O nome da sombra - Crônicas d...

By FlaviaEduarda10

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Sombra já estava acostumada a ser apenas isso: uma sombra aos olhos da sociedade que a marginalizava há 9 ano... More

Reinado das sombras
Prisioneira de luxo
Cuidada e cheirando a rosas e lavanda
Mania do oráculo
Na escuridão
Mentiras
Calia
Entre uma coisa e outra
O castelo pela manhã
Cobras e outros animais
O treinamento
O belo mundo de porcelana
É necessário conhecer o oponente
Limites
O último Galene
Apenas reparação
Pessoas e deuses
Espere o esperado
Confronto
Loucura da realeza
Ladra
Sombra
A entrada não é pela porta
Os dias 14
Curiosidade
Sobre um belo vestido vermelho
Os nuances sobre a verdade
Presente
Tudo que viera antes
O primeiro furto
O buraco
Contradição
O que faz uma resistência
Últimos preparativos
É apenas lógico
Propriedade (de ninguém) do reino
O que uma ladra faz? Ela rouba
Encontro inesperado
Decisões entre cartas e camarões
Hayes Bechen
Roubando um pouco de volta
O sacolejo do barco
A linha tênue entre bom e mau
Fogo e gelo
Bayard
Incapaz de ter um segundo de paz
O que há depois do rio?
A ladra nem precisou roubar
A realeza de Drítan
Drítan não gosta de estrangeiros
Deveria?
Diplomacia e chá
A biblioteca
Confusão e incerteza são certezas
A área particular
Uma flor do deus Ignis
A reação para a ação é justiça
A calmaria antes da tempestade
Todo o ar do salão
De respirar a se afogar em um segundo
Teria que ser tudo
Automático
Deusa da (justiça) vingança
Um é a ruína do outro
O fardo do saber
A compreensão de como uma fênix funciona
Reinando das Sombras

Assassino

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By FlaviaEduarda10

_Nikolai_

Ele nem resistiu.

Acho que ele já esperava algo do tipo –não reclamo, deixou meu trabalho mais fácil.

Ele estava sozinho em casa, sua esposa o havia deixado, bom para ela, pensei, ele era uma péssima pessoa.

Quando entrei em sua sala, ele estava sentado em sua poltrona de costas para mim, no entanto, era contra o meu código pessoal tirar a vida de alguém sem que a pessoa visse para quem perdia a vida. Sei bem que isso nada mudaria, a maioria nunca sequer tinha visto meu rosto antes e, com certeza, não voltariam a ver, porém, era uma das minhas regras, não que eu gostasse de ver o sangue escorrendo pelo corte preciso feito no pescoço ou a luz se esvaindo de seus olhos. É péssimo isso, desgastante, desumano, sei muito bem, contudo, acho que eu preferiria olhar nos olhos de quem me mata do que morrer na ignorância, então pelo menos dou isso à eles. Dou à eles a oportunidade de me amaldiçoarem enquanto se despendem desse mundo. Não vejo problema nisso, nunca fui fiel à qualquer coisa e parecia deixá-los com um pingo de dignidade enquanto iam.

Depois de tudo feito, levei-o enrolado em um saco vazio de grãos e o joguei de um desfiladeiro depois de encharcá-lo em banha de porto para que atraísse animais e não deixassem muito do corpo quando me deparei com o passar do tempo, o céu quase completamente escuro após o crepúsculo. A rapidez de como o dia se foi me surpreendeu.

Saíra do castelo bem cedo, pegando uma estrada mais limpa, não gostava de comer a poeira de cavalos, carroças ou carruagens à minha frente, além de que gostava de correr na montaria de Flynn, meu cavalo desde que tinha 15 anos, no entanto, aos galopes rápidos, minha barriga começou a me lembrar de que ainda se recuperava, obrigando-me a diminuir minha velocidade. Cheguei à Leste-Ilaria com o sol alto no céu, próximo do horário de almoço, dei uma pausa em Poeira Brilhante, deixei Flynn descansando com água e feno e me permiti perder algumas horas até ficar mais próximo de escurecer para visitar Daze Bechen.

O homem era um tolo, Miranda facilmente o pouparia se ele não tivesse se provado um risco para quem ousasse trabalhar com ele e para a integridade da economia de seu setor com tamanho prejuízo. Ele era tão burro a ponto de pensar que não descobriríamos o desaparecimento de três pessoas em seus contatos e 1870 pekins?

