Things We Lost In The Fire ──...

By swchors

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Ao encontrar uma antiga e misteriosa espada nórdica, a qual faz com que o pai que nunca conheceu, venha até s... More

𝐂𝐎𝐈𝐒𝐀𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐄𝐌𝐎𝐒 𝐍𝐎 𝐅𝐎𝐆𝐎
𝐆𝐑𝐀𝐏𝐇𝐈𝐂𝐒
━━━━━━ ✦ 𝗔 𝗘𝗦𝗣𝗔𝗗𝗔 𝗗𝗘 𝗩𝗘𝗥𝗔̃𝗢
1. Ninguém escapa dos meus louboutins ninjas-voadores.
2. Levo o mendigato para almoçar.
3. Dou vida à uma espada sinistra
4. Meu acerto de contas com o passado.
5. Meu pai é o próprio Satanás de terno.
6. Eu sempre quis incendiar uma escola.
8. Nada como um jantar viking e um sutiã de metal
9. A má fama dos meus pais, destroem minha popularidade.

7. Espera! Valhala... É um hotel?!

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By swchors




Espera! Valhala... É um hotel?!


PARA MIM, NA TEORIA morrer deveria ser como dormir. Você apenas fechava os olhos e apenas via a escuridão. Alguns diziam que viam uma luz no final de um túnel e caminhavam até ela, outros mencionavam que viam toda sua vida medíocre passar diante de seus olhos antes do último suspiro.

No meu caso nenhuma das opções acima aconteceu.

Eu só via escuridão e um vazio. Nada mais do que isso.

Se isso fosse ficção certamente, eu não estaria morta.

Eu teria salva magicamente no último segundo, milagrosamente salva ou algo teria acontecido para me impedir de morrer, mas não. Eu literalmente morri. Meus pulmões, intestino e fígado foram perfurados e dilacerados internamente. Conclusão, morri por diversas razões que a medicina poderia explicar como: hemorragia interna, infecção generalizada, perda excessiva de sangue, falha do funcionamento dos órgãos vitais e meu preferido: parada cardio-respiratória. Que belo jeito de morrer, hein?

Ah qual é Dora, você não pode ter simplesmente morrido, se não estaria contando a história. Isso seria impossível!

Não é impossível. Eu literalmente morri, mas milagrosamente eu sobrevivi.

Se doeu? Como um inferno. A dor torturante parecia que nunca passava e o sangramento também. Feridas abertas e ardendo como brasas. Você poderia facilmente sentir sua vida indo embora do seu corpo lentamente e isso que realmente era a parte assustadora.

A parte mais estranha é que só depois de morta comecei a ter sonhos estranhos.

Sonhei com dois bebês deitados em uma mesa de pedra com desenhos de runas nórdicas antigas. Era noite e eles estavam em uma espécie de floresta congelada. Os flocos de neve caiam lentamente sob o ar e no chão havia neve e gelo por todo o lado. Os bebês choravam sem parar e berravam bem alto, ao ponto de fazer os tímpanos de qualquer pessoa doer.

Eu vi uma mulher usando uma capa, mas não consegui ver completamente seu rosto, apenas uma fração pequena a qual o capuz da capa não cobria, revelando seus traços femininos. Ela estava diante dos dois bebês e parecia encará-los fixamente. Então com um único movimento ela pegou um dos bebês no colo e sufoquei um grito quando vi que um de seus braços estava em um estado avançado de pura decomposição, ao ponto da carne podre e da visão do osso quase me fazer vomitar.

O bebê que estava em seu braço chorava sem parar, mas depois ao ser ninado dos braços da mulher, ele parou magicamente de chorar e então começou a sorrir. Ele parecia ser muito mais corajoso do que eu, pois um de seus bracinhos segurava a mão em decomposição da mulher sem ter nenhum tipo de medo.

Eu não entendia porque estava sonhando com isso. Mas algo em meu peito se contorceu ou apenas se familiarizou com a cena. Como se fosse uma espécie de Dejá vu que me trazia a sensação estranha do sentimento de conforto, calor e tranquilidade. Vi um passarinho voar para perto da criança da mulher, ele era extremamente encantador e catava uma doce melodia. Entretanto, quando vi uma das mãos da mulher agarrar o pássaro pelo pescoço e quebra-lo, voltei a me assustar ao ponto de arregalar os olhos.

Mas nada foi mais bizarro do que ver a mulher arrancando a cabeça do pobre passarinho e uma quantidade de sangue saiu desse ato, mas o sangue que jorrava pelo corpo sem cabeça do passarinho era debruçado sob os lábios do bebê no braço da mulher, ele bebeu com vontade todo o sangue e parecia estar completamente faminto por ele.

A cena me fez embrulhar o estomago.

Porém o cenário mudou completamente, ao me fazer me aproximar rapidamente da mulher e do bebê em seu braço. Então tudo passou a ficar em câmera lenta, me virei para encarar o rosto do bebê, que estava envolvido em um cobertor grosso e sua boca estava completamente ensanguentada e ele ainda se alimentava do cadáver do passarinho com uma vontade e ferocidade que poderiam ter me deixado completamente perplexa isso se, eu não estivesse concentrada demais na aparência bizarra do bebê.

Ele tinha heterocromia, um dos olhos era laranja brilhante como os anéis de fogo do meu pai e meu, mas o olho era azul congelante e essa nem era a pior parte. Metade do corpo do bebê era completamente normal, belo e comum, mas outra metade dele era igual ao braço da mulher. Em um estado severo e avançado de decomposição, pele seca, uma mão e perna esqueléticas, manchas de gelo azul cobrindo a carne podre, lábios finos como uma membrana sobre dentes podres, um olho branco leitoso e tufos de cabelo ressecado como teias de aranha negra.

Essa visão me causou certo desconforto, mas não causou mais porque quando meu olhar foi em direção ao rosto da mulher, tudo mudou. Ela ergueu lentamente a cabeça em minha direção e foi então que consegui ver com clareza seu rosto.

O lado esquerdo do corpo e do rosto da mulher era dolorosamente lindo, com cerca de 25 anos de idade, com sua capa de arminho brilhando como um monte de neve ondulando ao vento. Ela tinha longos cabelos escuros e pele pálida. Entretanto, o lado direito, era aterrorizante — pele seca, uma mão e perna esqueléticas, manchas de gelo azul cobrindo a carne podre, lábios finos como uma membrana sobre dentes podres, um olho branco leitoso e tufos de cabelo ressecado como teias de aranha negra. Igual ao bebê que segurava em seus braços. Isso me fez questionar se ela não era por acaso a mãe da criança.

A mulher então me encarou fixamente, como se pudesse me ver e enxergar além da minha alma. Isso me causou calafrios. Então subitamente, ela sorriu para mim, o que ao invés de me deixar aliviada, me deixou completamente apavorada.

— Olá, Ulfhild. — Ela me chama por aquele nome, que de alguma forma me parecia familiar.

Abro meus lábios prestes a lhe dizer que estava errada e que aquele não era meu nome, mas então, a mulher e o bebê se dissolvem em uma fumaça negra e desaparecem rapidamente quanto surgiram. Então meu sonho mudou novamente.

Dessa vez, eu estava no meu quarto em Los Angeles. Eu estava sentada na minha cama macia e diante de mim havia um homem. Ele estava de costas para mim, olhando atentamente para minha prateleira de livros, alisando o dedo indicador por cada um deles. Até que ele pegou e escolheu o livro de mitologia nórdica que minha mãe havia me dado, o homem abriu o livro e se virou para mim.

