For Him | taekook

By the-lonely-whale

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Jeongguk está acostumado a ensinar seus pacientes: seja o novo exercício, um novo hábito ou uma nova forma de... More

One.
Two.
Three.
Four.
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Twenty-Three.
Twenty-Four.
Twenty-Five.
Twenty-Six.
Twenty-Seven.
Twenty-Eight.
Twenty-Nine.

Thirty.

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By the-lonely-whale


Havia alguns minutos já que Jeongguk estava na enorme sala de estar sozinho. Foi recepcionado por Hyoji, que transmitiu o recado do filho para que esperasse um pouco porque estava terminando de se arrumar. Desde então, estava ali, aguardando. Seus dedos inquietos tamborilavam o sofá, no qual estava sentado. A verdade é que ele estava apreensivo e, sem companhia ou algo para fazer, tudo só se intensificava. Começou a varrer o ambiente com os olhos para se distrair. Observou o apoio de pés, que no início havia sido seu principal recurso para que Taehyung se acostumasse com pequenas movimentações; a televisão que por muito tempo foi a única testemunha das carícias que eles trocaram; as fotos que enfeitavam o móvel. Depois que a senhora Kim descobriu sobre eles – ou eles descobriram que ela já sabia – a decoração começou a ser preenchida por fotos dos dois. Não havia mais nenhuma fotografia com Dongsul, apenas da mãe e do filho, com algumas aparições do Jeon. A mulher realmente parecia apaixonada por registrar momentos com a câmera.

Sua preferida era de algumas semanas atrás do dia da festa surpresa. Estavam todos ali, sorrindo. Ele ao lado de Taehyung, que segurava Jimin no colo. Atrás estavam Hoseok com uma expressão angelical, Yoongi com seu sorriso gengival, Jin fazendo um coração com os dedos e Namjoon com suas covinhas. Nas extremidades, estavam as mães – que saíram correndo assim que o temporizador foi acionado. A imagem sempre acalentava seu coração e o fazia se sentir como naquele momento. Feliz, cercado por pessoas que ele queria manter por perto para sempre. Seus devaneios foram cortados pelo toque de seu celular.


[Tae] 9:37

Estou jogando as tranças

Já pode subir


Riu com a mensagem. O mais velho sempre era um ótimo entretenimento via texto. Dirigiu-se ao andar superior e parou no topo da escada. A porta do fim do corredor se abriu e seu namorado deu um passo desengonçado para fora do cômodo. Um sorriso gigante se abriu quando o viu. Com um pouco mais de desenvoltura que no início, apoiou-se na parede com tudo que conseguia e foi com curtos passinhos até Jeongguk. No seu próprio tempo, ele findou a distância. Lançou os braços ao redor do pescoço alvo e o abraçou.

— Oi, Guk — sua reação foi retribuir o abraço imediatamente.

— Oi, Tae — murmurou de volta contra o ombro alheio.

No fundo, avistou Hyoji observando a cena. Ela tinha um sorriso quadrado no rosto, como o do filho, acompanhando por um brilho manso no olhar. Parecia tão feliz de ver Taehyung ensaiando andar, mesmo que ainda precisasse se apoiar para isso. Caminhou até onde os dois estavam, ainda presos nos braços um do outro.

— Meninos, eu preciso ir. Divirtam-se. Filho, não se esqueça de me ligar para avisar se vai voltar para casa — ela disse apressada. Afagou-lhes os cabelos e partiu. Desde que a senhora Kim voltara a trabalhar, na semana anterior, estava sempre enérgica.

— Você deveria andar descalço nesse carpete. É um bom estímulo proprioceptivo — pontuou apontando para os sapatos do outro.

— Shhh, doutor Jeon, eu quero meu namorado de volta.

— Está pronto? — preferiu não insistir. Ergueu o menino no colo para descer as escadas. As pernas em sua cintura já o apertavam com mais força, estavam mais volumosas com o desenvolvimento da musculatura, mas descer escadas ainda era exigir demais no momento.

— Estou morrendo de fome, isso sim.

