Psicose (Livro I)

By andiiep

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Melissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. E... More

Aviso Inicial
Prólogo
Um - St. Marcus Institute
Dois - A holandesa de Cambridge
Três - Inesperado
Quatro - Sutura
Cinco - Insônia
Seis - Happy Hour
Sete - Progresso
Oito - Passado
Nove - Proximidade
Onze - Hormônios!
Doze - Corey vs Brian
Treze - Fotografia
Quatorze - Helvete
Quinze - Perigo
Dezesseis - Triângulo
Dezessete - Sobrenatural
Dezoito - Confusão
Dezenove - Corey vs Brian (parte 2)
Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders
Vinte e Um - Render-se
Vinte e Dois - Bipolaridade
Vinte e Três - Mensagem Sobrenatural
Vinte e Quatro - Intimidade
Vinte e Cinco - O inferno converte-se em paraíso
Vinte e Seis - Não Há Compaixão Com a Morte
Vinte e sete - Quebra-Cabeças
Vinte e Oito - O Passado Condena
Vinte e Nove - REDRUM
Trinta - Veritas Vos Liberabit
Trinta e Um - Plano de Fuga
Trinta e Dois - Luxúria
Trinta e Três - Preparação
Trinta e Quatro - Vai Dar Tudo Certo!
Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade
Trinta e Seis - Scotland Yard
Trinta e Sete - Reencontro
Trinta e Oito - Vigilância Constante
Trinta e Nove - Corpo e Alma
Quarenta - Encontros e Desencontros
Quarenta e Um - Armadilha
Quarenta e Dois - Salvação?
Quarenta e Três - Tentativa e Erro
Quarenta e Quatro - O Infeliz Retorno
Quarenta e Cinco - Do Pó Vieste...
Epílogo
AUTO MERCHAN

Dez - Embriaguez Acidental

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By andiiep



Depois que o almoço assentou em seu estômago, o trabalho da tarde ocupou sua cabeça e o café tomado para espairecer as ideias acordou seu cérebro, Melissa notou que estava... Irritada.

Corey Sanders era, sim, um belo de um covarde. E dono de uma estranha lógica autodestrutiva. Não, a morte de Barber Paay não era culpa dele – e, ao se pegar pensando isso, questionou se não deveria pedir ao Dr. Thompson uma vaga no prédio A, afinal e contas, ele era o condenado pelo assassinato da pobre moça. De qualquer modo, internalizar a culpa daquela forma, colocar o peso de tudo sobre seus ombros, não era o melhor jeito de lidar com a situação. E não era necessária qualquer formação na área psiquiátrica para concluir isso.

Melissa achava que era a melhor pessoa ali dentro para ajudar Corey Sanders. Pena para ela, ele não queria ser ajudado. Era esse o motivo de sua irritação. Estava disposta a dedicar muito de seu tempo e do aprendizado de anos na faculdade de Medicina para ele. Estava disposta a dedicar mais do que a ética profissional permitiria, mas ainda assim, não via meios de fazer de outra forma. E ele jogara tudo para o alto.

Difícil seria, de qualquer modo, entender a cabeça de uma pessoa que estava ali há três anos, que passara todos eles sem falar uma palavra com ninguém, que se metera em mais confusões do que sua integridade física poderia suportar.

Sabia que não deveria, mas a birra pelo comportamento de Corey Sanders nasceu, cresceu e se desenvolveu dentro de Melissa. Não havia volta. Ele não a queria, bem, ela também não faria questão alguma de qualquer coisa que envolvesse seu, agora, ex-paciente.

Talvez fosse até melhor manter distância. Seus pensamentos, seus hormônios, seu corpo todo, não reagiam bem quando ele estava próximo. Sua voz falando no ouvido de Melissa aquelas coisas todas sobre ser a luz e ele estar atraído por ela, o tom rouco, a risada, a intensidade, eram mais do que poderia suportar, estando tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Mesmo depois de horas, parecia que a presença dele estava em torno dela, cercando, deixando seu cheiro de perfume masculino no ar, a aura poderosa, a pose de quem saberia satisfazer Melissa, em qualquer aspecto.

Por um instante, não conseguiu reprimir o pensamento de que queria que Corey Sanders a satisfizesse. Quando se deu conta do absurdo, balançou a cabeça e tratou de tirar de lá todos os pensamentos indevidos sobre ele. Era seu paciente, era um diagnosticado sociopata, um assassino, um maldito sedutor barato que ela queria muito entre suas pernas...

Melissa decidiu que seria melhor dar uma volta pelas dependências do St. Marcus, para que sua cabeça pensasse em qualquer outra coisa, que não Sanders. Voltar ao consultório não a ajudaria nessa empreitada. Em seu quarto não havia distração, nem mesmo uma televisão com programas de comédia sem graça da televisão britânica.

