For Him | taekook

By the-lonely-whale

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Jeongguk está acostumado a ensinar seus pacientes: seja o novo exercício, um novo hábito ou uma nova forma de... More

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By the-lonely-whale


Jeongguk não sabia exatamente que horas eram, apenas que era muito cedo. O céu estava nublado. Até o sol parecia preguiçoso no domingo. O supermercado onde encontrava-se estava praticamente vazio. Apenas alguns velhinhos fazendo o "passeio" do dia. Com exceção de sua mãe. Yangwon estava contentemente caminhando por cada uma das seções da loja, colocando vários produtos no carrinho. O menino concluiu que só faltava saltitar.

— Vamos, Jeongguk. Ajude sua pobre mãe e pegue os produtos que estou lhe pedindo.

Ele piscou de forma preguiçosa e andou até o final do corredor onde a mulher já estava. Ela apontou para algumas caixas dentro do mini freezer e o filho as pegou. Pizzas, lasanha e até um pote de sorvete. Algo estava fora do lugar. Sua mãe nunca comprava tantas comidas não saudáveis ao mesmo tempo.

— Mãe, para que é tudo isso? É muita coisa.

Yangwon bufou cansada da falta de atenção do garoto.

— Já te expliquei. Como vou sair com Hyoji, coisa que não faço há muito tempo, vou fazer de tudo para que ela não se preocupe. Deixarei várias comidas gostosas para você e Taehyung comerem durante o dia. Ele pediu nossa ajuda, não vamos decepcioná-lo.

Quando finalmente processou o que ouviu, Jeongguk pareceu ter acordado. Sentiu uma pontada de ciúmes ao perceber que sua mãe fazia esse tipo de coisa pelo outro garoto e não por si, mas preferiu ignorar.

— Como assim "durante o dia"? Achei que eu só iria ter que ficar com ele durante algumas horas à noite.

— Jeongguk, Jeongguk... Se é para fazer os dois se divertirem, vamos fazer direito, não?

Eles pararam em um dos caixas do supermercado. Yangwon movia-se rapidamente, retirando os produtos do carrinho e colocando-os sobre a superfície prateada. O rapaz observou tudo em silêncio. A atendente processou cada um dos itens de forma extremamente lenta. Para acelerar o processo, ele começou a ensacar tudo que compraram. Quando sua mãe pagou, ele já estava com as sacolas nas mãos, pronto para ir embora.

— Como você a convenceu?

— Tenho meus jeitos — Yangwon respondeu com um sorriso.

— Chantagem emocional? — Jeongguk retrucou descrente.

— Sim — ela abriu um enorme sorriso.

Depois que colocaram cada um dos produtos no carro, seguiram para o apartamento do mais novo. Sua mãe mantinha a aura de animação e ele se questionava como ela conseguia. Quando chegaram, Yangwon foi para cozinha a fim de executar seu plano e Jeongguk foi separar o que precisaria para passar o dia fora de casa.

Tomou um banho, para ficar ao menos apresentável, e organizou sua mochila vermelha. Ao ficar pronto, dirigiu-se à cozinha para oferecer ajuda, mas sua mãe, incrivelmente, já tinha tudo pronto. Levaram todas as coisas para o carro. Jeongguk sentia a água em sua boca ao inalar o cheiro das comidas. Ainda não tinha se alimentado e já passava da hora do almoço. Logo, seguiram para casa dos Kim. Ele achava engraçado como aquele parecia ser sempre seu destino quando saía com sua mãe nas últimas semanas.

Menos de meia hora depois, ambos estavam na sala de estar da casa de Taehyung. Yangwon descarregava o que estava no porta-malas e Hyoji estava incrédula com a quantidade de alimentos. Jeongguk ofereceu ajuda, mas ambas o ignoraram enquanto travavam uma discussão sobre a necessidade de tanta comida. Ele estava pensando se deveria ou não subir para o quarto do castanho, quando avistou Dongsul descendo as escadas com o mesmo no colo.

— Senhor Kim — curvou-se em uma saudação. — Olá, Taehyung.

— Jeongguk — os dois responderam.