— Ainda bem que estamos indo tomar café da manhã, então.

Eles já tinham planejado tudo. Colocou o mais velho na cadeira de rodas para levá-lo até o carro. Por mais que ele já conseguisse dar alguns passinhos estabanados, não estava pronto, por ora, para enfrentar distâncias maiores sem o uso do objeto metálico. Posicionou-o no banco do passageiro, guardou a cadeira no porta-malas e deu a partida no carro. O sol brilhava preguiçosamente no horizonte, sem fornecer calor suficiente para amenizar o vento gélido da transição de estações.

O estabelecimento escolhido por Taehyung não ficava muito longe. Era uma cafeteria de fachada simpática em tons pastéis. Parecia até cenário de filme. Em pouco tempo eles já estavam abrindo a porta do local, fazendo o sininho que anunciava novos fregueses tocar. Dirigiram-se até uma das mesas vazias. Um atendente logo veio recolher os pedidos.

— Eu vou querer chocolate quente com marshmallow, pão na chapa, torradas com geleia e uma fatia daquele cheesecake da entrada, por favor — Taehyung pediu afobado. O funcionário até riu de sua animação antes de virar-se para o mais novo a fim de anotar o prato escolhido.

— Eu quero apenas um café sem açúcar e uma fatia do cheesecake, por favor — seu pedido já tradicional soava tão simples comparado ao do namorado.

O local não estava tão cheio. As mesas em estilo antigo eram ocupadas por jovens com livros e computadores ou conversando entre si. No fundo do estabelecimento, um casal de idosos bebia algo em xícaras que combinavam. Era uma cena tão agradável. O Jeon se deixou imaginar, por um momento, como seriam ele e o Kim quando mais velhos, os fios brancos ocupando-lhes o topo da cabeça.

Continuou observando o ambiente. A música baixa que tocava de fundo, o papel de parede que parecia em harmonia com o delicioso cheiro de comida. Na parede oposta a si, seus olhos avistaram um relógio. Passava pouco das dez horas. E ali estava o motivo de seu pedido curto: o nervosismo que lhe tirara, inclusive, a fome.

Dedos familiares buscaram sua mão que repousava por cima da mesa e seguraram-na com força. O ato funcionou como uma âncora, trazendo-o de volta à realidade após resgatá-lo de seus pensamentos.

— Guk, você está nervoso?

— Sim — a resposta soou como uma confissão.

— Não tem por que ficar assim, vai dar tudo certo.

O fisioterapeuta apreciava o esforço do outro de tentar acalmá-lo, de verdade. No entanto, aquelas palavras não pareciam surtir efeito em si. Vinha repetindo-as em sua mente, desde que acordara, como um mantra. Sem obter os resultados esperados.

— Sinto muito, Tae — murmurou. — É só que não é todo dia que seu professor decide que seu projeto é tão bom que você deveria fazer uma palestra aberta para qualquer outro aluno ou professor da universidade assistir.

Sabia que o nervosismo transbordava em sua voz, mas não conseguia evitar. Desde que obteve a permissão e o apoio de Taehyung para fazer o projeto sobre o caso dele, dedicou-se ao máximo para que nada importante ficasse de fora. Quando apresentou para sua turma, recebeu respostas positivas e a nota máxima. Ficou, obviamente, satisfeito, mas pelo visto não foi o único. O senhor Han, seu professor, ficou entusiasmado e propôs a palestra. Na hora, aceitou sem pensar duas vezes. Agora, não tinha mais tanta certeza. Faltava cerca de uma hora para que tivesse que falar para tantas pessoas e sentia-se prestes a explodir.

— Ei, não pense assim — o braço alheio se esticou sobre a mesa para repousar em sua face. — Pense que você vai apresentar para mim. Eu vou estar lá e mal posso esperar a hora de ver meu namorado lá na frente, mostrando como ele é inteligente.

Precisava admitir que gostava da perspectiva de Taehyung. Só tinha que manter em mente que o outro estaria lá e apenas isso importava. Nada mais merecia sua atenção. O contato entre peles o tranquilizava. Puxou a cadeira de rodas para o seu lado para que ficassem pertinho.