Desceu as escadas e foi até o jardim. O sol já estava se pondo, os pacientes estavam em seus quartos ou suas celas. O gramado verde bem cuidado estava vazio, bem diferente do dia-a-dia do St. Marcus. Não era macabro, com o restante do lugar. Não, ele era, estranhamente, pacífico. Melissa caminhou até um dos bancos de descanso e lá sentou-se, olhando para o céu. As nuvens da Inglaterra interiorana o cobriam, de modo que Melissa não pôde ver as estrelas que esperava observar. Ficou olhando o céu por um longo tempo mesmo assim, porque pareceu o suficiente para deixar sua cabeça sem pensamentos sexuais envolvendo o paciente bonitão e perigoso.

Somente desviou a atenção do azul escuro quando alguém parou à sua frente. Era Kate.

- Queria saber em primeira mão do barraco recente mais comentado do St. Marcus. Só quero adicionar, antes de sentar ao seu lado, que o último mais comentado foi a briga de Corey Sanders e Johnatan Reagan na sessão de terapia em grupo, por sua causa. Ou seja, doutora Melissa, você veio para causar, confesse. – foi o que ela disse, então finalmente se sentou ao lado de Melissa.

A doutora riu da colocação da enfermeira, então respondeu:

- Juro que queria passar despercebida todos os dias da minha vida, mas Corey Sanders parece não querer deixar isso acontecer. A culpa é toda dele.

- Claro, ele tem mesmo culpa de levar uns socos em sua carinha linda por causa da nova doutora bonitona. – Kate piscou.

- Ele é um imã para confusões.

Kate riu e balançou a cabeça.

- Talvez você seja um ímã para confusões. O que aconteceu, afinal de contas? Ouvi muitas histórias. Inclusive que ele teria te beijado à força, teria te enforcado, teria te pedido em casamento. Essa última você deve à senhora Logan, que estava no jardim no momento.

Melissa riu nervosa.

- Nenhuma dessas coisas. Agi feito uma babaca infantil e criei uma confusão desnecessária, foi isso que aconteceu.

- Babaca infantil? – os olhos da enfermeira estavam cerrados.

- Corey Sanders acordou hoje decidido a não ser mais meu paciente, então pediu ao doutor Thompson para que trocasse. Eu fiquei irritada. E apesar de ser psiquiatra, sofro de uma séria impulsividade, a qual não consigo controlar em determinados momentos, então fui falar com ele. E, de repente, quando me dei conta, Sanders estava bem na minha frente, muito próximo. Muito mesmo. Mas ele não faria nada, estava apenas falando, então Brian apareceu e bateu nele porque diz que achou que Sanders estava me atacando. Enfim, eu errei, não deveria ter ido falar com Sanders, para começo de conversa, não cabe a mim cobrar um paciente por suas escolhas. Cabe a mim aceita-las e tocar em frente.

- Sabe o que eu acho? Que você mexeu com a mente de nosso mais ilustre paciente. E não foi pouco. Foi fulminante, como os socos que levou por sua causa.

- Brian poderia ter evitado.

O sorriso nos lábios de Kate tornou-se malicioso.

- Sempre, mas não acho que queria evitar nada. – ela suspirou e se aconchegou no banco – Não conte para ele que estou falando isso, mas a verdade é que Brian não é exatamente o cara mais cabeça fria que conheço, pelo contrário. Odeio isso nele, odeio com todas as forças. Já perdi as contas de quantas vezes o vi brigando com alguém. Ele tinha melhorado depois que veio para cá, mas a rixa com Sanders é mais antiga do que posso me lembrar, e acho que dessa vez ficou difícil controlar o ímpeto. Você deve saber por quê...

Melissa sentiu o sangue em seu rosto esquentar, mas manteve a pose firme.

- Eu sei, mas não é um motivo que justifique a atitude dele.

- Nada justifica violência, especialmente quando o envolvido é um médico e a vítima da violência em questão é um paciente. Infelizmente, você despertou o que há de pior em Brian, Melissa. – Kate lamentou – Mas ele não é maldoso por natureza, sabe? Não quero defende-lo, porque já o repreendi por horas, e tenho certeza de que a advertência que levará do doutor Thompson será suficiente para que ele coloque a cabeça no lugar, mas não deixe que isso estrague a amizade. – ela fitava Melissa com intensidade.

Melissa assentiu, porém cerrou os olhos, desconfiada:

- Ele pediu para você falar comigo?

- Não. – ela negou de pronto – Mas sei que ele gostaria que sim, porque está envergonhado do que fez e não gostaria de cortar relações com você. Acho que Brian gosta de você, Melissa.

