O Legado De Orfeu

By BladeRunner72

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O homem sempre esteve almejando ter a sua riqueza histórica, através de seus feitos, de suas guerras vencidas... More

• Dedicatória •
• Aesthetics •
Prólogo
A batalha no mar de Egeu
Entre o mar, a terra e o céu

Em Frenesi

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By BladeRunner72

"Pôr do Sol com Vista para um Vale Montanhoso" (1645): Acima se encontra uma pintura de Claude Lorrain, um mestre do paisagismo barroco, frequentemente incluía paisagens acidentadas em suas obras. Esta pintura apresenta uma cena com um vale profundo e montanhas rochosas.

" Ninguém entra no mesmo rio duas vezes, pois quando isso acontece, não é o mesmo rio e ele não é a mesma pessoa. " - Heráclito

Os dias vagaram pelo tempo, ele que é o incontrolável, destemido e decidido. Àquele que só obedece a sua própria lei por natureza, onde nenhum ser sequer irá se sobressair perante aos seus mandamentos, não há como desviar, como subverter seus dogmas, não há forma para dobrar sua métrica e muito menos alongar a mesma.

O tempo é como um martelo que não há necessidade de uma mão, aquele que pune todo e qualquer ser existente neste plano que vós estamos, é o ressignificar da justiça quando somente ele mesmo justifica as consequências de uma causa, movimento este que só discorre nas entrelinhas da natureza do próprio, do incontrolável, do destemido e do decidido.

Dê ao tempo o que deve-se ao tempo, é a cura para a lágrima que anseia livrar-se de seu tristonho olhar, é o desejado auto perdão para a culpa de uma errônea causa cometida, é o cicatrizar de uma ferida, o desabrochar das flores e o quebrar das correntes. Ele é a liberdade da alma e a prisão do corpo, o tempo, aquele que destrói enquanto carne e osso ao passo em que constrói a alma ante o definhar.

E ele inevitavelmente decorreu.

Sete estações da primavera transpassaram seus olhares, iniciada logo após o perecer dos corpos em mar aberto, o renascer imperava sobre o escuro luto que havia se instalado após a guerra. Ao longo dos dias se venerava a deusa Deméter, fortemente associada ao brilho do sol que aflorava as mais cintilantes cores das plantações e dos jardins que preenchiam as lacunas do espaço.

Outras setes procederam a primavera, os dias em que o sol reinava como em nenhuma outra estação, o verão pintava os dias olímpicos que convidavam a todos para as competições. Carregando o brilho do sol como um símbolo, Um deus tomava o protagonismo dos outros, aquele que simboliza a estrela da manhã, o deus sol, Apolo. Seu nome inaugurava o período de colheita, seus dias eram sinônimos de festejos, celebrações e alegrias.

Chegando ao outono, onde o brilho já não reluzia como em dias passados, onde as almas pareciam vagar pelas entrelinhas dos dias e das noites. As celebrações que efervesciam pelas manhãs e tardes, desta vez somente se desabrochavam pela noite, aos moldes do deus Dionísio, o vinho domava seus corpos, convidando-os para uma noturna dança que acabara em grandes orgias, seu nome era sinônimo na busca pelo divino êxtase coletivo.

Até que as almas, que antes se instalavam nas entrelinhas, desta vez tomavam o protagonismo, o inverno pairava sobre seus corpos arrepiados, onde as noites pareciam imortais e os dias que curtos não fazia de seus olhos um mar cintilante à luz do sol. O luto voltava a tingir os lares daqueles que recordavam os corações afundados em Egeu, enquanto Hades, o deus do submundo, compartilhava para com o mesmo o frio e seco ar da morte.

E cá estamos, sete anos passados desde a fatídica madrugada. Ainda que a derrota tivesse marcado aquela data, misteriosamente nada mais aconteceu, e o silêncio do inimigo se instaurava sobre os corações que desejavam renegar a apreensividade que os deveriam acobertar.

Será este o maior erro desta nação? Se faz certo aceitar o silêncio do inimigo?

