Percy Jackson
A luz branca diminuiu e eu me vi em um enorme salão, com onze enormes e poderosas figuras. Eu estava ao lado de Annabeth e Grover, que pareciam tão confusos quanto eu. Dioniso estava no centro sentado em uma cadeira, acorrentado, e Ariadne estava em pé ao seu lado.
O salão era bem maior que o da casa de Dioniso, era igualmente bonito com grandes colunas de mármore e com desenhos de batalhas no teto. Ao redor doze cadeiras formavam um semicírculo, no meio do lugar tinha uma fogueira, Hestia estava do lado da mesma e me olhava risonha, o que provavelmente era o que me mantinha calmo, pois pela primeira vez eu estava no mesmo ambiente que Poseidon.
Sua semelhança comigo era impressionante, ele tinha cabelos negros e rebeldes, usava uma camisa havaiana com uma bermuda cáqui e uma sandália. Ele me olhava curioso e... feliz? Talvez. Eu tentava me controlar pensando em coisas que me deixavam feliz, como quando minha mãe criou a tradição de comidas azuis, isso sempre me fazia sorrir e dessa vez não foi diferente. Meu pai aparentemente achou que sorri para ele, pois devolveu o sorriso. Me obriguei a me focar no que estava acontecendo, antes que tivesse um ataque nervoso.
- Mas o que é isso? - Perguntou o deus do vinho tentando se soltar. Todos os deuses o olhavam com impaciência e decepcionados. - Que pegadinha idiota é essa?
- Pegadinha? - Repetiu Zeus. Este estava furioso e sua voz grave ecoou por todo o salão. Senti Grover se encolher um pouco. Annabeth estava com o mesmo olhar dos deuses e não tirava seus olhos do deus do vinho. Devo admitir que esperava um velho com barba longa como no filme fúria de titãs, mas ele parecia um executivo. Com um terno risca giz cinza, era branco de cabelos negros bem arrumados, tinha olhos azuis elétricos e tinha um rosto bonito, porém muito sério.
- Só pode ser isso. - Dioniso falou. Estava alterado, emanava raiva e continuava tentando se soltar.
- Não se faça de desentendido. - Falou Atena ríspida. Ela era uma versão mais velha e maior que Annabeth, tirando seu cabelo, que era preto e suas roupas, que pareciam ser de uma princesa grega, enquanto Annabeth se vestia de forma casual.
- Mas o que... - Dioniso começou. Mas foi interrompido por Zeus.
- Basta. - Falou Zeus, fazendo um gesto com a mão, e surgiu uma mordaça na boca do deus do vinho. - Você está sendo acusado de traição contra o Olimpo. - Dioniso se contorceu tentando sair, mas foi em vão. - Iremos ouvir as testemunhas e no fim lhe darei o veredicto.
- Ariadne, por favor. - Chamou Hera, quase sorrindo, ela parecia estar feliz com aquela situação, mas era notório seu esforço para não demonstrar. Ela tinha cabelos castanhos e olhos da mesma cor, pele branca e um olhar amargurado, trajava um vestido branco longo com abertura na perna. - Conte-me sobre os últimos dias.
Ariadne começou a falar, ela contou que alguns dias atrás um ciclope apareceu em sua casa a procura de Dioniso, ela obviamente tentou matá-lo, mas foi impedida pelo seu marido que levou o ciclope para dentro de casa. Ela foi atrás e ouviu a conversa toda, ele parecia ter dado um relatório da situação do acampamento, quantos semideuses haviam, de quem eram filhos, os mais poderosos, entre várias outras coisas. Dioniso a olhava incrédulo e os deuses o olhavam com ódio.
Ariadne contou que depois disso eles se despediram e o ciclope garantiu que a parte dele estava guardada. Infelizmente ela só ouviu quando eles já estavam bem perto e quando pensou em se esconder a porta já estava aberta. Ela tentou se teletransportar para o Olimpo, porém Dioniso a impediu, a segurando e trancando ela no quarto.
Ele pediu proteção ao mestre dele e em pouco tempo um esquadrão de monstros entrou lá. Nessa parte ela já chorava, falou que passou dias naquela situação só podendo se levantar para fazer as necessidades básicas. Dioniso tentou convencê-la de todas as maneiras possíveis a ficar do lado dele, incluindo uma breve sessão de tortura, que foi interrompida por um de seus funcionários. Ele falou que continuaria quando voltasse, se despediu dela e após algumas horas Annabeth e Grover apareceram para salvá-la.
