Empresário • jikook

By callmeikus

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☆CONCLUÍDA☆ longfic • boss x secretary Jimin lia muitas fanfics, talvez até demais. Então, na cabeça dele, to... More

00. Avisos, o que você tem que saber
01. Jimin, a máquina de vergonha alheia
02. UP2U, a empresa dos loucos
03. Namjoon, o plano B
04. Ups, o cenário do desastre
05. Up, o cenário do desastre ainda maior
06. Yoonji, a atenta
07. Taehyung, o Chicken Little
08. Eunha, a subutilizada
09. Mesa de vidro, a catastrófica
10. Yeonjun, o envergonhado
11. Seunghyun, o invejoso
12. Banheiro, a testemunha
13. Seokjin, o pilar
14. Woohyun, a opção que dói
16. Culpa, a disputada
#ikusweek2021 crossover | parte 2
17. Continuação, a estranha
18. Apartamento, a nova casa
19. Melancia, a nova face
20. Cama, a aproveitada
21. Panquequinhas, as abaladoras
22. Minnie, o recém-chegado
23. Batatinhas, as quentinhas
24. Sono, o compartilhado
25. Café, o apaziguador
26. Calça, a arrebatadora
27. Troca, a interessante
28. Chope, o estopim
29. Beijo, o agridoce
30. Silêncio, o necessário
31. Karaokê, o encontro
32. Decisão, a derradeira
33. Pranto, o premeditado
34. Armadilha, a ardilosa
35. Busão, o deslumbrante
36. Cafeteria, a decisória
37. Carimbo, o dispensável
38. Cor de burro quando foge, a combinação
39. Bolinho, o peladinho
40. Bueiro, o imundo
41. Hoseok, o outro
42. Muralha, a gigante
43. Ser, o ser
44. Final | Jimin, o Empresário
45. Epílogo | Começo, o novo

15. Passado, o corruptor

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By callmeikus

Oi, meus upinhos!!! Como vocês estão??

Primeiramente, queria agradecer pelos comentários incríveis do capítulo passado. Ele é muito importante pra história e foi uma dor de cabeça pra mim deixar do jeitinho que eu considero certo fhjafhskjl fico feliz que tenha passado da maneira que eu queria pra vocês, de verdade!

Segundo, eu coloquei que a data de att seria ontem, dia 05, mas fui eu confundindo os dias no calendário shuahusa me desculpem pelo erro e aproveito pra reforçar que as atts de Empresário são sempre >>sábado<<, ok? Confiem mais no dia da semana do que no dia do mês (coloco mais pra vcs não se perderem pq o wattpad não mostra a data que os capítulos foram postados) e podem me avisar se eu tiver errado, infelizmente sobre esse eu só descobri ontem e não deu pra avisar com antecedência :(

AVISO DE GATILHO: Descrição de crise de ansiedade, contato precoce com pornografia e negligência familiar

Boa leitura!

#JKNãoUsaGravata

»»💼««

Jimin nunca chegou lá.

E nunca chegaria. Não demorou muito para perceber aquilo. Preso em uma vida de comparações, nunca foi ele mesmo, mas também nunca chegou perto de ser o irmão assim como os pais tanto desejavam e queriam. No final, Jimin não era nada nem ninguém.

Não que sentisse rancor ou invejasse seu irmão mais velho, Jihyun. As inúmeras vezes que tinha que levá-lo escondido para a emergência por causa de suas crises de ansiedade lhe apresentaram muito bem as cicatrizes de ser o outro lado da comparação. O quarto do Jimin era no térreo, então ouvir batidas na sua porta, seja de tardinha ou no meio da madrugada, e encontrar Jihyun já sem respirar direito atrás dela querendo pular a janela para fugir era dolorosamente frequente.

Muitas vezes Jimin conseguia ajudar Jihyun a passar pela crise sem sair de casa. Controlavam a respiração juntos, passeavam pelo quarto, relembravam com dificuldade alguns momentos bons que tinham sozinhos quando viajavam com os pais.

Mas às vezes não. Principalmente de madrugada, Jihyun não conseguia distrair-se da dor que parecia cada vez mais latente em seu peito. Chorava desesperado, certo de que ia morrer. E junto aos seus soluços, a respiração já prejudicada ficava ainda mais fraca e ele começava a sentir que sufocava. E Jimin tinha que dar um jeito de correr junto com ele para a emergência.