- Este silêncio... este olhar... Já entendi o motivo deste brilho em seus olhos, o que você está querendo? - Indagava a mulher de cabelo vermelho.

Ainda que sabendo com total certeza do que se tratava, a mulher costumeiramente gostava de dar o devido espaço aos pedidos que viera a ser feito.

- Como posso lhe pedir... É.... Posso encontrar meus amigos? - Indagava o pequeno garoto com seus olhos brilhantes e um explícito semblante melancólico.

- Não! - Respondia já interrompendo o pequenino.

Apesar de que em alguns raros momentos, seus anseios ultrapassava o limite do senso.

- Como não? - Implorava. - Só vamos até os campos de trigo logo após o grande portão. - Dobrava seus joelhos enquanto levantava suas duas mãos simbolizando sua total entrega ao pedido de seu anseio.

- Ainda pergunta meu pequenino? - Sorria sutilmente. - Olhe para si, não tem idade nem para entrar na academia, não posso deixar com que você atravesse estes muros, mesmo que seja por alguns passos amais. - Justificava enquanto levava uma de suas mãos até o liso cabelo do garotinho.

O ajoelhado não contente com a situação, retirava seu olhar da mulher e levava para os lados, quando de repente os mesmos encontravam uma garota.

- E se ela vier comigo? - Indagava sorrateiramente apontado o seu indicador em direção a garota de cabelos vermelhos.

- Definitivamente não! - Rude, a garota respondeu levando seus finos dedos em direção aos seus cabelos.

- Eu me pergunto, como pode existir alguém tão desanimada como você? Desde o dia em que ganhei senso do espaço, nunca a vi contente com algo ou por algo. - Criticou.

A ruiva virou-se, dando dois passos para se lançar afora dali ela suspirou antes de falar.

- Eu não irei discutir com um pestinha! - Retrucou ao suspirar um quente afago.

"É só uma caminhada, não é nada demais, puna a garotinha de língua quente e deixe os olhos do desbravador se arquearem ao avante desconhecido, jamais impeça o brio de um pequeno lampejo na pouca idade"

- VOLTE AQUI! - Ordenou! - Vá com o seu irmão, é só uma caminhada... - repetindo as mesmas palavras que ela jurava ter escutado adentro de sua mente.

A garotinha ganhava uma expressão de surpresa enquanto seu irmão explicitava o maior e mais largo dos sorrisos possíveis.

- Mas...

- Não fale mais nada! - interrompeu. - Só me obedeça!

A garotinha seguiu afora do pequeno e humilde lar que a abrigava, sua boca semiaberta acompanhada um olhar arregalado buscava alguma explicação para o ocorrido, alguma forma para descrever de forma racional.

O pequenino por sua vez quase que ousava gargalhar ao rosto da garota, juntando um pouco de água em suas mãos, o mesmo jogava em seu rosto enquanto o pouco que restava entre seus finos dedos eram arremessados em direção a ela, na tentativa imatura de a provocar.

- Você diz que sou desanimada, eu pergunto, onde há motivos para se ter ânimo quando é você que eu tenho como irmão mais novo? - A garota irritada dizia pausadamente, dando ênfase total em cada sílaba que se lançava afora de sua boca.

- Eu entendo a sua raiva... - Dizia o garotinho, ainda que com tão pouca idade, seus diálogos apresentavam uma certa seriedade em alguns raros momentos.

- O quer dizer com isso?

- Você me odeia, guarda uma raiva por eu ter sido o motivo da morte da nossa mãe, você culpa a mim por isso, e eu a entendo. - Respondia alterando o seu semblante m, do mais puro ar de felicidade para uma nefasta tristeza.

- Não é isso...

- Está tudo bem, vamos! Precisamos encontrar um pessoal. - O garoto arcava sua mão esquerda até a outra presença no ambiente, a convidando para seguir seus passos.

- Irmãozinho idiota! - Ela o correspondia, levando sua mão direita e entrelaçando seus dedos enquanto tornava a caminhar lentos passos pelas ruas da cidadela.