O homem, como sempre, não esboçou muita reação. O filho, porém, abriu um enorme sorriso ao vê-lo. Ele piscou um dos olhos de forma descoordenada, mas o moreno captou a cumplicidade que ele pretendia transmitir. Só então parou para pensar sobre como Taehyung deveria estar feliz, afinal seu plano estava dando certo. Lembrava-se do olhar que recebera quando o mais velho lhe pediu ajuda. Sentia-se bem por estar atendendo ao pedido. Foi tirado de seus devaneios pela voz do castanho.

— Venha, Jeongguk, junte-se a nós.

Ele já estava recostado no sofá. Dongsul sentou-se ao seu lado e sua expressão era um tanto intimidadora. Jeongguk hesitou por alguns segundos, mas desistiu e se aproximou dos outros dois. No mesmo instante, Hyoji e Yangwon adentraram o local. Já tinham findado a discussão. Sua mãe foi abraçar Taehyung e o mais novo percebeu o inaudível "obrigado" que foi balbuciado pelo castanho.

— O que estão fazendo? — ela perguntou ao findar o abraço.

— Vamos almoçar. Almoce com a gente, tia Yangwon.

A mulher encarou Hyoji e houve uma troca intensa de olhares. A mãe de Taehyung pareceu levemente incomodada e Jeongguk não a culpava. Conhecia sua mãe e sabia quão intimidador seu olhar poderia ser.

— Oh, querido, eu adoraria, mas seus pais e eu temos planos para hoje. O que inclui almoçar em um restaurante que não vamos há muito tempo.

— O que mais vão fazer? — Taehyung perguntou curioso.

— Vamos nesse restaurante, depois iremos encontrar alguns amigos e, mais tarde, eu tenho uma surpresa para seus pais.

Jeongguk notou o olhar incerto de Hyoji. Tinha quase certeza de que a mulher ainda não havia conversado com seu filho. Ela devia estar surtando internamente. Pelo que sabia, era a primeira vez que deixariam Taehyung "sozinho" em anos. Parecia culpada por não ter contado ao menino. Ele quase riu. Coitada, mal sabia que o filho que não havia contado a ela.

— Tudo bem, aproveitem! — o castanho respondeu simplista.

— Tem certeza, meu filho? Nós não precisamos ir se não quiser — Dongsul se pronunciou.

— Certeza absoluta, pai. Vai ser bom para vocês e sei que o Jeongguk vai cuidar bem de mim.

Jeongguk sentiu seu coração acelerar. Só ao ouvir tais palavras que se deu conta da responsabilidade que estava assumindo. Taehyung era completamente dependente dos outros para qualquer coisa e só teria a si para recorrer durante algumas horas. Havia tantas probabilidades de dar errado. Ele quase se desesperou, mas a voz do castanho o trouxe de volta.

— Estou com fome. Posso almoçar?

A pergunta soou tão ingênua que o mais novo demorou alguns instantes para reagir. Hyoji estava subindo as escadas para trocar de roupa e gritou que a comida estava quente em cima do fogão. Yangwon e Dongsul, que estavam conversando perto dos meninos, levantaram-se para atender ao pedido. Jeongguk, porém, se apressou para impedi-los.

— Podem deixar. Eu pego.

Ele seguiu para a cozinha. Continuava a achar intimidante o tamanho dos cômodos daquela casa. A cozinha era mais simples que os demais ambientes, porém não menos bonita. Os tons eram neutros – branco, preto e cinza – e os eletrodomésticos pareciam os mais modernos. Jeongguk abriu vários armários em busca de pratos. Encontrou porcelanas, xícaras, panelas, travessas; todos pareciam valer mais que sua vida. Acabou por achar o que queria no armariozinho superior, próximo à geladeira. Pegou dois, porque também estava faminto, e pôs-se a arrumá-los. Colocou os mesmos alimentos, nas mesmas quantidades, em ambos os pratos. Remexeu algumas gavetas até encontrar talheres. Pegou dois garfos e duas facas e voltou para sala de estar.

Sentou-se, cuidadosamente, ao lado de Taehyung. O mais velho estava com as pernas esticadas, já que não era capaz de dobrá-las devidamente ainda, então Jeongguk apoiou um dos pratos ali sobre as coxas do outro. O outro prato ficou sobre suas próprias pernas. Posicionou um par de talheres sobre seu prato e colocou os outros no do castanho. Estava um tanto enrolado. Não queria sujar o sofá. Praguejou baixinho por não ter prática. Pegou o garfo do outro e levou-o cheio de alimento, com certa dificuldade devido à posição, à boca do mais velho.