Melissa encarou as mãos que entrelaçavam nervosas, então o jardim já escuro pela noite que caiu completamente enquanto conversavam. Depois para o céu. Por fim, olhou para Kate. Quando chegou à conclusão de que não tinha uma resposta satisfatória para aquela observação, deu de ombros e torceu os lábios.

- Eu sei.

- E você? – ela sorria aquele seu sorriso maternal de quem deixa qualquer um com vontade de compartilhar seus mais obscuros segredos.

A doutora repetiu o processo de olhar para todos os cantos, menos para a enfermeira.

- Não vou te obrigar a responder essa pergunta, Melissa, não se preocupe. – ela riu – Eu bem sei o tipo de reação inicial que Corey Sanders causa em todas as mulheres que chegam aqui.

Melissa engoliu em seco.

- Não estou interessada em Corey Sanders, se é o que está tentando dizer.

- Tudo bem. Mas é um bom momento para tomar cuidado, porque, pelo modo como disse que se aproximou de você no gramado nessa tarde, claramente ele está.

- Kate! – Melissa ralhou, arrancando da outra mais uma risada – Isso é completamente inapropriado!

- Mas e se ele não fosse paciente? E se o tivesse conhecido fora daqui, em outra circunstância? – o olhar esverdeado dela era felino.

Enquanto pensava se Kate era confiável o suficiente para responder que, nesse caso, casaria com ele sem pensar duas vezes, se pudesse, uma dor lancinante cortou sua cabeça. Foi um pequeno instante, quase insignificante, contudo por pouco não a derrubou do banco em que estava sentada. Kate, entretanto, pareceu não perceber o breve momento estranho de Melissa e ainda a encarava em expectativa.

- Quem de nós não gostaria de uma noite com ele fora daqui? – foi o que respondeu, um sorriso enigmático.

- Eu, com certeza. – Kate levantou a mão – Confesso que tinha certo tipo de paixão platônica por ele quando chegou aqui. Aquele sofrimento todo, a namorada assassinada, aquela cara de galã de Hollywood de quem não poderia ter cometido uma atrocidade daquelas...

- E agora? Passou a paixão platônica? – Melissa tentou ser o menos invasiva possível.

- Passou, ele nunca quis falar comigo, fiquei sentida com isso.

Melissa e Kate riram em conjunto.

- Você já está na minha frente nesse quesito. – ela piscou – Mais um indício de que ele quer seu corpo, doutora Melissa.

- Ele não quer meu corpo, ele quer causar confusão, só isso. – a doutora revirou os olhos – Mas já que estamos falando dele, o que você acha? Acha que ele matou Barber Paay?

Kate apertou os lábios em uma linha fina e encarou o jardim de cenho franzido. Então finalmente falou:

- Eu tenho uma teoria. Claro que não sei de todos os detalhes, mas acho que ele foi vítima de uma armação. Tudo bem, ele tem aquela pose metida à besta, e o jeito como age deixa alguma margem de dúvida para sua sanidade, mas acho que é só pose. Por dentro ele é um cara super bacana que está sofrendo com a morte da garota que amava, porém que não soube tratar direito.

- Quem teria armado para ele?

- Não sei, às vezes ela tinha algum inimigo... Ou ele tinha algum inimigo... Não acho que vamos saber, eles já prenderam alguém, jamais investigariam o caso novamente sem uma prova contundente, mas é o que eu penso. E você? O que pensa?

Melissa deu de ombros.

- Não posso emitir uma opinião concreta, já que ele foi meu paciente, só... – ela pigarreou, escolhendo bem as palavras que diria: - Bem, Sanders é um enigma. E eu queria muito poder desvendar.

A semana voou. Embora Melissa tivesse um horário livre em sua agenda deixado por Sanders – o paciente desertor, os dias não se arrastaram pela momentânea falta de trabalho.

O doutor Thompson a chamara em sua sala no dia seguinte à confusão no jardim. Perguntara qual havia sido o problema. Ela omitira o fato de que, inexplicavelmente, achara correto perguntar a Corey Sanders por que a dispensara. Mas falara a verdade: estavam conversando. Brian interpretou a coisa toda de forma errada, deu um soco em Sanders porque achou que ele a atacaria. O doutor Thompson assentira, com seu bigode chamativo remexendo de um lado a outro. Então dissera que retiraria Sanders da solitária imediatamente, dada a injustiça cometida.

Então resolvera que seria melhor deixa-la acompanhando Kate em suas rondas pelos prédios A e B durante o tempo vago, para que Melissa conhecesse melhor o St. Marcus e se familiarizasse com os demais pacientes. Não queria colocar mais ninguém sob seus cuidados, dado o fato de que tivera problemas com dois deles. Melissa não se sentiu a melhor das profissionais com essa declaração (porque talvez não fosse mesmo), contudo foi uma boa experiência, pois ela pôde presenciar diferentes níveis, graus e tipos de distúrbios, sobre os quais tão somente ouvira falar na faculdade.

