Assim que encarei Bucky parado naquela porta, minha cabeça ainda doía e eu estava zonza com tantas lembranças que me invadiram depois que tive a mente revirada pelos poderes da Wanda.
Mas eu tinha uma única certeza e um único objetivo.
Mesmo cambaleante, fui até Bucky e o encarei. Ele não conseguiu falar nada, por mais que tenha tentado.
Apenas estiquei minha mão e dei um único tapa estalado na cara dele.
Wanda arfou e Bucky me encarou, espantado, segurando o rosto e recuando um passo.
Eu o amava. Agora eu tinha certeza. E não precisava ter sofrido um dia inteiro. Éramos namorados.
E ele não me contou.
Nem deixou ninguém contar.
A raiva de tudo que eu sentia me invadiu. Ter todas aquelas lembranças arrancadas do fundo da minha mente: Lembrar o que eu era, o que eu fazia, com quantas pessoas transei, quantas eu matei...
Lembrar o medo, a dor, a raiva, humilhação, a vergonha...
E ele escondeu isso tudo.
Tudo bem, eu entendia que Bucky queria meu bem e, provavelmente, queria não me assustar.
Mas ele não tinha o direito de impedir que eu soubesse que ele era o amor da minha vida e que tínhamos uma vida juntos.
Esconder uma parte tão importante de mim!
-Na...- Bucky tentou falar, mas eu ainda estava com muita raiva. Uma raiva enorme.
-Cala a boca! - Gritei, me desesperando, enquanto apontava um dedo para ele. - Eu nunca mais devia olhar na sua cara!
Observei Bucky abraçar os próprios braços e abaixar a cabeça. Puxei meus cabelos para trás.
-Então, é isso?! Você esconde de mim a parte mais importante da minha vida, me faz sofrer do seu lado... - Ele ia abrir a boca, mas apontei o dedo de novo. - Cala a Boca, Bucky! Você reparou que eu estava apaixonada! Você ia esconder até quando?! Responde!
Bucky ergueu os olhos. Estavam vermelhos e inchados mas eu não senti pena.
-Até você lembrar...
-Você achou mesmo que ninguém ia dar com a língua nos dentes?! E se eu tivesse levado a vida inteira para me lembrar?! E se eu não lembrasse e, por acaso, gostasse de você de novo?! Íamos namorar sem você me contar?! Puta que pariu, Bucky!
-Naomi, me esc...
-Não quero ouvir! -Berrei de novo. - Não quero ouvir nada que venha da sua boca, Bucky! Eu esperava tudo de qualquer um, menos isso de você!
-Mas eu fiz pensando em você! - Bucky berrou de volta.
Wanda estava encolhida na beirada da cama, nos observando atentamente, pronta para intervir quando fosse necessário.
E eu estava quase pulando no pescoço dele e o enganando.
-Pensando em mim?! - Berrei chegando mais perto dele.
Bucky, pateticamente, arregalou os olhos e recuou até bater com as costas no corredor.
-Eu não queria te afastar...
-Não queria me afastar?! E ao mesmo tempo, se ausentou no Hospital?! Evitou ficar perto de mim e puxar assunto?! Você teria desistido de mim se não fosse a Natasha e o Sam, Bucky! - Vi ele abrir a boca, mas voltei a berrar por cima dele. - E não diz que não teria! Eu te conheço! Você fez todo mundo mentir, Bucky! Você...
Minha voz falhou. Dei um soco no peito dele, seguido de outro, e mais outro, até Bucky pegar meus pulsos e me segurar firme.
Nos encaramos nos olhos.
O ódio ainda me cegava.
-Eu não quero nunca mais falar com você! Eu não quero mais ser sua amiga!
Ele arregalou os olhos e abriu a boca.
-O que?!
-Eu estou falando sério, Bucky. Eu... Eu não posso mais confiar em você!
-Mas você teria reagido de uma forma hor...
-Então você não me conhece mesmo! - Gritei e me afastei dele. - Eu acreditei em você quando me ajudou com a ansiedade! Eu confiei em você quando deixei você me levar para o seu apartamento! Eu venci meu nervoso para ficar trancada em uma sala vazia com você! Eu teria entendido e acreditado se você tivesse me explicado as coisas, Bucky!
Ele respirava superficialmente, enquanto eu começava a chorar e o encarava.
Eu tinha plena convicção de que existia uma platéia, mas não seria capaz de dizer quem.
-Você e eu fizemos uma promessa! Ou vai dizer que esqueceu?
Ele negou.
-Não esqueci...
-Ótimo! Por que eu cumpri! Eu acalmei o Soldado Invernal e te fiz lembrar de mim! Prometemos nunca esquecer um ao outro e fazer de tudo para lembrar, no entanto... Você apagou qualquer vestígio de você em mim, como se não me quisesse mais...