Conseguia sentir os olhares preocupados dos adultos sobre si. Era um tanto desconfortável. Aproveitou enquanto Taehyung mastigava para se alimentar. Seu estômago roncou em antecipação. Quando o castanho engoliu a comida, ele se preparou para alimentá-lo novamente. A posição era desconfortável, mas ele precisava fazer aquilo. Se não conseguisse, o senhor e a senhora Kim poderiam decidir que ele não era apto a ficar com seu filho e desistir de sair com Yangwon. Ele não queria isso.

— Jeongguk — Taehyung sussurrou. Parecia estar incomodado com a situação também. — Por que você não coloca toda a comida em um só prato? Vai ser mais fácil. Eu não me incomodo de dividir o mesmo prato.

O mais novo hesitou. Talvez não fosse a melhor ideia. Desistiu, porém, quando percebeu que realmente seria mais fácil. Transferiu, com cuidado, a comida para o prato que estava apoiado nas coxas do Kim. Levantou-se, rapidamente, para deixar o outro prato na cozinha. Voltou em seguida. Seu estômago ainda roncava. Levou comida à boca de Taehyung. Dessa vez, bem mais fácil graças à posição. Com apenas um prato em suas mãos, podia virar de lado e realmente enxergar aonde o talher ia. Percebeu que deixara os outros talheres dentro da pia também, ou seja, só tinha um. Parou por alguns segundos, em dúvida.

— Não vai comer? — o mais velho perguntou confuso. Jeongguk estava encarando o garfo com um olhar estranho. Isso era tudo o que ele precisava para ignorar seus pensamentos indecisos e comer. Assim, estabeleceu um padrão: uma garfada para Taehyung, outra para si. Continuaram dessa forma, satisfeitos por estarem extinguindo a fome.

— A comida da sua mãe é realmente gostosa — comentou casualmente.

— Eu sei. Já sugeri que ela abrisse um restaurante uma vez, mas ela riu e dispensou a ideia — o castanho respondeu.

— Tenho um amigo que é dono de um restaurante. Quem sabe um dia não vamos lá? — Jeongguk disse e imediatamente se repreendeu. Não podia ficar sugerindo levar Taehyung a outros lugares se ele mal saía do seu quarto.

— Seria ótimo!

Já estavam quase no final, quando Hyoji desceu as escadas. Ela vestia uma calça jeans escura e uma blusa de manga curta cheia de brilhos. Passara um pouco de maquiagem e arrumara os cabelos em um penteado despojado. Parecia outra pessoa.

— Podemos ir?— Yangwon perguntou ao avistar a amiga, que assentiu em resposta.

Ela se aproximou do filho para se despedir. Ele elogiou sua aparência e recebeu um beijo estalado em suas bochechas. Repetiu o processo com Jeongguk e, antes de se afastar, sussurrou um simples "Me ligue, qualquer coisa". Os três se despediram dos meninos de forma afetuosa e, por fim, saíram.

Eles estavam deixando mais do que dois garotos sozinhos em uma enorme casa. Estavam deixando um estudante inexperiente cuidando de outra pessoa da sua idade. Estavam deixando Jeongguk em um campo desconhecido, disposto a aprender tudo o que precisasse.


✗✗✗


Assim que os adultos se foram, Jeongguk levou o prato, agora vazio, para a cozinha. Quando retornou, Taehyung tinha um sorriso enorme no rosto. Seu olhar brilhava, completamente realizado. Sacudia sua cabeça levemente, como se acompanhasse o ritmo de uma música que apenas ele era capaz de ouvir.

— Você viu o quanto ela estava feliz? — seu tom era extremamente animado e Jeongguk não conseguiu evitar sorrir de volta enquanto acenava com a cabeça. Era incrível a capacidade de Taehyung de ficar contente com a felicidade alheia. Admirava isso nele. Notou um pedaço de frango nos dentes do mais velho e deu uma leve risada.

