Amigos Con Derechos

By autoragoldie

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"- Calma lá, quem está te pedindo algo sério? Fiquei sem reação por alguns segundos. - Se você gostou, qual... More

Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Nota Final

Capítulo 32

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By autoragoldie

"Quisiera que nadie quebrante tu fe
Que nunca te sangre la planta del pie
Que cuando te rompas yo pueda juntar los pedazos
Cubrirte con mis brazos
Decirte que no debes de ser así

Que se vale ser feliz
Que se vale hacernos bien
Que esta bien probar el fracaso, morderte los labios, contar hasta 3

Que se vale resistir aunque ya no aguantes más
Y a pesar de cada portazo, morderte los labios contar hasta 3
O hasta 10..."
(Contar Hasta 3 – Santiago Cruz)

– Você discutiu com ela?

Cristián perguntou, totalmente surpreso, quando acabei confessando o acontecido na hípica.

A princípio, tive muito medo de qual seria sua reação, uma vez que ele já havia deixado claro que não queria travar uma guerra contra a mãe da filha, e o que eu fiz não foi muito diferente disso. Temi que ele se zangasse e temi ainda mais que, por esse motivo, tudo o que estávamos construindo juntos, fosse por água abaixo.

Estava gostando muito de estar com ele. De dormir e acordar ao seu lado, de conviver juntos – com uma leveza que até então eu não conhecia. Ter um amigo e um amor na mesma pessoa, saber que podia dividir os ônus e os bônus de cada dia de trabalho e ouvir, mesmo sem entender, sobre o lado bom e ruim de cada dia dele também nos jogos e treinos.

Sem contar que estava mais apegada à Sofia do que jamais estive. A pequena trazia uma sensação boa de família para o nosso cotidiano e, mesmo quando o pai não estava em casa, ela continuava sendo uma parceirinha incrível e alegrando meus dias.

Eu entendia que, por mais que fosse recíproco e que Cris me amasse o mesmo tanto que eu o amava, nada jamais se compararia ao sentimento dele por Sofia. Então, se com minha ousadia eu tivesse causado algum prejuízo à relação dos dois, não me espantaria a reação dele ser bem ruim.

– Não foi uma discussão. Ela estava sendo insistente para que Sofia fizesse um salto com o cavalo e Sofi estava amedrontada, então tentei convencer Veronica a não insistir. – Expliquei uma parte e completei, quase sussurrando a outra – E depois disse a ela algumas coisas com as quais eu estava engasgada. Mas não foi nada tão grave! Desculpa não ter dito antes. Eu não sabia como você reagiria e não queria tirar seu foco da partida importante – Confessei – mas foi com uma boa intenção. Eu não estava mais aguentando esse inferno que ela está causando, principalmente na cabeça de Sofia. Ela é só uma criança, não é justo que sofra tanto por minha causa. Eu não consegui me conter

– Está bem – Ele disse, compreensivo, após um longo silêncio – Vamos ver como as coisas se resolvem e não sofrer por antecipação. Talvez ela nem faça nada.

Assenti, aliviada por ver seu tom otimista.

– Mas por favor, Cari. Não faça algo assim de novo. – O goleiro pediu – Eu disse a você que ia tratar disso com o advogado, por segurança. E assim vai ser. Você não pode atropelar as coisas assim. Até mesmo pensando na sua própria integridade. Consegue imaginar o que poderia ter acontecido se a situação saísse do controle? – Ele dizia, com preocupação. – Você tem um senso de justiça que é lindo, e não sossega até resolver o que quer que seja. Foi assim com Mateo, agora com Sofia... Eu entendo e admiro isso. Mas algumas vezes precisa ter mais calma, para evitar problemas maiores. Tudo bem?

Cristián finalizou, segurando uma de minhas mãos.

– Está bem!

Eu sabia que o conselho era importante. Minha impulsividade já me havia colocado em situações terríveis algumas vezes e, em muitas delas, mesmo que eu tivesse a melhor das intenções, acabava me prejudicando e saindo como a vilã.

– E, se você quer saber, durante a viagem conversei com Eric sobre o assunto.

Cristián disse, mudando de assunto e atraindo meu olhar para si.

– Foi mesmo? O que ele disse?