Felizmente havia um hospital razoavelmente perto, mas ainda era uma situação difícil, afinal, ambos eram menores de idade e os médicos insistiam que ligassem para seus pais — que não poderiam descobrir aquilo de forma alguma! Mas depois de revisar diversas vezes o Estatuto da Criança e Adolescente, conseguiram safar-se alegando que Jihyun já tinha 16 anos e poderia ser atendido sem acompanhamento.

Muitas vezes até chegar lá Jihyun já melhorava, suas crises não costumavam ser muito longas. Quando não, recebia alguns tranquilizantes. A médica que quase sempre estava de plantão quando Jihyun aparecia até mesmo reconhecia os dois irmãos, dando docinhos para eles depois do atendimento mesmo não sendo da ala pediátrica.

Ao melhorar, Jihyun ficava sem chão. Quando era de madrugada, iam comer em uma barraquinha de cachorro-quente ao lado do hospital antes de voltar pra casa, aproveitando o pouco movimento e a rua vazia para sentir um pouco de calma. Porém Jihyun sempre comia quieto. Detestava reconhecer que tinha perdido o controle. Que não era perfeito.

Jimin costumava pedir para que o Jihyun dormisse junto com ele naquelas madrugadas, temendo deixar o irmão mais velho sozinho. Fingia que caía no sono logo quando encostava a cabeça no travesseiro, porque sabia que Jihyun chorava muito naquelas noites e que detestava que os outros o vissem chorar. Dormiam pouco, logo tinham que acordar e Jihyun tinha que ir para o seu quarto, já que seus pais também reprimiam carinho e apoio entre os irmãos.

O resumo da casa do Jimin era: pais rígidos demais que acabaram criando um filho ansioso e o outro anestesiado.

Jimin não lembrava com detalhes de quando começou a ser comparado com o Jihyun, porque era algo que o perseguia desde o comecinho de suas memórias, até aquelas de quando era pequeno demais para esperar-se que atendesse expectativas em vez de brincar. Nunca era bom, nunca era o suficiente. Sempre era vergonhoso, imperfeito, incompleto.

Nunca teve um desenho torto de giz de cera que fazia na escolinha elogiado pelos pais. Eles nunca conseguiam enxergar os dois, Jimin e Jihyun desenhados ali, mesmo que o filho mais novo fizesse questão de explicar que tinha retratado a família no pedaço de papel. Isto é, isso quando Jimin conseguia mostrar algo, pois raramente estavam em casa.

A verdade era que não sabia se desejava ou não a presença dos pais. Ao mesmo tempo que temia a presença deles, porque sempre saía chorando de qualquer tipo de interação com eles, ainda eram a única referência que ele tinha. Se não fossem eles a validar o que fazia e suas atitudes, quem mais seria? Sempre tinha uma pequena esperança de poder sair sorrindo.

Mas não lembrava daquilo ter acontecido. Tudo era acompanhado por punições. Levou diversas palmadas, reprimendas e humilhações verbais por "ser bichinha demais", mas nunca soube pelo que, exatamente, ele estava sendo punido e humilhado. Afinal, como uma criança poderia avaliar feminilidade excessiva ou não em seu próprio comportamento? Invadir o quarto de seus pais enquanto eles estavam fora, buscando algum tipo de recorte deles que pudesse o acolher fazia parte de sua rotina. Brincar com as roupas da mãe, assim como as gravatas do pai, escondido, era algo tão natural para ele que simplesmente ficava confuso quando recebia punições. Ele não podia buscar os pais de outra forma?

Ficava de castigo se derrubasse comida sem querer durante o almoço, se conversasse demais sobre histórias que inventava na cabeça criativa de raciocínio rápido com os convidados da casa. Se ouvisse divas pop e ficasse entretido com as coreografias. E se estivesse com o cabelo bagunçado, e se não fosse o melhor entre os coleguinhas da escolinha, e se simplesmente existisse. Era esperado que fosse perfeito, e não uma criança.