Bucky avançou sobre mim e eu recuei, mas tudo que ele fez, foi me segurar pelo rosto e me fazer olhar para ele.
-Eu te amo! Eu te amo demais! E eu nunca quis me afastar de você, mas eu fiquei com medo...
-Ótimo! - Empurrei ele. - Então fica você e seus medos sozinhos!
Silêncio.
-Você quer mesmo isso?!
-Quero! - Menti.
Eu sabia que ia me arrepender depois. Mas eu não ligava. Eu estava com ódio.
-O Casamento...?
-Eu ainda vou ser madrinha com você! - Avisei. - Mas só! Não fala comigo, Bucky! Por favor...
Depois que ele assentiu e eu observei Bucky sair pela porta, encarei todo mundo e cheguei a ver Hannah sair correndo atrás dele.
Encarei Natasha.
-Por quê você não me contou?
-Eu tentei! - Natasha me segurou pelas mãos e me fez olhar para ela. - Todo mundo tentou, Naomi. Mas... A Gente realmente ficou com muito medo da sua reação! Mas eu juro, eu ia te contar quando você chegou chorando porquê tinha um "amor não correspondido". Mas você não me deixou falar!
Assenti, sentindo o cansaço me abater e encarei Sam.
-Você...?
-A idéia de te levar para observar aquela casa foi minha. - Sam admitiu. - Eu achava que Vocês precisavam se aproximar.
Suspirei, avisando que queria ir para o meu quarto e agradecendo a ajuda de Wanda.
Deitei na minha cama, encarando o teto e sem controle dos meus próprios pensamentos.
As lembranças que Wanda tinha resgatado passavam diante dos meus olhos como um emaranhado: Uma ligada a outra, totalmente fora de ordem e de contexto.
Lembranças boas, lembranças péssimas...
Mas tinha algo levemente errado. Eu sentia.
Eu conseguia me lembrar com exatidão das lembranças boas. Conseguia me lembrar da emoção delas e saber que elas eram minhas. Que aquela, era a minha vida.
Só que as lembranças péssimas...
Elas continuavam lá, mas como se estivessem emocionalmente, à quilômetros de distância. Embaçadas, confusas, mudas...
Era como se aqueles abusos e violência não pertencecem a mim. Como se elas não tivessem mais importância e poder sobre mim.
Suspirei e tentei dormir, mas...
Aquele beijo da Hannah no Bucky não saía da minha cabeça.
Eu sei que ela não tinha culpa, eu não a odiava por isso. Óbvio que ela sabia da minha existência e do que a gente teve, mas...
Eu era praticamente uma morta. Uma condenada.
E o Bucky era apaixonante. Naturalmente apaixonante. Era um cavalheiro devido à época em que nasceu, assim como Steve. E ainda era inteligente, forte, sensível, compreensivo, era fofo e um amigo incrível!
Maluca seria a Hannah se não se apaixonasse por ele...
E eu não a culpava por tentar. Ela estava apaixonada, ué... Seria o natural.
Eu é que tinha atrapalhado os planos voltando "dos mortos". Talvez, se eu tivesse morrido de vez, Bucky seguisse em frente com Hannah...
Uma batida na minha porta me fez erguer a cabeça, esperando. Kitty que estava na beirada da cama, pulou no chão e foi até a porta, arranhando e pedindo para sair.
Alguém passou uma caixinha por debaixo da porta. Levantei e fui pegar, enquanto trazia Kitty de volta para cama. Abri a caixinha e cheguei a arfar.
Era o cordão de margarida que Bucky me deu.
Lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto eu pegava aquele pingente pequeno. Lembranças rodaram minha mente e eu comecei a chorar, lembrando de Washington.
Levantei e fui até o espelho do meu armário. E coloquei ele no pescoço. O peso familiar me fez sorrir igual a uma boba.
Era aquilo que estava faltando!
Depois, voltei para a cama e dormi direto, durante 15 horas.
Acordei zonza e dormente, sem saber que dia era, achando que tinha perdido o casamento. Levantei correndo.
E acabei soltando um grito, enquanto caía no chão, por cima Kitty, que soltou outro berro. Encarei Fury, sentado na poltrona do meu quarto.
Ele ergueu uma sombrancelha, com as mãos cruzadas na frente do peito.
-Te assustei?
-O que você acha?! - Comecei a desembolar minhas pernas do lençol e o encarei. - Como entrou aqui?
-Você não trancou a porta. - Fury deu de ombros. - E além disso, mais cedo, Natasha perguntou se eu podia e você disse que sim! Mas você dormiu... Tô esperando você acordar.
Cocei minha cabeça e suspirei, me levantando.
