Dezoito luas para Aster • jik...

By kattsuomoki

6K 669 632

Em um mundo onde os deuses feéricos reinam sobre os céus, comandando o encontro de almas e parceiros ligados... More

[ AVISOS E PLAYLIST ]
II- Eu reivindico-lhe.
III- Desejos no coração de Avalon.

I- Encontre-me, melodia da noite.

2.2K 246 369
By kattsuomoki

#GatinhoEsmeralda

Sobre as fases da lua, as mãos mergulharam no véu do universo e moldaram o filho libertador. Enlaçados de alma e corpo, a fera e a noite escura irão se deitar sobre as linhas do destino. Quando o tom mais ardente da criatura antiga atravessar o solo pecaminoso, a ausência do silêncio se fará presente, culminando o princípio.
E que assim seja.

Lua Nova; Nove e meia da manhã - Ruas de Avalon.

A melodia viva inundava os ouvidos dos comerciantes locais, enchendo as ruas de Avalon com o ritmo veloz e dançante de crianças feéricas. Sob o Sol abençoado da manhã, corpos quentes e ágeis eram movimentados em meio às ruas, dizimando a ausência do silêncio e do luto, persistente a tantas luas. Entre os rostos que irradiavam alegria, emitindo algo parecido com risos abafados, olhos verdes e atentos como de um felino, estavam presos em todo fluxo. A pedra Esmeralda em sua orelha esquerda movimentava-se em um vaivém contínuo no meio de seus cabelos pretos e sedosos, da raiz até as pontas, fios que deslizavam sobre sua nuca e seguiam seu caminho até os ombros. Os dedos dos pés formigavam, como se estivessem esperando um único pulso elétrico para se envolverem na dança frenética.

De respiração ofegante, Jeon Aster, o próximo duque a ascender em seu clã, sorria com sua aura encantadora para seu povo. De roupas simples, o homem exalava uma gargalhada jovial ao ser enlaçado por um menino de pele com tonalidade azul luzente, guiando-o em meio ao caos da sinfonia. Os poucos que conheciam-lhe, eram submetidos a uma conversa onde a lábia do jovem duque convencia facilmente o feérico a não revelar a sua identidade aos demais. A pele sublime não era esquecida tão facilmente, por isso Aster decidia sair com suas vestes simples ao caminhar por entre as feiras e vilas da cidade. Jamais existiu um imortal que colocasse a atenção em seus olhos e esquecesse a vislumbra que eles carregavam.

O herdeiro do antigo duque, aquele que todos ouviam por sussurros, era esplêndido de físico e alma.

Aster podia sentir os músculos de seu corpo a cada movimento, guiando gotas de suor que denunciavam o vigor em meio ao círculo de crianças e qualquer um que fosse seduzido pela música. Mostrando os dentes relativamente mais pontiagudos que os demais ao seu redor, o jovem duque escutava, de olhos fechados, a harmonia que seu coração fazia ao galopar em seu peito. Fazia Aster se sentir vivo, ao ponto de encandecer o interior de seu corpo.

Não era um bailarino esplêndido como os que tinham na região, enfeitando-a com suas roupas e fitas coloridas flutuantes. Pelo contrário, os pés de Aster eram firmes toda vez que encontravam a superfície densa do chão. Fortes para carregar o corpo robusto acima de si. Os mesmo pés que agora dançavam, já tinham frequentado campos de batalha antes mesmo de aprender a língua mãe.

Apesar de ser o primogênito legítimo de seu pai, e ter obrigações a seguir desde jovem, nunca fora-lhe negado alguma curiosidade. Não existia privação, visto que não havia interesse em suas atividades entusiastas.

Arrastando-se para fora dos braços de uma jovem, Aster apressou o passo ao ouvir as palmas ao seu redor e os muxoxos, certamente em virtude de sua identidade. A cidade usufruía da presença do duque a um sopro de lua, ainda que ele tenha preferido desfrutar da diversão deleitosa somente depois do nascer do Sol. Guardaria suas forças para o restante do dia, de preferência em algum lugar que sua pelagem escura e suas presas pudessem ser libertas à vontade. A cada contração de seus ombros, esses que carregavam desenhos de ramos de Moli em cada pedaço de derme, seu âmago era preenchido com os sentidos de um leopardo.

Estar de volta, depois da morte de seu pai, Jeon Eliel, não era muito diferente de quando seus ossos estavam em crescimento e sua metamorfose não era absoluta. O antigo duque era distante na maioria das circunstâncias, mantendo Avalon ordenada na medida do possível. Não era comum ouvir reivindicações, porém tão pouco comemorações. Aster acostumou-se facilmente com a sua própria companhia e seu animal interior, cuja fera só era vista na madrugada das florestas ou em batalhas para defesa de suas terras. Treinado para ser um feérico distante e superior, mas com o coração de um felino, pronto para caçar qualquer um que ultrapasse os limites de seu povo.

Agora, sendo anunciado como o próximo duque de seu clã, Aster aproveita os últimos dias de longos anos árduos em sua posição. Enganando seja qual for o ser que se iluda ao pensar que o homem deixará sua astúcia de lado e a personalidade divina, que pouco fora dada-lhe por acaso.

— Está atrasado, Aster. — Seokjin, seu irmão, indagou. — E está fedendo feito um porco, vai precisar de um banho antes de partir.

A entrada da enorme casa estava mais movimentada do que o duque imaginou. Empregados corriam à medida que desciam as escadarias, guardas vigiavam tanto os arredores que precisaram ver as tatuagens nos ombros de Aster, e a voz de Seokjin para reconhecerem sua chegada. Flores brotavam das paredes exteriores da mansão, em tons de verde e vermelho, confirmando a presença da folhagem, que antes não era vista. As portas e as janelas estavam abertas, recebendo a claridade necessária que cada ambiente precisava.

— É bom ver você, irmão, os dias lhe favorecem. — Aster sorriu sugestivo, aparando uma maçã de uma das empregadas que carregava as comidas do dia.

Quando jogou-a para o alto, suas órbitas viajaram para o céu aberto em espirais de vidro. O teto sempre ganhou a maior atenção de Aster, ali o universo inteiro ficava sobre sua cabeça, e o homem se sentia incrivelmente pequeno. Paredes que sustentavam a vista portavam quadros e mais espirais verdes, evidenciando não somente a cor de seus olhos, mas a cor de seu clã.

— E você faz questão de me envelhecer toda vez que usa essa língua para me importunar.

Aster conhecia aquele tom, tão bem que abocanhou a maçã sem requinte algum na frente de seu irmão. Seokjin levantava-se da mesa do café, esbanjando um sorriso mínimo ao fitar o irmão mais novo. De cabelos loiros como o Sol fora da casa, e de olhos castanhos claros como mel, o irmão bastardo do duque puxou-lhe para um abraço apertado e firme. Suas roupas eram mais adequadas, vestia uma calça de montaria e um colete azul marinho por baixo da camisa branca, folgada nas mangas. Independente de carregar o sangue do clã Jeon, o irmão mais velho de Aster era tão robusto como seu pai em sua melhor forma. O pupilo de Eliel podia não carregar nas veias o licor vermelho vivo, mas era um feérico elegante a cada andar.

— Jamais perderei a oportunidade de usa-la para isso. — o duque deu tapas leves nas costas de Seokjin. — Não me culpe por aproveitar das atividades divertidas que Avalon carrega, pretendo expandi-las assim que possivel.

— Precisará dar um volta com os tios primeiro, estou trabalhando para que nenhum deles tente arrancar o pouco juízo que o duque carrega do ventre da sua mãe.

— Eu ainda não aderi ao titulo.  — Aster disse sério, frisando a frase ao deixar um aperto no ombro do irmão, que apenas soltou uma lufada de ar pela boca. — Irei lhe recompensar pelo trabalho por todos esses anos, já está decidido.

