31 de outubro de 1977
Espero que realmente vá à festa, quero muito te ver. MM.
Mary releu mais uma vez aquele bilhete e suspirou. A garota ainda se perguntava o porquê tentava a todo custo trazer Regulus para sua vida, sem conseguindo obter uma resposta coerente. A verdade é que não tinha resposta nenhuma.
Ela enrolou o pergaminho na coruja e a soltou, observando a mesma voar para o castelo. Mary achava extremamente desnecessário comunicar-se com ele por correspondência, visto que os dois estudavam na mesma escola. Mas não iria contrariá-lo, não agora.
E enquanto voltava para a torre da grifinória para se arrumar pra festa, sentiu olhares atrás de si no corredor do primeiro andar, pegando ligeiramente a varinha e se virando, dando de cara com o dono dos seus pensamentos e o seu melhor amigo, Bartô Crouch Jr.
Ela sabia que por mais que tentasse falar com o sonserino naquele momento, ele a ignoraria. Então, poupando saliva, virou-se novamente e seguiu o seu caminho – ainda com a varinha em mãos, pronta para atacar qualquer um que tentasse azará-la.
(...)
— Seja lá qual o motivo para você estar tão estranha essa semana, espero que consiga se divertir hoje, Mary. — Alice falou ao se sentar em sua cama, após a saída dramática de Lilian.
— Hum, obrigada? — A morena murmurou abraçando seu próprio corpo. O que responder nessas horas? Pensou.
Mary estava de fato estranha naquela semana e sabia disso, como também sabia que a razão para tal comportamento tinha nome e sobrenome: Regulus Black.
Regulus era uma pessoa impossível de se entender, mas ela o entendia. Mary era totalmente o oposto do sonserino, mas mesmo assim se sentia igual a ele. Os dois se gostavam, mas seus mundos eram completamente diferentes e isso acabava com a pobre garota.
— Eu vou me trocar. — E dito isso, se enfiou no banheiro com a fantasia sorteada.
Ela lançou um sorriso mínimo para o seu reflexo no espelho após se trocar e ajeitou os cabelos, logo em seguida passando uma camada mínima de gloss sobre os lábios. Marlene a mataria por estar usando seu tão precioso gloss.
— Caramba, olha o que temos aqui! — Mckinnon foi a primeira a dizer, se levantando bruscamente da cama e se sentando sobre os joelhos. — Nova jogadora da grinifória? Espera, esse é o meu uniforme?
A loira franziu a testa ao mesmo tempo em que Mary e Alice riam da expressão da mesma. As garotas observaram Lily entrar no dormitório com um sorriso bobo, mas não falaram nada, apenas entregaram a fantasia para ela e terminaram de se arrumar.
(...)
Mary estava ao lado do retrato da Mulher Gorda junto com Peter – que por algum motivo estava encarregado de cuidar da entrada dos convidados, como se ele não temesse qualquer um que levantasse a varinha para si.
A garota bufou pela quarta fez e cruzou os braços, encostando o pequeno corpo na parede atrás de si.
— Você está bonita, Mary. Boa escolha de fantasia. — Peter a elogiou e ela lhe lançou um sorriso em forma de agradecimento, não era sempre que eles conversaram, se é que algum dia tinham feito aquilo. — James está de Dumbledore, o Remus de vampiro e o Sirius...
— Peter, desculpa mesmo, mas eu preciso entrar agora. — Falou em um tom de magoa, acompanhada com uma expressão triste no rosto por ter levado um bolo.
E murmurando um pouco contrariado a senha, Peter deu espaço para que a morena pudesse passar cabisbaixa. Mas antes que o retrato atrás de si se fechasse completamente, escutou Peter gemer em frustração e uma voz um tanto conhecida por si chamar seu nome.
Mary ficou estática por longos segundos até tomar consciência de que ele realmente havia vindo e agora estava lá fora provavelmente tentando entrar.
Ela apressou-se em sair novamente e tudo que temia estava acontecendo: Regulus discutia com Peter, que não deixava o sonserino passar, com uma coragem que Mary e nem ninguém havia visto até então.
— Peter, está tudo bem. Ele está comigo. — E dito isso, ela puxou o braço longo de Black para dentro da sala comunal, onde acontecia a festa. Ela só o soltou quando os dois ficaram sozinhos em um canto um pouco afastado.
— Eu sei me defender, Macdonald. — O garoto resmungou cruzando os braços e apoiando o corpo na parede.