— Como faço para escovar seus dentes? — perguntou receoso. Não queria que o Kim entendesse errado, apenas pretendia saber como era sua rotina para tal ato.

— No banheiro do andar de cima, tem um potinho com uma escova de dente verde. Você pode enchê-lo de água e trazer aqui para que eu bocheche.

Ele seguiu as instruções. Escovou rapidamente seus próprios dentes antes de descer com os objetos pertencentes ao outro. Foi uma experiência nova escovar os dentes de outra pessoa. Um tanto diferente. Já tinha visto seu chefe no hospital instruindo os pais em como fazê-lo sem machucar seus pacientes mas não, de fato, executado suas orientações. Vez ou outra, Taehyung resmungava porque Jeongguk não estava sendo exatamente delicado. Ele se desculpava e tentava realizar os movimentos sem feri-lo. Quando terminou, levou o recipiente com água aos lábios do outro para que ele enxaguasse os dentes. O mais velho cuspiu com cautela a água de volta no recipiente e sorriu brilhante, dessa vez com os dentes limpos.

— Obrigado.

Jeongguk fitou-o confuso.

— Por escovar seus dentes?

— Por me ajudar com meu plano. É a primeira vez, desde que lembro, que vejo meus pais saírem para se divertir e com um sorriso no rosto. Eles pareceram recordar como é, de fato, viver.

— Não me agradeça — o moreno respondeu sem jeito. — Agradeça à minha mãe.

— Verdade — o mais velho retrucou. — Se ela não tivesse te trazido aqui para me tratar isso não teria acontecido.

— Não acho que essa foi a intenção dela. Principalmente, porque, até onde eu sei, você nunca aceitou nenhum tratamento — Jeongguk disse sincero.

Taehyung pareceu levemente desconfortável ao ouvir tal frase.

— Já disse, você foi o primeiro a me enxergar como ser humano. E também, de todas as pessoas que já vieram aqui, finalmente ter alguém da minha idade foi diferente — deu de ombros. — Além disso, você foi o único que parecia poder aceitar me ajudar com meus pais — brincou. — Por isso aceitei. Não me arrependo. Ver o sorriso da minha mãe fez tudo isso valer à pena.

— Você só aceitou minhas tentativas de te ajudar para fazer seus pais saírem? — o mais novo perguntou um tanto ofendido.

— Inicialmente, sim.

— Inicialmente?

— Sim — Taehyung repetiu. — Acho que agora estou mais propenso a continuar com o tratamento — ele abriu um enorme sorriso. — Outras pessoas já tinham me feito balbuciar algumas palavras, mas eu sempre desistia no meio do caminho. Dessa vez, foi diferente. Estou disposto a continuar, com uma condição.

Jeongguk ainda estava em pé, segurando as escovas de dente na mão. Tentava controlar sua expressão de surpresa. Não sabia como reagir perante a fala do mais velho. Soava quase como um desafio. O olhar de Taehyung explicitava um "não me contrarie, por favor" e o moreno acatou o pedido silencioso.

— Qual condição?

— Não me trate como seu paciente. Já que não posso ser uma de suas crianças, seja meu amigo.

— Amigo? — Jeongguk repetiu. Taehyung era realmente uma caixinha de surpresas. — Claro.

— Sim, um amigo que, por coincidência, sabe algumas coisinhas a respeito de como me ajudar a aprimorar meus movimentos. — ele abriu um enorme sorriso quadrado. O Jeon estava se sentindo cada vez mais acostumado com a cena. Ele concordou de forma cúmplice.

— Preciso guardar isso lá no banheiro — disse quando lembrou que estava com a escova de dente e o pote na mão. — Você quer ir lá para cima?

— Não. Quero continuar aqui mais um pouco. Sempre fico lá em cima.

— Tem certeza? — o mais novo questionou preocupado. Olhou a posição em que Taehyung estava, parecia desconfortável. Suas costas estavam apoiadas por almofadas. Suas pernas se encontravam jogadas sobre o apoio de pés do sofá, contorcidas. Os braços jaziam ao lado do tronco. O menino já tinha escorregado de sua posição inicial e seu pescoço parecia pressionado de má forma. — Você não parece muito confortável.