A comida chegou e eles permaneceram em silêncio, saboreando-a. A dose de cafeína fazia bem ao seu corpo, espantando a maior parte dos pensamentos depreciativos, contrabalanceado pela doçura do cheesecake. Enquanto comia com a mão esquerda, o Kim mantinha a mão direita acariciando as madeixas escuras, sem se importar em demonstrar afeto em público.

— Guk, você acha que eu consigo entrar na faculdade um dia? — a pergunta o pegou desprevenido.

Sabia que não seria um processo simples, porque o mais velho precisaria correr atrás do tempo perdido. Não significava, contudo, que seria impossível. Conhecia a persistência e dedicação alheias, o que só facilitaria tudo ainda mais.

— Mas é claro que sim! — sempre acreditaria no potencial do castanho. — Em que curso você gostaria de ingressar?

— Acho que eu gostaria de fazer pedagogia para lidar com as crianças. Eu poderia até me especializar em crianças com deficiência, porque tenho certa experiência — soou completamente empolgado ao ver que alguém o apoiava.

Mesmo que nunca a tivesse cogitado antes, a ideia parecia perfeita aos ouvidos do mais novo. Os dois, no futuro, trabalhando com aquilo que gostam. Ainda que chegassem cansados de um dia longo, estariam com sorrisos de satisfação no rosto e teriam um ao outro. Seu coração se acalentou só de imaginar a cena.

— Seria incrível, Tae.

Os dedos compridos em seu cabelo desceram para sua orelha. Os dígitos começaram a brincar no local, apertando-o, rodeando o brinco que tinha ali. Uma sensação inexplicável se alastrou por todo seu corpo. Parecia que era feito de gelatina; era como se estivesse derretendo de dentro para fora. Automaticamente, seus olhos se fecharam.

— Acho que encontrei o ponto fraco de alguém — o sussurro foi dito perto de si, seguido por risadas. Era incapaz de rebater quando essa sensação tão boa tomava conta de si.

— Se esse é seu método para me acalmar, preciso dizer que é bem efetivo — conseguiu formular as palavras com dificuldade. Tinha certeza que soava sonolento. — Tae! — protestou quando o contato teve fim.

Era tão agradável, não tinha por que parar. Não conseguiu evitar que um bico se formasse em seus lábios.

— Nós precisamos ir para não chegarmos atrasados — explicou gesticulando para o relógio na parede e acrescentou ao ver que não foi suficiente. — Se esse foi o efeito apenas ao mexer com os dedos, mais tarde podemos testar com a boca.

Algo na promessa que o Kim fez, seguida pela piscada nada discreta que ele deu, soava incrivelmente apelativo. Infelizmente, ele tinha razão. Juntou os lábios de forma rápida para selar o compromisso que ficaria para mais tarde. Precisavam ir.

Pagaram a conta – sempre dividindo para que nenhum dos dois ficasse ofendido – e seguiram o caminho. Durante todo o trajeto, estavam mais à vontade. Aproveitando a companhia um do outro e a música que tocava de fundo. Desde a noite em que ouvira sua voz cantando pela primeira vez para si, Taehyung utilizava toda oportunidade que tinha para fazê-lo cantar com a justificativa de que ele era muito habilidoso. Jeongguk não se importava, porque a expressão de satisfação que recebia em resposta compensava.

A universidade não era muito longe de onde estavam, então logo se encontravam lá. Ainda que não tivesse o hábito de ir de carro, não teve dificuldade em encontrar vaga. Seguiu no impulso para o prédio de fisioterapia, mas lembrou-se a tempo que deveria ir para o auditório. O pequeno palco lá na frente já estava com um microfone montado e uma espécie de apoio para que o palestrante pudesse apoiar suas anotações. Alguns lugares já estavam sendo ocupados pelo público.

— Guk, eu quero ficar lá na frente, na primeira fileira! — o mais velho pediu.