Grogan, o dono da estalagem que eu me encontrava, era um senhor em seus 50 e tantos anos, simpático e simples, fazia questão de me hospedar aqui sempre que tinha assuntos a resolver em Leste-Ilaria, além de que seus preços eram os mais justos que eu tinha visto pelos arredores desse setor, o setor de investimentos, onde o entretenimento dos morados era extorquir novos investidores. Lá era onde ocorria a parte burocrática, onde o dinheiro era depositado para as atividades rentáveis do reino, o lar dos piores aproveitadores de Althaia –não me surpreendeu o fato de Daze morar aqui.

Ainda estava no desfiladeiro, olhando para onde havia um saco de grão no fundo do penhasco com animais já curiosos, desviei meus olhos enquanto pensava em quanto ainda estava relativamente cedo. Deveria ser seis da noite, no máximo. Não era ideal cavalgar de noite, a previsão era usar um quarto em Poeira Brilhante, mas deitar na minha cama era tudo que eu queria.

Era de se esperar que a experiência viesse a tornar mais fácil tirar a vida de alguém e, realmente, eu não era o mesmo Nikolai que matou pela primeira vez, entretanto, não era um hábito que se adquiria. Toda morte tira algo de você, cada pessoa é diferente e isso deixa tudo pior. Eu tenho uma noção do que geralmente pode acontecer, não certeza –e raras são as vezes que acerto minhas previsões. E isso deixa qualquer um exausto. Precisava descansar em meu quarto, não em uma estalagem qualquer, no quarto onde outra pessoa havia deitado no dia anterior e onde outra deitaria no dia seguinte. Se eu pegasse a estrada agora, chegaria pouco depois da meia-noite, talvez. Valeria a pena.

Era um trabalho desgastante, não minto. Esgota qualquer um tanto mental quanto fisicamente. Um assassino precisa ter um bom equilíbrio entre os dois.

Eu tenho, Miranda viu isso em mim assim quando comecei a me destacar no treinamento, lembrando daquele tempo já no caminho de volta para Kava.

Outro motivo para voltar ainda mais cedo seria para continuar a observar Sombra. A menina era perigosa, devo confessar, bem mais do que achei que seria. O jeito como ela me empurrou para a parede e roubou uma adaga do meu próprio cinto para colocar em meu pescoço só comprou o que eu desconfiava: ela era mais inteligente do que se fazia pensar. Talvez ela fizesse aquilo de propósito, deixava que fosse subestimada como ferramenta para que ninguém realmente soubesse do que fosse capaz.

Sua voz sussurrando para mim voltara para me atormentar: "Você não faz ideia". Ainda não acredito que ela foi capaz de morder a minha mão, realmente uma forma inovadora de se livrar de mim, achei curioso. E aquela forma como olhou para mim tomando vinho, me desafiando. O brinde eu achei sofisticado, uma piada coberta de ironia. E o sarcasmo combinava com ela, sendo bem honesto.

Imprevisível era como eu a descreveria, acho que por isso eu a considero perigosa. O que poderia fazer no castelo sem que ninguém soubesse? Claro, tinha Kai observando-a e eu sou bem familiarizado com a capacidade de Kai, contudo, ele tinha tendências a ser mais amolecido, facilmente manipulável por uma menina de aparência inocente. E ele não sabia o que ela poderia fazer como eu, que vi em primeira mão suas ameaças, sua língua afiada.

A noite já tinha avançado bastante quando cheguei à entrada da capital, vendo as luzes levemente diminuindo conforme ficava mais tarde, o movimento encerrando para alguns e a devassidão apenas começando.

E eu só queria me deitar.

Finalmente, já no castelo, pude tirar um pouco da tensão nos meus ombros, algo involuntário que ficava em mim sempre que eu saía em missões, mesmo que eu não percebesse na maioria das vezes até me sentir seguro de verdade, confortável, e ver esse sentimento se dissipando. Fui logo tirando a cela de Flynn e o deixando nos estábulos, quase não encontrando ninguém por esse horário. Os sentinelas que ficam durante a noite circulavam o perímetro esporadicamente, sei bem disso porque era uma parte do treinamento quando era novo. Já passei diversas noites rondando por aqui.

Subindo as escadas, passei pelo terceiro andar, o andar dela e me prendi um pouco lá, querendo ter certeza de que ela estava trancada em seu quarto. Sacudi minha cabeça sozinho, era idiotice querer checar, eu mesmo tinha especificado que a porta era para ser trancada todos os dias. Ela podia estar colaborando agora, isso não a tornava leal.