Ambos sabiam o que se passava na cabeça do recém duque. Aster nunca negou seu título, mas em tempo algum adorou, como muitos faziam. Sabia de suas responsabilidades, das consequências de ser o primogênito de Eliel, o duque que teve um bastardo antes de ter um herdeiro e aceitou uma traidora em sua casa nas últimas semanas antes de falecer. Responsabilidades essas que não mudavam de forma ou de cor nem mesmo quando sua parte animal saia da jaula. Por enquanto que era treinado ou afastado das terras de Avalon, Seokjin tomava conta da cidade com todo o seu vigor, resposta aos conhecimentos adquiridos ao longo do tempo.

— Esse título é seu antes mesmo dos deuses tocarem nosso solo, Aster. — seu irmão afirmou, passando as mãos nos fios claros.

— Acha que irão tentar algo? — o duque perguntou, referindo-se aos seus tios e também auxiliares de seu pai. — Não tenho tempo para um passeio agradável com eles, sabem que vou dispensá-los de seus serviços.

— E talvez seja por isso que não podemos tirar conclusões precipitadas. A cerimônia está cada vez mais próxima, preferem se engasgar com suas próprias línguas ao invés de verbalizar o título com seu nome. — Seokjin foi atrás de Aster quando viu o irmão mais novo despir a parte de cima e arrancar gritinhos dos empregados que passavam. — O tributo acontecerá uma semana depois de você carregar oficialmente o título, é outro palpite de oportunidade se forem tentar algo... pelos deuses, faça isso nos seus aposentos!

Aster soltou uma gargalhada quando jogou a peça de roupa suja em cima de Seokjin, a ponto de quase desequilibrá-lo no piso recém polido.

— Não é nada precioso que ninguém nunca tocou. — Aster disse, agarrando a pedra esmeralda que se emaranhou em seus cabelos pretos. — Nunca concordei com os tributos, não quando vi feéricos de famílias chorando pelas ruas de Avalon a procura de algo para nos dar em troca.

— Isso não é algo desnecessário, irmão, não mantemos essa casa e o restante da administração com apenas vento. Acontece a milênios, todos fazem parte do tributo. — Seokjin explicou, vendo Aster levantar as sobrancelhas em reprovação e parar uma das mulheres que organizava flores na casa.

— Olá. - disse o duque, fazendo a senhorita ruborizar de surpresa. — Pode subir no meu quarto e me trazer algo para vestir? Se possível algo simples, deixarei que me enfeitem depois do banho... por favor.

A expressão da jovem empregada mudava drasticamente toda vez que fitava o duque a sua frente. Aster falava em um tom melancólico, sem tirar os olhos escuros da sua proximidade e mantendo uma distância respeitável da mulher. Quando mostrou as presas, apenas para enfatizar um sorriso gentil e astuto, a mulher fez uma reverência desengonçada.

— C-claro, senhor, a suas ordens.

— Obrigado, é muita gentileza sua, querida. — o duque fez uma pequena reverência com a cabeça, arrancando o resto de sanidade da jovem.

— Perdeu a consciência ao se dirigir a ela dessa maneira, e ainda por cima seminu? — Seokjin cruzou os braços.

— Ainda existem cavalheiros, título algum mudará isso.

— Eu não irei dar sermão em você sobre requinte, acredito que você saiba do que lhe aguarda. — suspirou fundo, ficando em silêncio por alguns segundos ao semicerrar os lumes e encarar os desenhos nos ombros de Aster. — O que você fez com os traços da sua tatuagem?

O duque arqueou uma das sobrancelhas, observando um ombro de cada vez. Os ramos de Moli pareciam exatamente iguais a luas anteriores de quando ele sentiu a dor de tê-las em sua pele.

— Sem nenhuma modificação. A que devo a curiosidade? — perguntou a Seokjin que já se aproximava.

— As linhas estão mais escuras que o normal... — Aster resmungou e deu um passo para trás quando o irmão tocou o desenho, sentindo um desconforto que antes não tinha. — Há vermelhidão também, mas não é insolação. Andou deitando-se com alguma bruxa?

— Retornei antes do Sol se pôr, e você sabe que não me deito com qualquer pessoa. — Aster voltou a andar, dando as costas para Seokjin.

Suas falas eram verdadeiras, não era comum se ver em lençóis que não conhecia. Não se considerava um libertino por aproveitar dos prazeres carnais ao longo do tempo, precisava nutrir algum sentimento para poder relacionar-se com alguém, mesmo que tal sentimento seja uma amizade simples. Algo dentro de si não gostou da insinuação de seu irmão, mas sua parte racional entendia que a conduta extrema estava presente apenas por preocupação. Não somente forças, mas iria precisar resguardar a sua paciência para o que fosse que seus tios estivessem imaginando fazer ao levá-lo até uma de suas posses, um sítio distante de Avalon que fora conquistada entre um acordo de paz com descendentes feéricos passados.

— Obrigado. — Aster agradeceu ao ver a jovem de minutos atrás trazendo consigo uma peça de roupa. — Ao que me lembre, pedi algo simples...

— Organizamos tudo na noite passada, senhor, seus aposentos estão prontos com cada peça de roupa que precisar. A senhora Flora pediu para lhe trazer essa blusa com detalhes em dourado. — a jovem ditou.

Um sorriso alegre estampado no rosto, como se estivesse olhando para uma escultura a sua frente e explicando cada parte da maciez da camisa branca com pedrarias.

— Ainda não sou o seu senhor, me chame de Aster ou Jeon e eu fico feliz. — o duque pediu, vestindo a camisa e escutando a risada baixa de Seokjin.

— Obrigado. Avise que o duque não irá jantar em casa. — o irmão mais velho pediu, vendo a mulher assentir e pedir licença com uma reverência.

— Por que Flora não veio me receber? — Aster cerrou as sobrancelhas, aproximando-se da sacada no final do corredor.

— Ficou descansando no quarto e conversando com alguns empregados que chegaram ontem, disse que você estaria cansado depois da viagem.

— Uma completa bobagem, deveriam ter me avisado que ela estava em casa. Poderia tê-la ajudado em algo.

— Aster, entendo que você não queira se desvencilhar de nosso povo como nosso pai fez, mas não poderá pensar que ninguém irá servi-lo ou chamá-lo de senhor. — Seokjin fez uma pausa, queria ter certeza de que estava sendo ouvido. — Estamos aqui para isso.

— Estão aqui para me guiarem e serem o meu apoio, não se curvarem para minhas idiotices futuras. — Aster riu fraco.

— Fique tranquilo, irmão, isso eu felizmente não consigo jurar fazer. — os dois riram.

Tanto o duque como seu irmão ficaram em silêncio por alguns segundos, observando lá embaixo a movimentação dos empregados e o clima agradável. O barulho do vento batendo contra as flores da casa, era afável. Depois que Eliel foi enterrado junto aos mortos da família, o luto se estendeu por algumas luas e a casa a qual tinha um restante de vida, adormeceu por um momento de tempo. Alguns diziam que os empregados que se recusaram a abandonar a casa depois do enterro, ficaram em silêncio absoluto, à espera de um sopro para o futuro de Avalon.

Aster sentia a importância que aquele lugar tinha para tantas pessoas, sua chegada fora o verde e a audácia que aguardavam-lhes.

— Não teremos tolerância com qualquer um que insulte Flora e o bebê. - o duque informou, Seokjin apenas assentiu. — Mande para mim o feérico que dirigir meia calúnia a vocês. Entendido?

Seu irmão sorriu, ficando em silêncio por alguns segundos ao ouvir Aster suspirar.

— Sim, senhor.