Enquanto seus corações palpitantes reverberam suas batidas junto de seus passos na superfície, seus dentes brilhavam ao encontro da luz do sol, encontrando mercadores pela cidade, os dois pareciam conhecer a todos, inquietamente seus braços dançavam para lá e para cá ao cantarem o aceno ao contingente mercantil instalado no centro de Ática, ao olhos dos mercadores, seria estes dois, potenciais políticos em um futuro distante.

- Acabou para vocês. - Uma voz infantil domou a atenção o garoto.

- Irmã, tenha cuidado... - Alertou.

Duas cordas cruzaram-se em frente aos seus olhos que percorreram pela mesma até o mais alto ponto da cidade, assim encontrando dois corpos que voavam em suas respectivas direções.

- Estes são seus amigos, meu irmão? - A garota de cabelos vermelhos indagava.

Os dois corpos deslizavam selvagemente pela corda, faíscas se lançavam ao sol enquanto um grito se espalhou pelo ambiente.

- DUPLA PUNIÇÃO DIVINA!

- Sim minha irmã, estes são os meus amigos - Gargalhou.

As duas sombras que estavam para se chocar com os seus corpos armaram um soco.

- Você quer mesmo tentar? - perguntou a sua irmã.

- Eu posso? Acho que irei machucar eles.

- Se divirta, minha irmã.

A garota tomava a frente de seu irmão que logo acompanhava o movimento da mesma dando um passo para trás.

- Vocês escolheram um dia ruim para esse tipo de brincadeira! - Disse a menina, enquanto levava seu braço direito para trás, fechando o seu punho com força total preparando-se para um golpe.

Até que seus corpos se chocaram, o brilho do sol por um curto momento havia falhado enquanto seus olhos fechavam-se com tamanha demonstração de embate, na verdade... Com tamanha demonstração de imaturidade

- Ai ai ai, saiam de cima de mim, vocês são pesados demais. - Suplicava a de cabelos vermelhos.

- Droga, acho que quebrei um pedacinho do meu dente. - Disse um dos garotos ao se levantar, notando que em sua mão se prostava um pequenino fragmento.

Orfeu gargalhou ao notar que dois dentes de sua boca haviam se despedaçado.

- Menos mal, eu acho que quebrei a mão! - O outro gemia de dor enquanto também tentava se levantar. - Que situação desastrosa. - Pausou e observou atentamente a garota - Aliás, quem é a invasora? - indagou.

- Como é a história fedelho? Você deseja mesmo que eu quebre a sua outra mão? - Ameaçou.

- Onde ela está? - O garoto interrompeu a futura discussão que viria a ocorrer entre sua irmã e seus amigos.

- Que idiota ainda irá vir? - Perguntou a garota.

- A minha irmãzinha... Lá está ela, escondida atrás daqueles caixotes, aparentemente não gostou da presença desconhecida. - Respondeu o garoto com seus dois dentes quebrados.

- Se um quer perder o braço, o outro já almeja viver sem nenhum dente na boca. - Esbravejou enquanto fechava o seu punho.

- Eu não mentiria.

- Fique calada irmã, vai assustar ela.

O silêncio se instaurou entre as micropartículas de poeira que finalmente se assentavam perfeitamente ao solo.

Foi então que o loiro se desenhou entre o escuro marrom, uma, duas, três mechas puxavam o seu corpo para além do seu simples esconderijo.

- Está tudo bem Sophia, pode vir, ela não morde. - Dizia o garoto, brandamente sua voz a convidava, como um alento, a garotinha entrava em uma confusão, entre o ir e não ir, ela que arduamente queria se jogar para além do marrom.

- Seu irmão mereceu... - Dizia a garota liberando a mão que se prontificava para deferir um golpe.

- Para quem viveu uma vida em total desânimo, hoje você está bem animada minha irmã. - Brincou.

- Cala a boca pivete.

O rosto avermelhado afastava o loiro da atenção do mundo. O brilho amarelo do sol reluzia o azul da maré do seu olhar tímido que se arqueava ao encontro do garoto.