– Que existem algumas providencias que podemos tomar para proteger minha filha e impedir essas coisas de continuarem acontecendo. – Ele contou – O primeiro passo já dei, porque contratei uma psicóloga infantil para acompanhar Sofia. Vou agendar para a próxima semana também uma reunião com Veronica para conversarmos sobre isso. O objetivo inicialmente é só de assustar, para que ela veja que estamos bem amparados judicialmente, entende? Eric disse que talvez isso seja suficiente para fazê-la parar. Se não for, colocaremos tudo em prática. Seu irmão vai cuidar de tudo!

Assenti, empolgada. Se Eric estava guiando o caminho, eu sabia que o resultado seria positivo.

– Vai dar tudo certo!

Exclamei.

Como Cris adiantou, na semana seguinte a agenda movimentada de Sofia passou a contar também com as sessões de terapia que eu, pessoalmente, achava que deveriam ter iniciado muito antes. As pessoas tendem a esperar um problema se instalar para se submeter – ou submeter os filhos – a um acompanhamento psicológico, sendo que o mais sensato a ser feito é tornar isso parte do dia-a-dia, sempre que possível.

Para nossa surpresa, sobre a reunião, Veronica não demonstrou qualquer resistência e apareceu no dia e local combinados.

– Por que ela está aqui?

A mulher perguntou, imediatamente, logo que me viu.

– Boa tarde, Veronica. – Cristián disse, sério – Acho justo que Carina participe de momentos como esse, uma vez que ela participa e seguirá participando da vida e rotina de Sofia.

– Você pode tentar o quanto quiser, mas ela não tem poder nenhum de decisão sobre a nossa filha. Nunca vai ter. Somos eu e você que decidimos.

A mulher dizia, já com os nervos aflorados antes da conversa sequer começar.

– Está vendo alguma decisão sobre Sofia sendo tomada sem seu consentimento aqui, Veronica?

O jogador questionou.

– Está bem. Então o que você tem a dizer?

Veronica perguntou, um pouco afobada por ter sido confrontada.

Cristián indicou um lugar à sua frente diante da mesa para que a mulher se sentasse e eu permaneci na cadeira ao seu lado, um pouco assustada e atenta a tudo o que acontecia ali.

O jogador tomou a palavra novamente:

– Bom, vou ser breve. O que tenho a te dizer hoje é que – Ele dizia, buscando pelas palavras adequadas – Sofia iniciou nessa semana um acompanhamento com uma psicóloga infantil por recomend...

– Psicóloga infantil? – Veronica interrompeu, parecendo não ver o menor sentido na fala de Cristián – Pra quê? Minha filha não precisa dessas coisas, de onde você tirou essa ideia estúpida?

O goleiro então respirou fundo, parecendo impaciente, mas respondeu mantendo a calma:

– Na verdade, Veronica, são muitas as coisas que uma criança precisa para crescer bem e em segurança. E algumas dessas coisas têm faltado à Sofia. Principalmente no que diz respeito as suas atitudes. – Cristián explicou, com seriedade – Temos percebido uma regressão no comportamento dela, tão intensa que até sua personalidade tem mudado. Imagino que você também tenha percebido.

Ele comentou, erguendo as sobrancelhas.

– Você aparece com uma namorada nova e logo já coloca ela para morar na sua casa, sem nem dar tempo de Sofia se acostumar com a ideia, mas a culpa dela estar regredindo é minha?

A mulher supôs, com deboche.

– A convivência com Carina nunca foi um problema para nossa filha, você já deve saber disso. – Cris falou – Mas se você tem dúvidas quanto ao motivo que vem causando esse comportamento dela, não se preocupe. A psicóloga é uma profissional mais capacitada do que nós para identificar essas questões. Em breve teremos o retorno.

O jogador explicava, com serenidade. Eu observava ao lado, sem emitir qualquer som. Cristián estava se saindo muito bem.

Veronica observava e, apesar de parecer desinteressada eu podia sentir que ela não estava desmerecendo aquelas palavras.

Castillo seguiu falando:

– Mas não pense que Sofia não repete em casa os comentários que escuta de você, ou que deixa de nos contar as situações pelas quais tem passado. Ela nos diz. E a razão pela qual propus essa conversa e também o motivo pelo qual ela começou com as sessões de terapia é que isso já passou de todos os limites possíveis, Veronica. Você quer atingir a mim, faça como quiser. Mas deixe Sofia fora disso. – Cris aumentou o tom brevemente mas pareceu perceber e logo voltou a falar em tom tranquilo, disfarçadamente, após um pigarro – Meus advogados já estão a par da situação e estou te comunicando que: se esse cenário não melhorar imediatamente, entraremos com a solicitação de guarda definitiva. Os laudos da psicóloga e depoimento de testemunhas vão ser colhidos e uma nova audiência será agendada para que o juiz tome sua decisão.