— Então você se deixou ser morta por um Krampus, que interessante, Ulfhild.

O homem sorriu. Suas roupas pareciam novinhas em folha: tênis brancos reluzentes, calça jeans e camisa do Red Sox. O cabelo macio era uma mistura de ruivo, castanho e louro, despenteado de um jeito estiloso que dizia acabei de sair da cama e já estou bonito. O rosto era incrivelmente lindo. Ele poderia fazer comerciais de loção pós-barba, mas as cicatrizes arruinavam a perfeição. Pele queimada se esticava pelo nariz e bochechas, como linhas na superfície da lua. Também havia marcas ao redor da boca inteira, como buracos de piercing já cicatrizados. Mas por que alguém teria tantos piercings na boca? Isso não fazia o menor sentido.

Eu não sabia o que dizer para a alucinação cheia de cicatrizes, mas, como o nome que a mulher cadáver e ele tinham me chamado ainda ecoavam na minha cabeça, perguntei:

— Quem é Ulfhild? — Não tenho certeza se pronunciei certo.

A alucinação ergueu as sobrancelhas. Então inclinou a cabeça para trás e riu.

— Ah, gostei de você! Vamos nos divertir. Será que ainda não ficou claro? Vamos Doraalice, você pode ser melhor do que isso. Afinal não esperaria menos do meu sangue ou muito menos da minha neta. Somos família, Dora. E a família sempre foi algo sagrado para você, então concorda comigo que ela deve permanecer sempre do mesmo lado, correto? — Não entendi porque o maluco disse ser meu avô ou tampouco como sabia meu nome, mas não sei por que, minha cabeça se mexeu involuntariamente em concordância com o que ele disse. — Fico feliz que estamos nos entendendo. Você vai conhecer meu filho em breve. Até lá, um conselhinho: as aparências enganam. Não confie nos motivos dos seus companheiros. E lembre-se...— ele se esticou na minha direção e agarrou meu pulso — Eles não nós entendem, eles sempre vão nos odiar.

Não consegui compreender o que ele queria dizer com aquelas palavras, mas apenas fiquei em silêncio e respirei fundo.

Tentei me soltar. Sua mão parecia feita de aço. O sonho mudou. De repente, eu estava voando em meio a uma névoa cinza e fria.

— Pare de se contorcer! — disse uma voz feminina.

A garota que vi sobrevoando o recital estava segurando meu pulso. Ela disparou galopando em seu cavalo de névoa, me puxando como se eu fosse um saco de roupa suja. A lança flamejante estava presa às suas costas. A armadura de cota de malha brilhava na luz cinzenta.

Ela me segurou com mais força.

— Você quer cair no Abismo?

Tive a sensação de que aquilo não era uma metáfora. Quando olhei para baixo, não vi nada, só um cinza infinito. Concluí que não queria cair ali.

Tentei falar. Não consegui. Balancei a cabeça, sem forças.

— Então pare de se mexer tanto — ordenou ela.

Por baixo do elmo, alguns fios de cabelo castanho escapavam do lenço verde.

Os olhos dela eram da cor de tronco de sequoia.

— Não faça com que eu me arrependa disso — concluiu.

Perdi a consciência.





***





Acordei ofegante e assustada, com todos os músculos formigando.

Me sentei e toquei minha barriga, esperando encontrar um buraco que as garras do Krampus fizeram ali, me preparando mentalmente para ver novamente a ferida e o sangue, mas não havia nada ali. Não sentia dor.

Carlos havia sumido. Minhas roupas pareciam estar em boas condições: nem queimadas e nem rasgadas.

Soltei um palavrão e me perguntei o que raios estava realmente acontecendo.

Eu morri? Ou foi apenas um sonho bizarro? Porque tinha a sensação de que literalmente havia batido as botas literalmente ao pé da letra.

Céus, eu precisava de uma bebida ou apenas de um rivotril bem gelado.

Minhas roupas estavam novinhas em folha, sem nenhum sinal do estrago que as provoquei em meio meu desespero no incêndio, mas meus pés estavam literalmente descalços, pois tinha abandonado meus saltos derretidos no meio das chamas. Era como se alguém tivesse lavado e secado as peças e me vestido outra vez enquanto eu estava inconsciente — o que era uma ideia realmente perturbadora. Até mesmo eu estava cheirando ao meu perfume favorito da Chanel, como se alguém tivesse o passado em mim quando estava apagada.

O que estava acontecendo?

Passei os dedos desesperadamente pelos meus fios, percebendo o quanto mais macios e sedosos eles estavam. Não havia sequer algum nó ou alguns fios embaraçados, não. Eles estavam completamente perfeitos. Nem parecia que tinha sido morta por um Krampus.

Lentamente, me levantei. Eu não tinha nem um arranhão. Balancei o corpo, na tentativa de limpar qualquer resquício de poeira. Meus pés descalços sentiram o frio do chão, mas não me incomodou, era como se estava adaptada a isso e a nunca sentir frio por ser filha de Surt. Sentia que era capaz de correr mais de um quilômetro. Inspirei o aroma de lenha queimando na lareira e de tempestade iminente. Quase ri de alívio. De alguma forma, sobrevivi!

Só que... não era possível.

Onde eu estava?

Aos poucos meus sentidos foram se expandindo. Eu estava no pátio de entrada de uma mansão opulenta, como as de Bel Air em Los Angeles, com oito andares de calcário branco e mármore cinza imponentes se projetando ao céu de inverno. A porta dupla da frente era de madeira escura e pesada com rebites de ferro. No centro de cada uma havia uma aldrava de cabeça de lobo em tamanho real.

Quando vi os lobos meus pensamentos foram literalmente para o nome Ulfhild, o qual fui chamada duas vezes em meus sonhos, meu cérebro sentia que esse nome não me era estranho. Na verdade, ele era bem familiar. Pois Ulfhild, traduzido literalmente do nórdico arcaico significava: loba. Ainda não entendia porque aqueles dois em meus sonhos me chamaram por esse nome e sinceramente? Nem mesmo estava ansiosa para descobrir o motivo.

Olhei em volta, procurando uma saída. Não havia nenhuma; o pátio era cercado por um muro de calcário branco de mais ou menos cinco metros. Como era possível não ter nenhum portão de entrada? Sempre tem que haver uma entrada e uma saída! Foi isso que os filmes de ficção me ensinaram e já que meu pai era um jotunn de fogo, porque não acreditar em tudo que a ficção nos ensinam?

Eu não conseguia ver direito por cima do muro, mas de uma forma bizarra, eu não estava em Los Angeles, não, não conseguia sentir mais o calor infernal ou o clima de praia e surfistas que a cidade dos anjos emanava. De alguma forma tinha vindo parar em Boston. Podia saber disso, pois já era capaz de sentir o clima frio que a cidade emanava nesse pico alto do inverno norte-americano. Maravilha. Estava na cidade que mais odiava.

Como isso foi acontecer?

Reconheci alguns prédios ao redor. Ao longe, via as torres do Downtown Crossing. Eu devia estar na rua Beacon, em frente ao parque Boston Common. Mesmo não morando na cidade, ainda era capaz de puxar de minhas lembranças os lugares que Carlos e eu visitamos quando fomos a cidade. Mas como tinha chegado ali?

No canto do pátio havia uma bétula alta com tronco branco. Pensei em subir nela para pular o muro, mas não alcançava nem os galhos mais baixos. Então, percebi que a árvore estava cheia de folhas, o que não era possível no inverno.

