Indecente • COMPLETO

By autoramillyferreira

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Não é permitido se apaixonar. Apenas é permitido sentir prazer. Jade West fugiu do convento. A fim de começa... More

Notas da autora
Epígrafe
um
dois
três
quatro
cinco
seis
oito
nove
dez
onze
doze
treze
catorze
quinze
dezesseis
dezessete
dezoito
dezenove
vinte
vinte e um
vinte e dois
vinte e três
vinte e quatro
vinte e cinco
vinte e seis
vinte e sete
vinte e oito
vinte e nove
trinta
trinta e um
trinta e dois
trinta e três
trinta e quatro
trinta e cinco
trinta e seis
trinta e sete
trinta e oito
trinta e nove
quarenta
Epílogo
Epílogo 2
Bônus
Notas da autora
Livro novo

sete

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By autoramillyferreira

Querido diário, eu pequei… mais uma vez. 

Batidas na porta me acordam. Olho na direção do barulho com os olhos ainda inebriados pelo sono, mas consigo dizer um "entre". O meu irmão surge logo em seguida, usando roupas de corrida que consiste em uma bermuda e camisa de malha. 

— Que foi? — pergunto. 

Ele adentra o quarto e vai até as cortinas, abrindo-as. Tento tapar os raios de luz com as mãos, mas é como tentar tapar o sol com uma peneira. 

— Você está atrasada para a nossa caminhada — diz ele. — A propósito, bom dia. 

Suspiro e deixo a cabeça cair de volta no travesseiro. 

— Bom dia — resmungo. 

— Ei, o que é isso? 

Ergo a cabeça e vejo que eu acabei adormecendo enquanto escrevia no meu diário, e ele está aberto sobre a minha barriga. Meu coração para de bater por alguns segundos. Tento alcançar o caderno, mas Justin é mais rápido. 

— O que é isso? — ele folheia. — Um diário? 

Avanço sobre a cama e consigo tomar o diário das mãos dele à tempo, com o rosto vermelho. 

— Não é nada — digo, apressando-me para guardá-lo dentro da gaveta. 

Justin cruza os braços e abre um sorrisinho. 

— Não acha que está velha demais para ter um diário, maninha? 

Fico ainda mais constrangida. Se ele soubesse todas as coisas que escrevi ontem, sobre Ryan e como ele me fez sentir… 

— Não enche — tento escapar ilesa do assunto. — Você pode sair para que eu possa me vestir? Te encontro lá embaixo em quinze minutos, no máximo. 

Ele ergue as mãos em forma de rendição. 

— Quinze minutos e nada mais — avisa ele antes de caminhar para fora do quarto. 

Solto um longo e profundo suspiro. Essa foi por pouco. Torno a abrir a gaveta ao lado da cama e tiro o meu diário lá de dentro. Ele está muito exposto aqui, e não quero correr o risco de que Justin decida dar uma olhada mais de perto, caso se sinta curioso para isso. Então eu vou ter que achar um novo esconderijo para ele. 

Levanto-me da cama e enfio o diário dentro da minha mochila. A partir de agora ele vai para aonde quer que eu vá.  

— Você beijou alguém ontem à noite? 

Olho para Agnes que tem um olhar cheio de expectativa. 

— Não — respondo, tentando expurgar Ryan da minha mente. Ainda não deixo de me perguntar: e se ele tivesse me beijado? — E você? 

— Beijei um calouro e dois veteranos — dá de ombros, tão natural quanto a luz do dia, o que me deixa boquiaberta. 

— Você… beijou três caras? Em uma só noite? 

Ela abre um sorrisinho. 

— Esses são os que me lembro. 

Trocamos um olhar e depois rimos. Agnes é meio maluquinha, extrema, mas eu gosto muito dela. 

— Você sumiu ontem em algum momento — diz ela. — Achei que estivesse se pegando com alguém no escuro. 

Enrubesço. 

— Eu não estava com ninguém. — Minto. 

Por mais que eu tente, Ryan volta a importunar a minha cabeça. O lugar em que seu dedo tocou — bochecha, boca — ainda parece queimar, e aquele olhar intenso e sombrio, como se quisesse me devorar naquele beco escuro, ainda me persegue nos meus sonhos. Ainda me lembro do jeito que o meu corpo ficou em chamas sem ele sequer ter encostado o corpo em mim, e bastou um simples toque para me incendiar por completo. Era sobre essas sensações mundanas que as Irmãs me alertavam todos os dias para manter distância? Elas falavam sobre o caminho da perdição, e eu tenho certeza que Ryan está do outro lado me esperando. 

