. A ideia de eu e o Anthony… Na verdade, já passou pela minha cabeça três anos atrás quando o vi pela primeira vez e logo sumiu quando no meu segundo dia ele passou a me afrontar, fazer joguinhos e me desafiar.

"Bem, vai acontecer em algum momento" - Ela parece satisfeita com minha resposta - "Estou mais nervosa com os comentários, o que nossos fofoqueiros de plantão estão falando?"

"Alguns estão odiando outros acham que até demorou a acontecer" - Responde rindo - "A certeza que eu tenho é que as mulheres estão com inveja e os homens decepcionados pela bela e arrogante que ignora a todos ter sido fisgada antes de sequer estar mesmo no mar"

"Credo, eu não sou um peixe" - Digo fazendo uma careta de nojo - "E sobre a inveja das mulheres, se isso não transformar minha vida um inferno aqui por mim tanto faz"

"Isso sim é ser segura do seu taco" - Ri e eu reviro os olhos.

Não o vi pelo resto da tarde, nem sequer sai da sala para um café ou qualquer coisa assim. Acho que para evitar os sussurros e cochichos que iriam me seguir e também por que não queria vê-lo. Ao menos não agora.

"A reserva foi feita no nome dele, um restaurante bem modesto italiano no centro e é tão romântico" - Lizzie entra na minha sala falando com tanto entusiasmo que quase a mando usar a reserva ela mesma - "As 20hrs, então se quer passar em casa e sabe, dá um tapinha no visual agora é a hora"

"Está insinuando que estou desarrumada?" - Certo meus olhos para encará-la.

"Nunca, jamais! Mas foi o Sr. Hastings que pediu, ele disse que ia buscá-la no seu apartamento" - Explica.

"Ela já saiu do escritório? - Pergunto - "Bem, sendo assim, não me resta escolha. Estou indo Lizzie, não esqueça que amanhã temos a visita da Sra. Johnson e ela adora um lanche nas reuniões"

"Pode deixar, e Srta. Parker…" - Ela me parece tímida agora, lanço um olhar mais tranquilizador - "Tenha um bom encontro essa noite"

E não consigo controlar meu sorriso para a mulher à minha frente, Lizzie me tira do sério muitas vezes. Mas ela é meu braço direito em tudo, lembro que uma vez fiquei resfriada ela me levou sopa e remédios e até nas férias ela me liga quando acha que precisa me lembrar de algo.

"Obrigada Lizzie, sei que vou ter" - Digo.

Quando entro no elevador pego o celular em meu bolso e resolvo mandar uma mensagem para o contato que em anos nunca serviu para nada.

"Que perspicaz da sua parte fazer questão de ir me buscar, ao menos sabe onde eu moro?"

"Vejo que Lizzie lhe deu o recado. Somos um casal apaixonado, o romantismo visível é sempre bem vindo. Aliás, fiz questão de eu mesmo escolher o restaurante.

Encaro a mensagem surpresa pela atitude, ele poderia muito bem deixar minha secretária resolver isso… mas fez questão de ele mesmo reservar e o pensamento de que isso foi fofo acaba me assustando.

"Isso eu não sabia"

"Nem sempre precisa saber de tudo Parker. Agora me envie seu endereço"

[...]

  Tento lembrar que isso é um jantar romântico falso para mim mesma, mas quando me dou conta meu reflexo no espelho revela o cuidado que tive para me arrumar.

O vestido longo tinha um tom rosa seco, a abertura lateral era até o meio da coxa tirando um pouco o ar romântico e trazendo um toque sensualidade, já o decote V realça meus seios os deixando bem arrumados e minha cintura bem marcada me fazia sentir confiante. Meu cabelo estava preso em uma trança, com uns fios soltos na frente e a maquiagem leve finaliza tudo de forma harmoniosa.
Assim que borrifei um pouco de perfume, recebi uma mensagem dele me dizendo que estava na portaria. Não demorei até pegar a pequena bolsa e descer para encontrá-lo.

Quando o vi parado na portaria era diferente, ainda era o Anthony, mas fora do escritório parecia que ele ficava mais leve. Observei que vestia uma calça jeans preta e um suéter na cor bege de mangas longas justo, que destacava muito bem o quão definido ele era e os cabelos pareciam mais ondulados meio saí do banho e eles ficaram assim, era casual.

"Você está linda" - Ele diz e eu sorrio - "Quase me sinto mal por não colocar um blazer ou um smoking"

"Não se sinta, é bom que sejamos vistos assim" - Digo dando de ombros - "Além disso esse estilo combina mais com você"
Anthony baixa seu olhar para seu próprio corpo e posso ver seus lábios se abrirem em um sorriso.

"Então, vamos?" - Pergunto meio incerta.

"Claro"

E essas são as últimas palavras que trocamos, pois durante o caminho não falamos nada, nem tão pouco quando entramos no restaurante, Hastings apenas segura firme minha mão e seguimos o garçom até a mesa reservada para nós.