Empurrou a cadeira de rodas até o local indicado e a posicionou no corredor que tinha entre os dois lados de poltronas, de frente para o centro do palco. Jeongguk se sentou no lugar ao lado e entrelaçou as mãos às do namorado para se acalmar. Sentiu um beijo contra sua têmpora.

— Fica tranquilo, vai dar tudo certo. É só fingir que sou o único na plateia.

Tentou se prender ao máximo à fala alheia. Não tinha por que se manter apreensivo. Queria clamar aqueles lábios nos seus até o ar se esvair junto com suas preocupações, mas não deveria, porque ali o Kim era seu paciente.

— Jeon Jeongguk — ouviu seu professor chamá-lo ao seu aproximar. Pôs-se de pé para cumprimentá-lo. — Como está?

— Estou bem, senhor Han. Apenas um pouco apreensivo.

O homem de cabelos grisalhos sorriu-lhe de forma compreensiva. Em seguida, notou o menino na cadeira de rodas.

— Esse é o nosso caso? — a forma como ele se referiu ao castanho soou desconfortável em seus ouvidos. Não gostava de pensar que ele era apenas um caso.

— Sim, senhor, esse é Kim Taehyung. Tae, esse é meu professor, senhor Han — apresentou-lhes.

— Estou muito feliz com o seu quadro, rapaz. Vejo que meu aluno fez um ótimo trabalho no seu tratamento fisioterápico — pareceu, para si, que seu namorado estava desconfortável na situação, mas sem perder o ar simpático.

— Tenho certeza que ele será um fisioterapeuta promissor — a resposta foi curta.

— Bom, Jeongguk, você já pode aguardar nos bastidores pela sua vez. Alguns colegas meus vão falar antes e você vai encerrar tudo — o professor disse antes de se retirar para cumprimentar outras pessoas.

Não conseguia decidir se o fato de outras pessoas falarem antes de si era melhor ou não. Antes de se dirigir para o local indicado, agachou-se na frente da cadeira de rodas. Segurou as duas mãos com as suas.

— Tá tudo bem? — sabia que algo estava incomodando o mais velho.

— É só que... talvez, seja bobo. Promete que não vai rir?

— Prometo — jamais conseguiria rir de algo que deixasse Taehyung desconfortável.

— É que seu professor deu a entender que a fisioterapia me fez bem, mas eu gosto de pensar que não foi só isso. Foi o amor também — sua voz saíra baixa, tímida. O Jeon teve certeza que seu coração acelerou descoordenado. Sentiu uma felicidade sem igual com aquilo.

— Fico feliz que pense assim — prensou seus lábios contra os alheios em um impulso. Sugou com calma o inferior, tão cheinho e tentador, porque já era como um viciado daquele sabor. — Esse pode ser o nosso segredo.

Ali estava de volta o sorriso que tanto queria.

— Agora, vá lá. Suba nesse palco e arrase — o Kim o empurrou de leve e deu dois tapinhas em sua bunda, seguidos de uma piscadela para que fosse logo.

Nos bastidores, havia duas mulheres e um homem. Todos muito mais velhos que si, provavelmente, com inúmeras especializações e diversos diplomas. Ficar esperando não estava ajudando. Ser o último, talvez, não fosse uma boa ideia. Suas palmas suavam, os pés mexiam inquietos, o coração parecia que ia rasgar seu peito pela velocidade em que batia. Uma das mulheres já estava falando no palco. O papel com suas anotações estava sofrendo em suas mãos. Naquele momento, como se o outro fosse capaz de sentir, seu celular vibrou.


[Tae] 11:33

A moça está tremendo

Você não é o único nervoso


[Jeongguk] 11:33

Eu deveria ficar feliz com isso?


[Tae] 11:33

Você deveria ficar tranquilo

Porque vai dar tudo certo


A falta de lógica na justificativa de Taehyung lhe arrancou um sorriso pela tentativa. As pessoas ao seu redor não pareceram notar. Conversar com o outro parecia um bom jeito de se manter mais calmo.