— Ah, que pena — Agnes parece realmente desapontada. — Mas eu entendo. Vamos começar com o básico, não é mesmo? 

Forço um sorriso. 

— Sim, claro. 

A rotina de trabalho continua a mesma. Agnes tem razão: a lanchonete fica cheia de alunos da faculdade. Acho que todo mundo tem uma quedinha pela decoração retrô do lugar. 

O movimento é intenso, e me vejo desejando, muitas vezes, que o expediente acabe logo para que eu possa ir para casa e dormir um pouco. Mas não é só o cansaço que me incomoda: toda vez que o sininho indica que alguém entrou na lanchonete, meu coração acelera e eu olho em direção à porta, pensando ser ele. Sou invadida por uma onda de decepção toda vez. Agnes disse que ele vem muito aqui, mas só o vi duas vezes. 

Será que eu pareci muito oferecida na noite passada? Será que, por isso, ele está evitando vir aqui, por que não quer me ver? Essas dúvidas me deixam um pouco amarga. 

No fim do expediente, finalmente posso ir embora. Agnes tem um compromisso, por isso não pode me dar uma carona até em casa, então me contento em caminhar até o ponto de ônibus. Mas não sem antes lançar um olhar na direção da oficina a poucos metros da lanchonete. Está tudo escuro e as portas estão fechadas. Ele não está lá. 

Não espero no ponto de ônibus por muito tempo. Acomodo-me em uma cadeira ao lado da janela e pego na mochila o livro que Ivy me deu enquanto a cidade passa ao meu lado. Abro no capítulo em que eu parei e me surpreendo ao perceber que a história está caminhando para uma cena de sexo. Eu fico tensa na hora, e olho para os lados para me certificar de que ninguém está espiando o conteúdo do livro. Fecho-o. Depois o abro. Eu vou ler. Eu vou, sim. Dane-se. 

Está calor. Por isso estou usando um short jeans e camiseta. É a primeira vez que uso um short jeans, dá para acreditar? Quando eu vim para cá, Ivy me levou para fazer compras, já que as roupas que eu tinha não eram bem adequadas para uma cidade da Califórnia. E eu as odiava com todas as minhas forças. Mas acho que gosto desta sensação; de ver as minhas pernas expostas e sentir a brisa da manhã se chocar contra elas. 

Eu não tenho pernas longas, afinal, tenho apenas 1,60 de altura. Mas elas são grossas. E a pele cor de chocolate que as moldam é brilhante e visualmente macia. Até que são bonitinhas. 

Estou sentada debaixo de uma árvore na hora do almoço. Agnes não quis vir comigo para aproveitar um pouco de ar fresco, então estou sozinha aqui. Mas isso não é ruim: pelo menos posso aproveitar para ler um pouco e até mesmo escrever no meu diário — quando não tiver ninguém por perto, claro. E acontece que agora não tem ninguém, e sinto a necessidade de colocar sobre as páginas o que aconteceu no meu dia. 

Vejamos… conto para o diário sobre Garrett Kirk, um aluno que eu conheci no primeiro dia de aula e que também faz parte da minha turma de Enfermagem. Escrevo sobre quando ele se sentou ao meu lado durante a aula e puxou conversa comigo. Também escrevo sobre como achei aquilo estranho; conversar com alguém do sexo oposto sobre assuntos banais. Mas Garrett parece ser um cara legal, eu conto. E bonito. Muito bonito. 

— O que você está escrevendo aí? 

Dou um sobressalto pelo susto e fecho o diário com um baque seco, impedindo a pessoa de ler os meus segredos. Em um ato de desespero, eu o escondo atrás do meu corpo. Olho para trás e vejo Ryan escorado na árvore, tentando espiar por cima do meu ombro. 

Fico vermelha. 

Ai, meu Deus… 

— N-nada. — Por que eu estou gaguejando?

Seus olhos ficam estreitos, desconfiados. 

— Nada… — repete ele, descrente. — Posso me sentar aqui? 

O que eu poderia dizer? Ele já sentou. Ou, se me permite ser mais específica, ele se deitou, usando os braços como apoio para a cabeça. 

Olho para ele, embasbacada. Se existe algo mais bonito do que Ryan Blossom mergulhado na escuridão, é Ryan Blossom deitado sob a luz do sol. Ele está usando uma camisa branca de manga curta e não há nenhum sinal da sua jaqueta de couro. Mas está usando jeans preto e botas. 