— Obrigado. — Aster deixou o tom firme de lado. — Ela está protegida?

— Desde quando enterramos o pai. O feitiço precisou ser dobrado quando ela deu à luz ao bebê, ninguém ousou aproximar-se mais que o necessário.

— Me perdoe, as vezes eu esqueço que você é um maldito que sempre nos salva com seus feitiços.

Seokjin abaixou sua cabeça para que Aster não avistasse seu sorriso, não queria deixar o irmão mais acostumado a importunar-lhe. O duque via pouco do dom do irmão mais velho, e as poucas vezes que o viu em batalha, ficou petrificado e com os pés plantados no chão ensanguentado. Seokjin tinha o que os feéricos chamavam de "Abjuração", capaz de lançar feitiços de proteção e cura para alguém ou um batalhão de soldados. Não era comum feéricos com títulos ou pertencentes de um clã lutarem lado a lado dos soldados, como Aster atuava sempre que necessário. O pupilo de Eliel ficava ao lado do pai, coordenando as direções e estratégias melhoradas em cada terra. Quando seus pés tocavam o solo barrento de um conflito, com seu arco e flecha forjado pelo artesão com as mãos dos deuses, Seokjin salvava não só o leoparno negro como quase um front inteiro.

Em tempos de calmaria, seus poderes serviam de ajuda a flora, viúva de Eliel e amaldiçoada pelo próprio povo ao gerar no ventre o segundo bastardo do antigo duque. A feérica de orelhas pontudas dividia não somente a cama, mas a rotina com o pai de Aster a trezentas luas, e quando foi descoberto pelo povo de Avalon que a criança em seu ventre não era de Eliel, o nome de Flora tornou-se o vínculo entre a traição e a prostituta. O recém duque sentia suas entranhas se revirarem toda vez que ouvia ultrajes a seu respeito, bastava escutar sobre a origem de seu irmão mais velho para que seu temperamento ficasse entre uma linha tênue de raiva e fúria. A madrasta dos dois homens era querida apenas para os empregados mais longevos na casa, onde poucos sabiam da relação maternal com Aster e Seokjin.

— Ela estará mais segura se continuar aqui, com você e com meus feitiços. - o duque se aproximou para ouvir o tom reduzido do irmão. — Ouvi semana passada que um barão próximo a Calliot deixou escapar sua opinião a respeito de Flora, seu hálito podre infestou as terras com mentiras sobre um parceiro de alma, causa do adultério.

— Pelos deuses, não houve muitas reivindicações de parceiros nessa lua, e estão parecendo animais à procura de alguém. — Aster descansou as mãos nos próprios quadris. — Até mesmo o leopardo é mais elegante que essas bundas gordas e velhas.

—  Ah, irmão, sua forma animal com certeza é mais interessante, não duvide disso. — Seokjin riu da pose do duque em frente a sacada.

— Estou faminto, não estou à vontade com a possibilidade de acabar arrancando a cabeça de algum dos tios. - o duque prendia os lábios entre os dentes para não sorrir.

— Por um instante de loucura eu imaginei a cena.

— Continue, se realmente acontecer, colocarei culpa na minha terrível fome. — Aster gargalhou. — Estou em fase de crescimento.

— Sim, é claro que está. — Seokjin se despediu do irmão com toque firme em sua tatuagem, esperando sua reação ao tocar a derme dolorida.

O duque não teve oportunidade de apreciar a vista da varanda, especialmente quando não era curioso com preparativos para as cerimônias. Sua barriga rugiu como um animal, deixando claro que Aster precisava se alimentar para continuar em pé e suas barreiras mentais estarem fortes para uma possível pressão mental vinda de seus tios. Pensou em perguntar ao irmão se algum feitiço fora lançado em sua proteção, mas preferiu se resguardar ao lembrar que Seokjin só usava a abjuração quando informado antes, tinha consciência de que Aster não julgava vital para si, não em sua própria terra. Demonstraria sinal de fraqueza para aqueles que tivessem procurando-a.

Ao partir em direção a cozinha, o duque lembrou-se que o pai só frequentava o lugar à noite, quando descia de seus aposentos para beber algo quente e que fazia-lhe adormecer rápido. Durante o dia, Eliel preferia não perambular pela casa e muito menos invadir a cozinha. Aster era plenamente ao contrário. Quando era apenas um broto da imortalidade, suas narinas eram atraídas até as comidas deliciosas e mágicas preparadas pelas cozinheiras da casa. Quando alcançou as dezoito luas da imortalidade, terminava seus treinos de luta, invadia a cozinha e dançava com as empregadas que davam-lhe comida, arrancando risadas de todas e enchendo a casa com vida de volta.

Um feérico comum atingia sua imortalidade aos vinte e dois anos, onde era comemorado com oferendas aos deuses e tributo a rainha. Engana-se quem pensa que a chegada da imortalidade era fácil, visto que crianças feéricas podem não chegar até a última lua. Para o povo de Aster, a imortalidade podia trazer mais enfadonhos do que de fato alegrias. E a morte era difícil de ser vista vagando pelos campos floridos de Avalon, contudo, quando os deuses e a Mãe Terra clamavam por alguém, não havia sopro de vida que segurasse as mão trêmulas do enfermo.

Para Aster e seu clã, a imortalidade era dada quando a fera e a essência eram libertas e controladas por seu parceiro de físico. Eliel era um metamorfo assim como o jovem duque, um belo e esplêndido leopardo de pelagem branca e manchas escuras, os olhos verdes eram tão escuros que até mesmo na forma feérica o antigo duque carregava o semblante indomado. Apesar de deixar o filho livre para o mundo, Eliel garantiu-se que Aster aprendera sobre as sua formas e nuances antes mesmo de ver seu leopardo negro entre as florestas encantadas. Não só era mais importante que sua própria vida, mas como qualquer busca futura, como a de uma parceria.

Não era apenas o cheiro da comida quente que saia da cozinha, Aster podia ouvir o bater dos talheres e massas sendo amassadas, junto a um coro sincronizado. Os feéricos cozinheiros cantarolavam canções com a língua antiga, como se fosse a melodia o motivo do trabalho duro. De momento, alguns diminuíram o tom quando o duque entrou de mãos para trás na cozinha, sorrindo como se ainda fosse um pequeno garoto dentro daquela casa. Mas antes que parassem, Aster reverenciou com a cabeça a comida sendo preparada e se juntou a um grupo de mulheres que batiam massas de pão, com as mangas dos vestidos até os cotovelos e aventais sujos de farinha.

Um rapaz batucava a frente de um banco de madeira, evidenciando a sua voz ao aumentar o tom e puxar o coro animado. O duque não se atreveu a cantar junto, mas sentiu seus pelos se arrepiaram ao ver toda gente não deprimir o volume e esbanjar alegria com sua presença na cozinha. Avalon estava em comemoração, e não era somente as crianças de mais cedo que fez o coração do duque martelar, os empregados na casa cantavam para os deuses e para ele. Jamais teria a audácia de impedir a música de habitar aquela casa, ela era bem vinda junto a luz que trazia consigo.

— Soube que queria me ver. — Aster ergueu o rosto ao escutar a voz conhecida, notando a música, finalmente, reduzir radicalmente. — Não parem por mim, quero poder ver mais esse sorriso na face de nosso duque.

— Flora...sua presença me faz sorrir, não diga tolices. - Aster confirmou, sorrindo terno ao limpar as mãos em um pano. — Olá, mãe.

A mulher de pele escura sorriu ao ouvir o apelido maternal e ao sentir os lábios do homem em sua testa. As orelhas pontiagudas de Flora estavam à mostra em um penteado, que prendia seus cachos pretos em uma coroa de flores, liberando o restante para que percorresse seu colo coberto. O vestido verde escuro, ainda pelo luto, abrigava a barriga inchada pelo parto recente, acentuando seus olhos azuis ao criar um contraste divino. Seu rosto parecia abatido, um pouco mais do que da ultima vez que o recém duque, e também filho de coração, tinha verificado a luas atrás.