Pela primeira vez desde o início da conversa, vi Veronica parecer verdadeiramente assustada. Mas foi Cris quem deu sequência ao monólogo:

– O fato de Carina estar fazendo parte da vida de Sofia não vai mudar, porque estamos juntos e assim vai ser por muito tempo. Contanto que ela esteja em segurança e bem cuidada conosco, como sempre foi e esteve, não há nada que você possa fazer para mudar isso. Então, poupe seus esforços. – Ele disse – É sua última chance de refletir sobre isso e se recompor, porque não vou tolerar que minha filha continue sofrendo com algo tão natural quanto isso por sua causa. Espero que tenha ficado claro.

Cristián finalizou, perguntando:

– Tem algo que queira dizer ou perguntar?

A mulher negou com a cabeça, ainda meio atônita, então o goleiro concluiu:

– Certo. Então isso é tudo.

Estávamos nos levantando para sair, quando Veronica pareceu conseguir finalmente formular uma frase e soltou, no ímpeto:

– Nenhum juiz vai dar a guarda de uma criança a um pai que está sempre fora, ocupado com o trabalho. Não seja tonto.

– Tente a sorte. – Cristián respondeu, despreocupado, pegando nossos agasalhos nos ombros da poltrona onde estava sentado – Eu tenho pessoas muito capacitadas cuidando disso para mim desta vez, Veronica. Você não me amedronta mais.

Ele me entregou meu casaco e vestiu o seu.

Antes de saírmos da sala, o jogador ainda fez questão de dizer algo mais:

– Aquele arranhão no rosto foi um acidente. Não era um risco real ao bem-estar de Sofia e você sabe disso – Ele disse, se virando novamente de frente para a mulher, ainda parada estática no mesmo lugar. – Mas isso aqui é. E você também sabe disso. Então esteja avisada de que vou fazer tudo o que eu puder para proteger o bem-estar da minha filha. – E finalizou – Isso é tudo. Tenha um bom dia.

Caminhamos de mãos dadas em direção ao carro de Cris sem trocarmos sequer uma palavra, até que adentramos o veículo e ele se entregou a um longo suspiro aliviado, retirando novamente o blazer que vestia.

– Como foi?

Ele me perguntou, assustado.

– Está brincando? – Perguntei – Você foi incrível, mi amor. Foi sério, como o assunto exige e ao mesmo tempo estava seguro de si e de tudo o que dizia. Acho que não poderia ter se saído melhor.

Eu disse e ele sorriu amarelo, parecendo aliviado.

– Que bom que pareci seguro, porque eu estava tremendo por dentro.

Gargalhei espontaneamente pelo comentário e ele acabou rindo também.

– Não transpareceu nem um pouco, não se preocupe.

– Aquilo que ela disse sobre um juiz não conceder a guarda a alguém que está constantemente ausente. Faz sentido, não faz? Você acha que isso pode ser um problema se isso vier a ser o caso?

Cris perguntou, alguns minutos depois, parecendo preocupado.

– Eu acho que não. Suas ausências são motivadas pelo trabalho, sempre. E você tem toda uma estrutura para que Sofia continue sendo bem cuidada mesmo quando você não está, então eu não veria isso como um problema se fosse o juiz. – Respondi, com sinceridade – Sem contar que mais coisas são levadas em conta para se tomar essa decisão, então não se preocupe.

– Certo. – Ele respondeu, agora aliviado – Foi bom ter levado você como mascote de suporte emocional. Obrigado por isso.

Cris brincou e eu gargalhei mais uma vez.

– Agora mesmo estava tão sério explicando a Veronica o motivo pelo qual eu estava presente, para agora me chamar de mascote de suporte emocional? – Questionei, rindo e arrancando também uma risada do goleiro – Não agradeça por isso, corazón. Vou estar sempre por perto para apoiar você.

Eu disse e o jogador tirou os olhos da estrada por um breve instante para me olhar e sorrir em agradecimento, erguendo uma de minhas mãos e beijando-a.