— Sério? Mal percebi, Peter acabaria com você. — Mary zombou e se aproximou um pouco mais dele, abrindo um sorriso ladino. — Obrigada por ter vindo.
— Eu disse que viria.
— Confesso que fiquei com receio de ter mentido só para se livrar de mim. — Ao dizer isso, viu a expressão de Regulus se contorcer, franzindo rapidamente as sobrancelhas.
— Eu não minto e cumpro com a minha palavra. — Falou em um tom frio.
— Desculpa, eu não quis te ofender. — Ela engoliu em seco e respirou fundo.
Os dois ficaram quietos por um tempo até que o mais novo começou a analisá-la sem ao menos disfarçar.
— Então agora é a nova jogadora da grifinória? — Disse com um sorriso quase não notável no rosto.
— Ah, claro. — Ela entrou na brincadeira. — Normalmente não curto muito usar vermelho, mas são as cores obrigatórias, sabe?
— Ficaria melhor se fosse verde. — Regulus disparou antes mesmo de perceber o que de fato tinha dito, ficando ligeiramente corado.
Mary mordeu o lábio inferior um pouco envergonhada e virou o rosto, tentando não demonstrar quanto àquela frase havia mexido consigo.
— Reg?
Os dois encararam Sirius que ao mesmo tempo estava radiante por ver o irmão, estava confuso.
— Não sabia que vinha. — Ele sorriu. — E que conversava com a Mary?
Sirius disse a última frase encarando a morena com curiosidade, ainda sem entender o que estava acontecendo.
— Quer alguma bebida? Comer algo? Eu posso lhe trazer... — Antes que pudesse terminar, Regulus levantou a mão pedindo com que parecesse.
— Não, obrigado.
— M-mas...
— Eu já disse não, Sirius. — Regulus falou com um tom um pouco mais sombrio do que o normal, atraindo alguns olhares na direção dos três. Mary ainda estava muda. — Pare de bancar o irmão mais velho.
— Mas eu sou o seu irmão mais velho. — Sirius disse como se fosse óbvio.
— Não, não é. — E dito isso, o mais novo ali se retirou rapidamente, com os punhos cerrados.
Mary tentou dizer algo a Sirius, mas seu olhar perdido a fez engolir em seco e correr atrás do Black mais novo. Ela o alcançou na escadaria que ia para as masmorras.
— Regulus, você não devia tê-lo tratado assim. — Ela falou irritada. Ele se virou e a encarou com o seu olhar mais frio, onde seus olhos azuis transmitiam nada alem de raiva.
— E quem é você para dizer o que eu devo ou não fazer, Mary? Você é só uma... — Regulus se calou antes que pudesse terminar, respirando fundo.
— Uma sangue-ruim? Anda, Regulus, fala! — Mary gritou. Seus lábios tremiam e tudo o que queria era chorar. — Você não é ruim, Regulus, então pare de agir como se fosse. Eu sei o quanto o Sirius é importante para você, então reveja as suas prioridades e se isso vale a pena mesmo.
— Minha única prioridade é a minha família, Mary. — Regulus parou de falar por um momento e olhando para algo atrás dela, completou: — Na qual Sirius não faz mais parte.
— Ok, se você pensa assim, eu não posso fazer nada. — Mary sentiu seu coração sair pela boca, estava se tremendo inteira agora e tudo o que queria era azará-lo e fazê-lo parar de dizer aquelas coisas. — Eu só quero que você saiba que eu e o Sirius algum dia iremos cansar dessa sua atitude.
Mary deu as costas para ele e dando um longo suspiro, começou a caminhar novamente para a torre da grifinória. Mas antes que pudesse dar cinco passos, sentiu uma mão gelada segurar seus pulsos e com um piscar de olhos e sem entender o que estava acontecendo, Macdonald sentiu seu corpo girar bruscamente e bater contra o corpo de Regulus, logo sentindo os lábios macios dele contra os seus.
Ele a beijou de forma intensa e lenta, como se tentasse se desculpar por tudo o que está acontecendo. Os dois se separaram por falta de ar e Mary o encarou com as pupilas dilatadas, vendo os olhos dele em um tom ainda mais intenso de azul, como nunca havia visto antes.
— Desculpa. — Ele disse por um sussurro, ainda segurando o pulso dela.
E por mais que soubesse que nada estava bem e que seria difícil dali pra frente, Mary sorriu.