— Você está arrancando suspiros das empregadas, estou com medo de vê-las tendo uma epifania ao contemplarem seus lindos olhos. — Flora disse, tocando com carinho a bocecha de Aster.

O duque nada disse, apenas fechou suas vistas e tocou a mão quente de sua mãe. Assim como era irmão de Seokjin, Aster não via necessidade de ser da mesma linhagem para amar alguém e proteger com sua própria vida. Flora ocupava o lugar na sua existência como uma mãe, cuidando de seus curativos e ensinando-lhe a arte das linguas antigas, a quais a mulher dominava por nascença. Além do mais, o duque não conseguia não amá-la por ter gerado um filho que não era de seu pai, sabia que antes de morrer, Eliel também não demonstrava magnitude com mais um filho bastardo. Simplesmente assim, se não incomodava-lhe e muito menos seu duque, não havia motivo para Aster querer desvendar os motivos de Flora ou a origem do bebê em seu ventre.

— Seokjin disse que você estava em casa, então quis matar minha fome antes de vê-la. — o duque disse. — Fico feliz que aceitou ficar conosco, sabe que independente da sua escolha, teria sempre eu e meu irmão.

— Fiz isso por Viollet, ela merece conhecer Avalon e a vocês dois. — ela se referiu a filha.

— Alguém que eu precise caçar? — Aster cerrou os olhos, Flora sabia que que ele falava mais sério do que outros que repetissem o mesmo.

— Não se preocupe comigo, seu irmão está a fazendo um ótimo trabalho. Estamos bem, Aster. — a mulher sorriu gentilmente, arrancando um suspiro do duque. — Mandei que preparassem a torta de chocolate com morangos que você gosta, achei que estaria faminto depois de passear pela cidade.

— Obrigado. — agradeceu quando Flora enlaçou seus braços e guiou-lhe para de volta ao balcão de comida fresca. — Como ela está?

Aster perguntou a respeito da recém nascida, até então não tinha visto ela. Flora foi auxiliada a se sentar junto ao duque, por uma das cozinheiras que correu ao seu alcance, arrancando de Aster um semblante de padecimento ao ver a dificuldade. 

— Não me olhe desse modo. Dar a luz me arrancou alguns privilégios básicos, por enquanto. — o duque tentou esconder o rosto olhando para os petiscos a sua frente. — Viollet mama tão bem como um bezerro, mas os olhos estão tão fechados como a caixa de pandora dos deuses...

Aster engoliu em seco, sentindo a pressão do ambiente e o distanciamento dos feéricos presentes, somente para dar privacidade aos dois. Flora tentava se manter otimista, mas o duque sabia que seu coração de mãe palpitava de preocupação.

— O que os curandeiros disseram? E Seokjin?

— Seokjin diz que não a nada a ser curado, só pediu paciência. — Flora alcançou com dificuldade um dos pratos em cima da mesa coberta de farinha. — Não recebo curandeiros. A de confiança da familia morreu um lua antes de seu pai, e os outros não querem chegar perto de Viollet. Dizem que é uma maldição pela traição ao antigo duque.

— Os deuses que cortem a língua desses infelizes. — Aster falou mais alto do que o costumeiro. — Me diga os nomes e eu garanto que os próximos enfermos que eles tocaram, serão filhos da morte.

— Querido, eles não estão fazendo nada mais do que blasfemar pelos cantos, nada que eu já não esteja habituada. Viollet está bem, irá abrir os olhos quando a Mãe Terra desejar.

— Eles não se atrevem a passar disso. — Aster sorriu sorrateiro, assobiando logo em seguida.

— Senhor, deseja que eu prepare sua refeição em seu quarto? — uma empregada se apresentou em tom baixo, imaginando que o filho de Eliel seguiria seus hábitos. — Senhora Flora, posso tomar conta da recém nascida para você acompanhar o duque.

— Me chame de apenas Flora, não é necessário formalidades. Unicamente com seu senhor, se ele preferir. — a mulher sorriu, dirigindo-se a Aster. — O que prefere?

— Prefiro comer aqui mesmo, e com a sua companhia. — pediu, olhando logo depois para a empregada atrás de si, que imediatamente fez uma reverência. — Só se não formos atrapalhar vocês. Jamais me perdoaria se fossemos um empecilho para a comida que está me deixando louco.

A empregada segurou um riso, porém Flora gargalhou alto com as falas de Aster. Era verdade que a simplicidade do recém duque não era novidade, apenas uma leve surpresa por ainda continuar persistente depois de ser oficialmente declarado como o próximo primogênito por ordem cronológica. Os poucos que conheceram sua mãe, a quase um século, sussurram pelos ventos passageiros que o metamorfo carrega mais de sua genitora do que de seu pai. 

— Quando você parte? — Flora perguntou, assistindo a comilança a sua frente.

— Daqui a algumas horas, preciso organizar algumas pendências com Seokjin antes de meus tios me torturarem com algum tipo de atuação.

— Aster... — Flora chamou.

— Sim?

— Não se transforme em leopardo, não a noite na floresta. — a mulher pediu, seu semblante era de aflição,  e o duque sabia o motivo.

— Flora, não tem como me pedir para que não faça algo que me permite respirar e ter liberdade. — Aster disse calmo, parando de comer. — Meu pai foi morto em sua forma, não vou permitir que aconteça o mesmo comigo. A floresta é minha vida, o Aster é quem sou.

— Conheço o lugar que você vai, e não esperava outra reação sua a não ser está. — ela renovou o ar de seus pulmões. — É um sítio, um território entre nós e Helheim, seu pai já me levou para conhecer quando ganhou o ducado. É bonito, mas sem segurança para alguém como você.. apenas tome cuidado, o clã de seu pai nunca teve tanta influência naquele lugar.

— O nosso clã, comece a se incluir. — Aster pediu. — Tomarei cuidado, voltarei para ver Viollet abrir os olhos. Ela não poderá resistir aos meus encantos, você compreende.

Flora assentiu com a cabeça, fazendo as flores em seus cabelos exalarem um perfume agradável. E o duque, não poderia estar mais satisfeito. Aquela era a sua casa, estava na hora de dar continuidade e mudar algumas tradições que fora deixado por seu pai. O que viesse a seguir, teria que enfrentar a fúria de seus olhos e a doçura de sua língua.

Lua Nova; Quatro horas da tarde - Longaeva.

A égua branca galopava pela grama verde da fazenda, sua crina voava com os ventos, aparentando ter vida própria. O camponês de cabelos pretos em cima dela, acompanhava o ritmo com seu corpo a cada movimento que o animal fazia, por todo o extenso campo. Seus olhos azuis, com heterocromia amarela na borda do lume esquerdo, estavam fixos no horizonte à sua frente. Os lábios carnudos e vermelhos, por conta da brisa cortante, permitia-lhe uma aparência invejável. Seu corpo ondulava sobre as costas da égua, arrancando-lhe um sorriso satisfeito ao perceber o animal fazendo a curva perfeita em volta do campo de flores. Park Jimin parecia uma pintura selvagem e renascentista enquanto galopava, tendo apenas o fim do Sol e os espíritos do terreno contemplando-o.

Quando Luna, a égua abaixo de si, se sentiu confiante para aumentar o próprio ritmo, a corda em sua camisa preta solta, que segurava a fenda no seu peitoral, voou pelos ares. Jimin puxou as rédeas, sentindo o solavanco que tanto estava acostumado antes de ver Luna retomar o compasso calmo. Recuperando o fôlego que tinha escapado-lhe, deixou um carinho firme na cabeça do animal ao curvar-se para perto da crina.