No fundo, eu acreditava que a conversa surgiria efeito e não seria necessária uma audiência para mais uma revisão do regime de guarda. A divisão semanal era justa e eu sabia que para Sofia essa era a melhor opção para continuar a receber atenção do pai e da mãe na mesma medida. Contanto que a atitude de Veronica mudasse, Cristián não tentaria alterar isso de novo sem ter um bom motivo.

Ela não precisava me amar, ou ser minha amiga. Bem como não precisava fazer o mesmo com Cris. Mas, nos respeitar individualmente e como casal, era impotante para que Sofia se sentisse segura conosco e não sofresse com o processo.

Quase como mágica, com o passar dos dias, foi nítida a mudança de cenário que observamos. Pouco a pouco foi voltando a Sofia espontânea e feliz que conhecíamos e isso para nós era o mais importante.

Eu, aos poucos, fui parando minha busca por imóveis para me mudar. Não por folga minha, mas porque – sempre que eu iniciava uma busca – Cristián fazia o possível para me mostrar defeitos no lugar, não disfarçando nem um pouco que estava gostando de me ter morando consigo e que não queria que eu me mudasse dali.

Eu também não podia negar que, além de gostar muito de estar com ele; ter a praticidade de viver em uma casa tão confortável quanto aquela, cuja localização era tão boa e contava com tantos funcionários amáveis e que tornavam o nosso dia-a-dia mais prático; era uma dádiva. Parece óbvio que minha única motivação para sair dali, vinha do sentimento de não querer ser uma hóspede incômoda para Cris; então, quando ele começou a insistir para que eu não fosse embora, entendi que esse não era o caso e que ele queria mesmo que eu ficasse... Então fiquei.

O mês seguinte chegou e, consigo, a data da decisão final do campeonato mais importante que Cristián disputava.

A final acontecia em jogo único e campo neutro. Nesse ano, a delegação do Atlético viajaria à Suécia para esse jogo e eu me organizei com os horários do meu trabalho – agora já como residente do segundo ano – para poder ir, junto com Sofia, além de Lucia e Honório, pais de Cristián; para assisti-lo.

A equipe de Madrid entrou em campo nervosa. Os jogadores erravam passes e desarmes de uma forma nunca vista antes. Todos ali diziam que isso era fruto do nervosismo de um time que poderia pela primeira vez conquistar um título tão expressivo.

O time adversário estava melhor, mas a defesa do Atleti conseguiu impedi-los de chegar ao gol diversas vezes. Cristián, inclusive, fez várias defesas difíceis. A cada uma, gritava nervoso com os companheiros, dando instruções para que eles se organizassem.

Menos de dez minutos faltavam para o apito final – uma prorrogação viria em caso de empate e uma disputa de pênaltis caso o placar permanecesse assim – quando uma falta marcada na entrada da grande área defendida por Cristián deixou todos em estado de alerta.

Castillo conseguiu defender, caindo e espalmando a bola com as mãos – o chute foi forte demais para que ele conseguisse agarra-la – mas, na sequência, a bola sobrou nos pés de um dos jogadores adversários que aproveitou o rebote – e o fato do goleiro ainda estar tentando se levantar – para empurrar a bola ao fundo do gol.

Imediatamente o clima na parte do estádio onde estávamos ficou tensa e todos torciam para que nestes poucos minutos restantes, a equipe do Atlético conseguisse um gol de empate para garantir pelo menos a prorrogação. Mas não foi o caso.

Cristián desabou no gramado; em lágrimas, como muitos de seus companheiros; quando o juiz apitou o final da partida.

Sofia chorou por ver o pai chorar e foi logo acolhida pelos avós, que trataram de distraí-la e dizer o quanto Cris já era vitorioso apenas por ter chegado tão longe – o que não era uma mentira, afinal. Mas, a esse ponto, eu já entendia o suficiente sobre o esporte para saber que o segundo lugar não serve. O fato de os jogadores retirarem a medalha de prata imediatamente após recebe-la era prova disso.

Assisti ali, também com os olhos marejados, enquanto o time adversário erguia o troféu; como Cris queria tanto ter feito.

Foi só depois de um longo período de minutos que nossa saída do estádio foi finalmente liberada.

– Querida, você não vem? Vamos esperar por Cris no hotel.