— Essa é a única outra posição que conheço além de ficar deitado, Jeongguk. Então, não é tão ruim assim.

O moreno caminhou até a mesa de centro e colocou os objetos que ainda segurava ali. Fez uma nota mental para não se esquecer de levá-los para seu devido lugar mais tarde. Retornou para perto de Taehyung, que o fitava questionador. Ele se agachou próximo às pernas do mais velho e pôs-se a fitá-lo de volta. Esboçava um sorriso sapeca.

— E se eu te disser que seu amigo, que por coincidência sabe de algumas coisinhas, conhece um jeito de tentar mudar essa situação? — perguntou com um tom divertido.

O Kim pareceu hesitar por alguns instantes. Fez uma expressão pensativa e Jeongguk segurou o riso com o pensamento de que quase era possível ver as engrenagens girando.

— Podemos fazer uma troca? Eu aceito sua ideia e você me leva para conhecer suas crianças.

O sorriso de Jeongguk sumiu por um momento. Aparentemente, o mais velho nunca se cansava de surpreendê-lo. Ele concordou com a cabeça, o sorriso já visível novamente.

— Você realmente quer conhecê-las, não? — perguntou apenas para implicar.

Taehyung, porém, fez questão de responder e espantá-lo mais uma vez.

— Você disse que elas não vão fugir de mim — ele sussurrou praticamente inaudível se não fosse pelo silêncio extremo em que a casa se encontrava.

— Não falei da última vez que eu te levaria?

— Quero que seja o mais breve possível — retrucou firme.

A mão que estava recostada na coxa de Taehyung pressionou o local de forma reconfortante. Jeongguk sorriu para o mais velho e se levantou em direção à cozinha. Seu corpo estava imerso em uma sensação reconfortante. Seu domingo já estava saindo melhor do que o planejado. Procurou no freezer da geladeira por compressas de gelo e encontrou apenas duas. Pegou-as e levou de volta para o castanho.

— Vou colocar isso aqui na sua perna por cerca de vinte minutos, tudo bem?

Taehyung assentiu com a cabeça, observando cada movimento do mais novo. Jeongguk se aproximou e passou cada um dos braços em volta da cintura do outro, a fim de puxá-lo mais para cima em uma posição melhor. A respiração do mais velho se acelerou pela ação inesperada. As lufadas de ar atingiam o pescoço do Jeon, que se repreendeu mentalmente por não ter avisado o que faria. Ele ergueu com cuidado o corpo abaixo de si e, assim que julgou estar bom, afastou-se. Posicionou as compressas uma em cada coxa.

— Ah, Jeongguk! Por que isso está tão gelado? O tempo está frio hoje — choramingou.

— Antes você não reclamava.

— Antes, eu precisava que você cooperasse, agora não preciso mais — o Kim respondeu.

— Se continuar reclamando, vai ficar meia hora — o moreno forjou um tom bravo. A expressão do mais velho suavizou no mesmo instante, tornando-se quase piedosa.

— Da outra vez, eu tive direito a uma massagem, Guk — fez manha.

Jeongguk retesou com o apelido. Ninguém costumava chamá-lo dessa forma, até porque ele nunca foi muito fã de nomes carinhosos. Resolveu, porém, entrar no jogo e responder no mesmo tom.

— São só vinte minutinhos, Tae.

Taehyung bufou, mas não resmungou mais. Jeongguk ligou a televisão para entreter o mais velho e foi em direção à sua mochila. Retirou seu notebook e um enorme livro da faculdade. Apoiou ambos sobre a mesa de centro e sentou-se no chão.

— O que você vai fazer? — o castanho curioso perguntou.

— Trabalho da faculdade. Se importa? — questionou receoso. Deveria estar fazendo companhia ao outro e não realizando tarefas exigidas por seus professores.

— Não. Pretendia assistir a esse dorama, de qualquer jeito.

Jeongguk ficou imerso no que estava fazendo. Uma de suas professoras passara uma pesquisa sobre um caso, onde ele precisava indicar quais procedimentos deveriam ser utilizados e apontar quais ossos e músculos eram afetados. Ele já tinha feito a maior parte, só precisava concluir tudo para entregar no dia seguinte. Como bom perfeccionista, conferiu cada item apenas para ter certeza das respostas. Pensou no trabalho do senhor Han. Estava começando a ter ideia do que fazer. Precisava ser algo excepcional e ele não pretendia decepcionar.