— Muito bem, garota, muito bem. — disse em tom dócil, acalmando o animal e ouvindo-lhe relinchar em resposta.

Jimin sempre sentia-se revigorado depois de ter seu momento a sós com a sua égua. Poucas coisas deixavam-lhe de coração formigando, como era o caso quando galopava pela fazenda, a qual morava desde que aprendeu a cultivar a vida em coisas pequenas. Ja fazia mais de duas horas que estava galopando, intercalando alguns minutos de descanso para ele e para Luna, apanhando flores no meio do caminho para levar para casa. Deu-se por conta da hora quando avistou sua irmã subindo à superfície alta e completamente colorida pelas flores, com um sorriso divertido pintado em seus lábios, fitando o camponês em cima da égua.

A Alfr de orelhas pontudas e cabelos curtos - de tonalidade verdes musgos -, portava uma adaga na cintura e um saco cheio em um dos ombros. Caminhava com as pernas pesadas, tão ofegante quanto Jimin, evidenciando o trabalho duro que fazia diariamente ao sair em busca de comida para ambos. Em dias de Sol, era Carlin quem vestia roupas grossas e procurava mata a flora, a comida tão esperada para as futuras refeições. Em dias nublados, o camponês deixava a fazenda aos olhos da irmã e colocava em prática o pouco que aprendera nas luas passadas. A diferença era que as pernas cansadas de Carlin sustentavam orgulho e satisfação toda vez que caçava, já em Jimin, era seu coração que se perdia em meio a floresta quando deixava a fazenda.

— Nosso jantar. — ela disse, esperando o irmão descer de cima do animal para se jogar na grama, exausta. — Trouxe a frutinha que você adora, espero fazer sua raiva ir embora.

— Não estou com raiva, Carlin. - Jimin disse sorrindo ao acariciar a pelagem branca de Luna.

— É claro que não, agora está mais contente que os deuses em dia de tributo. Fica assim toda vez que passa a tarde com algum dos animais.

— Só estou preocupado com o inverno. — ele disse, suspirando ao ver a irmã tirar os coturnos e colocar a planta dos pés na grama.

— Está tudo sob controle, qualquer coisa você me assa na fogueira e me faz de janta. — Carlin fez um certinho com a mão.

— Isso não tem graça. — Jimin disse sério. — Desde a última lua não conseguimos muita coisa, o café não secou a tempo e as frutas começaram a apodrecer antes de caírem. E minhas canções não funcionam mais...

A égua relinchou, dando alguns passos para trás, meramente para voltar a deitar a cabeça no ombro de Jimin. Carlin observava a interação pensativa, olhando para o irmão como fazia quando sentia-se tensa e não podia fazê-lo pensar de outra forma. Era verdade que os animais da fazenda eram tratados pelo camponês, todos agraciados pelo homem de olhos azuis claros. A Alfr garantia-se no solo fértil, por nascer da terra e ter seus ancestrais nas raízes das árvores e plantas, Carlin colocava em execução na plantações que ergueu junto ao irmão não biológico.

Poucas vezes que ia à cidade, sentia os olhares sobre sua cabeça. Por carregar uma aparência quase frágil e pertencer a um grupo de feéricos quase submissos, muitos pensavam que a mulher de cabelos verdes não podia ser uma serpente ágil entre os homens. Entendia a preocupação de Jimin, ele geralmente costumava cantar para os deuses em sintonia com a natureza e todas as duas tarefas, quase como um presente, eram abençoadas quando suas mãos macias tocavam algo do lar.

Como se ao invés dos deuses serem adorados, eles estimavam a voz que saía dos lábios do camponês, como um presente afrodisíaco.

— Não vamos passar fome, já enfrentamos épocas piores. — cruzou os braços. — Agora podemos, por favor, nos banhar no lago? Estou suando.

— Podemos. — Jimin sorriu largo, alcançado as rédeas de Luna para irmã. — Leve ela para dentro, os patinhos foram mais longe e não quero deixá-los sozinhos quando escurecer.

— Tudo bem, mas se ela me morder como da última vez, corto a crina dela e faço uma trança para o meu cabelo.

— Vocês têm a mesma personalidade, lide com isso. — ele riu, correndo para longe ao ouvir a irmã blasfemar.

Os pés descalços já estavam acostumados a entrar em contato com qualquer tipo de textura do solo, desde espinhos até folhas acetinadas que causavam cócegas. A vida de Jimin em Longaeva não era muito agitada, era serena e mansa na medida do possível. Sua rotina não chegava a ser fática, visto que estava sempre explorando os arredores e cultivando lembranças suaves a sua volta. Seja cuidando de Luna ou dos oitos patinhos que moravam a poucas luas com os dois irmãos. Gostava do silêncio, de poder ouvir os barulhos da Mãe Terra ao acordar. Sentia que seu peito enchia-se toda vez que cantava para si e para os deuses, chamando a vida para o seu interior.

Apesar de ser curioso, Jimin fora nas terras próximas poucas vezes. Não fazia questão de conhecer outros feéricos, com títulos e elegâncias a seguir. Carlin não era irmã de seu sangue, as diferenças entre os dois nunca permitiram que isso fosse escondido. Mas algo era fato, tanto a Aflr quanto o camponês, não faziam questão de pertencer a uma sociedade. Por não pertencerem a nenhum clã, muito menos participar de tributos a duques ou a rainha, consumiam tudo plantado e colhido na fazenda, se fosse preciso algo a mais, o dinheiro guardado no fundo de uma pandora era usado. E ele só foi utilizado duas vezes.

Jimin gostava de correr pelo o campo e sentir a ardência do vento em seus pulmões, trajando roupas soltas que deixassem claro que seu corpo era tão livre quanto as flores da primavera quando iam embora na próxima estação.

O camponês sorriu quando atravessou o lago por cima das pedras, enxergando suas calças sujas sendo encharcadas pela água. O que não entrou em seu campo de visão foram os patinhos de tom amarelo gema, e ele não gostou. O Sol já não estava tão alto no céu, ameaçando trazer a noite em Longaeva. Tal mudança não era segura para os animais ainda soltos. Poucos foram os acidentes envolvendo algum animal da fazenda, Jimin sempre se certificava de tê-los seguros quando a noite caia, ainda mais quando eram em grande quantidade, como os oitos patinhos ainda filhotes.

Quase como um efeito extraordinário, o rosto de Jimin mudou de cor quando escutou um ruído alto o suficiente para ele temer vir de uma arma de fogo. Os peixes azul marinho dentro da água cristalina se dispersaram, assim como o sangue que acumulava-se em volta dos ouvidos do camponês e pulsava em sua cabeça. Formou-se uma correnteza quando Jimin moveu seus pés rapidamente dentro da água, tentando chegar rápido ao outro lado do lago. Alguns pássaros em cima das árvores voaram quando outro tiro foi ouvido, dessa vez mais oco e mais perto, deixando o homem de pés molhados quase cair na pedra escorregadia que seu pé esquerdo tentou alcançar como apoio. Forçando escora, Jimin comprimiu a mandíbula e correu até onde o tiro vinha, feito um a fera que esperava-o do outro lado.

O homem respirou ofegante quando percebeu a divisão entre as terras, apertando os olhos ao se deparar com quatro  subjetivos a metros de distância de si. Os patinhos, tão alvoroçados e perdidos quanto podiam estar, corriam a quilômetros de distância na frente das sombras escuras que atiravam em alvos no meio das árvores. Ora barulho das armas sendo atiradas, ora gritos dos animais voando entre as folhagens.

Ah, era verdade que o fio do universo era banhado por acontecimentos surpreendentes, mas os acontecimentos seguintes deram início a uma nova era.

