Gelatina e Prótons

By BiiStyles

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Pessoas boas também magoam as outras. Naomi é uma boa pessoa. More

Prólogo
Compras da semana
Um escorregador e a garrafa de vinho
Precioso pudim
É linda
Hipótese

Vestido ordinário

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By BiiStyles

alô alô sim sou eu com a maior cara de pau atualizando depois de dois anos, literalmente, se ainda tem alguém lendo isso, me desculpa, to de volta, é isso.

_________

— E aí? Beijou?! — Lisa estava claramente histérica do outro lado da linha.

— Claro — Comecei colocando um pouco de pasta na escova de dentes — Que não.

— Então o que? Ele ficou te encarando e...

— Nada, tinha catupiry na minha bochecha.

Pude imaginar o revirar de olhos mesmo que não estivesse cara a cara com a garota na linha. Caminho pelo quarto escovando os dentes em busca de uma camiseta, perdida no meio da pilha de roupas que se formou em cima da cadeira, próxima a escrivaninha.

— Não era isso, não é possível — Resmungou de forma audível depois de muitas exclamações silenciosas — Naomi do céu.

— Por um momento... — Pausei para cuspir um pouco da espuma na boca — Eu pensei que ele ia me beijar, e estava pronta pra me afogar no lago — Gesticulo como se pudesse ser vista.

— Respiração boca a boca, garota esperta.

— Que? — Encaro o celular no vivo a voz após enxaguar a boca.

— Aproveita a vida Naomi! Leva no pagode — Aconselhou — Talvez final de semana que vem eu vá aí, mas agora a minha carona chegou e eu estou pronta pra pegar ela e o motorista, amo você, tchau, beijo — Despediu-se rápido e desligou assim que fora respondida.

Solto uma risadinha com a cabeça em negação, o problema de levar no pagode e deixar acontecer é que nunca acontece nada, e quando acontece, eu corro.

Passando pela cozinha minúscula improvisada, pego uma maçã para mordiscar no caminho da lavanderia menor ainda, ligo a máquina de lavar para terminar de bater minhas almofadas que ficam jogadas em cima da cama e escuto a campainha tocar com murmúrios das vozes de Dante e Brandon.

Nisso que dá morar em prédios antigos e mais baratos, não há porteiro ou ao menos interfone, segurança a gente se vê por aí.

– Credo vocês não me dão um tempo nem nos finais de semana– Após sair correndo procurando algo pra cobrir minha calcinha de vovó, atendo a porta com a melhor postura de anfitriã.

– Tomar cuidado pra não bater aqui–  Vi Dante entrar com um comentário sarcástico enquanto abaixava ligeiramente seu corpo ao passar pela porta. Não compreendi.

– Eu to dizendo, um homem sem chifres é um homem sem defesa – Dom me deu um beijinho rápido e seguiu a linha de raciocínio que eu de fato, não estava participando.

– Vocês invadem minha casa sábado de manhã e fazem o favor de ainda me excluírem do assunto?

– Você não tá vendo esses chifres gigantescos na minha cabeça?– Dante comentou ainda mantendo a pose de brincalhão, mas ao entender meu coração apertou.

– Minha mãe sempre diz que chifre a gente já teve, tá tendo, ou vai ter – Continuei me sentando ao seu lado no tapete sem saber ao certo se continuar a vibe não nos importamos seja a melhor opção.

– Eu gostava tanto dela sabe?– A voz embargada disse o suficiente.

– Sinto muito, Dan – O abracei de lado – Muito mesmo.

Não era preciso mais nada pra entender. Um dos meus piticos estava de coração partido, e aquilo me quebrou.

–  A gente vai te entupir de mimo até você estar tão mimado que vão falar " nossa como você é mimado" e não haverá resposta porque você é mimado demais pra prestar atenção em outra coisa – Dom rastejou do puff azul bebê no meio do cômodo até o outro lado do moreno com cabelos cacheadinhos que fungava baixinho agora com a cabeça no meu colo.

– Você pode me mimar fazendo seu pão com requeijão na frigideira?– Suplicou manhoso e não resisti em dar uma risadinha.

– Até dois – Me levantei fazendo-o mudar de colo e assim fomos conversando enquanto eu preparava a especialidade da casa.

Mais pra lá do que pra cá, o latino foi contando a descoberta, o término, os sentimentos, tudo. Não pude evitar voltar até às conturbadas noites onde consolei minha mãe, sem nem saber o motivo, as inúmeras noites que caminhava desengonçada pela casa com meu irmão ainda bebê no colo, sem saber como cuidar nem sequer de mim, mas entendendo o suficiente pra notar que minha mãe não tinha capacidade de levantar da cama, no máximo amamentar Ian quando o levava até ela.

Foram momentos difíceis, até hoje ela carrega vestígios e eu me pergunto se a história se repetirá com Dante, e com todas as outras pessoas que passam por términos difíceis. Relacionamentos são o suprassumo da coragem humana, claramente devo ter nascido desprovida dela, ou ao menos perdi com o passar do tempo.