- Acho bom eu falar antes de se apresentarem, minha irmã perdeu a língua ainda quando estava em seus primeiros momentos neste mundo. - Explicava enquanto arremessava ao vento o fragmento de seu dente.

A garota sorriu sutilmente.

- Irmã, por favor, mais respeito, não é possível que...

Desta vez gargalhou.

- Meu sorriso é exatamente pela vontade de apertar aquela criatura fofa que possui um olhar arrebatador contra o meu ser, olha aquela criatura, que coisa divina!

- Estas são habilidades ganhas somente na velhice? - Perguntou o da mão quebrada.

- Se eu fosse você, começaria a correr, seu fedorento.

- Calem a boca, vocês estão assustando a minha irmã.

Lentamente a garotinha sem língua se aproximava do restante, lançando-se para além do amarronzado da madeira frágil que escondia suas finas pernas, desta vez se destacava o azul dos seus olhos que cintilava a luz do sol, como se suas naturezas fossem uma única só, tamanha doçura causou uma certa estranheza na outra garota que notava o olhar de seu irmão, de um pleno admirador, ela que sutilmente o correspondeu com um sorriso desconfiado.

- agora que todos estão unidos, vamos logo, não quero chegar ao anoitecer - Apressava o de braço quebrado.

- Tem certeza que querem continuar com esses machucados? - indagava a mais velha.

- Isso daqui? Já estamos acostumados... - respondia sorrindo.

- Meu irmão, não havia outras amizades um tanto quanto mais normais para se ter? - brincou.

- Que comece a caminhada para o desfiladeiro... - Dizia o garoto de dentes quebrado iniciado a caminhada.

- Espera, não íamos somente até o portão? Eu sabia que estava mentindo para nossa mãe. - Interrompeu a todos enquanto tomava noção do objetivo que os encaminhava.

- Ela nunca irá saber se você fechar a boca.

"FECHE A BOCA!"

A garota então pôs-se a caminhar instantaneamente.

- Queria eu ter uma irmã assim, ela parece ser tão fácil. - Brincou o garoto cuspindo sangue.

- Até mesmo eu queria ter uma assim... - Respondeu o pequeno assustado com a atitude de sua irmã, aos olhos dele, nunca fez parte de sua essência a neutralidade como a praticada naquele momento, certa estranheza o deixava apreensivo, mas que em poucos passos este sentimento se esvaziava de sua cabeça, como o vapor quente em um ar gelado.

Os passos então voaram ao tempo, já um pouco distante estava o cabelo vermelho que parecia não apresentar nenhum sentimento pelo que estava a fazer, seguido do garoto, seu irmão, que voltava a demonstrar apreensividade em seu olhar, pouco a pouco apressando os seus passos na tentativa de alcançá-la.

Logo atrás, timidamente, estava a garotinha sem língua, que por pouco não tropeçava em uma pedra e se depositava ao fervoroso calor da poeira que arqueava os seus pés pequeninos, seu olhar não se encontrava ao alcance do sol e não estava tão distante quanto o vermelho em meio ao laranja, totalmente fixados no semblante confuso daquele que não entendia o atual de forma alguma.

Enquanto atrás, os dois amigos gargalhavam suas próprias piadas enquanto a dor parecia começar a surgir em seus corpos que já estavam a esfriar mesmo que o sol estivesse em seu pleno reinado ao dia.

Quando lá estava o desfiladeiro, surgindo ao horizonte de seus olhares, a garota de cabelos vermelhos se encontrava a poucos passos da queda, onde o garoto ameaçava entrar em disparate, o sentimento de angústia domava seu coração, seus olhos não ousava se mexerem, não arriscavam nem mesmo se desviar do feixe de luz do sol, lá estava eles, fixados no vermelho descontrolado, no caminhar de sua irmã que não apresentava nenhum controle, e em seu cérebro, a cena de uma queda começava a se construir.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? - Gritou.

"Olá garotinho aflito, ou melhor, Orfeu!"

O tempo então parou, e seguiu-se assim por outros instantes.