E Jihyun, que sucumbiu à pressão que o casal Park botava nos filhos, permitindo que a criança que tinha dentro de si fosse enjaulada e suprimida, acabou virando um modelo para que Jimin seguisse. Uma lição para que ele aprendesse, uma referência para sua vida. Mas a primeira coisa que Jimin sentiu ao perceber aquela situação mesmo com sua compreensão infantil dos fatos não foi culpa por não ser igual ao Jihyun, e sim saudades de brincar com o irmão tão gentil.

Nunca tendo provado o gosto da realização por alguma coisa que tivesse feito na vida, mesmo com várias tentativas e muito esforço, Jimin simplesmente decidiu parar de tentar.

Se até os onze anos, com a maturidade e experiência de mundo que obtinha, Jimin compreendia cada vez mais o que os pais estavam, de fato, esperando que apresentasse; depois deles percebeu que nunca seria aquilo que desejavam, e simplesmente parou de tentar. Deixou de lado aquela agonia. Aquele medo de fazer qualquer coisa, achando que era errado.

Afinal, não existia resposta certa. Se falasse seria repreendido. Se ficasse quieto também. Se andasse pra frente ou se desse passos para trás. Qual era o sentido em tentar? Seria repreendido de qualquer jeito. Não conseguia ser o Jihyun.

Com todo indício de felicidade e conquista sendo comparado e postergado pelos seus pais, Jimin procurou e, de certa forma encontrou, refúgio na internet. Dentre as milhares de coisas que estavam incrivelmente disponíveis a uma pesquisa no Google, acabou criando morada em yaoi e em pornografia. Afinal, estava tão perto. Era tão fácil de achar. E era tanta coisa disponível que o mundo sempre restrito dele pareceu grande.

Foi a primeira vez que descobriu a conotação sexual de uma ereção. Suas ereções infantis, completamente normais, porém duramente criticadas pelos seus pais e até então símbolo de dor e vergonha para ele transformaram-se. Mesmo que pelos motivos errados. Aquelas pessoas na pornografia ficavam felizes com a ereção. Era algo bom.

A primeira vez que masturbou-se, após ficar amedrontado pelo reflexo condicionado de muitos anos de repressão e ignorância sexual com a ereção que apareceu dentro de seus shorts, assistindo curiosamente o vídeo de um cara chupando o outro, ficou encantado. Ficou encantado porque gozou.

Porque tinha chegado lá.

Privado de ápices, conquistas, vitórias ou qualquer coisa que fizesse com que se sentisse bem e tivesse realizado algo, o orgasmo que obtivera através do contato precoce com a pornografia parecia ter aparecido em sua vida para suprir aquela necessidade. Finalmente tinha algo que poderia chamar de seu. E Jimin perdeu-se ali.

Ali, entre os yaois, fanfics e pornôs, sentia-se estranhamente compreendido e seguro. Ali, não sentia a dor insistente da comparação que tinha que encarar no mundo real, até porque era bastante previsível, o que o tranquilizava. Existiam papéis e eles eram seguidos com facilidade. Simples. Era bem mais fácil de entender e seguir também.

Era uma distração fácil e de consumo imediato. Não havia problemas nem nada a ser problematizado, apenas a ser absorvido. Pelo menos para Jimin. Assistia de forma passiva. Tudo tinha começo, meio e fim, independentemente do que fizesse. Não era aquela luta insistente chamada de "dia" que a comparação construiu.

A pornografia, inclusive, ajudou Jimin a descobrir a própria orientação sexual, o que seria impossível ser feito apenas em família. Não sabia que homossexualidade existia direito antes e simplesmente saber que era real o aliviou de uma forma que não sabia expressar. Foi tão tranquilizador saber que fazia sentido ele ser "bichinha" e que existiam outras pessoas assim que o vínculo afetivo que tinha com aquele tipo de mídia só aumentava.

Só não notava o quão problemática era a forma que aquele recorte irreal da comunidade gay lhe era apresentado. Afinal, como saberia? Não tinha acesso nem nenhuma noção quanto à realidade. Só conseguia aquele tipo de informação pela tela de seu computador, entre as abas anônimas reservadas às madrugadas que dedicava a ele mesmo. Se a escola conservadora em que os pais lhe colocaram mal ensinava educação sexual hétero, imagina LGBTI+?