Quando estamos sentados, um de frente para o outro, posso observar com calma o lugar. Um restaurante relativamente pequeno, muito bem iluminado, com uma decoração que realmente remetia a Itália e a nossa mesa ficava perto do vidro com vista para a cidade.

"Parece que gostou da vista" - É a primeira coisa que ele diz e eu assinto - "É bem hipnotizante observa-la"

"Já conhecia esse lugar?" - Perguntei querendo puxar assunto.

"Sim, minha irmã que me trouxe aqui" - diz - "Achei que era calmo e bem…"

"Romântico" - Completo e ele afirma - "Então, temos que falar sobre nosso namoro falso"

Ele ri, na verdade solta uma gargalhada boa de se ouvir e então se vira para mim.

"Nunca pensei que ia chegar a esse ponto" - Ele diz.

"Bem, foi você quem pensou nisso para início de conversa então acho que pensou sim" - Dou de ombros e quando abro minha boca o garçom volta com os cardápios e já nos serve vinho. Rapidamente fazemos nossos pedidos e então o rapaz se vai - "Acho que temos que ter regras"

"Também acho" - Ele diz - "Vamos ser sinceros um com o outro, já vamos estar mentindo para pessoas demais"

"Certo, não quero envolver nossas famílias" - Digo e ele assente - "Mas vou contar ao meu irmão sobre nossa pequena mentira"

"Tem certeza disso?" - ele pergunta e seu cenho está franzido - "Ele não vai, sei lá, achar isso uma ideia idiota?"

"Provavelmente vai, mas Karl é inofensivo" - Dou de ombros e então levei a taça até minha boca, não consigo controlar o pequeno gemido de satisfação que saí dos meus lábios e o homem à minha frente possivelmente deve ter ouvido - "É delicioso, diferente dos vinhos que já provei"

"Ele é produzido na América do Sul, incrivelmente com as "uvas dos camponeses" ninguém dava a mínima para elas por terem baixo custo" - Ele explica - "Não sei se é por serem armazenadas na madeira ou a simplicidade da uva, mas tem um sabor diferente e é mais agradável que alguns caros vinhos por aí"

"Bom, eu gostei" - Respondo sorrindo - "E quanto a sua família?"

Ele dá um breve gole no seu vinho.

"Minha mãe, eu e a minha irmã mais nova" - Diz e quero perguntar sobre seu pai, mas não me parece certo - "E a sua?"

"Mãe, pai, irmão mais velho" - respondo.

"Lado que dorme na cama?" - Ele pergunta e eu quase engasgo - "Temos que saber"

"Não acho que ele vá perguntar isso" - Respondo.

"Mas podemos incluir pequenos fatos nas nossas conversas" - Ele observa minha mãe que segura a taça - "Para parecer que temos intimidade e outra coisa, vou poder beijá-la?"

Sei que provavelmente deu para ver o susto que levei estampado em meu rosto, pois ele tinha um sorriso enorme nos lábios e conhecendo sua arrogância esse era o propósito.

"Se for realmente necessário" - Digo baixo e volto a beber o vinho para disfarçar o vermelho das minhas bochechas.

"Você fica desconcertada tão fácil" - Diz e eu revirei os olhos - "Vai ser mais divertido que eu pensei"

"Me parece que andou pensando muito nisso" - Me recomponho - "Vai me beijar quando eu julgar necessário até lá pode continuar pensando sobre isso"

Ele passa a língua sobre os lábios, tentando controlar o sorriso e então vemos a comida ser posta em nossa mesa.

"Se fosse um encontro de verdade ainda pediria lasanha?" - Ele pergunta enquanto observa meu prato e eu o olho confusa - "Geralmente, a maioria pediria algum prato de nome difícil ou uma salada para parecer entender e então falaria sobre como a massa é macia ou o molho é cítrico"

"Não faz meu tipo, gosto de tudo que seja simples. É um monte de massa, com queijo, carne, molho… Um pouco de tudo" - Digo pegando o garfo ainda limpo e levando um pedaço até ele - "Vamos lá, experimente"
Ele me olha, parece pensar por um segundo e então aceita abrindo a boca e provando.

"Isso é comum?" - Ele pergunta apontando para mim e o garfo - "Você sempre leva sua comida até outra pessoa?"

A verdade é que, não. Faço isso com Karl a minha vida toda e poucas vezes no último relacionamento. Mas ele não precisa saber disso.

"É um costume" - Digo - "Se não gosta, vou evitar fazer"

"Não é só… novo" - Estava prestes a comer quando levanto o olhar e vejo o garfo diante de mim - "Vai, experimenta é Spaghetti a Carbonara"

  Contenho o sorriso e levo a boca até o garfo, é impossível não fechar os olhos com o sabor.