Dentre esses passeios, claro, teve que ver Corey Sanders uma, duas ou dez vezes – mais precisamente -, e, descobriu, em todas elas, que ainda estava irritada com a atitude dele. Infantil, talvez, mas o sentimento de rejeição, quando crescia em uma mulher – uma levemente (e assumidamente) desequilibrada como ela -, era difícil de controlar.

Todas as vezes em que o vira, ele fizera questão de desviar o olhar. Cabeça baixa, encarando seus próprios pés, mãos nos bolsos, como se ela devesse ser evitada, porque fazia mal a ele. Bem diferente daquele engraçadinho que queria saber mais sobre ela dois dias antes. Talvez não fosse um sociopata, talvez o problema fosse mesmo um transtorno bipolar ou dissociativo de personalidade. Havia dois Corey's, tinha quase certeza. Gostava muito mais daquele que não se deixava levar por um destrutivo desejo de sofrimento pessoal.

Mas ela não tinha que emitir opinião alguma sobre ele, então tratou de ignorá-lo da mesma forma nos dias que se seguiram.

Na sexta-feira pela tarde, entretanto, foi bem difícil. Após sua última consulta do dia, com Megan Janeth McPhierson que, estranhamente, estava muito simpática, saiu do consultório. Sua intenção era tomar um chá no refeitório, mas a vontade passou de imediato. Estava no fim do corredor, próxima às escadas, quando ele saiu do consultório ao lado, escoltado pelo guarda do helvete. Era a sala da doutora ruiva que tinha uma enorme queda por Brian.

De início, Sanders não olhou para Melissa. Preocupou-se em tentar afrouxar as algemas, mas algo sobre a doutora pareceu chamar a atenção dele, que, logo em seguida, fixou seus olhos azuis nos dela. Demorou um pequeno instante, porém aquele sorriso enigmático, malicioso, de quem despe a outra pessoa com a força do pensamento e gosta do que vê, logo surgiu em seus lábios. Melissa limitou-se a cerrar os olhos e apoiar as mãos na cintura. Não desviou o olhar nem um instante sequer, determinada a desafiá-lo, claramente, outra vez, perdendo a noção de tudo. Especialmente do profissionalismo.

- Vamos, Sanders. – o guarda tentou obriga-lo a continuar seu caminho, mas ele manteve os pés no chão, sem tirar os olhos de Melissa.

- Gostaria de falar um minuto com a doutora Parker, se for possível.

O guarda olhou para Melissa, uma pergunta muda. Parecia que o Corey engraçadinho estava no comando. Ela deu de ombros e assentiu.

- Pode esperar lá embaixo, eu o levo até você.

- Tem certeza? – o olhar do homem era desconfiado, como se achasse que ela era louca por aceitar ficar sozinha com um cara como Corey Sanders. Não era o protocolo do hospital, definitivamente. Mas Melissa descobriu apreciar o fato de que nem sempre era a rainha do profissionalismo, só para variar um pouco. Porque queria, mais do que seguir as regras, saber o que de tão importante ele tinha para dizer, depois de ser categoricamente ignorada.

- Sanders não vai fazer nada. – Melissa sorriu, olhando para ele – Posso lidar com ele sozinha.

- Você ouviu a doutora. – o olhar de Corey ainda estava fixo no dela.

- Vou aguardar lá embaixo. – o homem olhou feio para Sanders, e, relutante e desconfiado, desceu as escadas.

Melissa cruzou os braços e esperou que ele se manifestasse primeiro.

- Ainda está irritada comigo?

- Por que haveria de estar?

Sanders sorriu.

- Se não estivesse, não teria me confrontado daquela maneira no outro dia.

Melissa respirou fundo.

- Por que você estaria interessado nisso? Faz questão de me ignorar quando estou por perto.

- Ah, então você continua irritada. – interpôs, o sorriso era esperto, vitorioso.

- Não, estou indiferente. Não encare a situação como se fôssemos velhos amigos. Eu sou a médica, você o paciente, não há motivos para que eu fique irritada com você porque não me quer mais.

Corey assentiu, porém continuou, a voz baixa, o tom rouco gutural, sedutor:

- Quero tanto que chega a doer. Mas você não gostaria de saber nada a respeito disso.

A doutora engoliu em seco e se remexeu nervosa em sua posição durona. Ela queria muito saber, sim, mas ainda tinha um pingo de juízo em sua cabeça, de modo que estava ciente do quão inapropriada era aquela conversa. Em tão pouco tempo... E já se deixava levar por uma conversa daquelas, de um paciente, um paciente um tanto desequilibrado... E um tanto quanto atraente... Aquele perfume, os braços musculosos e tatuados, aquela expressão tão relaxada...