Com medo demais de tentar descobrir por ele mesmo, de ver que nem era tão bom quanto pensava, de que havia algo de errado no que pensava, ou de descobrir que ninguém além dele era gay na vida real, Jimin nunca se relacionou com ninguém. Consolava-se nas próprias fantasias e nos relacionamentos dos caras de suas fanfics. Também convencia-se de que os caras reais que passavam na sua frente nunca seriam perfeitos que nem os semes do seu vício se não fossem um CEO, encontrando assim uma justificativa confortável para sua fuga, para continuar protegendo seu local de conforto.

O mais perto que chegou de ter algo com alguém eram as interações e trocas de nudes em suas contas nsfw no Tumblr, mas não era como se alguém lhe tocasse de verdade, lhe beijasse ou fizesse carinho. Aquilo era perfeito para o Jimin. Mais um cadeado na gaiola que criou para proteger-se, mas que também impedia-lhe de experienciar a vida real.

Foi assim que sobreviveu sua adolescência: sem ninguém além dos yaois. Até o seu irmão, que tanto amava e era um pequeno escape naquela realidade terrível, acabou indo embora daquela casa assim que pôde, fugindo do controle doentio dos pais. No final, era Jimin e ele mesmo. Sempre estaria sozinho.

E, sinceramente? Jimin achava estar bem.

Depois de um tempo alienando-se na pornografia, ele tinha alcançado a plenitude de não ligar para a opinião dos outros sobre si, de não machucar-se com julgamento alheio. Toda vez que seus pais lhe criticavam, simplesmente ouvia em silêncio, pensando em putaria, e logo depois ia masturbar-se lendo um yaoi para acabar de vez com qualquer coisa ruim que pudesse estar sentindo. Fácil, rápido e efetivo. E chegava lá, tinha prazer.

Obviamente, quanto mais alheio ficava aos problemas ao seu redor, acreditando que simplesmente fugir e fingir que não existiam faria com que de fato deixassem de existir, mais alheio ficava à própria vida. Nada tinha importância além de pornografia gay, tudo além daquele universo para ele era um problema e um desafio que não precisava encarar, afinal, estava conseguindo viver sem machucar-se daquele jeito. Foram anos bem mais tranquilos para ele.

Apenas seguia o fluxo sem se importar. Lutar era difícil, e a fuga era fácil. Anestesiar tudo era bem melhor.

Quando se formou no ensino médio, foi enviado a uma faculdade de medicina pelos pais, que queriam algum tipo de status através da profissão na família. Não ficou nem seis meses lá.

Alegando que o filho não se esforçava o suficiente e que não conseguiria ter sucesso profissional, o casal Park mandou Jimin daquela vez para uma faculdade de administração. Porque daquele jeito, se Jimin falhasse — ou melhor, quando Jimin falhasse — ele poderia simplesmente ocupar uma vaga dentro da cervejaria da família. É, com um diploma de administração e a certeza de que não seria demitido, aquilo realmente parecia uma possibilidade aceitável.

Não foi uma experiência dolorosa para o Jimin. Na verdade, foi bem tranquila. 

Anestesiada, como tudo na sua vida.

Não tinha nenhum amigo na faculdade para que sofresse ao se separar. Não estudou e dedicou-se aos estudos a ponto de sentir que sua energia foi em vão ao largá-los no meio. Estudava exatamente o suficiente para passar bem e não ficar cansado. Não apegou-se ao apartamento, nem à cidade, nem ao curso. Não apegou-se a nada. Enquanto não se apegasse, não doeria se perdesse.

E, durante todo aquele tempo, Jimin simplesmente não se importou. Não ligava para as escolhas que faziam por ele, para os fracassos que atribuíam a ele ou qualquer outra besteira do tipo.

Ele estava feliz consumindo seu yaoi ou distraindo-se com alguma frivolidade como Keep Up With Kardashians. Na verdade, qualquer coisa indolor que não fizesse ele pensar demais, não se assemelhasse demais à realidade. Parou até mesmo de ouvir músicas. O desconforto gravado a fogo da repreensão de seus pais ao ouvir divas pop quando criança uniu-se à percepção de que muitas delas tinham muito a dizer e faziam com que sentisse demais. No fim, era doloroso.

Mas agora simplesmente não podia fugir para o yaoi que lhe sustentou durante todo aquele tempo, porque o yaoi fazia com que lembrasse das coisas horríveis que fez e da pessoa horrível que era. Jimin estava completamente sem chão.