Sentei na cama, pegando um travesseiro e abraçando. Ficamos em silêncio, enquanto eu observava a fina nuvem de poeira que flutuava na luz do sol que entrava pela janela.
-A Wanda me contou que você pediu para ela mexer na sua mente. - Continuei em silêncio. - Você está bem com isso?
Dei de ombros.
-Eu não sei o que ela fez, mas... Eu só consigo me lembrar com exatidão do que foi bom. As lembranças ruins... Elas estão aqui mas... É que como estivessem meio bloqueadas.
Fury me analisou, em silêncio. Se ajeitou na poltrona.
-E com isso, você descobriu que o Bucky...
-Me enganou. - Cortei ele. - Ele mentiu e fez todo mundo mentir, Fury. Inclusive, você!
Fury negou com a cabeça.
-Quer saber o que aconteceu depois que você não reconheceu ele?
-Não!
Fury continuou falando mesmo assim.
-Você foi levada para fazer exames e ele teve uma crise de ansiedade, Naomi. Como íamos contar tudo? Que você era uma Agente da Shield? Que tinha matado seu pai? Que tinha sido abusada e usada fisica e mentalmente? E considerando os traumas que todo mundo sabe que você tem...
Abracei mais o travesseiro.
-Foi conversando comigo que chegamos juntos à conclusão de que, talvez, fosse melhor esperarmos você lembrar.
Silêncio.
-Naomi, ele sofreu. Ele sofreu demais. Tem vezes que o amor nos reconstrói, como aconteceu com você em relação à ele. - Pausa. - Mas tem vezes em que o amor nos destrói quando o perdemos.
Bufei e revirei os olhos.
-Ele parecia bem construído, Sabe? Com uma nova melhor amiga, um novo gatinho, um apartamento...
-Não foi isso que você disse para ele fazer? - Fury indagou. - Você pediu para não parar a vida e seguir em frente. Ele cumpriu. Isso é ciúme, não é?
Eu parecia que tinha levado um tapa na cara. Mas me recuperei e cruzei os braços, reclamando e virando para a janela.
-Isso é ciúme...
Encarei Fury e o sorrisinho debochado dele. Respirei fundo.
-Não é ciúme e você tem razão! Eu pedi, mas não esperava que ele... - Respirei fundo. - A Hannah beijou ele.
Silêncio.
Minha perna balançava contra o colchão, enquanto Kitty se esfregava no meu colo, ronronando.
-E ele correspondeu?
Por uns segundos, eu cheguei a achar que, sim, ele ia corresponder. Mas sendo racional, ele só tinha ficado surpreso.
-Não, ele empurrou ela. - Admiti. - Mas isso não tira o que ele fez! Não importa se foi o melhor para mim... Eu não quero mais ver ele! Acabou!
Fury levantou da poltrona e andou até a minha frente, me surpreendendo, quando se abaixou e beijou minha testa.
-Naomi, deixa de ser teimosa e orgulhosa! Eu vejo daqui o quanto você está irritada por ele ter sido beijado... Garanto que essa sua cabecinha já até pensou nas vezes em que, para matar a carência, Hannah e Bucky foram para o apartamento...
Meu estômago embrulhou. Fury sorriu e eu tive vontade de matar ele.
-Mas acredite em mim, ao menos, quando eu digo que ele não fez isso. Raciocina, Naomi. Se eles já tivessem ficado outras vezes, por quê, por qual motivo, ele ia empurrar a Hannah? Ele não sabia que você estava em casa... Ele podia ter brigado com ela sobre alguém ver, mas ele não teria rejeitado ela.
Continuei calada. Afinal, ele tinha razão. Bucky empurrou a Hannah e a renegou. Ele não quis ela...
Eu era uma idiota!
-Pensa sobre isso, Naomi. E tenta entender o lado dele, como ele sempre entendeu o seu.
Fury ia se afastar. Estiquei minha mão e peguei a dele, olhando no fundo daquele olho.
Dei um leve sorriso.
-Obrigada.
Fury sorriu.
-Disponha.
Assim que ele saiu, voltei a deitar na cama e fiquei apenas observando aqueles grãos de poeira flutuando pelo meu quarto.
Oiie, Meus Xuxus! ✨❤️
Cheguei com um capítulo que deve ter feito vocês quererem me matar, certo? 😁 Maaaas, em minha defesa, a Naomi é uma besta com sentimentos e eu nunca tive culpa disso!
Agora, quanto ao próximo capítulo, ele vem na quinta feira e também tem muuuuuuitas emoções! Peguem lencinhos e o colete porque os tiros vem na cabeça...
Aliás, melhor pegarem capacetes também! 😅🤭👀
Até o próximo capítulo!!
Bjs ❤️