Além disso, as folhas brilhavam em um tom de dourado, como se alguém as tivesse folheado a ouro.

Ao lado da árvore, havia uma placa de bronze presa à parede. A princípio, eu nem tinha reparado, pois havia marcadores históricos em metade das construções de Boston, mas resolvi dar uma olhada. As inscrições estavam em duas línguas: uma no alfabeto nórdico que eu havia me acostumado graças a minha mãe, e a outra eu conseguia entender.

BEM-VINDO AO BOSQUE DE GLASIR.
PROIBIDO MENDIGAR. PROIBIDO VADIAR.
PARA ENTREGAS: USAR A ENTRADA DE NIFLHEIM.

Certo... eu já tinha estourado minha cota diária de bizarrice. Precisava sair dali, antes que algo mais bizarro do que um Krampus aparecesse e tentasse me matar de novo. Precisava pular o muro, descobrir o que havia acontecido com Carlos e Júlia. Precisava saber se estavam bem e seguros. Depois de um Krampus aparecer e matar, tinha medo de que outra coisa pudesse ter aparecido e... Céus era melhor nem pensar isso.

Meu coração se contorceu no peito e voltei ao meu estado inicial pós conhecer o pai de merda que tinha. Estava voltando a ficar ansiosa e para controlar minha ansiedade e preocupação mordi violentamente o interior da minha bochecha e senti novamente o gosto de sangue que imediatamente me acalmou.

Caso conseguisse sair dali, não hesitaria em roubar um carro e ir até Los Angeles, pegar todo meu dinheiro que tinha juntado e conseguido de maneira ilegal, fazer Carlos e Júlia arrumarem as malas e compraríamos passagens para qualquer lugar na Europa. Iriamos começar nossa vida do zero e daria um jeito de continuar sendo uma criminosa e acumulando mais dinheiro para enriquecemos e quem sabe morar em uma mansão luxuosa.

Já estava de saco cheio das bizarrices que a América me proporcionou. Queria ter uma nova vida longe de tudo isso.

De repente, a porta dupla se abriu com um rangido, irradiando uma luz dourada ofuscante. Dei um gritinho como uma donzela em perigo e um pulo para trás, estava apavorada com a ideia de que alguma coisa mais bizarra do que um jotunn ou um Krampus pudessem aparecer para tentar me matar pela segunda vez. Ou talvez terminar o serviço que a criatura que me matou não conseguiu.

Um homem corpulento apareceu na entrada, usando uniforme de porteiro: cartola, luvas brancas e um paletó verde-escuro com cauda e as letras HV bordadas na lapela. Mas não era possível que aquele cara fosse mesmo um porteiro. O rosto cheio de verrugas estava manchado de cinzas. A barba não devia ser aparada havia décadas. Os olhos estavam injetados de sangue e com uma expressão assassina, e havia um machado de lâmina dupla ao lado dele. O crachá dizia: HUNDING, SAXÔNIA, MEMBRO ESTIMADO DA EQUIPE DESDE 749 EC.

— Acho que estou no lugar errado. — Disse tropeçando nas palavras e gaguejando um pouco.

Droga! Não só minhas mãos, mas minha mandíbula tremiam covardemente de medo.

O homem fez uma careta, aproximou-se e me cheirou. Ele mesmo cheirava a seiva de árvore e carne queimada.

— Lugar errado? Acho que não. Você precisa fazer o check-in.

— Hã... o quê?

— Você está morta, não está? — disse o homem. — Você tem que esperar até as três para fazer o check-in. Depois disso, vou levar você até a recepção.





***





Se eu contasse para vocês que a mansão era mil vezes maior por dentro, o que fariam? Pois eu apenas deixei meu queixo cair e arregalei meus olhos tanto, que pensei que eles iriam saltar para fora do meu rosto.

Só o saguão podia ser considerado o maior chalé de caça do mundo, e era duas vezes maior do que a mansão vista de fora. O piso de madeira estava coberto com peles de animais exóticos: zebras, leões e um réptil de doze metros de comprimento que eu não teria gostado de encontrar quando vivo. Na parede da direita, fogo estalava em uma lareira do tamanho de um quarto. Na frente dela, alguns caras usando roupões verdes felpudos com idade para estar no ensino médio relaxavam em sofás de couro, rindo e bebendo em cálices prateados. Acima da lareira, havia uma cabeça de lobo empalhada.

Lobos? De novo? Qual era o problema desse lugar com lobos?

Colunas de madeira maciça sustentavam o teto, que tinha fileiras de lanças no lugar do caibro. Escudos polidos cobriam as paredes. De todos os lados parecia irradiar luz, um brilho dourado quente que fazia meus olhos doerem como uma tarde de verão depois de uma sessão de cinema.

No meio do saguão, um cavalete com um cartaz anunciava:

ATIVIDADES DE HOJE
LUTAR ATÉ A MORTE! – SALA OSLO, 10H
LUTAR EM EQUIPE ATÉ A MORTE! – SALA ESTOCOLMO, 11H
COMER ATÉ A MORTE! – SALÃO DE JANTAR, 12H
GUERREAR ATÉ A MORTE! – PÁTIO PRINCIPAL, 13H
PRATICAR BIKRAM YOGA ATÉ A MORTE! — SALA COPENHAGUE,
LEVE SEU TAPETE, 16H

O porteiro Hunding disse alguma coisa, mas minha cabeça estava doendo tanto para tentar processar tudo aquilo, que não entendi.

— Desculpe — interrompi o barbudo — O que você disse exatamente?

Balancei a cabeça tentando não surtar e manter a calma.

Sério estava com tanto medo de estar enlouquecendo que simplesmente, pensei seriamente em sair correndo dali gritando para os quatro ventos que queria ser internada no hospício mais próximo.

— Bagagem — repetiu ele. — Você trouxe alguma?

— Hã... — Estiquei a mão para tocar meu ombro. É parece que minha bolsa caríssima da Dolce Gabbana; assim como meus louboutins derretidos não tinham voltado magicamente à vida como eu. Aparentemente só eu sou imortal, não meus itens caríssimos roubados. — Não.

Hunding grunhiu.

— Ninguém mais traz bagagem. Não colocaram nada na sua pira funerária?

— Na minha o quê?

— Deixa pra lá. — Ele olhou com cara feia para o canto da sala, onde um barco virado servia de recepção. — Não adianta enrolar. Vamos.

O homem atrás do casco aparentemente ia ao mesmo barbeiro que Hunding.

A barba dele era tão grande que tinha o próprio endereço. O cabelo parecia um abutre que deu de cara em um para-brisa. Ele estava vestido com um terno risca de giz verde-floresta. O crachá dizia: HELGI, GERENTE, GOTLÂNDIA ORIENTAL, MEMBRO ESTIMADO DA EQUIPE DESDE 749 EC.

— Bem-vinda! — Helgi ergueu o rosto da tela do computador. — Veio fazer o check-in?

— Hã...

— O check-in é a partir das três da tarde — disse ele. — Se você morre mais cedo, não posso garantir que o quarto esteja pronto. Mas fico feliz que tenha esperado até o horário certo.

— E isso quer dizer alguma coisa? — Perguntei.

— Não, não. — Ele digitou no teclado. — Ah, agora sim. — Ele sorriu e exibiu exatamente três dentes. — Fiz um upgrade na sua reserva, você vai para uma suíte.