Tinha sido tão, tão fácil fugir de todos os problemas usando a pornografia de válvula de escape, mas agora... agora, quando tentava pensar em qualquer coisa do tipo, o olhar desconfortável e amedrontado do Jungkook perseguia suas memórias, lembrando-lhe o quão nojentas eram suas ações. Era só uma distração. Seu orgasmo era a única conquista que tinha garantida e agora... sabia o quão deletério tudo aquilo era.

Chorando copiosamente no escuro do quarto, sem saber se ainda era noite ou se um novo dia já havia começado, Jimin apagou seu Tumblr nsfw, sentindo-se enojado com ele. Excluiu as centenas de sextapes que tinha guardadas na memória do seu celular e do seu computador, ficando ainda mais nauseado ao ver, entre elas, aquela que gravou em cima da mesa do seu CEO. Daquela vez em que Jungkook, na verdade, não tinha gostado de sua calcinha, simplesmente queria fingir não ter visto aquela obscenidade criminosa. Agora ele entendia.

Enterrou a cara no travesseiro, largado em sua cama, chorando tão abundantemente por tanto tempo que sentia-se deslocado da realidade. Mas, afinal, era assim que tinha vivido sua vida até então: deslocado da realidade. Construiu sua pequena fortaleza composta de pornografia, na qual escondia-se para fugir dos problemas que o mundo real insistia em apresentar, e agora ela tinha sido demolida. A pseudo-realidade na qual acreditou e apoiou-se por mais de uma década tinha sido destruída em pouco mais do que um dia. Jimin perdeu tudo que era.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto e ele soluçava, frágil que nem uma criancinha. E talvez ele fosse. Naquele momento, era como se fosse o Jimin de seis anos. O que tinha medo do julgamento dos pais, o que estava tentando descobrir o que estava fazendo ali naquele mundo se tudo que achava que poderia ser era invalidado pelos outros.

Tinha voltado à estaca zero. Jimin não sabia o que era além dos yaois, e não podia mais aceitar aquela parte da sua vida como absoluta, pois entendia que ela o levou a ser tão abusivo e nojento quanto Seunghyun e seus toques indesejados.

Não sabia o que poderia fazer para sentir-se menos nojento, já que ao contrário dos seus vídeos, ele não poderia apagar todos os toques maliciosos que teve para cima de Jeon Jungkook. Ah... Lembrava-se tão claramente do jeito que o CEO nem percebia no começo, genuinamente enganado, achando que eram só infelicidades. E do jeito que, quanto mais mostrava seu desejo sexual, mais Jungkook evitava-lhe e tinha aquela expressão tensa no rosto. Ele fez o próprio CEO viver um pequeno inferno.

E não tinha o que fazer para redimir-se, afinal, não foi algo bobo como executar mal uma atividade ou chegar atrasado em uma reunião. Ele violou todos os limites do corpo do Jungkook. Queria tanto desculpar-se, pelo menos reconhecer a culpa na frente dele... talvez aquilo fizesse com que se sentisse menos miserável, mesmo que nada parecesse capaz de aliviar o peso em seu coração, porque sabia que nada apagaria as coisas que fez.

A cada soluço de vergonha que escapava por entre as lágrimas, mais Jimin convencia-se de que precisava pedir desculpas ao Jungkook. Era o mínimo, sentia tanta necessidade... Mesmo que para fazer aquilo tivesse que encarar o rosto que agora tanto temia ver a expressão, que tanto enchia-lhe de vergonha e culpa por ser prova concreta e irrefutável dos seus erros.

Erros que não podia ignorar, como os que lhe eram atribuídos pelos pais e por muito tempo começou a duvidar se eram errados mesmo. Porque não era possível que tudo fosse um erro. Mas aquele era. Ele sabia como tinha prejudicado Jungkook. Sabia como tinha feito ele se sentir.

Movido pelo impulso — mas não era como se seu psicológico abalado agisse racionalmente — ligou para Seokjin, rezando para que ele estivesse acordado. Já era de noite? Seu quarto estava tão escuro há tanto tempo que não saberia dizer e também esqueceu de olhar as horas no celular. Estava perdido, e a única coisa que tomava sua cabeça no momento era a vontade de que Jin lhe atendesse.