- NÃO! - Gritou arcando as suas mãos em direção à garota de cabelos vermelhos que lentamente desaparecia de seus olhos para além das rochas.

Seus pés já não obedeciam as ordens de seu cérebro, os olhos almejavam sair para além de seu rosto, os lábios que tremiam o mais gélido ar existente, a poeira se instalava nas microfissuras do seu tecido, enquanto as células paravam de movimentar matéria adentro, que também adjuntas das moléculas, seus movimentos paravam substancialmente.

O sol não arriscava nenhum outro passo para distante da lua, e a mesma não desejava se aproximar mais nenhum centímetro do sol. O dia não percorria e a noite não se aproximava, era ele, o rei que imperava por todo tempo, a estrela da manhã.

Entretanto, nem tudo havia parado, o movimento se repetia, as pernas que antes desabaram ao precipício tornavam a cair novamente, e se seguia até o último fio de cabelo vermelho.

Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove....

Dezenas. Centenas. Milhares. Centena de milhares. Milhões. Bilhões...

- O que você sente? - Uma voz o Indagava após bilhões de instantes

- Vontade... - Respondia, em total catarse.

- O que desejas? Eu realizaria tudo por você.

- Eu desejo sentir dor... Eu não a sinto, eu vejo a minha irmã caindo pela infinita vez e eu não sinto mais nada.

- Você quer saber por quanto tempo está vendo a morte da sua irmã se repetir perante os seus olhos? - Uma doce e sutil voz parecia acariciar o seu cérebro, após uma eternidade em completo silêncio, somente ouvindo o não agonizante que se lançava para além de sua boca ao ver sua irmã partir.

- Eu estou aqui há uma vida? - Perguntava ao responder.

- Os humanos são assustadoramente assombrosos. Em uma régua de tempo se o mesmo estivesse a determinar a lei no exato momento, da primeira vez até aqui teríamos passado por quase quatrocentos séculos, quase quatro mil décadas e por quase quarenta mil anos... - O garoto parecia não se importar com nenhuma palavra proferida pela voz - Orfeu, é hora de voltar, o que tinha de ser feito, fora feito. Mas tudo acabara de começar, de hoje para sempre, ainda temos muito para conversar, saiba que eu não sou sua inimiga, pelo contrário, carrega este belo nome pelo motivo de que o coloquei em você, meu doce Orfeu - Proferia enquanto acariciava o rosto do pequenino.

- ORFEU, CUIDADO!

Um grito ecoou enquanto um corpo se atracava ao seu, o perfume era familiar, a cor do cabelo também era. A mesma poeira que o atacava ao parar do tempo, agora segura o seu corpo enquanto frente aos seus olhos, fios vermelhos tampavam o forte brilho do sol em seu pleno estado de pico.

- Irmã? - Sua voz trêmula assinalava toda a melancolia presente em seu ser, que estranhamente notava que todas as vezes em que viu sua irmã partir, não passara de uma mera miragem, de um momento inexistente, que obviamente não iria acontecer, mas que devera ocorrer de outra forma.

"Agora você sabe o que precisa fazer não é mesmo? pequenino Orfeu, faça de si uma coragem estonteante, para que o mundo lembre de seu nome"

- Eu não queria fazer isso... - Sussurra enquanto sua irmã o ajuda a se levantar da quente poeira que o segurava.

"Você precisa fazer, eu logo estarei esperando por você, não deixarei que continue neste estado deprimente, eu admito, sou a causa da morte do seu ser, mas aqui estou para lhe curar novamente"

O forte vento fazia os fios vermelhos passearem pela face do pequenino, enquanto por um breve momento uma gota de lágrima fora capturada de seus olhos, viajando e vagando até a ponta do cabelo de sua irmã e se lançando ao forte que assoprava o seu corpo.

"Seu lugar nunca foi entre àqueles que te amam"

- Irmã, peço perdão... - Disse, assustando a garota enquanto seu braço o levantava uma pedra, que se depositava acima da cabeça de sua irmã.