Ao meu lado, Hunding murmurou:

— Todo mundo ganha upgrade para suíte. Nós só temos suítes.

— Hunding... — avisou o gerente.

— Desculpe, senhor.

— Você não vai querer que eu use a vara, novamente, não é?.

Hunding fez uma careta.

— Não, senhor.

Olhei de um para o outro e verifiquei os crachás deles, com atenção.

— Vocês começaram a trabalhar aqui na mesma época — observei. — Foi em 749... o que é EC?

— Era Comum — explicou o gerente. — O que você poderia chamar de AD.

— Então por que vocês não dizem AD?

— Porque Anno Domini, o ano do Senhor, é ótimo para cristãos, mas Thor fica chateado. Ele ainda se ressente de Jesus não ter aparecido quando ele o desafiou para um duelo.

— Como é que é? — Pergunto arregalando os olhos e engasgando com um pouco de saliva.

Bom se meu pai era um jotunn, qual a probabilidade dos Deuses de Asgard também serem literalmente reais?

— Não importa — disse Helgi. — Quantas chaves você quer? Uma basta?

— Ainda não entendi onde estou. Se vocês estão aqui desde 749, isso já tem mais de mil anos.

— Nem me fale — resmungou Hunding.

— Mas isso é impossível. E... e você disse que estou morta? Não me sinto morta. Estou ótima. Me sinto como se tivesse acabado de sair de uma sessão relaxante em um SPA chique.

— Senhora — disse Helgi —, tudo vai ser explicado esta noite, durante o jantar. É quando os novos hóspedes são recepcionados formalmente.

Valhala. — A palavra surgiu das profundezas do meu cérebro, a reminiscência de uma história que minha mãe leu para mim quando eu era pequena. — O HV na sua lapela. O V é de Valhala?

Os olhos de Helgi deixaram claro que ele estava se esforçando para ser paciente.

— Sim, senhora. Hotel Valhala. Parabéns. Você foi escolhida para se juntar ao exército de Odin. Mal posso esperar para ouvir sobre seus feitos valorosos durante o jantar.

Minhas pernas ficaram bambas. Eu me apoiei no casco da recepção para não cair ou desmaiar dramaticamente como nos filmes antigos que era completamente obcecada. Estava tentando me convencer de que aquilo era um erro, de que não passava de algum hotel temático onde fui confundida com uma hóspede. Agora, eu não tinha tanta certeza. Na verdade, eu não tinha certeza de mais nada.

Meus feitos valorosos? Fazer parte de uma gangue de criminosos, sair assaltando lojas e invadindo e roubando mansões de ricaços poderiam ser considerados feitos valorosos? Acho que não. Mas não custa tentar, certo?

— Morta — murmurei. — Você quer dizer que estou mesmo... estou mesmo...

— Aqui está a chave do quarto. — Helgi me entregou uma pedra com um único entalhe de runa viking, como os desenhos de pedras com runas nórdicas que tinha no livro da minha mãe. — Você quer a chave do frigobar?

— Hã...

— Ela quer a chave do frigobar — respondeu Hunding por mim. — Garota, confie em mim, você vai querer a chave do frigobar. Vai ser uma longa estadia.

Minha boca estava com gosto amargo e forte de metal e não era pelo sangue que saia da ferida que fiz.

— Quão longa?

— Para sempre — disse Helgi —, ou pelo menos até o Ragnarök. Hunding vai acompanhá-lo até seu quarto. Aprecie sua pós-vida. Próximo!





***





Apreciar minha pós-vida? Eu sequer conseguia processar o fato que estava literalmente morta? Quem dirá que conseguiria aproveitar minha vida após minha morte? Afinal como caralhos se faz isso sem enlouquecer?

Eu estava completamente perdida em meus pensamentos dispersos enquanto Hunding me levava pelo hotel. A sensação era de que haviam me girado cinquenta vezes e me largado no meio de um circo, dizendo: divirta-se.

Ali, um corredor parecia maior do que o outro. A maioria dos hóspedes devia estar no colégio, embora alguns talvez fossem um pouco mais velhos. Meninos e meninas se sentavam juntos em pequenos grupos, ficavam descansando em frente às lareiras, conversando em várias línguas, comendo besteira ou jogando xadrez e outros jogos de tabuleiro, incluindo um que envolvia adagas de verdade e um maçarico. Espiei as salas e vi mesas de sinuca, máquinas de pinball, um fliperama antigo e uma coisa que parecia uma donzela de ferro de uma câmara de tortura.

Funcionárias de camisa verde-escura circulavam entre os hóspedes, carregando travessas de comida e jarras de bebida. Pelo que entendi, todas eram guerreiras musculosas com escudos nas costas e espadas ou machados presos nos cintos, o que não é muito comum nesse ramo.

Uma garçonete completamente armada passou por mim com um prato fumegante de rolinhos primavera. Meu estômago roncou. Acho que morrer me fez sentir mais fome do que eu realmente deveria sentir.

— Como posso sentir fome se estou morta? — perguntei a Hunding. — Nenhuma dessas pessoas parece morta e esse lugar não faz nenhum sentindo para mim.

Hunding deu de ombros.

— Ah, existem mortos e mortos. Pense em Valhala mais como... uma promoção. Você é uma einherjar agora.

Ouvi o termo familiar dos meus livros e minha garganta secou.

— Então... Sou uma dos escolhidos de Odin, soldados em seu exército perpétuo. — Conclui fazendo uma careta. — A palavra einherjar normalmente é traduzida como guerreiros solitários, mas essa expressão não capta totalmente o significado. É mais como... os guerreiros de outrora, os que lutaram bravamente na última vida e lutarão bravamente de novo no Dia do Juízo Final. — Digo automaticamente como se de repente me tornasse uma enciclopédia nórdica que não conseguia controlar a língua, bom talvez fosse mesmo o caso.

Me pergunto que atitude heroica ou nobre eu tive para me fazer vir para Valhala.

Hunding sorri para mim, satisfeito ou apenas aliviado por eu finalmente saber de alguma coisa e não ficar torrando sua paciência com mais perguntas.

— Abaixe. — Ele diz.

— Como?

— Abaixe-se! — Ele praticamente grita.

Hunding me puxou para baixo quando um machado passou voando por cima da minha cabeça, cortando o ar violentamente. Um zumbido irritante foi ouvido por mim e então vi um cara sentado no sofá ali perto, sendo acertado pelo machado no meio da sua cabeça, o matando-o na hora. Bebidas, dados e dinheiro de Banco Imobiliário voaram para todo lado. As pessoas que estavam jogando com ele levantaram-se e olharam, um tanto irritadas, na direção de onde veio a lança.

— Eu vi isso, Nikolai Bafo de Cebola! — gritou Hunding. — No saguão é proibido usar o machado!

Na sala de bilhar, alguém riu e respondeu em... russo? E não soou muito arrependido. Eu definitivamente não quero conhecer esse tal de Nikolai Bafo de Cebola, eu tenho amor a minha vida. Ops. Quero dizer, amor ao meu pós vida. Acabei de voltar da morte e não quero experimentar de novo essa sensação.

— Enfim — retomou Hunding, andando como se nada tivesse acontecido. — Os elevadores ficam aqui.

— Espere — falei. — Aquele cara acabou de ser assassinado com um machado. Você não vai fazer nada?

— Ah, os lobos vão limpar.

— Lobos? Sério, cara, qual o problema desse lugar com lobos?