Alô? — Uma voz rouca soou do outro lado da linha. É, provavelmente tinha acordado o psicólogo. Jimin sentiu seu coração acelerar.

— Jin, qual é o endereço do Jungkook? — Jimin pediu prontamente. Houve uma pausa do outro lado, provavelmente do homem tentando raciocinar mesmo morto de sono.

Jimin, é você? — perguntou por fim, confuso.

— Sim. Você tem o endereço do Jungkook? — perguntou novamente, mas com a mesma urgência.

Tenho... Mas o que você vai fazer? É madrugada... — o psicólogo murmurou junto a um bocejo. Sentou na própria cama, esfregando o rosto para não cair no sono no meio da ligação.

— Eu só preciso falar com ele. Pessoalmente. Me passa o endereço dele, por favor — Jimin suplicou, a voz embargada indicando seu choro.

Seokjin enterrou o rosto nas mãos, sem saber o que deveria fazer. Era estranho ele ter que passar o endereço do Jungkook porque... porque Jimin poderia ter perguntado ao CEO ele mesmo, não? Sem contar que era muito tarde. Será que Jimin só ligou porque estava agitado ou realmente pretendia ir até a casa do Jungkook àquele horário?

Ao mesmo tempo, sabia que Jungkook estava muito mal desde que voltou da casa do Jimin. Será que o encontro dos dois ajudaria? Ou pioraria a situação? Deus... Era uma decisão difícil demais para ser tomada cheio de sono como estava. Sua cabeça ia explodir.

Por que você não pede pro próprio Jungkook? — Jin levantou o ponto que mais lhe incomodava em toda aquela questão.

— Porque... — Jimin respirou fundo, sabendo pelo tom de voz do psicólogo que se não respondesse direito aquilo não receberia o endereço. — Porque eu estou com vergonha de mim mesmo. Eu fiz coisas terríveis com o Jungkook e preciso pedir desculpas, cara a cara, mas acho que eu perderia completamente a coragem se falasse com ele antes. Também não quero que ele tenha que lidar comigo mais do que o necessário... Ele não merece. Não depois de tudo que eu fiz. São desculpas, e só isso, eu juro. Me ajuda, Jin, por favor...

Jin ficou em silêncio do outro lado da linha, refletindo sobre aquilo. O seu lado de líder dos Pulmões gritava em sua cabeça o perigo por trás das frases do Jimin... Será que ele teria que realocar o estagiário para outra área ou até mesmo demitir? Se o relacionamento entre ele e o CEO era tão grave daquele jeito... Nem ousou perguntar o que aconteceu.

Silenciou o lado psicólogo, afinal, Jimin era paciente de Woohyun, e sobrou apenas seu lado... Jin, Jin, amigo de Jungkook. O CEO estava tão mal mais cedo... Será que aquelas desculpas envolviam o motivo que deixou ele assim?

Anota aí... — Jin avisou antes de passar o endereço, ouvindo Jimin rolar na cama para buscar um papel e caneta. O psicólogo suspirou, desejando ter feito a escolha certa, mas sem ter muita certeza disso. Mentalmente pediu desculpas a Jungkook por ter passado seu endereço para outros também. — Mas eu vou mandar uma mensagem pro Jungkook e ligar avisando que eu passei o endereço, tudo bem?

Jimin só murmurou um "tudo bem, obrigado" distraído e desligou a ligação sem nem mesmo um "tchau", tão ansioso em poder desculpar-se com Jungkook que o coração batia rápido no peito e sua cabeça só sabia pensar naquilo. A necessidade era tão grande que parecia engoli-lo. Parecia que sua vida não faria sentido até concluir aquela pequena missão e, talvez, realmente estivesse sentindo-se daquele jeito naquele momento. Sem saber o que era sua vida além da pornografia, estava simplesmente agarrando-se naquelas emocões afoitas e confusas.

Seokjin, ao ver que a ligação foi encerrada, suspirou de novo, voltando a deitar na cama. Mandou uma mensagem para o Jungkook e tentou ligar para ele, mas não foi atendido. Insistiu mais algumas vezes e mandou uma mensagem para o Jimin, avisando que ele não parecia estar disponível, mas também não foi respondido. Enterrou as mãos no rosto, confuso e aflito sobre as suas próprias decisões.