Aster não teve tempo de raciocinar, já que era o único que ainda mantinha a arma perto do rosto e mirava nos alvos a sua frente. Sua cabeça girava, a fúria em seus olhos de tantas horas de torutra em sua mente começava a tomar conta de seu ser. Não havia mais Sol, apenas um céu nublado e um vento gélido, que fazia sua respiração sair ardida de suas narinas. Distinguir as risadas dos tios, com os gritos dos pássaros que voavam, já era quase impossível de se fazer. Estava fora de si, seus olhos verdes esmeralda brilhavam na mira da arma preta e robusta em suas mãos, a mesma pontaria que fora abaixada quando algo, ou melhor, alguém entrou no campo selvagem.

O duque entreabriu os lábios e seus ouvidos tiniram quando dois de seus tios correram na direção do homem que avança em suas direções, depois de dispersar algo atrás de si. Na tentativa de segurá-lo, o conselheiro mais novo de seu pai brandiu a arma, mas o camponês afastou o ferro de seu feito com um rugido que fez Aster suspirar sem reação. Quando o homem de cabelos negros marchou de queixo erguido em seu curso, algo no universo se alinhou com a vida e a existência de cada ser presente nele. Seus lumes eram impiedosos, cruéis e lindos demais para o duque não ver-se hipnotizado. Azuis brilhantes, um em específico, exibindo uma mancha amarela brilhante, como uma luz invadindo uma noite estrelada. Lábios carnudos e vermelhos, maçãs dos rostos com sardas aparentes que podiam fazer qualquer feérico se ajoelhar diante da postura implacável que se aproximava, sem piedade alguma.

Não teve forças ou vontade de impedir quando Jimin tomou a arma de seu controle e apontou para seus olhos verdes, ele tremia como se fosse a primeira vez que pegava em algo tão devasso, mas em nenhum momento demonstrou uma recusa ou medo. Aster franziu a testa, não ouvia, só enxergava a arma e o rosto tão lindo e cruel como o ferro lustroso pressionado contra a sua bochecha.

— Baixe imediatamente esta arma se não quer ter a cabeça fora de seu corpo! — o conselheiro gritou, suas mãos fechadas como um metamorfo pronto para se transformar.

Jimin não moveu um músculo, continuava encarando os lumes de Aster como se fosse sua missão de vida. E o duque fazia o mesmo.

— Quem é você? — resfolegou, tão baixo que a respiração do camponês podia ser ouvida.

— Já chega, Aster, faça alguma coisa! — um dos seus tios gritou, levantando-se da queda que sofrera e tomando em mãos a espada em suas costas.

— Mova um centímetro e eu mato você, faço seu peito de alvo, assim como estava fazendo com eles. - Jimin segurou mais forte, deixando as pontas de seus dedos amarelos e ignorando a tremura.

O duque queria nadar dentro daqueles olhos, tomar aquela arma e virar em direção aos seus tios, porque eles estavam atrapalhando a concentração no feérico à sua frente. Mas não podia, por isso torceu para que Jimin entendesse por seus olhos que estava se rendendo. Jeon Aster, duque de Avalon, quase causou uma síncope em seus tios quando suas mãos, vagarosamente, levantaram-se com as palmas viradas para frente. A surpresa em seus rosto demonstrava que o leopardo negro dentro da situação, não estava fazendo aquilo porque não tinha outra oportunidade, mas sim porque as tinha que tomara aquela, vidrado no homem a sua frente.

Quando levantou suas mãos em uma altura segura, Aster levantou os cantos de seus labios para esboçar um sorriso. Os caninos brancos e atraentes chamaram a atenção de Jimin, desfazendo a tensão de seus ombros. Piscou rapidamente, se dando conta do que estava fazendo. Suas mãos voltaram a tremelicar com uma excessiva força. O duque também notou a mudança de expressão, parecia ter voltado de um devaneio.

— Você tem consciência de quem está à sua fren...

O conselheiro com a espada em mãos ditou, sendo fuzilado pelos olhos de Aster. Calou-se imediatmante quando percebeu a expressão furiosa e impiedosa na face do duque. Quando voltou-se para Jimin, ele ainda tremia. Tinha abaixado um pouco a arma e não tirava a concentração do corpo a sua frente.

— Qual é seu nome?

— Jimin! — o chamado virou o rosto para trás quando escutou a voz da irmã, mal notando as mãos ágeis de Aster ao capturar com delicadeza a arma de sua posse.

— Carlin... — ele sibilou quando a Alfr correu ao seu alcance.

O duque levantou as sobrancelhas, assim como seus tios ao percberem a mulher trajando roupas masculinas. Nem um vestido, aventais ou cabelos com penteados escandalosos como as feericas faziam. Carlin tinha roupas mais parecida com um soldado do que seu próprio irmão. De inicio, ela agarrou os ombros de Jimin e deu uma olhada em todo o seu corpo, como se estivesse buscando alguma coisa em específico. Quando voltou-se para Aster, ele achou que veria o mesmo olhar feroz na irmã, mas logo descobriu que apesar de intensos, não chegavam nem aos pes do camponês.

— Estão invadindo a propriedade de um duque, colocando a saúde de seu Senhor em risco. Isso é inadmissível. Aster, peço que faça algo! — o tio mais velho praticamente gritava no ouvido do metamorfo.

— Primeiro, recomponha-se, está parecendo um desiquilibrado. Segundo, senhor, não Aster, suas palavras, recorda-se? — o duque não sorria, mas continuava elegante ao falar cada palavra. — Ah, os deuses! Abaixe essa espada, vai acabar se cortando com ela.

E lá estava o sorriso, o qual Jimin apertou os lábias para pensar em suas próximas palavras. Não fazia ideia de como as coisas tinham chego daquela maneira, apenas agiu por extinto ao proteger os patinhos.

— Duque? — perguntou, sentindo a mão firme de Carlin em seu braço.

— Jeon Aster, duque de Avalon. — sua irmã disse, sem rodeios.

— Você parece surpreso em saber disso. — Aster indagou para Jimin. — Qual seu nome?

— Lhe direi quando você parar de usar os meus patos como alvo para a sua brincadeira estupida.

— É você quem esta invadindo a propriedade, ameaçando o duque de morte! — o tio não se calava.

— Está enganado. — Aster disse para Jimin. — Não estamos usando nenhum animal como alvo, apenas árvores velhas. Deveria tentar, sua mira aparenta ser boa quanto não esta em mim.

— Estão assustando todos os animais. — Carlin ditou, virando-se para seu irmão. — Luna veio correndo nessa duração quando ouviu os disparos.

— Luna...? — Aster esticou o pescoço, tentando entender.

— Minha égua. — Jimin deu um passo para trás, assim como Carlin. — E, você não é meu duque, ninguém de vocês é. Não estamos em Avalon, estamos em Longaeva, e se machucarem algum animal da minha fazenda, não me importarei de puxar o gatilho da próxima vez.

— Ora, seu...

— É claro. — Aster sorriu largo, fazendo Carlin rir de desgosto quando foi ele quem fez a reverencia e apontou divertido para seus conselheiros. — A propósito, se você cogita a possibilidade de sair daqui sem um arranhão, vá agora.

Jimin engoliu em seco, sabia que ele estava certo. Os homens carregavam espadas e armas, o único que não portava uma arma tinha os olhos flamejantes, e o camponês não queria ficar para descobri o poder daqueles olhos, nem os dele e nem os do duque. Aster tinha as mãos para trás, não desviava o interesse de Jimin e detinha um sorriso termo nos lábios.

— Vamos, agora. — Carlin disse, puxando o braço do irmão para que ele se movesse.

— Senhor, não é sábio deixar que esse infeliz e a Alfr fiquem impunes.