— Jeongguuuuk — a voz manhosa de Taehyung distraiu-lhe de seus pensamentos. — Já deu o tempo, não? Eu estou congelando.

Ele ficou de pé rapidamente para ajudar o mais velho. Removeu as compressas de gelo e repetiu inúmeros pedidos de desculpa. Sentiu-se um idiota por se esquecer de monitorar o tempo. Que tipo de fisioterapeuta deixa seu paciente congelando porque esqueceu que deveria tomar conta da hora?

— Eu realmente sinto muito, Tae. Quer um casaco?

— Está tudo bem. Eu deveria ter falado antes. Fiquei muito entretido assistindo ao dorama.

Jeongguk deixou as compressas de lado e se aproximou do mais velho. Sem querer repetir a cena de mais cedo, pôs-se a explicar o que faria.

— Eu vou te deitar no sofá, ok? Preciso que esteja o mais relaxado possível.

Taehyung assentiu e o mais novo se aproximou. Passou uma das mãos por baixo dos joelhos, erguendo as pernas que antes estavam no apoio de pés. A outra foi para a base da coluna, a fim de facilitar o movimento. Ele ergueu o corpo do sofá minimamente e o girou para que ficasse deitado. O castanho mantinha os olhos atentos a tudo.

— Agora vou fazer uma massagem para soltar seus músculos, tudo bem? — Jeongguk ergueu as pernas do mais velho do sofá e sentou no local onde elas estavam. Em seguida, depositou as mesmas sobre seu colo. — Dessa forma, elas vão ficar levemente flexionadas. Não é para você sentir dor, então, se estiver um incômodo muito grande, me avise.

O Kim concordou com a cabeça. Jeongguk iniciou pequenos apertos na região da coxa. As pontas dos dedos exploravam de forma calma o local. Conseguia sentir os músculos tensos sob seus dígitos. O mais velho havia fechado os olhos para relaxar mais. A fricção da calça de moletom com sua pele gelada por causa do gelo causava uma sensação agradável. Os movimentos mudaram para formato de círculo. O Jeon pressionou com mais força.

Depois de alguns minutos, suas mãos seguiram para a parte interna da coxa. Ele precisava ter certeza que todos os músculos relaxariam antes de introduzir a próxima parte do tratamento. Conseguia sentir o corpo do castanho se soltando. Ele parecia estar aproveitando o momento, o que só contribuiria para bons resultados.

Quando Jeongguk cessou os movimentos, houve um ruído de desaprovação.

— Estava bom, é? — perguntou com um tom brincalhão.

— Sim — Taehyung murmurou. — Acho que mereço mais por ter ficado tempo extra com o gelo.

— Nada disso. Você agora vai ficar por quinze minutos com as pernas um pouco mais flexionadas. Por hoje, é só. Durante a semana vamos aumentar a intensidade dos estímulos.

O fisioterapeuta se levantou e colocou um aglomerado de almofadas embaixo das penas do castanho de forma que seu joelho fosse forçado a dobrar. Ele fez uma expressão de desconforto, mas não vociferou nenhum resmungo. Jeongguk sorriu contente. Dessa vez prestando atenção no tempo, foi à cozinha guardar as compressas. Em seguida, dirigiu-se ao andar superior para colocar a escova de dente no lugar. Aproveitou para ir até o quarto do mais velho e já deixar tudo pronto para quando subissem. Notou que já estava quase anoitecendo. O tempo passou mais rápido do que o esperado. Desceu as escadas quando os quinze minutos se passaram.

— Prontinho!

Ergueu as pernas do mais velho, retirou as almofadas e esticou-as de forma lenta. O rosto dele se contorceu novamente, pela mudança brusca de posição. Em seguida, sua expressão relaxou pelo alívio de não realizar nenhum esforço.

— Podemos comer sorvete enquanto assistimos a mais alguns episódios daquele anime. O que acha? — Taehyung sugeriu imediatamente.