Subi mais alguns lances de escadas e cheguei à minha porta. Peguei minha chave em meu bolso, coloquei-a na tranca e ela não girou. Não, ela não estava trancada. Pelo menos não mais.

Calmamente, girei a maçaneta e adentrei no quarto, meus músculos rígidos mais uma vez.

Passando os olhos pela visão geral, nada estava diferente. A janela estava fechada, minhas roupas da mesma forma como eu havia deixado, minhas folhas pela mesa, tudo como eu me lembrava. Mas eu sabia que ainda tinha algo de errado.

–Saia logo. –Disse inquisitivo, com austereza. Minha mão já estava na bainha de minha espada ao meu cinto, esperando o mínimo movimento fora do comum no quarto se o invasor ainda estivesse lá, o que era provável, já que não tinha sido roubado ou revirado coisa alguma. Quem quer que fosse, não queria o que eu tinha, queria a mim, supus.

Fui adentrando ainda mais no cômodo quando escutei a única coisa que indicava que eu realmente não estava sozinho. Um soluço.

Era alguém... chorando? Me atentando um pouco mais e me aproximando da fonte, minha mesa, ouvi arquejos e respirações irregulares, como se a pessoa estivesse tentando controlar e abafá-los. Os sons eram mais finos, consegui identificar que era mulher.

De repente, ela surge de debaixo da mesa, ficando de pé à minha frente com o móvel entre nós. Seus grandes olhos fixam-se nos meus, vermelhos e brilhantes, cheios d'água. Sua face também estava vermelha, os traços por onde suas lágrimas haviam percorrido cintilando com a leve luz das lanternas que vinha pelo corredor. Seu foco não conseguia ir para outro lugar sem ser meu rosto até que notou minha mão segurando firmemente minha espada pelo fato dela ter surgido de supetão. Não havia sido por ela, fora apenas o reflexo da surpresa, mas ela não sabia disso. Soltei-a antes que notasse.

Enquanto ela olhava minha lâmina, a imitei, finalmente observando-a mais que apenas sua face. Ela usava uma blusa de gola alta preta justa com um cinto que a atravessava algumas vezes de uma maneira que parecia complicado, mas não me dei tanto tempo para analisá-lo por conta do lugar em seu corpo onde se encontrava. Também trajava uma calça preta e seu manto por cima de tudo, pendendo em suas costas com o capuz caído. Que diabos de roupa era aquela? Não que não a vestia bem, entretanto, eu sei muito bem que não vieram do trabalho de Cordélia ou Eira, já que eu mesmo tive que conferi-las antes que fossem entregues para Sombra. Nunca vira algo perto de se parecer com o que ela vestia.

Eu não sabia o que sentir. Deveria brigar com ela por ter invadido meu quarto? Prendê-la? Perguntar o porquê de estar chorando?

–O que você está fazendo aqui? –Me forcei a soltar uma pergunta mais neutra, sabendo que estava pisando em ovos.

–Você é um assassino. –Não deveria ter sido tão surpreendido, pensei enquanto olhava para minhas anotações sobre a mesa, as mesmas anotações que davam informações mais que suficiente para chegar à essa conclusão. Ela disse pouco mais alto que um sussurro, nada da menina que colocara uma adaga em minha garganta, que mordera minha mão e debochara de mim na mesa de almoço para que apenas eu soubesse sobre o que ela se referia. Agora ela era só uma jovem menina assustada, tão parecida com a primeira vez que a vi, quase me fazendo soltá-la mesmo tendo evidências de que ela era, de fato, a Sombra. Aquilo me preocupava, como eu sequer pude pensar nessa possibilidade?

Ela estava com medo, sim, mas não parecia ser pelo que ela havia descoberto sobre mim (eu também não queria que fosse esse o caso). Era algo mais dela do que qualquer outro motivo, creio eu.

E eu não sabia como respondê-la. A única palavra que surgira em minha mente era "Sim." e não acho seria o momento adequado para falar aquilo. Não sei se era o momento adequado para falar qualquer coisa. Só continuei encarando-a e, depois, seguindo-a com os olhos quando ela saía quase que tempestuosamente do meu quarto, talvez até correndo. Por um breve momento, quis ir atrás dela, ver se ela estava bem ou se fosse ficar, mas a minha sensatez falou mais alto.

Deixe-a ir.

Amanhã você lida com tudo isso.

Você só precisa de um breve descanso em sua própria cama.

Sim, amanhã eu lido com isso.

Mas duvido que conseguiria descansar tão cedo agora.


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