- É o suficiente. - Zeus falou. Ele estava vermelho e eu suspeitei que estava prestes a explodir. Literalmente. Ele desviou o olhar para nós, parando um pouco em mim, dessa vez eu não gostei nem um pouco dessa atenção a mais, pois seu olhar era assassino. Depois se voltou para Annabeth e vi um lampejo de orgulho no seu olhar. - Annabeth, poderia fazer um relatório de sua missão?
- Sim, Mi lord. - Ela falou. Sua voz estava neutra, mas seu olhar mostrava que ela estava em um misto de emoções. Ela fez um breve relato, incluindo a conversa que ouvimos entre Katy e Aria no corredor.
- Obrigado, querida. - Pela primeira vez ouvi a voz de Poseidon, vi em Atena o olhar com ódio. - Acho que com todas essas provas não tem como duvidar que Dioniso é um traidor, então só nos resta decidir sua sentença.
- Esperem! - Pediu Hestia, ganhando a atenção de todos os presentes. - Acho que deveríamos ouvir o que ele tem a dizer.
- Eu concordo com Hestia. - Se pronunciou Hefesto, um cara grande e barbudo. Diferente do que diziam ele não era feio, apenas era normal. Nenhuma beleza divina como o resto dos Olimpianos, apenas um cara comum, poderia ser confundido com qualquer operário, já que estava com um macacão azul e estava um pouco sujo de graxa.
- Todos concordam? - A maioria dos deuses assentiram, então Zeus tirou a mordaça, do mesmo jeito que tinha colocado. - O que você tem a dizer em sua defesa?
- Isso é loucura. - Disse Dioniso, respondendo ao pai, então olhou para Ariadne com um olhar magoado. Depois olhou para Apolo e Hermes. - Vocês escutaram eles, digam que isso é mentira.
- Eles não mentiram. - Disse Hermes. Ele era magro, mas musculoso, parecia ter um corpo de um corredor. Seu caduceu estava em sua mão, as cobras estavam vivas e olhavam para Dioniso de maneira desaprovadora.
- Isso é impossível. - O deus do vinho falou incrédulo. Com todos contra eles, ele não tinha muita chance de sair dali absolvido.
- Então nos responda, onde você passou esses últimos dias? - Perguntou Ártemis, que parecia uma pré-adolescente de doze anos. Parecia se controlar ao máximo para não lançar uma flecha em direção do meio irmão.
- Eu... Não lembro. - Dioniso falou, fazendo uma careta.
- Mas que conveniente. - Falou Deméter, de uma forma irônica. Seus olhos verdes escuros desviaram de Dioniso para Zeus. - Irmão, acho que já temos provas demais.
- Muito bem. - Zeus deu um longo suspiro. - Quem é a favor de condenar Dioniso ao Tártaro para que pague por sua traição levante a mão. - E todos levantaram as mãos, para o desespero de Dioniso.
- Vocês não podem fazer isso! - Esbravejou ele. - Eu sou um de vocês!
- Não é mais. - Poseidon falou com raiva. Com um estalar de dedos o trono de Dioniso foi destruído, o que o fez dar um grito de dor.
- Vocês vão se arrepender por isso. - Ele falou com ódio.
- Ainda ousa nos ameaçar? - Hera elevou o tom da voz. - Acabe logo com isso, Zeus. - O rei dos deuses levantou a mão e um raio apareceu nela.
- Esperem! - Falei alto, para que todos ouvissem. Ganhei a atenção de todos e Hera me olhou com ódio.
- O que foi agora, garoto? - Perguntou ela. Tenho certeza que ela queria me reduzir a pó pela intromissão.
- Vocês não querem saber para quem ele trabalha? - Questionei como se aquilo fosse óbvio. Aparentemente os Olimpianos eram mais burros do que eu pensei.
- O garoto tem razão. Devemos aproveitar para conseguir informações sobre a nova ameaça. - Disse Apolo. Esse parecia um surfista com a pele bronzeada, tinha cabelos loiros e olhos azuis claros como o céu no fim de tarde.
- Você ouviu a pergunta. - Disse Zeus abaixando a mão, mas não soltou o raio.
- Eu não trabalho para ninguém. - Respondeu ele entredentes.