— Não é sábio vocês me trazerem para a fronteira achando que irão fazer a minha cabeça, como fizeram com meu pai. Partirei amanhã mesmo, sem vocês, ja que Avalon não necessita de conselheiros dessa estirpe. — Aster informou, observando o camponês ir embora e sem olhar para tras.

— E quem são os que vão ocupar o cargo? Esta com falta de lucidez se acha que não precisa de conselheiros. — o tio mais novo disse, finalmente guardando a espada.

— Seokjin, é claro. — Aster deu uma risada grave. — Não seja estupido só por frustração, quem ocupa o papel de tolo por pensarem que sou orgulhoso acima de meu povo, são vocês. Agora, se me derem licença, irei aproveitar minha estadia temporária antes que meu titulo impeça de perder o resto de paciência.

De passos firmes, o duque retornou para dentro da casa onde estava hospedado. Era uma casa despretensiosa comparada ao restante de suas terras, com uma ou duas empregadas e comida o suficiente para não passarem fome. Se a intenção era receber o duque de mal forma, falharam de forma estrondosa, ja que Aster vivia a maior parte do tempo relembrando de lugares piores. Seokjin e Flora estavam corretos, se o camponês não tivesse chego em suas terras, os conselheiros de seu pai tentariam ao extremo desastabilizar o duque. Desde sua chegada, a horas atrás, o metamorfo fora testado da forma mais cruel e sem rastros para um colapso: sua propria mente.

Todos sabiam que apesar de Aster ganhar a simpatia do povo de Avalon, ainda sim existia rumores e medos em relação ao seu ducado. Era como um tecido fino, qualquer rasgo poderia influenciar em toda tapecaria. Poucos sabem que o trabalho do recém duque ja tinha começado a décadas atras, as espreitas toda vez que ele ajudava o pai em algum conflito ou defesa de Avalon. De imediato, ele ainda necessitava provar sua capacidade de liderança, e qualquer desvio antes da cerimônia seria um estupendo motivo para que seu próprio povo temesse ou até mesmo rebelasse-se. Por isso resistiu cada oportunação e indiretas em relação não só a seu passado, mas a seu irmão, sua mãe e seus aos leais. E Aster, com a aura divertida e confiante de sempre, levou de modo seleto, até a ideia de tiro ao alvo.

Ja tinha visto o pai constantemente na mesma atividade com os irmãos, e o recém duque admitia que Eliel se saia muito bem nas raras vezes que ignorava uma ideia absurda de seus conselheiros. Mas seu sangue se esgotou quando seu tio mais velho brincou com sua forma de leopardo, incitando sua fera interior até que ela saisse e caussase a ruína que queriam. Se esgotou quando Flora fora chamada de prostituta, traidora e tão selvagem quanto Seokjin, um bastardo imundo que sugava qualquer dignidade do clã Jeon.

Tanto que não notou nada ao seu redor até estar de cara com o feérico mais atraente que ja tinha visto na vida. E ele não estava falando em apenas estética, mas sim na compostura e cheiro que o camponês exalava.

Não tinha dificuldade de admtir derrota, o que muitos pensavam que era comum. Veja bem, Aster caia em uma batalha somente se suas forças ja estivessem esvaindo-se, e ainda sim ele buscaria-as quando necessário. Julgava uma atitude tola e imprudente quem afirmava que preferia morrer em campo do que admtir derrota. Para o duque, nada mais era satisfatório que recuar com seus homens e depois atacar com todas as suas forças, isso sim era digno para si. Provar sua lealdade morrendo por orgulho era estupidez, preferia fazer isso quando os olhos verdes estivessem prontos para qualquer catástrofe.

E Jimin, o camponês que pouco sabia, cintilava algo ainda não descoberto. Aster pegou-se pensando se ele teria imaginado, em um momento de locurua, se essa incógnita era uma semelhança.

A ideia de assustar qualquer animal com uma arma também não agradava-lhe, por isso não duvidou do camponês quando ele dispersou algo atras de si. Se esse algo era um ser, e estava sendo enganosamente um alvo, Aster não gostaria de matar qualquer coisa com o objeto que ja serviu-lhe de atormento, quando caçadores ainda não sabiam seu lugar dentro da floresta. Decidiu não perguntar para os tios se era de fato a égua que fora mencionada ou outro ser, seria ingênuo da sua parte esperar uma resposta adequada e sincera. O que restava-lhe era o direito da dúvida, e isso não era comum, pois o duque não era curioso e sim a curiosidade.

Banhou-se com água fria, imergindo na banheira da casa e esfriando seus nervos. Não viu mais movimento e muito menos foi importunado por alguém, o que de fato causou-lhe uma risada ao vagar pela casa e não encontrar ninguém que não esteja ali para ser servir. O silêncio deveria acalmar sua cerne, mas apenas deixou-lhe ansioso. A noite ja tinha caido, o vento da tarde fora embora e deixou um céu de tom marinho, repleto de estrelas e com a lua nova expondo sua beleza em meio ao universo. Não que Aster não gostasse de silêncio, supunha necessário as vezes que estava só consigo mesmo. Apenas preferia escutar melodias ao seu redor ou batidas que signifcassem vida, seja de corações saltitantes que chamavam atenção de sua audição aguçada, ou pés apressados para todo canto.

Iria partir de manhã cedo, conversar com Seokjin sobre a dispensa dos conselheiros e agradecer Flora pelo conselho, mas que não seria usado naquela ocasião. Era primordial tranformar-se em leopardo negro para adentrar a floresta a quilômetros de distância, a mesma vastidão de verde de onde saiu Jimin. Não pretendia ultrapassar, não pisava em terras desconhecidas em forma de leopardo, evitava futuras dores de cabeça burocráticas. Apenas queria sentir suas patas contra o solo distante da multidão, acalmar sua essência com um banho de lua nova, que parecia seduzir Aster a entrar no íntimo da floresta e se ver livre, nem que seja por algumas horas.

Foi por isso que por volta da madrugada, o duque decidiu deixar a casa e entrar entre as árvores velhas da pequena floresta. Certificou-se de que todos estavam dormindo, que apenas os espíritos da natureza começavam a festejar pela queda da noite. Com pouca roupa, trajando o simples pano para em seguida tira-lo, Aster caminhou compassado até a entrada da floresta. Ficou alguns segundos sentindo a brisa que vinha tanto de Longaeva como de Avalon, se deliciando com as estrelas e com a lua nova, exibindo seu fino risco como se fosse um sorriso felino decorando a imensidão do céu.

Ao se despir, a derme bronzeada do duque foi abençoada e afortunada pela temperatura da noite. Aster estava nu, de coração e de físico. As tatuagens em cima dos ombros ainda pareciam sensíveis, vivas e ardentes como nunca antes. Antes de entrar na vastidão do verde escuro, o duque deu passos a frente e afundou seus pés no solo, sorrindo com as presas ao sentir a vibração do chão sendo passada para sua essência. Seus joelhos tocaram a terra, e Aster abaixou a cabeça em uma longa reverencia para a floresta. Jamais entrava em uma sem pedir permissão, informando que todos os seres ali presente irão saber de sua existência e jamais esquecerão de tal encontro.

As folhas balançaram, os lumes levantaram-se em um verde ardente que fez os espíritos da natureza gemerem de aprovação. Quando o metamorfo deu passos a frente, os musculos feéricos logo se tornaram fortes e com uma pelagem escura sobre si. Era lento, calculado e sensual a forma que o leopardo negro adentrava dentro da floresta, rugindo para a noite com seus olhos tão brilhantes como a esmeralda pendurada na orelha esquerda.

Aster não era duque, não era filho de ninguém e muito menos um feérico. Ele era uma fera, filho da Mãe Terra e pronto para caçar qualquer criatura que entrasse em seu caminho.