Ele a rejeitava, então a provocava, um método muito maldoso de sedução. Um no qual não cairia, porque, bem, o juízo... O juízo ainda estava lá. Escondido, mas estava lá.

- Você gosta da ideia de provocar, não é mesmo? – deu um passo à frente.

Queria coloca-lo no seu devido lugar, apesar do juízo....

- Gosto de ideia de provocar você, doutora. – Sanders também deu um passo à frente. Estavam tão próximos quanto no outro dia, porém ambos tentavam dominar aquela situação – Passou tanto tempo desde a última vez que algo ou alguém despertou tanto meu interesse assim...

Melissa cerrou os olhos. O juízo estava indo embora...

- Interessou tanto que você escolheu fugir.

- Bem, ainda continuo achando que você é a melhor coisa que não posso ter, e mereço ser punido, então aqui estamos... – levantou as algemas, que ficaram em frente aos olhos de Melissa, brilhando.

Foi a vez dela sorrir.

- Tão pouco tempo de convívio e você acha que poderia "me ter" assim? Tão fácil? Especialmente considerando as circunstâncias de nossas vidas?

- Ah, bem, não mediria esforços para conquistar essa garota. – ele estava sorrindo, como se estivessem flertando em uma festa, não no corredor do manicômio judiciário no qual ele estava preso e ela trabalhava.

Muito problemático, muito errado. Mas divertido, ainda assim. Quebrar as regras, uma adrenalina muito bem-vinda. Então Melissa permitiu-se continuar com aquilo, só pelo prazer da diversão que ela nem sequer se lembrava da última vez que sentira.

- Não sou uma das garotas da faculdade com quem você se relacionava, Sanders. Sou uma mulher. E funcionária, paga para tratar você.

- Em outras circunstâncias, não recusaria qualquer tratamento seu. – Corey deu o último passo que os separava.

Melissa manteve-se firme. Não saiu do lugar, muito embora tivesse quase certeza de que suas pernas vacilaram. A presença de Corey Sanders era um poderoso entorpecente. E muito, muito perigoso.

- Pena para você as circunstâncias são essas. – torceu os lábios, ironia reinando em seu tom.

Descobriu-se irritada com ele porque aquela provocação toda de "posso não posso", além de ser sem sentido, a deixava ridiculamente eufórica, de um modo que não poderia se permitir. Era como se fosse submissa demais aos encantos dele, não pudesse evitar, embora quisesse – por ser proibido e porque aquele lado convencido dele era para lá de inconveniente. Ainda assim, parecia fazer parte dele, então tornava a coisa toda ainda mais encantadora. Não, Melissa não costumava fazer qualquer sentido, e tinha plena consciência disso. A irritação só cresceu quando se deu conta de Corey Sanders apenas piorava esse seu quadro clínico de indecisão crônica.

Sanders assentiu em resposta, porém o sorriso não morreu em seus lábios.

- De qualquer modo – disse, dando um passo atrás, de modo que Melissa pôde respirar normalmente de novo – Gostaria de agradecê-la por ter falado a verdade ao doutor Thompson, me poupou de algumas horas na solitária.

- Disponha. – seu sorriso foi duro – Já terminou?

- Sim. – ele não pareceu se abalar pela mudança de humor da doutora.

- Então vamos, tenho mais o que fazer. – sentenciou e o levou em silêncio até o andar de baixo, onde o guarda do helvete os esperava.

Quando estava subindo as escadas de volta, ainda na intenção de tentar enfiar um chá goela abaixo, para ajudar a digerir a existência de Corey Sanders e modo como sua "relação" com ele estava se desenvolvendo, encontrou Brian no meio do caminho.

- Vim em paz! – ele disse, as mãos espalmadas na altura dos ombros, como quem se rende.

Melissa estava com raiva de Corey Sanders e de sua atitude provocativa naquele momento, então permitiu-se sorrir para Brian. Uma vingança pessoal que ele jamais saberia existir. Outra contradição interna que jamais poderia explicar. Mas ele merecia, Corey Sanders, por agir feito um babaca.

- Não estou em guerra com você.

- Pena. Porque vim te convidar para mais um happy hour no New In, por minha conta, como um pedido de desculpas por minha atitude precipitada.

- Estou em guerra novamente. Não posso desperdiçar bebida de graça quando é oferecida de tão bom grado.