Minha sogra perguntou, quando o ônibus que nos havia levado até o estádio chegou e boa parte das pessoas que estavam conosco no espaço reservado aos familiares o adentrou.

– Na verdade, Lu, gostaria de esperar por ele aqui. Tudo bem se vocês forem com Sofia e eu encontrar vocês lá depois?

Eu disse, percebendo que alguns jogadores da equipe já estavam saindo do vestiário e que, inevitavelmente, Cristián passaria ali antes de ir para o ônibus que levaria o time de volta ao seu hotel.

Sofia estava adormecida em um dos ombros do avô e eu sabia que não lhes daria trabalho até que eu chegasse, por isso sugeri.

– Nenhum problema. Vai ser bom para Cristián ter você aí quando sair. – Ela sorriu amarelo – Obrigada por se preocupar tanto com meu menino.

– Amo seu filho, Lu. Não precisa me agradecer.

Respondi devolvendo o sorriso sem graça.

Lucia caminhou com Honório até o ônibus e eu permaneci ali, diante das grades que separavam o espaço restrito da equipe, da pequena aglomeração de jornalistas que tentavam colher uma informação a mais à medida que os atletas iam deixando o vestiário.

Cristián passou pela porta cabisbaixo, sério e parecendo mentalmente querer desligar todos aqueles flashes que agrediam seus olhos ainda sensíveis e avermelhados pelo choro desconsolado de mais cedo. Caminhou a passos largos para se livrar logo daquelas pessoas e, sem erguer a cabeça, quase não me viu ao passar por ali.

– Psiu

Sonorizei, para que ele soubesse que eu estava ali.

O jogador ergueu a cabeça ainda sério e checou ainda mais uma vez antes de confirmar que era eu. Foi quando sua expressão séria passou, em segundos, para uma expressão surpresa e então todos os músculos de seu rosto se contraíram, fazendo-lhe cair em lágrimas novamente.

Corazón... – Eu disse, chegando mais perto e tomando-lhe em um abraço. – Eu sinto muito mesmo.

– Eu queria tanto isso, Cari. – Ele dizia, com a voz chorosa – Sinto ter desapontado vocês.

– Ei, não ouse dizer isso – Eu falei, segurando seu rosto entre minhas mãos – Você jamais nos decepcionou.

– Era o sonho da minha vida.

Cris choramingou, como uma criança, cobrindo o rosto com as mãos novamente enquanto eu lhe envolvia em meu abraço.

– Mas ele não se acabou, só se adiou um pouco. – Falei, em tom consolador com uma das mãos em sua cabeça lhe fazendo um cafuné. – Na próxima vez vocês terão mais experiência e será melhor, eu tenho certeza.

Beijei com carinho o rosto do jogador, que permaneceu mais longos segundos sem dizer nada.

– Se lembra quando aquela vez você me perguntou se não há nada místico em que acredito?

Perguntei, algum tempo depois, ainda falando baixo próximo a seu ouvido.

Cristián assentiu, sem entender muito bem.

Por ter crescido em uma família tradicionalmente católica, Cris tinha influências muito fortes. Não que isso tenha sido um problema alguma vez ou que o goleiro fosse um teísta fanático, mas, um dia, por curiosidade, ele questionou se não havia nada sobrenatural em que eu acreditasse e eu respondi que não. O assunto desvaneceu e não tocamos mais nele até então.

– Tem uma coisa. – Falei – Eu acredito que tudo de ruim que se passa na nossa vida, acontece logo antes de algo muito bom acontecer. – Expliquei – Aquela analogia com o fato da hora mais escura da madrugada ser aquela hora antes do sol começar a sair, sabe?

O goleiro concordou, os dois olhos inchados olhando para mim.

– Não sei se é destino ou casualidade, mas comigo tem sido assim. – Falei – Um dia achei que nunca mais ia ser feliz de novo, mas a felicidade chegou e já faz um tempo que já nem me lembro mais dessa época. Eu sei que é difícil ver agora, mas vai chegar um dia em que você vai estar tão feliz que isso aqui não vai importar tanto. Eu prometo.

Cristián fungou, limpando o rosto cheio de lágrimas.

– Eu já acho que algumas vezes a ordem muda. – Ele disse, se recompondo e finalizando, com um beijo carinhoso no meu rosto – E a alegria vem antes, para a tristeza doer menos quando chegar. Obrigado por isso, minha linda. Eu amo você.

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