[Jeongguk] 11:34

Você não deveria estar prestando

atenção no discurso?


[Tae] 11:34

Eu não entendo nada

desses termos técnicos!


[Jeongguk] 11:35

Você não precisava ter vindo

eu não ia te forçar


[Tae] 11:35

Eu quero ver você no palco, ok?

Até se você falasse em outro

idioma que eu não entendo

teria minha atenção


Não conseguiu segurar o riso e atraiu atenção dessa vez. Seu namorado sabia ser meloso.


[Jeongguk] 11:36

Bobo


[Tae] 11: 36

Ei, quer um elogio?


[Jeongguk] 11:37

Não (?)


[Tae] 11:37

Vou fazer mesmo assim.

Você é muito mais interessante

que seus colegas


[Jeongguk] 11:38

Por que isso?


[Tae] 11:39

Eles falam sobre coisas tão

fúteis...

Pra que se gabar em

público de quantas pessoas

você pegou ontem? -.-


[Jeongguk] 11:39

Sempre tem uns idiotas mesmo

Com o tempo você aprende

a ignorar

Por mais simples que fosse esse método, Jeongguk precisava admitir que foi eficaz. O tempo passou rápido. Ele estava distraído e relaxado. Só lembrou onde estava quando uma moça jovem veio chamá-lo. Era sua vez.

Caminhou com o microfone em mãos até o centro do palco. Olhando agora, ali onde estava, conseguia perceber como o auditório era grande. O teto abobadado o fazia se sentir como se fosse anunciar um decreto importante em uma época antiga. As fileiras de poltronas se estendiam de ponta a ponta, localizadas até no segundo andar em espécies de varandas. A luz do dia iluminava o todo o local. Sentia o frio na barriga como se fosse vomitar. Estava soando frio. No momento, questionava-se por que estava ali. Detestava ser o centro das atenções. Parou no local que achou adequado. Conseguia ver a plateia lotada. Sua garganta parecia estar se fechando.

Então, avistou na primeira fileira aquele sorriso que conhecia tão bem. Sincero e brilhante, incentivando-o. Era exatamente o que precisava. Sentiu toda a tensão fugir de seu corpo. Testou o microfone e respirou fundo. Estava pronto.

— Bom dia a todos. Meu nome é Jeon Jeongguk e eu estou no penúltimo período de fisioterapia. Depois de ouvirem esses especialistas tão renomados, vocês devem estar se perguntando o que alguém tão novo e sem experiência tem para falar de interessante — o público riu. Ele flagrou os olhos castanhos fixos em si. — Acho que, talvez, essa seja a resposta. A minha inexperiência. Assim que eu conheci esse caso, pedi a opinião de pessoas mais sábias do que eu. Todos olhavam espantados e com pena. Na época, eu achava que eram direcionados ao paciente pela complexidade da situação. Hoje, eu acho que eram direcionados a mim e minha ingenuidade — riram novamente. Ele se sentia bem mais confiante agora. — Disseram que não haveria esperança, porque as sequelas eram irreparáveis; a idade do paciente avançada demais para esse tipo de dano. Não posso culpá-los por essas opiniões. É um caso de lesão medular com um quadro avançado de atrofia muscular em um rapaz de 22 anos. Já vi pacientes se recuperarem em situações assim, mas todos com menos de doze anos. O corpo ainda em formação, mudanças constantes. E se eu contar que a atrofia já durava alguns anos? Quando o conheci, ele sequer falava! Vocês, provavelmente, concordam que eu deveria ter ouvido a voz da experiência — cabeças acenaram positivamente em resposta. Taehyung permanecia estático. — Desculpe, professor Han, mas dessa vez estou contente por não ter dado ouvidos ao senhor.

O homem fez um sinal de beleza com os dedos e esboçou um leve sorriso na ponta do palco.