Melissa desceu do carro de Brian na frente do New In e não demorou muito para que ele se juntasse a ela. Bem próximo. Daquele jeito que a deixava um tanto desconfortável e ao mesmo tempo bastante confortável. Talvez Brian fosse o maior enigma de sua vida, não Corey Sanders. Kate estava com eles dessa vez, entretanto, e apareceu do seu outro lado no momento seguinte, de modo que a sensação de proximidade deixou de ser uma preocupação.

A mesa em que sentaram no outro dia estava reservada para os funcionários do St. Marcus, tradicionalmente os maiores frequentadores do restaurante/pensão/bar noturno. Com uma população mínima como a de Winchelsea, até mesmo um famigerado manicômio judiciário com uma boa dezena de funcionários poderia significar prosperidade para o comércio local. Era quase um status fazer parte da equipe de médicos, os tão corajosos médicos que se arriscavam dia e noite em meio aos "degenerados prisioneiros".

Dessa vez, os demais colegas de trabalho foram mais simpáticos e solícitos com Melissa. Conversaram, deram risada, compartilharam uma cerveja. Parecia que ela havia, finalmente, sido aceita pela comunidade dos heróis do St. Marcus. O que causara tal mudança repentina, ela não sabia, mas gostou e preferiu não questionar. Exceto, é claro, pela médica ruiva – Claire McKenna, descobrira logo -, ainda claramente apaixonada por Brian e insatisfeita com a atenção que esse último dispendia a Melissa. Seus olhares para a doutora eram incisivos, até mesmo irritados. E sua conversa sempre provocativa, pouco discreta, tentando diminuir o profissionalismo de Melissa (que já não achava ser dos mais exemplares, dados os tipos de conversas secretas que andara tendo com Corey Sanders), especialmente pelo fato de ter sido a causa de duas brigas, que não aconteciam por ali há quase seis meses, um recorde. Melissa lidou bem a situação, até que o papo foi direcionado a Corey Sanders. Havia algo sobre ele que a fazia perder a linha, em todos os aspectos.

- Eu não sei como não conseguiram avançar no tratamento de Sanders antes... – Claire soltou em um momento, certificando-se de que Melissa estava por perto e de que poderia ouvi-la – Foi muito fácil manter uma conversa com ele na consulta de hoje, é de uma personalidade agradável, muito simpático, tem boa conversa, sem contar naquela aparência, vou te dizer, não pode ser nenhum pecado olhar – ela piscou marota - Tivessem me indicado antes, e muitos problemas poderiam ter sido evitados.

- Mas você tentou trata-lo uma vez, não foi? Logo depois da confusão com Brian? – Jack, outro colega, questionou.

Os ouvidos de Melissa ficaram muito atentos. Até se esqueceram do assunto aleatório que Brian tentava impor na rodinha ao lado. Confusão com Brian era muito mais interessante.

- Bem, sim, mas ele não estava muito aberto a diálogos depois do que aconteceu. – ela torceu os lábios, desconfortável.

Melissa soltou uma risadinha maldosa, antes que pudesse evitar, e atraiu para si os olhos violetas da mulher. Coléricos. Não gostou nada do tom, da atitude.

- Por que está rindo?

- Por nada. – levantou as mãos na altura dos ombros – Que bom que fez progresso com Sanders, apesar da primeira falha. É sempre bom ter a chance de consertar nossos erros. – a doutora sorriu – Depois que eu dei o primeiro passo, não fica muito difícil...

Nesse instante, todas as rodinhas de conversa pararam. Brian pousou a mão sobre o ombro de Melissa, por um motivo que ela não conseguiu desvendar. Claire abriu um sorriso maldoso e respondeu:

- Sabe-se lá que tipo de artimanhas usou para arrancar alguma coisa dele... Pelo jeito como se aproximou de você no jardim, acho que posso até imaginar.

O burburinho foi geral. Brian apertou ainda mais o ombro de Melissa, e desatou a falar:

- Claire, acho melhor você pedir desculpas, não acho...

- Deixe, Brian. – Melissa manteve a pose – Falta de argumentos gera grosseria.

Dito isso, levantou-se, precisava de um tempo em paz no banheiro, longe de todo aquele estardalhaço de sentimentos. Encontrava-se em um momento incapaz de controlar seus impulsos. Talvez naquele instante por culpa da bebida (um ou dois drinks fracos já eram o suficiente para atordoar seu discernimento), mas em geral por culpa de Corey Sanders, mesmo. Juntar os dois fatores em uma equação era golpe baixo.

Depois de jogar água gelada no rosto, respirar fundo algumas vezes, analisar clinicamente suas feições já avermelhadas, e julgar sua personalidade ridiculamente impulsiva, Melissa deixou o banheiro. Ao invés de encerrar a noite, voltar para sua cama quente, ler um bom livro, foi até o bar, contrariando a parte sensata de sua mente. Pediu um drink um pouco mais forte e, enquanto aguardava, escorou-se no balcão. Por algum motivo, achou melhor ficar e ver aonde ia dar aquela coisa toda com a doutora Claire.