Enquanto os outros jogadores de Banco Imobiliário separavam as peças, dois lobos cinzentos surgiram no saguão, pegaram o morto pelas pernas e o arrastaram para fora dali, com o machado ainda cravado no meio da cabeça. O rastro de sangue evaporou instantaneamente. O sofá perfurado se consertou.

— Não há regras contra assassinato? — perguntei, baixinho.

Hunding ergueu a sobrancelha peluda.

— Foi só brincadeira, garota. Ele vai estar ótimo no jantar. — Hunding me puxou do esconderijo. — Venha.

Antes que eu pudesse perguntar mais sobre a "diversão", chegamos a um elevador. A porta de grade era formada por lanças. A parede era toda de escudos dourados sobrepostos. O painel de controle era repleto de botões, de cima a baixo. O número mais alto era quinhentos e quarenta. Hunding apertou o dezenove.

— Como este lugar pode ter quinhentos e quarenta andares? — perguntei. — Seria o prédio mais alto do mundo.

— Se existisse em um único mundo, sim. Mas ele se conecta a todos os nove mundos. Você acabou de chegar pela entrada de Midgard, como a maioria dos mortais.

— Midgard...

Eu me lembrava vagamente de alguma coisa sobre os vikings acreditarem em nove mundos diferentes. Midgard era o mundo dos humanos feito dos restos mortais do primeiro gigante de gelo, Ymir. Eu sei que existiam outros mundos com diferentes nomes e designações, mas minha cabeça estava doendo tanto ao tentar processar tranquilamente o fato de que estava realmente morta e consegui reviver, que sequer consegui me lembrar dos outros nomes. Fazia muito tempo que minha mãe tinha lido aquelas histórias de ninar nórdicas.

— Você quer dizer tipo o mundo dos humanos.

— Isso. — Hunding respirou fundo e recitou: — Quinhentos e quarenta andares tem Valhala; quinhentos e quarenta portões conduzem aos nove mundos. — Ele sorriu. — Nunca se sabe quando e onde vamos ter que marchar para a guerra.

— Quantas vezes isso já aconteceu?

— Bom, nunca. Mas mesmo assim... poderia acontecer a qualquer momento. Eu, por exemplo, mal posso esperar! Finalmente Helgi vai ter que parar de me punir.

— O gerente? Por que ele pune você?

Hunding fez cara de nojo.

— É uma longa história. Ele e eu...

A porta de lanças do elevador se abriu.

— Deixe isso pra lá. — Hunding me deu um tapinha nas costas. — Você vai gostar do décimo nono andar. Vai ter bons vizinhos de corredor!

As portas do elevador se abriram e mais uma vez nesse dia bizarro deixei meu queixo cair.

Nunca havia estado em um hotel antes, nunca tinha dinheiro o suficiente para isso e sempre achava um desperdício de grana passar a noite em um hotel, só para ter a experiência que eu via só em filmes, sendo que eu tinha uma casa onde poderia dormir de graça e eu precisava poupar dinheiro se quisesse um dia ficar rica.

Sempre imaginei que corredores de hotel fossem lugares escuros, deprimentes e claustrofóbicos. Ou às vezes, extremamente luxuosos, exageradamente como era o que via em Gossip Girl. O décimo nono andar? Nem tanto. O teto abobadado tinha seis metros de altura, com — isso mesmo — mais lanças como caibro. Valhala devia ter conseguido um bom desconto no Armazém das Lanças por Atacado. Em candeeiros, tochas irradiavam uma luz quente e laranja, sem produzir fumaça, iluminando espadas, escudos e tapeçarias expostos nas paredes. O corredor era tão largo que poderia tranquilamente servir como um campo de futebol. O tapete, vermelho como sangue, tinha desenhos de galhos de árvore que se moviam, como se balançassem ao vento.

Separadas por uns quinze metros, cada porta era de carvalho rústico com dobradiças de ferro. Não vi maçanetas nem fechaduras. No centro de cada uma delas havia um nome escrito em um círculo de ferro do tamanho de um prato, cercado por runas vikings.

O primeiro dizia MESTIÇO GUNDERSON. Pela porta, ouvi gritos e metal estalando, como se dentro do quarto estivesse acontecendo uma luta de espadas.

O seguinte dizia MALLORY KEEN. Esse estava silencioso.

Depois: THOMAS JEFFERSON, JR. Estalos de tiros vinham de dentro, embora soassem mais como um videogame do que tiros de verdade. (Sim, já ouvi os dois e estava acostumada com isso.)

A quarta porta tinha apenas um X. Havia um carrinho de serviço de quarto parado em frente a ela, com a cabeça de um porco disposta em uma bandeja de prata. As orelhas e o nariz do animal pareciam meio mordidos.

Não sou crítica gastronômica, nem nada. Nem poderia, sendo apenas uma verdadeira plebeia que fingia ser rica ou coisa do gênero. Mas tenho meus critérios e bom gosto quando se trata de cabeças de porco.

Estávamos quase chegando ao cruzamento no fim do corredor, quando um pássaro preto e grande fez uma curva e passou voando por mim, quase cortando minha orelha. Vi o animal desaparecer corredor afora. Era um corvo, e carregava bloco e caneta nas garras.

— O que foi aquilo? — perguntei.

— Um corvo — respondeu Hunding, o que achei muito útil.

Finalmente, paramos em frente à porta onde estava escrito DORAALICE DOROTÉIA LUCINDA CASTRO. É meu nome do meio é Dorotéia e Lucinda, obrigada por me lembrar desse triste fato na minha vida, como se Doraalice já não fosse um tanto incomum. Ao ver meu nome gravado em ferro, rodeado de runas, comecei a tremer.

Minhas últimas esperanças de que tudo aquilo fosse um erro, uma pegadinha de aniversário ou uma confusão cósmica evaporaram. O hotel estava me esperando. Tinham escrito meu nome corretamente e tudo.

Só para deixar claro, Doraalice significava: "dádiva de qualidade nobre". Era um nome formado pela junção dos nomes e . Dora vem do grego dôron, que quer dizer literalmente "dádiva, presente". E Alice que tem origem no germânico Adelheid, formado pela união dos elementos adal, que quer dizer "nobre" e haidu, que significa "espécie, tipo, qualidade".

Mamãe costumava dizer que eu era sua maior dádiva e presente, por isso escolheu esse nome estranho e pouco popular. Se meu nome já era estranho para os brasileiros, para os estrangeiros ele era ainda mais bizarro do que o normal. As pessoas sempre me olhavam estranho quando dizia meu nome e me perguntavam se eu por acaso só me chamava Alice. E eu sempre tinha o trabalho estupido de explicar que não, meu nome é Doraalice, sim, eu sei que ele é estranho, mas é o meu nome.

De qualquer modo, ali estava meu nome gravado na porta. Quando entrasse, eu me tornaria um hóspede. De acordo com o gerente, eu teria uma nova casa até o dia do Juízo Final. Ou até o Ragnarok.

— Vá em frente.

Hunding apontou para a chave-runa na minha mão. O símbolo era ligeiramente semelhante ao do infinito ou a uma ampulheta de lado:

Reconheci o símbolo rapidamente.

— Um dagaz? — Questionei Hunding sem entender. Eu não me lembrava do significado de um dagaz, mas sabia que ele era importante, pois se não fosse, ele não estaria ali.

— Oh, então você sabe o que é.

— Só sei o que é, não o que significa.

Hunding suspira.