— O que está fazendo aqui sozinha? — pergunta ele, completamente à vontade, como se o nosso último encontro (aquele em que ele quase me beijou), não tivesse existido. — Ainda não fez amigos, West? 

— Eu só queria respirar um pouco de ar fresco. — Não consigo ouvir a minha própria voz. 

— Então você é do tipo que curte a natureza? 

— Às vezes. 

— Humm. — Ele fecha os olhos como se estivesse aproveitando a sombra da árvore, e não consigo evitar que meus olhos foque nos seus lábios: são rosados e cheios, aparentemente macios… controle-se, Jade. — Conte-me, West: o que você faz por essas bandas? — Diante do meu silêncio e confusão, ele abre os olhos azuis e me encara. — O que você está cursando? 

— Enfermagem — replico, me sentindo estranhamente nervosa perto dele. 

— Por que escolheu isso? 

Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e penso a respeito. No convento cuidávamos das pessoas, especialmente das doentes. Eu fazia parte da equipe de Enfermagem, mesmo que não soubesse muita coisa sobre o assunto. Eu era uma espécie de ajudante das enfermeiras e até empurrava as cadeiras de rodas dos pacientes pelo jardim quando o dia estava bonito para um passeio. 

— Gosto de cuidar das pessoas — digo. 

— Seu coração é bom, West. 

Fico surpresa pelo elogio. 

— Como você sabe? Não me conhece… 

— Eu disse naquela noite: eu consigo ler as pessoas — os olhos dele ficam mais escuros, e minha boca fica seca ao pensar na possibilidade de que ele esteja se lembrando do quão próximos ficamos um do outro naquela noite. 

— Você diz que eu sou boa, mas e você? — lanço o desafio. — Você é bom? 

Os olhos dele ficam mais intensos e cruéis. 

— Não para você. 

Meu coração acelera. 

— Como você pode ter tanta certeza? — eu sussurro. 

— Basta você perguntar para qualquer pessoa nesta maldita cidade — diz secamente. 

— Eu não costumo me basear no que as pessoas acham. 

O sorriso dele volta a aparecer. 

— Tão doce… estou quase tentado a… — suas palavras pairam no ar e ele passa a língua sobre os lábios, uma visão sensual. 

Minha pulsação acelera e eu estou desesperada para que ele termine essa maldita frase! O que ele quer? O que está passando na cabeça dele nesse exato momento? 

Então eu percebo o quanto isso é patético. O quanto eu sou patética. Eu estou apenas tensa com toda essa pressão que tem acontecido na minha vida nos últimos meses, e estou deixando-me levar por alguns sentimentos que eu nem sei se são reais. Ryan me cativa de uma forma assustadoramente excitante, e eu acho improvável sentir isso por alguém que eu nem conheço. Isso tudo é invenção da minha cabeça e eu preciso fugir o quanto antes. 

— Eu… preciso ir — levanto-me depressa e agarro a minha mochila antes de ir. Ele não diz nada e nem vem atrás de mim, mas sinto seu olhar queimar as minhas costas durante todo o percurso. 

Sinto-me exaurida depois do trabalho, mas ainda assim encontro forças para fazer a pesquisa que o professor passou. Eu nunca fui de acumular matéria, e não é agora que vou começar a praticar. 

Depois da lição de casa, tomo banho e visto um pijama confortável. Subo na cama e deito a cabeça no travesseiro, passando a encarar o teto. Então eu entendo: não é cansaço físico que eu sinto, mas sim, emocional. Aconteceram tantas coisas na minha vida que eu não sei nem por onde começar a falar, e tudo isso resultou nas minhas inúmeras inseguranças e medos. E agora surgiu Ryan Blossom para bagunçar todos os meus sentimentos, desviando-me para o caminho da perdição. 

Eu preciso colocar isso para fora. Sento-me na cama e alcanço a mochila em cima da cadeira. Abro a mesma e começo a tirar os livros de dentro, à procura do meu melhor amigo, aquele que guarda todos os meus segredos. Então, depois de retirar os livros, tateio dentro da mochila e não encontro nada. Olho lá dentro e depois balanço a mochila de cabeça para baixo. Nada. Vasculho os livros sobre a cama, olhando embaixo de todos eles, mas ele não está lá. 

Meu sangue gela. 

Eu perdi o meu diário. 

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

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