Não demorou muito para que a mulher se aproximasse dela. Parou ao seu lado, pediu uma cerveja e virou para Melissa.

- Desculpe pela grosseria. – disse, contudo seu tom foi um tanto rude, pouco sincero.

Alguém a havia obrigado a fazer aquilo, o que deixou a doutora ainda mais desconfortável.

- Não foi nada. – deu de ombros, ainda olhando para o local onde o barman tinha entrado para buscar sua bebida.

- Eu tenho um pouco de dificuldade para me adaptar a pessoas novas. – continuou. A cerveja já estava em suas mãos, mas ela não parecia ter planos de sair dali até que Melissa olhasse para ela.

O que não fez, só porque sabia ser tão birrenta quanto.

- Está tudo bem, sério.

Tal atitude pareceu ser o suficiente para trazer a antipatia de Claire de volta à roda.

- Acho que Corey Sanders será melhor tratado por mim.

- É mesmo? – Melissa finalmente a encarou.

O tom provocativo era óbvio, e o álcool a deixava valente demais para não dar atenção àquilo.

- Acho que certa falta de profissionalismo pode atrapalhar você.

Melissa franziu o cenho, olhos cerrados e atentos.

- Por que acha isso?

- Você sabe, ele me disse que seria muito fácil... Hm... Ele não usou exatamente essas palavras, mas uma dama não deve proferir as dele em uma conversa civilizada, então... Hm... Ter relações sexuais com você, se quisesse. Disse que você parecia muito aberta.

Algo dentro de Melissa congelou. Talvez fosse seu sangue, seu estômago, ou simplesmente seu coração. Por um pequeno instante, ficou sem palavras, sem reação. Não era o tipo de coisa que esperava ouvir quando aquela conversinha idiota começou, nem mesmo o tipo de coisa que esperava ouvir saindo da boca de Corey Sanders.

Mas ele era, num perfeito resumo, um metido à besta, não era? Parecia bem típico de caras como ele, achar que todas as mulheres do mundo estavam aos seus pés, prontas para tirarem a roupa quando estalassem os dedos. Estava em seu histórico, aquele de garanhão inveterado. Não por outro motivo arranjara tantos problemas com a pobre Barber Paay.

Para não dar gosto à outra, entretanto, Melissa limitou-se a sorrir dura.

- Acho que Corey Sanders pode sofrer alucinações de vez em quando, melhor dar uma olhada nisso. – piscou, pegou o drink que o garçom deixara à sua frente, e voltou para a mesa.

Brian quis ser solícito e perguntar se ela estava legal, mas a doutora queria apenas encher seu sangue de álcool. Por um instante, pensou em considerar a possível falsidade da declaração de Corey, porque Claire não era exatamente a pessoa mais confiável no St. Marcus, isso era óbvio. O discernimento a respeito disso acabou junto com seu drink mais forte, entretanto. E Melissa encontrou-se perigosamente embriagada, como a maioria de seus colegas irresponsáveis, querendo mesmo mandar Corey Sanders e todo seu ego para o quinto dos infernos.

Kate, a amiga que esperava tentasse controlar os impulsos alcóolicos, era a mais empolgada. Ambas tinham folga no dia seguinte, de modo que a inconsequência falou mais alto. Com isso, Brian pareceu ainda mais... Bonito. E simpático. E atraente. O tipo de cara com quem ela se envolveria sem pensar duas vezes. Ao menos sob o efeito da bebida. Conversaram o restante da noite como se fossem velhos amigos. Melissa não sabia se fazia isso para irritar Claire, sua, agora, rival, ou se porque estava, realmente, gostando da companhia do outro. Novamente, o álcool não a deixou raciocinar com clareza a respeito disso. Dançou com ele quando foi convidada, jogou uma partida de bilhar, que perdeu com todas as glórias possíveis. Tomou mais alguns drinks.

Quando se deu conta, Melissa voltava para o estacionamento com a ajuda de Brian. A ajuda dele não foi suficiente para impedi-la de tropeçar na ladeira e cair de joelhos no chão. Doeu, mas o doutor a ajudou a levantar. Ao ficar de pé, percebeu que ele estava próximo, muito próximo mesmo. As mãos amparando seus cotovelos, um sorriso idiota e embriagado nos lábios. Estava tão alcoolizado quanto ela, dada a dificuldade de ajudá-la a se manter em pé.

- Você é linda. – ele disse, um sussurro mole.

Melissa fechou os olhos, porque tudo estava rodando, e absorveu as palavras.