Era impossível negar um pedido tão simples. Carregou o mais velho no colo, segurando-o firmemente já que ele não tinha como usar os braços para se apoiar, até o andar superior. Deitou-o na cama com cuidado e desceu para pegar o pote de sorvete que sua mãe comprara. Pegou apenas uma colher. Não se importava mais, já tinham dividido o almoço de qualquer jeito.

Devoraram o pote enquanto assistiam às cenas, animados. Quando o ambiente ficou em silêncio por muito tempo, Jeongguk notou que o castanho havia cedido ao sono. Ele continuou assistindo por mais alguns minutos até sentir-se sonolento. Estava perdendo a batalha contra o cansaço, apesar da posição desconfortável na poltrona, quando ouviu um chamado baixo.

— Jeongguk?

Abriu os olhos no mesmo instante. Taehyung tinha um olhar receoso, mas fitava-o intensamente.

— Sim?

— Eu preciso fazer xixi — sussurrou.

Suas bochechas estavam coradas. Ele parecia desconfortável com o pedido. O mais novo tinha quase certeza de que ele segurara o máximo que pôde para evitar pedir. Jeongguk sabia que os pacientes não se sentiam bem nessa situação. Tentou agir da forma mais natural possível, como se sempre ajudasse as pessoas a irem ao banheiro.

— Claro. Só preciso que você me instrua no que quer que eu faça.

— Tem um banheiro adaptado para mim no corredor. Só preciso que você me leve até lá e me ajude a tirar as calças.

Jeongguk ficou de pé rapidamente. Posicionou uma das mãos nas costas e a outra por baixo do joelho, como sempre, e levantou o corpo do mais velho. Caminhou com ele até o corredor de forma lenta. Estava cansado e Taehyung não era leve como uma criança. Já era possível notar a significativa diferença de peso desde a primeira vez que o levantou. Isso era bom. Demonstrava que o castanho estava se alimentando melhor.

No banheiro, havia uma espécie de maca, no estilo de um trocador para adultos. O Kim orientou o mais novo a colocá-lo ali para tirar sua roupa. Ele foi deitado sobre o aparato com cuidado. Jeongguk levou a mão ao cós da calça de moletom cinza do mais velho e abaixou-a. Repetiu o mesmo ato com a cueca. O castanho estava de olhos fechados e as bochechas estavam coradas. O fisioterapeuta agradeceu. Era mais fácil sem aquele olhar instigante sobre si.

— Isso é tão vergonhoso — Taehyung murmurou claramente nervoso.

Jeongguk o ergueu no colo, com cuidado, e levou o menino em direção ao vaso sanitário adaptado. Ali, o mais velho podia ficar recostado com as pernas esticadas, sem sentir dor.

— Poderia ser pior. Eu poderia ser uma menina — o moreno brincou.

Não houve resposta. O Kim apenas permaneceu com os olhos fechados. Quando Taehyung indicou ter terminado, o Jeongguk o ergueu para o trocador adaptado novamente. Ali havia lencinhos umedecidos e, por experiência com as crianças, ele sabia que deveria usá-los. Pegou alguns e passou na glande do mais velho para evitar assaduras. O castanho mordia os lábios ferozmente e o mais novo apenas fez tudo o mais rápido possível para acabar logo com o constrangimento. Conseguia imaginar quão desconfortável o outro se sentia.

Logo, Taehyung já estava vestido novamente e sendo levado de volta para a cama. Jeongguk o deitou calmamente, da forma mais aconchegante possível. Pegou uma das cobertas emboladas no pé do colchão e cobriu o mais velho.

— Boa noite, Tae — murmurou enquanto se sentava na poltrona.

— Boa noite — ouviu de volta.

Jeongguk fechou os olhos involuntariamente. Precisava dormir para descansar. O dia fora cansativo. Tentou lutar com o sono porque sabia que, em breve, o senhor e a senhora Kim estariam de volta e ele teria que voltar para casa. Ao fechar os olhos, uma imagem de Taehyung sorridente invadiu-lhe a mente. Preferiu deixar de lado as memórias do momento constrangedor de agora há pouco. O dia valera à pena. Ele tinha vivenciado várias experiências novas e inesperadas, além de ajudar os outros. Sentiu uma sensação acalentadora tomar conta de si, juntamente com o sono.

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