– Eu vou te permitir sofrer agora durante toda a tarde, mas a noite meu bem... a gente vai mandar um litrão pra dentro no bar e curtir um karaokê dos bons – Dom ordenou fazendo pose de durão enquanto me olhava de soslaio como quem queria botar fogo no mundo pra não precisar ver nosso amigo daquele jeito.

...

A noite chegou, e de fato, estávamos dispostos a mimar e distrair Dante quanto tempo fosse necessário. Passamos o dia inteiro o consolando, enquanto eu fazia as tarefas de casa que sempre restam pro final de semana. Entre uma roupa dobrada e varrida no chão, restava tempo pra encher Dan de beijinhos e abraços, enquanto ele gastava dois rolos de papel higiênico com ranho.
— O LaBar parece estar com música ao vivo, vamo? — Brandon propôs enquanto eu procurava o cadarço do tênis que tinha lavado.

Dan estava jogado na cama, o rapaz de cabelos vermelhos apoiado no balcão que dividia a cozinha do resto da kitnet mexia no celular a procura de um destino para nós, e eu tinha uma toalha na cabeça enquanto apenas concordava, ocupada procurando dentro da máquina de lavar pelo cordão uma última vez.

— Mas e se ela estiver lá?

— A Nao te lasca um beijão pra ela ver o que é bom — O outro rapaz disse e eu acabei batendo a cabeça na tampa da máquina de lavar com o movimento brusco da minha cabeça três vezes maior enrolada na toalha.

— Oi? — O olhei como quem pergunta de onde havia surgido tal audácia, mas logo ouvi ambos rindo do barulho que fiz e provavelmente da minha cara também.

— To brincando, quem vai te lascar um beijão sou eu, vem aqui, gatinho. — Brandon foi indo em direção de Dante e num piscar de olhos os dois estavam rindo e correndo um atrás do outro como possível dentro do cubículo que chamo de lar doce lar.

Passando entre os dois idiotas de oito anos de idade. Apenas optei por colocar as mesmas botas do dia anterior já que não estava encontrando os malditos cadarços de jeito maneira. Penteei o cabelo ainda úmido e então enfiei obcartão do ônibus na capinha do celular e a carteira no bolso da jaqueta de Dante. Detesto carregar bolsas e infelizmente o vestido que estou usando não tem nenhum bolso.

— Vamos crianças — Digo como uma mãe e espero ambos passar pela porta antes de apagar as luzes, trancando a porta e como de costume pedindo aos céus para que minha casa não seja arrombada como a da moça do 83 foi na quinta passada.

A caminhada até o ponto não foi longa, como o imaginado quase caí três vezes tropeçando no vestido longo que usava e mais uma na catraca, onde quase fiquei pelada por não perceber que o tecido havia ficado enganchado na mesma. Certamente até o fim da noite eu iria iniciar meu legado de " A garota pelada de ciências biológicas".

— Acabei de ver na foto que o carinha do time de basquete que to ficando postou, o Bobby tá lá hein... — Brandon se debruçou sobre Dan que estava entre nós na última fileira do transporte coletivo para me mostrar a imagem.

Lá estava Jiwon, dessa vez com uma camiseta preta bem larga e calça jeans rasgada, é engraçado como gente rica tem o dom de parecer chique até de chinelo e meia. Na foto, um monte de jogadores apareciam, novos e antigos, alguns rostos conhecidos por mim da época obscura da república, mas nada de sinal da Monise, que era de fato minha preocupação, já que ela traiu Dante com o novato do time. Nenhum dos dois covardes estavam presentes.

Apesar de não achar que meu amigo deva se retirar caso ela estivesse lá. Sei quão mal ele poderia sentir-se quanto a isso, já que a situação ainda está fresca na memória. Entretanto, o foco da noite era distraí-lo pelo menos um pouco, pois suas feridas, apenas tempo e entendimento próprio seriam capazes de suturar.

— Aproveita pra terminar o que vocês começaram ontem — Dante brincou mexendo as sobrancelhas sugestivamente e eu não pude evitar lhe dar um empurrão de leve no braço.

— Não pode melhorar um pouquinho que já quer me infernizar, né? — Semicerrei os olhos enquanto levantava para dar sinal, desceríamos na próxima parada. — Não tem como terminar o que não começou, a gente só comeu uma pizza e ele me trouxe pra casa, já disse.

— Sei — Retrucaram uníssonos.

— Eu não to correndo risco de ficar pelada na festa com esse vestido, gastando salário com bebida e saindo no meu dia de spa day pra gente ficar aqui falando da raça homem que vocês pertencem. Vamo que eu quero arrumar um lugar pra sentar longe do fumódromo e pedir uma porção bem grande de batata frita — Enlacei um braço em cada um assim que descemos do ônibus, caminhando juntos até o LaBar.

O local já estava bem cheio, o que me deixou surpresa, nesse horário costuma estar meio vazio ainda, inclusive pelo fato da maioria das pessoas estarem nas festas das repúblicas. Sondando, notei que poucas mesas restavam, e quando avistei uma perfeita, meu olhar cruzou com o de um cara que aparentemente estava desejando o mesmo lugar que eu.