- Mentir agora não vai te ajudar. - Advertiu Atena impassível.
- Eu não estou mentindo. - Ele rebateu e deu um olhar a Apolo, que deu de ombros. Aparentemente ele não podia ler um Olimpiano.
- Muito bem. - Disse Zeus, sua fala era pausada como se desse um aviso a cada sílaba "não me desobedeça". - Hermes, traga Hades aqui. - Com uma explosão de luz Hermes sumiu, aparecendo poucos segundos depois com um Hades furioso.
- O que você quer, Zeus? - Perguntou furioso. Ele tinha cabelos negros, como os dos irmãos, mas era pálido e menos musculoso que os outros dois. Usava uma roupa preta, se eu esbarrasse com ele acharia que ele estava indo para um show de rock.
- Acalme-se, irmão. - Disse Zeus. O que achei hipócrita, considerando que ele mesmo estava furioso. - Precisamos que você faça Dioniso falar. - Um olhar de entendimento passou pelo rosto do deus, e ai ele finalmente notou que tinha um deus preso em uma cadeira ali.
- Tudo bem. Mas farei isso no meu mundo. - Ele disse, ficando ereto e procurando quem o iria contradizer, mas não houveram objeções. Então ele apenas acenou com a mão e Dioniso desapareceu em um vórtice negro.
- Lord Zeus, peço permissão para sair, já que tudo está resolvido. - Falou Ariadne e Zeus assentiu. Ela passou por nós, agradecendo, e saiu pela porta que ficava atrás de nós. Hades pareceu notar a minha presença ali, mas não esboçou nenhuma reação.
- Acho que agora devemos decidir quem irá assumir o lugar de Dioniso. - Se pronunciou Afrodite, que parecia alheia a tudo lendo uma revista de moda. Vi que a maioria dos deuses se ajeitou na cadeira demonstrado incômodo.
- Quais as opções? - Perguntou Zeus se encostando no trono, a fúria tinha ido embora junto com Dioniso, mas ainda estava tenso.
- Poderia ser minha filha Roda. - Se pronunciou Poseidon, como se não quisesse nada. - Ela foi muito importante nas duas últimas guerras, vocês não podem negar. - Os deuses pareceram ponderar.
- Podemos devolver o trono de Hestia. - Ponderou Atena e alguns dos deuses pareceram concordar. Hestia estava neutra, talvez não quisesse interferir na escolha. Mais alguns segundos se passaram. Era uma grande decisão transformar alguém em um Olimpiano, pois esse deus iria ter poder, já que seria mais cultuado que os deuses menores.
- Por que não Hades? - Questionei, ganhando a atenção de todos novamente, inclusive de Afrodite, que me avaliou de cima a baixo. - Ele e os filhos dele foram de suma importância para que vocês vencessem as últimas guerras, e não só elas, afinal ele ajudou vocês a destronar os titãs e pelo o que sei nunca se colocou contra o Olimpo. - Alguns deuses murmuram em concordância, incluindo Zeus, o que me deu esperanças.
- Concordo com Percy. - Falou meu pai, o que me surpreendeu. - Nosso irmão já teve a chance de nos trair e não o fez, além disso ele merece uma chance por ter nos ajudado. - Mais murmúrios de concordância.
- Então podemos votar. -Zeus tomou a palavra. - Quem é a favor de Hades se tornar um Olimpiano levante a mão. - Ele, Poseidon, Hera, Ártemis, Apolo, Hermes, Hefesto, Ares e Afrodite levantaram a mão. - Muito bem, está decidido. Irmão, venha aqui.
Hades foi para frente de Zeus, sob o olhar de reprovação de Atena e de irritação de Deméter. Os outros deuses estavam neutros, talvez pensando em outras coisas sobre seus próprios domínios.
- Eu, Zeus, rei dos deuses, declaro que a partir de hoje você, Hades, deus do submundo e das riquezas, será um membro do panteão. - Assim que ele terminou de falar o chão tremeu e no lugar do destruído trono de Dioniso surgiu um trono negro, decorado com algumas pedras preciosas. Hades, que antes estava em seu tamanho humano, cresceu até ficar do tamanho dos outros deuses e se sentou no trono.
- Obrigado irmãos. - Ele disse com um quase sorriso. - Não vão se arrepender.