— Estava bom demais para ser verdade. — Resmunga baixo, mas mesmo assim o escuto. — Não precisa ter medo. Um dagaz simboliza novos começos, transformações. Também abre sua porta. Só você tem acesso.

Engoli em seco.

— E se, por exemplo, os funcionários quiserem entrar?

— Ah, nós usamos a chave dos funcionários.

Hunding deu um tapinha no machado preso ao cinto. Não consegui entender se ele estava brincando.

Levantei a runa. Eu não queria testar, mas também não queria ficar no corredor esperando para ser atingida por um machado aleatório ou atropelado por um corvo que visivelmente não possui habilitação para voar. Instintivamente, encostei a pedra na respectiva runa dagaz na porta. O anel de runas se acendeu em um tom de verde. A porta se abriu.

Entrei, e meu queixo caiu.

Nunca tinha morado nem visitado um lugar tão legal quanto aquela suíte. Nem mesmo as mansões que invadia em Bel Air, eram tão legais quanto aquilo. Eu estava completamente apaixonada.

Maravilhado, fui até o meio do quarto, onde havia um átrio central a céu aberto. E não era qualquer céu, era o céu noturno, com lua cheia, estrelado e com uma aurora boreal brilhando intensamente. Sempre fui apaixonada pelo céu noturno. Eu conseguia ver claramente as constelações das quais sempre fui apaixonada desde pequena e desde que morava nas ruas. Sempre gostei tanto de astrologia quanto de mitologia nórdica.

Meus pés descalços sentiam a sensação do mármore prateado gélido e isso não me incomodou. Minha atenção logo se voltou para o que parecia ser um estúdio de arte misturado a um estúdio de música com diversos instrumentos musicais, flauta, violoncelo, violino, violão, até tinha dois microfones para karokê e o estúdio de balé, com espelhos altos que iam do teto até o chão e barras de segurança, iguais ao estúdio que fazia balé quando pequena. Havia diversos caveletes de pintura, juntamente a uma mesa com diversos pinceis de todos os tipos e formas, assim como tintas e todo material para desenho que qualquer artista um dia já sonhou.

A luz da lua brilhante era o suficiente para iluminar todo o cômodo, assim com as luzes multicoloridas e dançantes da aurora.

Uma brisa agradável noturna entrava no quarto, carregando um cheiro de dama da noite. E isso me fez sorri involuntariamente.

Dei um giro de 360 graus, antes de parar e olhar na direção de Hunding que me encarava como se eu fosse uma verdadeira idiota ou retardada.

— Como? — Olhei para Hunding. — Há centenas de andares acima de nós, mas estamos aqui a céu aberto. Lá fora estava fazendo sol, mas aqui está de noite. Como pode ter um céu estrelado, com lua cheia e uma aurora boreal bem aqui?

Hunding deu de ombros.

— Não sei. Magia. Mas esta é a sua vida após a morte, garota. Você ganhou certas vantagens, não é?

Ganhei? Não me sentia particularmente merecedora disso, principalmente pela vida de merda que tinha e levava.

Girei lentamente. A suíte tinha forma de cruz, com quatro seções irradiando do átrio central. Cada ala era tão grande quanto um apartamento na zona nobre e rica de Los Angeles. Uma era o corredor de entrada por onde chegamos. Ao lado, havia um quarto com uma cama king size. Apesar do tamanho, ele era luxuoso e extravagante do jeito que gostava: tinha um edredom azul e travesseiros macios na cama, feitos de penas de ganso — sim, eu sabia diferenciar —, paredes nos mais diversos tons de azuis, recheadas de quadros de pinturas que reconheciam sendo dos meus artistas favoritos como Salvador Dalí e suas obras excêntricas do surrealismo, Frida Khalo, Vincent Van Gogh, Claude Monet, Rafael Sanzio e suas obras do Renascimento Italiano, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rembrandt, Pablo Picasso e tanto outros artistas famosos que amava e que me fizeram questionar se realmente estava em uma suíte ou tinha ido parar em um museu de arte famoso, por engano.

Nas paredes também existia um ou dois espelhos e diversas decorações de estatuas antigas greco-romanas feitas de mármore e por artistas famosos de seu tempo. Nos espaços em que as paredes estavam vazias, existiam desenhos das minhas constelações favoritas em uma tinta prateada brilhante, que combinava perfeitamente com os tons azuis da parede. Havia cortinas azuis escuras pesadas para isolar a área.

Vendo aquela suíte, tive a sensação de que alguém havia investigado em minha mente exatamente o que seria necessário para me deixar confortável.

A ala da esquerda era uma área de vestir, com um closet infinito de diversas aras de roupas, sapatos, joias, bolsas, acessórios e com uma área exclusiva apenas para maquiagem e adivinhem? Existia toda a maquiagem cara e que sempre quis ter. Assim como secadores, chapinhas e babyliss das minhas marcas favoritas. Existia uma quantidade absurda de perfumes e produtos de cuidado com a pele e com o cabelo. Só marcas caras e que eu era louca. Foi inevitável não soltar gritinhos loucos e ficar saltitando como uma doida deixando meu lado Blair Waldorf me dominar completamente.

O banheiro era enorme com azulejos azuis e prateado, minhas cores favoritas. As vantagens que Hunding citou incluíam sauna, banheira de hidromassagem, closet, chuveiro e vaso sanitário enormes. (Esse último é brincadeira, mas era mesmo um trono elegante, apropriado para os mortos honrados. Ou para uma verdadeira rainha como eu)

A quarta ala da suíte era a cozinha e a sala de estar. Em uma extremidade da sala, havia um grande sofá de couro em frente a uma TV de plasma com uns seis consoles de videogame diferentes empilhados em um gabinete. Do outro lado, duas poltronas reclináveis em frente à lareira acesa e uma parede gigante com incontáveis livros.

Sim, eu sempre gostei de ler. Minha mãe sempre me incentivou a ler e mesmo sem nunca ter frequentado uma escola depois dos meus sete anos (alguém estava ocupada demais cometendo crimes para sustentar a família, para se preocupar com a educação, mesmo sabendo que ela sempre foi importante.). Quando Carlos e eu vivíamos nas ruas, sempre nos refugiarmos na biblioteca publica de Los Angeles e sempre, sempre que podia, eu lia para meu irmão. Na tentativa frustrada de incentivar sua imaginação e tentar fazê-lo esquecer por alguns momentos a vida de merda que tínhamos. A leitura e a imaginação nós salvou e nos ajudou a durar muito nas duras ruas.

Por mais que ainda tivesse muitos livros no meu quarto antigo, nunca pensei que teria uma coleção gigante como aquela dali.

Andei até lá para ver os títulos nas prateleiras. E então reparei no porta-retratos prateado sobre a lareira.

Alguma coisa como uma bolha de hélio subiu pelo meu esôfago e quase quis vomitar de nervosismo. Mais uma vez estava voltando a ficar ansiosa.

— Não acredito...

Peguei a foto. Estávamos eu, aos seis anos, e a minha mãe e Carlos no pico do monte Lee em Los Angeles, no fundo da foto podia ver claramente o letreiro de Hollywood. Aquele dia tinha sido um dos melhores de toda minha vida miserável, antes da nossa mãe conhecer o maldito Phil e nossa vida ser completamente arruinada. Na foto, Carlos estava em um dos braços de nossa mãe e o outro braço livre, ela me abraçava por trás. Eu estava sorridente exibindo meus dentes banguelas na frente. Acho que essa foi a última vez que sorri com tanta alegria e sinceridade, coisa que não faço mais. Minha mãe sorria e seus cabelos escuros eram balançados pelo vento. Lembro-me que tínhamos pedido a um casal de turistas para tirar aquela foto.