- O que está fazendo meu irmão? - Indagava a garota demonstrando estar assustada e logo se desvencilhando de seu irmão ao notar que o mesmo estava prestes a arremessar uma pedra contra sua cabeça

- ORFEU, NÃO! - Gritava um de seus amigos enquanto corria em direção ao mesmo.

- Nos veremos em outra ocasião... Irmã! - As lágrimas se despontavas de seus olhos enquanto o sol alcançava sua total força.

- Não é o Orfeu, você não é meu irmão, como pode mudar tanto em tão pouco tempo? Seu semblante, seus olhos, sua voz, a forma que se comunica... - Dizia assustada, totalmente inebriada, enquanto tentava se afastar, mas o caos imperava sobre suas forças que pareciam ser inúteis ao se debater contra o chão enquanto em todos os seus movimentos havia um deslize.

- Mirtes, avise a mamãe que um dia eu voltarei. Eu também espero que algum dia você possa me atingir com uma pedra, e então estaremos quites, até lá, sobreviva! - Sua mão começou a descer, até que...
Um corpo o atingiu, o som de um gemido ecoou pelo silencioso espaço, era seu amigo o empurrando, tentando intervir o seu golpe, a pedra que estava presente em sua mão direita se soltara, e quase levada pela vento, a mesma caiu acima da areia, mas antes que isso acontecesse, Orfeu se desequilibrava, tropeçando em seu próprio pé, seu corpo logo se aproximou da queda que parecia o convidar gentilmente para uma longa viagem que não teria volta.

"Você enrola demais, eu precisava fazer alguma coisa"

- NÃOOOOO! - Gritava Mirtes ao presenciar o seu amado irmão cair contra o precipício que se postava no horizonte do seu olhar.

- Naquela visão, nunca foi a minha irmã, sempre era eu, em todas as possibilidades, sempre foi eu. - Sussurrou o garoto enquanto fechava os olhos ao sentir o vento bater com total força em seu corpo enquanto a gravidade imperava a sua natureza contra o seu eu.

"Levou quatrocentos séculos para perceber... Você precisa melhorar seus sentidos lógicos"

- Agora que estou aqui entre as nuvens, me diga, quem é você? - Indagava, demonstrando total confiança, mesmo que em outro momento esta situação demonstrasse o seu fim abaixo de seus olhos, o garoto estava calmo.

"Eu estive presente em todos os momentos da sua vida, eu estava ao seu lado no dia em que nasceu, eu fechei os olhos do seu pai quando o mesmo partiu, eu gerei a última contração para que você fosse lançado ao exterior, eu que lhe dei este nome, eu vi todas as brincadeiras com a sua irmã, eu presenciei a primeira vez em que parecia gostar de uma garota, eu estive ao seu lado quando o pensamento de admiração domou as suas pernas ao ver aquela garota de cabelos loiros"

- Então me diga, como eu a devo chamar?

"Mãe, esposa, irmã, amada, vilã, rival, eu posso ser tudo que você desejar, entretanto, antes terá que fazer tudo por mim"

- O que queres de mim?

"Suas indagações melhoraram desde a última vez em que conversamos, se antes perguntava o motivo pelo qual eu queria que você afundasse o crânio da sua irmã, desta vez me pergunta o que realmente quero de você, é um desenvolvimento enorme, eu admito e o elogio"

- Eu sempre esqueço da sua subjetividade, responde a pergunta que quer e quando quer, você parece uma ideia de Cronos, o tempo para quando está falando e nada parece acontecer...

"Você melhorou, mas ainda continua com o mesmo corpo e na mesma idade, nosso tempo está chegando ao fim, continue vivo enquanto lá em baixo estiver, e você terá seu prêmio, enquanto isso, sobreviva"

- Espere, antes diga-me, eu me sinto tão íntimo de você, penso eu que tem meu ser por total em sua mente, me conhece da cabeça aos pés, diria que sabe até dos meus pensamentos, acho que tenho o direito de ao menos saber o seu nome.

"Eu sou Afrodite"

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