"É seu prato favorito daqui?" - Pergunto.

"Um dos, mas o que eu gosto mesmo é da sobremesa" - Ele me encara e eu sinto o duplo sentido pairando no ar - "Já provou Tiramisu?"

"Não" - Respondo - "Minha sobremesa italiana favorita é Panna Cotta"

"Essa noite teremos as duas então" - Ele diz e então voltamos a comer.

Ao longo do jantar conversamos sobre nossas famílias, sempre com perguntas que talvez pudessem se encaixar numa conversa com os Santorini. Era até engraçado a forma como tudo flui bem entre nós, tanto que a taça de vinho foi cheia mais algumas vezes até pedirmos a sobremesa.

"Não pode pedir três coisas como sobremesa, não vamos ter espaço no estômago pra tudo" - Reclamo mas ele faz que nem ouve e apenas dispensa o garçom - "Quando eu não aguentar você vai comer tudo, odeio desperdício"

"Garanto que vamos dar conta" - Ele parece pensativo quando me olha novamente - "E quanto a namorados?"

"Sou solteira" - Disparo, mesmo sabendo onde ele quer chegar.

"E ex-namorados?" - Aí está.

"O último relacionamento que eu tive durou da faculdade até três anos atrás" - Ele parece perceber que é um assunto delicado - "E creio que vá conhecê-lo, pois, a mensagem que recebi foi dele. A empresa que ele trabalha ao que parece é nossa rival"

"Isso explica a mudança de opinião então" - Diz simples e eu assinto - "Término ruim?"

"Término horrível" - Dou de ombros - "Mas isso já passou, só quero ganhar dele"

"Isso me parece bom então" - Ele me encara - "Vamos tratar de fazer com que ele perca então"

"E você?" - Pergunto.

"Namoro longo, término amigável" -  responde e acabei por rir, ele é realmente um dos caras bons? E porque estou surpresa, óbvio que era - De que está rindo?"

"Confirma os boatos sobre você" - Explico - "O cara que gosta de se relacionar, joga limpo e coisas assim. As mulheres do escritório falam muito, todos os suspiros… Vai fingir que não sabe?"

  As sobremesas logo são postas na mesa, Panna Cotta; Tiramisu e uma Pizza Napolitana. Assim que vou levar o talher ao Tiramisu, Anthony bate o dele contra o meu e eu afasto o deixando pegar e levar até mim.

"Bem elas falam demais e olham também" - Brinca - "Mas não é na boca delas que eu estou dando sobremesa, não é mesmo?"

Por algum motivo isso faz ficar quente, merda, ele me excitou sem a menor menção a sexo. Me mexo na cadeira desconfortável e ele tem seus olhos em cada movimento, que diabos.

"Agora vamos, me dê sua sobremesa favorita na boca" - Seu sorriso me diz que ele sabe o que está fazendo e pelo visto, está adorando.

Se isso é um jogo, os dois podem jogar certo? Pego um pouco da sobremesa e levanto inclinando meu corpo sobre a mesa deixando meus seios bem próximos a seu rosto enquanto ele abocanha a sobremesa.

"O que achou?" - Pergunto assim que retorno ao meu lugar. Os olhos deles estão vidrados, sei muito bem que ele deu uma conferida quando me inclinei em sua direção pois agora ele me parece vermelho e desconcertado. Bem feito - "Anthony?"

"O quê?" - O tom da sua voz é rouco, certo.

"O que achou?" - Pergunto novamente e quero rir pois ele me parece mais vermelho ainda.

"Da sobremesa?" - Faço que sim com a cabeça e ele engole a seco - "Deliciosa, realmente muito…"

Ele sequer terminou a frase quando bebe a água que está a sua frente.
O resto da noite foi tranquilo, sem mais provocações, somente planos e perguntas sobre nosso combinado. Muito profissionais.

No caminho para minha casa falamos sobre o tempo de faculdade, estágios e trabalhos de verão. Parte de mim nunca vai entender como pode parecer tão natural a forma como conversamos, meio que íntima.

"Então, sabe, tem uma questão rodando a minha cabeça - Ele diz assim que saímos do seu carro e paramos em dente ao meu prédio - "Se, só se, por um acaso nós precisemos nos beijar não vai ser estranho?" - Até poderia dizer que ele parecia nervoso ao me questionar, mas convenhamos, mesmo sendo adultos essa não é uma pergunta muito normal a se fazer - "Não vai parecer meio travado?" - Paro de andar e fiquei em sua frente, o olhar dele desce até o meu.

"Acha que deveríamos ver isso antes de acontecer de fato?" - Pergunto enquanto passo a mão sobre seu suéter, fingindo limpar algo sobre seu peito e seu rosto abaixa lentamente até o meu.

"Talvez" - Sua voz é quase um sussurro e me vejo quase compelida a me aproximar mais quando sua mão vai até minha cintura e a aperta.

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