Nunca pensei que veria essa foto de novo. Achei que tinha se perdido depois que Phil queimou todos os pertences da minha mãe na tentativa de esconder e acobertar seu crime.

— Isso é impossível — murmurei. — Só havia uma cópia dessa foto. E ela foi queimada... — Eu me virei para Hunding, que estava secando os olhos. — Você está bem?

Ele pigarreou.

— Estou! Claro. O hotel gosta de oferecer souvenires, lembrancinhas da vida antiga. Fotografias... — Por baixo da barba dele, talvez a boca estivesse tremendo. — Quando eu morri, não existiam fotografias. Você tem sorte.

Havia muito tempo que ninguém dizia isso para mim. A ideia me despertou do torpor. Eu perdi minha mãe fazia dez anos. Estava morta, ou fui promovida, chame do que quiser, havia apenas algumas horas. Aquele porteiro da Saxônia estivera ali desde 749 EC. Como será que havia morrido e quem havia deixado para trás? Mil e duzentos anos depois, e aquilo ainda mexia com ele; era cruel ter que passar a eternidade assim.

Hunding se aprumou e limpou o nariz.

— Chega disso! Se tiver alguma dúvida, ligue para a recepção. Espero ansiosamente ouvir sobre suas explorações corajosas no jantar hoje à noite.

— Minhas... explorações corajosas?

Acho que a única coisa corajosa que fiz foi quando salvei o cachorrinho da senhora Martinez de ser atropelado, quando era mais jovem. Agora, não consigo pensar em mais nada corajoso que fiz, que não fosse ser capaz de beber mais álcool do que qualquer outra pessoa na gangue.

— Não seja modesta. Você não teria sido escolhida se não tivesse feito alguma coisa heroica.

Mas eu não fiz nada heroico. Só coisas criminosas e ainda assassinei meu padrasto, como isso poderia ser heroico?

— Mas...

— Foi um prazer servir você, senhora, e seja bem-vindo ao Hotel Valhala.

Ele estendeu a mão. Demorei um segundo para perceber que ele queria gorjeta.

— Ah, hã...

Enfiei a mão nos bolsos de trás do meu jeans, esperando encontrá-los vazios. Por um milagre, o pacote de chiclete de menta que eu havia comprado e sempre carregava comigo ainda estava ali, completamente inteiro apesar da viagem pelo Grande Além, sem marcas de uso ou tampouco havia aberto o pacote. Entreguei para Hunding.

— Desculpa, só tenho isso.

Os olhos dele se arregalaram.

— Deuses de Asgard! Obrigado, garota! — Ele cheirou o pacote e o ergueu como um cálice sagrado. Acho que ele não recebe gorjetas com frequência. — Uau! Tudo bem, se precisar de alguma coisa, é só falar comigo. Sua valquíria vem buscá-la na hora do jantar. Uau!

— Minha valquíria? Espera aí. Eu não tenho nenhuma valquíria.

Hunding riu, sem tirar os olhos do pacote de chiclete.

— É, se eu tivesse a sua valquíria, diria a mesma coisa. Ela já criou muita confusão por aqui.

— Como assim?

— Vejo você mais tarde, garota! — Hunding foi saindo. — Tenho coisas a comer, quer dizer, a fazer. Tente sobreviver até o jantar!





***





Sem saber o que fazer, desabei completamente na cama e sob os travesseiros macios de penas de ganso. Encarei o céu noturno sentindo um gosto amargo em minha boca. Qual era o meu problema? Eu poderia ter morrido, sim, mas em compensação ganhei um quarto luxuoso com tudo que sempre sonhei em toda minha vida.

Sempre fui movida a isso. Luxo e Poder. E agora que tenho o luxo e conforto que sempre quis, porque raios não consigo me sentir feliz? Na verdade apenas consigo me sentir incomodada, como se um cinto invisível apertasse meu peito, me sufocando lentamente. Eu sempre tive problemas com ataques de pânico. Mas Carlos sempre conseguia me acalmar me abraçando fortemente e dizendo palavras para me confortar.

Acho que percebi que não adiantava ter uma vida de luxo se não tinha com quem compartilhar. Carlos, Júlia e minha mãe não estavam aqui e isso me deixava infeliz. Arrisco dizer que seria capaz de trocar tudo isso apenas para ter minha família de volta. Família sempre foi algo importante para mim e sempre, sempre vinha em primeiro lugar. Se tivesse que fazer uma escolha, eu os escolheria sem nem pensar duas vezes.

Eu estava à beira de um colapso nervoso. O problema não era só estar morta, presa em um pós-vida viking bizarro em que as pessoas pediam cabeça de porco no serviço de quarto e assassinavam os amigos no saguão. Não. O problema era que eu estava aqui sem a minha família.

Merda. Como isso foi acontecer?

Me virei sob a cama, sentindo a raiva rapidamente me corroer por dentro.

Pelo meu histórico de vida, aquilo era aceitável. É claro que eu acabaria em Valhala próxima do meu décimo oitavo aniversário, eu fazia aniversário dia treze de janeiro. Sim, Carlos e eu nascemos no mesmo mês e por isso sempre fazíamos e tínhamos festas de aniversário em conjunto. Esse era a porra do meu destino.

Bufei e soltei um palavrão me sentando na cama.

Pela primeira vez em muito tempo eu tinha tempo para pensar e refletir, e isso não era bom. Pensar e refletir nunca eram um bom sinal. Sempre era levada de volta aos demônios do meu passado conturbado e me sentia um verdadeiro lixo por me lembrar que a deixei para trás e era minha culpa minha mãe estar morta. Acho que a pior coisa que pode acontecer com alguém, é você começar a sentir pena de si mesma e era isso que eu estava sentindo.

Minha mãe me disse uma vez que eu tinha nascido morta. Sem batimentos cardíacos ou tampouco respirava. Eu era um cadáver sem vida. Uma enfermeira me levou embora, mas magicamente, quando ela me trouxe de volta para minha mãe, eu voltei a vida. É um milagre. Você é o meu milagre, estrelinha. Era o que ela dizia.

Doraalice o maior presente de sua mãe. Que piada.

Eu deveria ser Doraalice, o motivo da desgraça de sua mãe.

Minha respiração ainda estava abalada, mas me levantei e andei pelo novo quarto. Na foto sobre a lareira, a Dora de seis anos que exibia um sorriso com janelinhas e o tinha o cabelo embaraçado, era uma verdadeira idiota que não dava o merecido valor ao que tinha. Mas era o que diziam: as pessoas só davam o devido valor quando perdiam as coisas e só entendi o que isso significava quando minha mãe morreu.

Analisei as prateleiras. Ali estavam todos meus autores e autoras favoritas de fantasia, romance, ficção cientifica e talvez horror? Cassandra Clare, Sarah J. Maas, Holly Black, Laura Kate, Jenny Han, Verônica Roth, Suzanne Collins, Jane Austen, Julia Quinn, Stephen King, J.R.R. Tolkien, Machado de Assis, José de Alencar, Clarisse Lispector, Maurice Leblanc, George R.R. Martin e muitos outros nomes famosos. Também existia uma parte apenas com as HQ da DC, que eram minhas favoritas. Mas também existiam uma porção de livros que pretendia ler um dia quando estava viva.