— Minha teimosia falou mais alto e eu decidi tentar. Eu comecei pelo mais simples: a reeducação dos músculos faciais. Eu obtive resultados! Em pouco tempo o paciente já estava conseguindo articular e se comunicar. Eu estava tão contente, mesmo que a voz da experiência insistisse em dizer que era normal conseguir respostas nos estímulos iniciais e que, logo, tudo iria estagnar de novo. Eu fui teimoso novamente e continuei com o tratamento — a plateia mais uma vez riu.

Ele iniciou uma breve explicação das técnicas que utilizou. Tinha certeza que o Kim não estava entendendo termo algum, mas isso não o impediu de continuar prestando total atenção.

— Provavelmente, tudo o que fiz qualquer outro fisioterapeuta faria, porque é o procedimento padrão. No entanto, eu acredito que o tratamento vai muito além dos exercícios físicos e isso faz toda a diferença. É preciso enxergá-los como são. Muito mais que limitações, estamos lidando com pessoas. Meu ponto é que o mérito nunca é só do fisioterapeuta. O sucesso de tudo também depende do paciente. Precisamos fazê-los entender o que está acontecendo e por quê. Devemos parabenizá-los pelos esforços e pela dedicação em continuar tentando mesmo quando não estamos por perto. Não é um processo fácil física ou emocionalmente. A equipe precisa estar em harmonia e isso nem sempre é possível, então, admito que fui muito sortudo em quem tive como paciente. E, no final, eu posso garantir a vocês que toda a quantia em dinheiro do mundo não traz a satisfação que o sorriso após cada novo avanço proporciona.

O público aplaudiu e ele desceu do palco com adrenalina percorrendo seu corpo. Parou no pé da escada assim que viu a cena que se desenrolava. Taehyung tinha se posto de pé. Ele iniciou passos vagarosos.

Um pé depois o outro.

Sem nenhum ponto de apoio além das próprias pernas. Aos poucos, ele estava extinguindo a distância entre os dois. Alguns bons metros; uma distância considerável. O menino parecia determinado a completar o caminho. Seus olhos estavam marejados. Ele estava andando!

Jeongguk não conseguiu reagir. Estava parado observando tudo atentamente. Aqueles passos curtos eram apenas uma parte da jornada que tinham pela frente, porém ele não se sentia acanhado. Estava disposto a enfrentar cada desafio com o outro ao seu lado. Tudo tinha começado porque ele queria fugir da rotina e, agora, essa era a rotina para a qual queria voltar todos os dias.

Braços envolveram seu pescoço e suas mãos foram involuntariamente para cintura alheia. Eles se abraçaram com força. Jeongguk tinha certeza que as almas não estavam tentando se encostar dessa vez, porque elas já estavam juntas. Sentia os olhares das pessoas ao redor fixos na cena, mas nada disso importava.

— Obrigado — sussurrou contra o ouvido de tom dourado.

— Pelo quê?

— Por ser você.

Porque isso bastava. Taehyung era seu milagre.



⬥⬥⬥

NOTA DA AUTORA

Reviver tudo isso de novo, quase 5 anos depois que a história foi escrita, foi uma jornada muito especial para mim. É muito encantador acompanhar cada avanço do Tae e a vontade do Guk de ajudar.

Além disso, é muito bonito para mim como as mensagens importantes da história conseguem tocar cada um de vocês de formas tão únicas. Vocês aprendem com a história e eu aprendo com vocês, é uma troca muito preciosa e especial.

Muito obrigada por darem uma chance a For Him, por se envolverem de coração aberto com a história e os personagens. Obrigada aos leitores que me acompanham desde que a história foi postada em 2017 e obrigada aos leitores que chegaram no meio do caminho. Obrigada por cada favorito e cada comentário. Muito obrigada por tanto carinho, comigo e com a história.

Espero que tanto a perseverança do Tae em continuar tentando, quanto a determinação do Jeongguk em não desistir do que acredita, inspire vocês de alguma forma. Não desistam: enquanto há vida, há esperança. E, acima de tudo, espero que vocês se lembrem que nenhuma limitação física (ou mental) diminui alguém. Vocês são incríveis e especiais do jeitinho que são.

Porque isso basta. *Vocês* são os meus milagres. 💜


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