- Obrigada, eu acho? – foi tudo o que conseguiu responder.

- Queria muito te beijar agora.

Ela abriu os olhos de imediato, alerta.

- Não podemos, todos estão vendo.

Brian balançou a cabeça lentamente.

- Fomos os últimos a sair, não tem ninguém aqui. E está escuro.

Melissa olhou ao redor. O estacionamento ficava nos fundos do New In, e o único carro parado lá naquele momento era o de Brian, além do furgão com o emblema do bar. De fato, não havia viva alma por perto. O doutor aproveitou o momento para soltar os cotovelos de Melissa e envolver a cintura dela com seus braços fortes. O frio passou, estava quente, porque ele era quente.

- Só um beijo. – sussurrou novamente.

Ficou difícil resistir quando ele colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e a olhou como se ela fosse a mulher mais linda do mundo. Melissa estava irritada com a atitude de Corey Sanders o suficiente para achar que Brian talvez fosse um caminho melhor. Especialmente porque tudo relativo a Corey Sanders era impossível. Não era pecado deixar-se levar por aquele momento.

- Só um beijo. – assentiu.

Brian abriu um enorme sorriso e se aproximou. E Melissa ficou meio entorpecida tal proximidade gradual, enquanto seu perfume enchia as narinas dela. Não tinha ideia do que estava fazendo, a razão de estar fazendo e não queria ser responsável por seus próprios atos naquele dado momento, mesmo. Culpa do álcool.

Brian sorriu mais uma vez, e sem dizer qualquer palavra, reduziu a um mínimo a distância entre seus rostos. Em seguida, puxou a nuca de Melissa com a mão forte e os dedos precisos. Melissa apenas fechou os olhos, e aproveitou os prazeres daquilo que ela nem lembrava o quanto era bom.

O beijo.

O toque masculino vigoroso em sua nuca e cintura, sempre a puxando para mais perto. O cheiro afrodisíaco do perfume que a instigava mais. A respiração quente batendo em seu rosto, arrepiando seus poros mais sensíveis. A aspereza e delicadeza, ao mesmo tempo, da língua quente e macia deslizando contra a sua, na sincronia que beirava a perfeição de um balé bem ensaiado. O toque aveludado dos lábios carnudos que se moldavam com os seus. A indecisão de suas mãos entre o embrenhar de dedos no cabelo e acariciar de músculos definidos do peitoral de Brian.

Era bom.

Melissa sentia o borbulhar de seus hormônios e a falha na respiração, porque a vontade era de não parar nunca. Uma hora, entretanto, teve que acontecer, porque ambos precisavam de ar. Suas mãos correram até o pescoço dele e as mãos dele em direção aos seus quadris. Não soube a razão, mas gostou do atrevimento e virilidade com que ele a segurava. Brian sabia o que fazer, onde colocar a mão, como tocá-la, como tocar a língua dela com a sua. Não se admirava pela habilidade do rapaz, uma vez que ele arrancava suspiros por onde passava. E Melissa, ainda sem pensar nas consequências, só tinha que se aproveitar disso.

Brian sorriu satisfeito por um segundo, os olhos brilhando mais cativantes do que nunca, antes de voltar a grudar seus lábios nos de Melissa. As línguas voltaram à sincronia de antes, os corações voltaram a bater meio acelerados como antes, os hormônios voltaram a rodear agitados como antes. As mãos precisas de Brian faziam um carinho gostoso em Melissa. Iam do quadril à cintura, e da cintura ao quadril. As mãos dela, por sua vez, brincavam de enrolar os fios de cabelos dele, arranhando sua nuca algumas vezes.

Quando Brian afastou o casaco de Melissa, e enfiou suas mãos geladas por debaixo de sua blusa de malha branca, ela teve que conter um suspiro de susto e deleite pelo choque térmico entre as peles. O que massificou consideravelmente a vontade que ela tinha de manter seus lábios grudados nos dele, naquele beijo intenso que começara calmo, e que passava a tomar proporções mais atrevidas.

Melissa quis protestar quando Brian deixou de beijá-la, porém sorriu satisfeita quando ele passou os lábios molhados por sua mandíbula e queixo, até chegar ao seu pescoço e o pé de seu ouvido, onde deixou uma mordidinha no lóbulo, antes de sussurrar:

-Quis fazer isso desde que te vi saltando daquele ônibus na frente do 'New In' – declarou, dando outra mordidinha no lóbulo de Melissa – Você quase me deixou louco com apenas um olhar.

Melissa soltou uma risadinha quase afetada – muito embriagada -, lisonjeada com a declaração que acabara de ouvir. Ela, no entanto, não queria falar, queria... Beijar. Então puxou o rosto de Brian na sua direção outra vez, voltando a beijá-lo em seguida.

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