O leopardo negro era agraciado pelos vigilantes da natureza a cada impulso que suas patas davam na terra firme abaixo de si. As folhas se agitavam, as criaturas riam e gemiam com deleite pela visão da fera correndo pela lunar. Os olhos verdes esmeralda, decorando a floresta antiga com poder e velocidade do felino. Uma corrente amarela elétrica como o Sol, uma névoa ou um presente dos deuses, se acendeu em volta de Aster. Não apenas conduzia a fera, mas envolveu-lhe em seu próprio campo atmosférico. E, a melodia que antes era um susurro, se tornou abundante por toda extensão. Música e mais música, som e mais som, passeavam entre os diversos tons da floresta. Assim como os fios de Sol corriam junto com o metamorfo, a lua nova banhava os seus filhos na noite estrelada.

Um cervo, tão branco como a neve caída, foi a causa da dispersão de Aster. A criatura tinha olhos violetas, atento a cada passo que a fera dava por entre as folhas, vigiando e movimentado-se com a melodia. Quando Aster exibiu suas presas e seu porte, o cervo curvou seus chifres e seus lumes fagulharam. Era filho dos deuses assim como aquele que espreitava-lhe. Em círculos, o leopardo deixou claro que, diferente da criatura que também procurava liberdade, ela caçava. O cervo seguiu as luzes amarelas, escutando o rugido de seu predador logo atrás, quando Aster arrancou qualquer sinal de consciência e mergulhou floresta a dentro, a procura de sua presa. Seus extintos traíram-lhe com a música que aumentava a cada brilhar da lua, confundindo o metamorfo e os seres que gargalhavam por entre os galhos velhos.

As narinas do leopardo se deliciaram quando um cheiro conhecido veio a tona, e não era do cervo que estava a metros de distância a sua frente. O fogo entre as duas criaturas fez a fera rosnar, exibindo seus músculos negros nas sombras das chamas falmejantes. A melodia, batento rápido no seu coração e na sua alma, serviu de destino para Aster quando, de forma mais ardente possivel, ele circundou a fogueira e viu o cervo branco correr para outra direção, escondendo-se da nevoa amarela em volta do homem que o metamorfo conhecia o cheiro e passaria a conhecer a essência.

Jimin, de costas, vestindo apenas uma camisa de linho branca, que deixava seu ombro e boa parte de suas costas de fora. Os cabelos bagunçados por conta do pouco vento, observando o cervo correr para longe na escuridão. Aster espreitou os olhos felinos, subindo os mesmos das pernas nuas de Jimin, para a tatugem nas costas do camponês. Toda a sua medula espinal, exibindo uma linha, como uma flecha enfeitada de símbolos antigos e pontilhados simetricamente.

Quando o rosto do homem virou-se, seus olhos antes azuis, facilmente lembrados por Aster, estavam tão amarelos quanto a tonalidade que tentava invadir a órbita esquerda. Amarela como a névoa, assim como a corrente que envolvia-lhe como um filho querido e adorado. Não havia mais presença de música , da cantoria que seduzia a fera e os seres da natureza. Havia uma voz feminina, funda e distinta, invadindo o âmago tanto do metamorfo, que andava em circulos como de Jimin, que tinha os lábios vermelhos e entreabertos. A respiração tão ofegante quanto o ar que entrava e saía de seus pulmões. Aster rugiu quando o contato entre a esmeralda e o Sol foram feitos, aumentando o fogo do meio.

Corra, fique, deleitem-se sobre o véu do destino. Quando a melodia tocar a fera, o cerne da mãe se aquietara.

Jimin engoliu em seco quando a voz também suturou para si, bem como ditava baixo nos ouvidos aguçados de Aster. Corações acelerados, risadas e uma língua antiga era a causa do ar pesado entre os dois. De forma lenta, o pano fino sobre o corpo de Jimin movimentou-se quando ele deu passos a frente, ainda cintilando brilho em seus lumes. O leopardo repetiu o movimento, saciando-se com visão que tinha do dono dos cabelos negros como sua pelagem. O joelho do homem tocou o chão, sem quebrar o contato visual com a fera, que parecia hipnotizada a cada passo seu. Aster sentiu seu peito encher-se quando Jimin, de maneira cautelosa e gentil, estendeu uma das mãos em sua direção , de queixo erguido e joelhos no chão.

Eláte se ména, ktínos tis nýchtas kai kommáti mou. — Venha para mim, besta da noite e parte de mim.

Sobre aqueles que precisam das mãos árduas na arma dos deuses, os destinados caminharão para aquele dos olhos violeta.

Vreíte me, metá apó aiónes. As palépsoume. — Encontre-me, depois de séculos. Vamos lutar.

Jimin cantarolava, firme a cada tom da mulher soando entre o fogo e em seus ouvidos. Aster mergulhou nos olhos do homem, gemendo a cada palavra do camponês, que apalpava dentro de si. Era certo, forte e esperado pelos dois como se o universo inteiro tivesse ansiado pelo encontro. O leopardo se aproximou, vendo os lábios vermelhos do homem a sua frente. Antes de sentir o toque macio da mão de Jimin, Aster revenrenciou sua outra metade e ronronou alto. Como se fosse para estar sempre ali, a mão do camponês escorregou sobre as costas e os pelos negros da fera, observando a corrente elétrica e os espíritos da natureza espalhando energia sobre o solo embaixo dos dois.

Metade da metade, igual do igual. A flor e a flecha não devem se quebrar. Não se percam, a Mãe Terra clama pelo filho das deusas quando a guerra chegar, e a filha amaldiçoada for beijada pelo cosmos.

Jimin fechou os olhos, apenas para tomar a cabeça de Aster entre as duas mãos, aproximando sua testa de encontro a cabeça do leopardo. Movimentando a destra direita pelo pescoço da sua metade, sorrindo ao sentir a textura da pelagem entre seus dedos e as pernas de Aster abaixando-se cada vez mais para permancer com o encontro de faces entre si. De tom baixo, a lua nova alinhou-se com as estrelas quando o homem de cabelos negros e olhos azuis ditou:

Sto néo fengári kai ta proigoúmena dekaoktó, o sýntrofos psychís mou kai o sýntrofós mou. - Nessa lua e nas dezoito antecedentes, meu parceiro de alma e meu igual.

O primeiro capítulo cheirosinho, tá passada?

Eu acabo me empolgando e escrevendo capítulos longos, mas juro que tentarei dão deixar a leitura tão cansativa. O que acharam? A opinião é muito importante!

Não se esqueçam de votar e comentar, ajuda muitíssimo. E, ah! A hashtag no twitter também. 💚

Beijos da Minmin

Continue Reading

You'll Also Like

693K 33.5K 93
(1° temporada) 𝑬𝒍𝒂 𝒑𝒓𝒊𝒏𝒄𝒆𝒔𝒂 𝒆 𝒆𝒖 𝒇𝒂𝒗𝒆𝒍𝒂𝒅𝒐, 𝑨 𝒄𝒂𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒍𝒖𝒙𝒐 𝒆 𝒆𝒖 𝒂 𝒄𝒂𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒆𝒏𝒒𝒖𝒂𝒏𝒅𝒓𝒐...
231K 14.5K 50
Elisa, uma jovem mulher que pretende se estabilizar no ramo de administração depois de sua formação. Ela entregou seu currículo em várias empresas, m...
1.2M 65.9K 158
Nós dois não tem medo de nada Pique boladão, que se foda o mundão, hoje é eu e você Nóis foi do hotel baratinho pra 100K no mês Nóis já foi amante lo...
1.9M 158K 121
Exige sacrifício, não é só fazer oração Ela me deu o bote porque sabe que eu não sei nadar Eu desci o rio, agora ficou longe pra voltar Tem sangue fr...