- Eu espero que não. - Falou Atena o olhando como se esperasse que a qualquer momento Hades fosse atacá-los.
- Acho que agora podemos encerrar a reunião. - Disse Zeus, olhando para todos, esperando alguma objeção. - Acho que devemos fazer uma festa amanhã para comemorar o novo Olimpiano. - Todos menos Atena e Deméter concordaram. - Então estamos acertados. Hades, espero você amanhã com informações. Sem mais delongas, reunião encerrada.
Ele sumiu em uma luz branca, seguido pela maioria dos Olimpianos, só restando Poseidon e Atena que reduziram de tamanho até ficar do tamanho normal. Atena veio até Annabeth e pediu que a acompanhasse, essa nos lançou um olhar e saiu com a mãe. Grover falou que esperaria por nós lá fora, me deixando só com Poseidon.
- Olá, filho. - Ele sorriu se aproximando. Desejei que Hestia não tivesse saído, apesar de achar que ela estava com raiva de mim por ter arruinado a chance dela de se tornar uma olimpiana.
- Mi lorde. - Falei, sentindo todo meu corpo ficar tenso. Lembrei do plano, eu deveria me tornar seu filho favorito, ser alguém em quem ele confiava, mas como poderia se mal aguentava ficar no mesmo ambiente sozinho com ele?
- Não precisa dessa formalidade. - Ele disse, ficando a um metro de mim. Ele tinha um sorriso fraco e um olhar culpado. - Você pode me chamar de pai.
- Ao meu ver você não merece esse título. - Rebati duro. Todos os meus pensamentos estavam nublados pelo ódio. Eu só queria xingar Poseidon de todos os palavrões que aprendi na minha curta existência. Ele olhou para baixo parecendo culpado.
- Você tem razão, eu fiquei em falta com você e sua mãe. - Ele disse. - Mas eram tempos complicados, tinha a ameaça de Cronos e o perigo da profecia se cumprir...
- Essa é a sua melhor desculpa? - Perguntei em uma mistura de incredulidade e raiva. - Pelo o que sei a guerra acabou há anos e você nem mandou um mísero cartão de aniversário. Mas o pior foi saber que você poderia ter evitado o Gabe, você poderia ter evitado eu me tornar o que eu sou.
- E o que você é? - Ele me olhou curioso. Fechei os olhos, minha cabeça começava a latejar, coisa que era comum nos meus antigos acessos de raiva.
- Olha... - Suspirei, voltando a encara-lo. - Não importa. Você sempre agiu como se eu não existisse, então apenas continue. - Me virei para ir embora, deixando um deus chocado para trás. Saí pelo Olimpo mal prestando atenção, apenas descendo o monte. Quando dei por mim estava em um jardim, me sentei em um banco respirando fundo. Contei até dez tentando me acalmar. Quando terminei senti uma presença ao meu lado.
- Você conseguiu. - Disse uma voz masculina potente. - Eu realmente não acreditava que conseguiria quando fiz o meu pedido.
- Bom saber que sua fé em mim é nula. - Falei sem olhá-lo. Ouvi sua risada, o que acredito ser algo raro considerando sua personalidade.
- Era nula. - Corrigiu ele. O olhei, seus olhos negros estavam divertidos o que era algo assustador de ver.
- Obrigado pelo quase elogio. - Falei com ironia. Ele riu novamente.
- Não há de quê. - Falou, dando de ombros. O encarei pensando se realmente foi uma boa ideia trazê-lo para o nosso lado. Que ele odiava os irmãos era óbvio, mas será que os mataria se fosse necessário? - Qual o próximo passo?
- Interrogar Dioniso, é claro. - Respondi, encarando o olhar curioso do deus.
- Mas ele não sabe de nada. - Rebateu confuso.
- Não sobre nós, mas sabe sobre os deuses. - Expliquei devagar. Ele assentiu devagar, compreendendo uma parte do plano. - Nemeses e Eris o ajudarão com isso e elas lhe dirão o que você vai falar para Zeus amanhã.
- Certo. - Ele disse pensativo. Me levantei para voltar a descer o monte. Mas antes virei para Hades.
- Cumprimos com nossa palavra, espero que honre a sua. - Falei sério. Do mesmo jeito que o botamos no panteão podemos tirá-lo e eu não terei piedade. Hades apenas balançou a cabeça compreendendo o recado. Então voltei a descer o monte para encontrar Grover.