Vou manter a graciosidade e deixar ele ficar com a mesa, certo? Errado

Nossa troca de olhares dura menos de dez segundos e quando vejo já estou atravessando o bar em passos largos assim como o rapaz de jaqueta preta do lado oposto. Escuto Dante avisar para ter cuidado, mas naquele momento era guerra. Ou eu lutava por aquela mesa como se minha vida dependesse disso, ou meu cabelo que nem terminou de secar iria ficar fedendo a cigarro e Brandom não pararia de tossir a noite toda.

Me senti a própria Natasha Romanoff, toda poderosa lutando a favor do bem, até que sinto o fracasso chegar. A batalha era injusta, aquele cara tinha duas varas de dois metros no lugar das pernas, pra equivaler um passo dele eu tinha que dar no mínimo dois, por pouco não cheguei, mas o corredor era estreito, enrosquei de novo o vestido ordinário numa das cadeiras, logo, o pior previsto e evitado aconteceu, eu cai, e foi no colo de alguém.

— OPAAAAAAAA — Ouvi o time todo celebrar como se eu tivesse feito uma cesta de três pontos.

Duas mãos seguraram forte minha cintura, e antes de bater com a cabeça no chão, a amada armadura  do meu cérebro —vulgo cabeça— que só funciona pra falar de biologia, foi salva por Leo, Armador principal da liga do ano retrasado. O vi ajudar a me erguer novamente no colo de quem eu tinha caído e ainda me mantinha segura.

— Oi — A primeira coisa que vi foi o sorriso de Jiwon, ele riu com tranquilidade assim que tive meu corpo erguido, agora na mesma altura do dele.

— Oi — Pisquei algumas vezes e tentei assimilar a situação o mais rápido possível.

— Já pensou em jogar futebol americano? Você é um quarterback em potencial.

O maldito ria meio rouco e suas mãos ainda me seguravam. Por um bom tempo até cheguei a esquecer que eu estava sentada no seu colo e que o bar todo estava vendo a cena.

— Bom acho que agora a gente só precisa de duas cadeiras e ficamos nessa mesa mesmo — Dom brincou enquanto colocava o potinho com sachês de ketchup que derrubei em cima da mesa ao lado e mandava um tchauzinho pro seu companheiro que também estava na mesa, mais distante.

— Escuta aqui seu salafrário, lutei por você também, viu? Seu pulmão é igual de uma velha que fumou derb por cinquenta anos, sente uma fumacinha tosse a semana inteira no meu ouvido — Levantei rápido mas percebi que a lateral do meu vestido ainda estava sendo segurada.

— Pera ai — Meu salvador falou baixinho enquanto se levantava e aproximava o corpo do meu mais ainda — Ta solto — Manteve a tranquilidade enquanto amarrava meu vestido de maneira discreta.

Não sei que tipo de sinais meus neurônios estavam mandando pro resto do sistema, mas eu podia ir com Deus ali mesmo. A tensão que o momento causou parece ter sortido efeito apenas em mim. O time já meio alterado voltou a conversar, Brandon e Dante aproveitaram o momento de distração para juntarem uma mesa aos demais, e Jiwon mantinha-se tão calmo amarrando meu vestido no meio do bar, como se estivéssemos sozinhos em algum lugar que me fez questionar se a situação toda era delírio.

— Desculpa — Senti o rosto todo esquentar, e talvez o resto do corpo também.

Se ele me beijasse agora eu nem tinha como negar. Nesse momento, sou sim pra tudo. Estou ameaçada pelas loucuras que a ocitocina é capaz de me permitir.

— Pelo quê? — Me encarou sereno depois de terminar o laço demorado nas duas cordinhas que juntavam o tecido ao meu corpo. Entendi pelo tom de voz que ele estava tentando amenizar a situação achando que minhas bochechas estão vermelhas pois passei vergonha na frente do bar todo.

Até parece que não me conhece o suficiente pra saber que passar vergonha é minha maior habilidade. Se eu tivesse espatifado a cara no chão não estava morrendo de nervosismo como estou agora.

— Obrigada.

— De nada. Você se machucou? — Neguei com a cabeça.

— Fui salva a tempo — Soltamos o riso, e eu fingi naturalidade — Guardaram meu lugar ali, pelo visto. — Justifiquei minha retirada apontando para uma cadeira na mesma mesa que a dele, pouca coisa distante.

— Claro, vai lá. To de saída também.

— Já? — CALA A BOCA NAOMI. DA ONDE SAIU ISSO?

— Vou buscar uma pessoa, já volto — Estalou um beijo em minha bochecha, pegou carteira e celular que estavam na mesa e saiu.

Rodei o olhar um pouco perdida e me desloquei algumas cadeiras a frente antes de sentar ao lado de Dan que me olhava de maneira sugestiva.

— Não fala nada.

— Nem preciso.

_______________





maluco minha pressão até baixou escrevendo isso aqui, bons tempos... hihi espero que tenham gostado! Xoxo

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