Peguei o livro de mitologia nórdica, o livro do qual Surt disse que havia dado a minha mãe. Ali não havia nada falando de incêndios misteriosos em escolas ou tampouco como Krampus podiam lhe matar usando apenas suas garras. Sequer falava que Valhala na verdade era um hotel. Ou sobre como você se sentiria infeliz se viesse para esse inferno.

Fiquei tão furiosa que arremessei o livro violentamente contra a parede mais próxima. A parede pareceu rachar completamente e por um momento acreditei que poderia ter feito o livro atravessar sob ela.

Como fiz isso?

Nas velhas histórias, Valhala era o lugar de heróis que morreram em batalha. Eu me lembrava dessa parte. Não me sentia nem um pouco como um verdadeiro herói. Levei uma vida criminosa e indigna. Falhei em matar um Krampus e proteger meu irmão, como isso poderia ser uma morte honrada?

Fiquei paralisada.

Uma ideia me atingiu com a força de um martelo.

Minha mãe... Ela sim havia morrido com honra. Para me proteger de...

Nessa hora, alguém bateu na porta.

A porta se abriu e uma garota entrou... a mesma que sobrevoava o incêndio do recital na escola e me puxou pelo vazio cinzento. Ela estava sem o elmo, a cota de malha e a lança brilhante. O lenço verde estava ao redor do pescoço, e o cabelo castanho comprido caía livremente pelos ombros. O vestido branco tinha runas vikings bordadas ao redor da gola e dos punhos. Pendurados no cinto dourado havia um molho de chaves antigas e um machado de lâmina única. Parecia a dama de honra de um casamento do Mortal Kombat.

Ela olhou para a parede afundada, rachada e quase destruída.

— A parede ofendeu você?

— Você é mesmo real ou estou alucinando? — Perguntei.

Ela bateu nos próprios braços.

— É, aparentemente sou real e você não está drogada, se é isso que quer dizer.

— Minha mãe... — Engoli o seco.

— Não — disse —, não sou sua mãe.

— Não, digo, ela está aqui em Valhala?

A garota ficou de boca aberta. Olhou por cima do meu ombro, como se elaborando a resposta.

— Desculpa. Larissa Castro não está entre os Escolhidos.

— Mas ela foi corajosa. Ela se sacrificou por mim. Ela sempre se sacrificou por mim.

— Eu acredito em você. — A garota examinou o chaveiro. — Mas eu saberia se ela estivesse aqui. Nós, valquírias, não temos permissão de escolher todo mundo que morre bravamente. Há... muitos fatores, muitas vidas após a morte diferentes.

— Então onde ela está? Eu quero ir para lá. Eu não sou um herói! Só sou uma garota que cometeu muitos erros e teve uma vida de merda.

A garota correu na minha direção e me empurrou contra a parede com a mesma facilidade com que atirei o livro contra a parede e a destruí. E pressionou o antebraço no meu pescoço.

— Não diga isso — sibilou. — NÃO DIGA ISSO! Principalmente não hoje à noite, no jantar.

O hálito dela tinha cheiro de menta. Os olhos eram ao mesmo tempo escuros e cintilantes. Os olhos da garota tinham o mesmo tipo de brilho assustador e pouco reconfortante.

— Você não entende — gemi. — Eu tenho que...

Ela apertou meu pescoço com mais força e fiz uma careta de dor.

— O que você acha que não entendo? A dor pela perda de sua mãe? A injustiça? Estar em um lugar onde você não quer estar, sendo obrigado a lidar com gente que você preferia não ver?

Eu não sabia como responder, principalmente porque não conseguia respirar.

Ela se afastou. Enquanto eu tossia e engasgava, ela andou pelo saguão, olhando de cara feia para nada em particular. O machado e as chaves balançavam no cinto.

Massageei meu pescoço machucado e a encarei com raiva. Talvez se tivesse minha arma, certamente atiraria nela, sem nem pensar duas vezes.

Eu não podia começar a choramingar e fazer exigências. Tinha que deixar a questão da minha mãe de lado. Se ela estivesse em algum lugar, eu descobriria depois. No momento, aquele hotel não era diferente de um abrigo para jovens, acampamento de beco, refeitório comunitário da igreja ou tampouco as gangues perigosas das ruas de Los Angeles, que sempre andavam armados e espalhando o terror pelas ruas.

Cada lugar tinha suas regras. Eu precisava aprender a estrutura de poder, a ordem hierárquica, as proibições que me fariam ser perfurada ou atacada. Eu tinha que sobreviver... mesmo que já estivesse morta. E para mim, aquilo não era tão diferente de uma nova afiliação a uma nova gangue de criminosos.

Mônica me ensinou. Estude as relações de poder de cada gangue, depois pense numa maneira estratégica de virar o jogo ao seu favor e obtenha o poder e o controle de cada situação.

— Me desculpe — falei falsamente exibindo um sorriso. Sentia como se tivesse engolido um roedor vivo cheio de garras. — Mas que importância tem para você se sou herói ou não?

Ela bateu na testa.

— Uau, tudo bem. Talvez porque tenha sido eu que trouxe você para cá? Talvez porque minha carreira esteja em jogo? Mais qualquer escorregão e... — Ela se controlou. — Não importa. Quando você for apresentado, siga o que eu disser. Fique de boca fechada, concorde e tente parecer corajoso. Não faça com que eu me arrependa de ter trazido você.

— Tudo bem. Mas, só para lembrar, eu não pedi nada.

— Pelo Olho de Odin! Você estava morrendo! Suas outras opções eram Helheim ou Ginnungagap ou... — Ela estremeceu. — Só digo que existem lugares piores do que Valhala. Eu vi o que você fez naquela escola. Por mais que não admita, você foi mais corajosa do que qualquer outra dama do escudo. Você se sacrificou para salvar muita gente. E se sacrificou pelo seu irmão.

As palavras dela soavam como um elogio. O tom como se ela estivesse me chamando de idiota ou debochando descaradamente de mim.

A garota veio até mim e me cutucou no peito.

— Você tem potencial, Doraalice. Não prove que estou errada, senão...

Uma corneta soou tão alto nos alto-falantes das paredes que sacudiu a foto sobre a lareira.

— O que é isso? — perguntei. — Ataque aéreo? Alerta de terremoto ou tsunami?

— Jantar. — A garota se aprumou. Respirou fundo e estendeu a mão. — Vamos começar de novo. Oi, sou Samirah al-Abbas.

Eu pisquei.

— Não me leve a mal, mas esse nome não me parece muito viking.

Ela deu um sorriso tenso.

— Pode me chamar de Sam. Todo mundo me chama assim. Serei sua valquíria esta noite. É um prazer conhecer você propriamente.

Ela apertou minha mão com tanta força que meus dedos estalaram. Retirei rapidamente minha mão as olhando atentamente, com medo de que a bruta tivesse estragado ou quebrado uma das minhas amadas unhas. Felizmente, elas não sofreram nenhum dano.

— Agora, vou acompanhá-lo ao jantar. — Deu um sorriso forçado. — Se me fizer passar vergonha, vou ser a primeira a matar você.

Que animador. Essa certamente seria umas boas vindas da qual acredito que sempre me lembrarei.





Oi, oi, oi! Pessoas como vão? :3 Espero que bem!

Esse foi o capítulo de hoje e espero que tenham gostado dele, no próximo se preparem que vem muita confusão.

O que acharam? :3

Não se esqueçam de votar e comentar ;)

Beijos e até a próxima.

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