Passou um bom tempo acordado, esperando algum tipo de resposta que não recebeu, mas logo começou a permitir que o sono tão latente que sentia sobrepujasse a preocupação. Só queria que tudo desse certo.

O estagiário, por sua vez, assim que desligou simplesmente calçou os sapatos e correu para fora de casa, indo encontrar o motorista de aplicativo — que tinha chegado rápido porque requisitou um serviço de ponta, uma das vantagens de ser filho de pais ricos — e dando de cara também com o hálito frio da madrugada que parecia tão contrastante com sua pele que fervia. Assim que entrou no carro, viu o olhar estranho do homem no volante para cima dele, mas deu de ombros.

Jimin sabia que provavelmente estava com uma cara péssima. Não tinha mudado de roupa e estava usando um conjunto de pijamas um tanto infantil, composto por uma regata cinza e shorts com um padrão xadrez vermelho. Os fios negros estavam bagunçados de tanto que os esfregou na cama enquanto chorava e o rosto... provavelmente a maior representação da derrota que existia, com olheiras fundas, olhos vermelhos e inchados, nariz na mesma situação.

Mas não se importava, não ligava para as opiniões alheias fazia tempo. A não ser a de Jungkook, claro... por todos os motivos errados. Mas a esperança de que iria aliviar um pouquinho daquela culpa que estava consumindo-o dentro de poucos momentos o impelia a aguentar cada segundo daquilo. Isto é, se o motorista parasse de encará-lo em choque e dirigisse logo.

Quando o carro deu partida, Jimin ficou observando a cidade por trás das janelas, as ruas vazias e o céu escuro indicando, mais uma vez, que era madrugada. De vez em quando observava a rota no GPS do motorista diminuir, mordendo os lábios ansiosamente, querendo ao mesmo tempo chegar rápido e nunca chegar. Pelo menos tinha parado de chorar, como se essa missão que tinha estabelecido para ele mesmo de pedir desculpas ao Jungkook estivesse lhe distraindo um pouco dos próprios pensamentos.

Quando percebeu, já estava na frente da portaria de vidro do prédio alto e espelhado. Parecia mais um edifício comercial do que residencial, mas mesmo assim tocou o interfone, que possuía apenas um botão. Foi atendido prontamente por um atendente, que pediu seu nome e falou que contataria Jungkook.

A segunda parte demorou um pouco, afinal, Jungkook estava desmaiado na sua cama de tanto cansaço e precisou de uma força de vontade sobrenatural para levantar-se e ir atender o interfone. Por pouco não atendeu, afinal, era o meio da madrugada e ele estava um lixo, achava que merecia um pouco de paz e isolamento. Mas a lembrança de algumas ligações insistentes entre seu sono o fizeram temer ser uma emergência e deram um pouco da motivação que precisava para levantar.

Atravessou seu apartamento de forma arrastada e sonolenta, isto é, até descobrir que quem estava em sua porta era Jimin. Todo o cansaço dissipou-se e o coração disparou nervosamente. Liberou a entrada do estagiário, vestiu uma roupa qualquer e encaminhou-se até a porta de seu apartamento para recebê-lo, suando frio e tremendo igual vara verde. Jungkook não se lembrava de ficar tão nervoso em toda sua vida.

E enquanto esperava Jimin subir pelo elevador, Jungkook começou a entrar em desespero novamente, muito confuso com aquela situação toda apesar de completamente acordado tamanho o susto que tomou ao descobrir quem era a visita. Nem refletiu como Jimin tinha chegado ali, nem sobre o horário, só queria saber o porquê, e aquilo o atormentava.

Jimin tinha vindo xingar-lhe cara a cara? Demitir-se? Contar como que Jungkook tinha arruinado sua vida para sempre? Falar com todas as palavras aquilo que já sabia por dentro e morria de medo que os outros percebessem: que era um homem terrível, incapaz e miserável? Merda, Jungkook estava mesmo muito nervoso, tinha tanto medo daquilo que queria chorar. Abriu a porta de seu apartamento com as mãos fracas e esperou Jimin apoiado no batente como se só ele o mantivesse em pé, tenso e atento ao barulho do elevador, apitando cada vez mais próximo e indicando que chegava em seu andar.

Levantou o olhar assim que ouviu as portas metálicas do elevador arrastaram-se para o lado, revelando Jimin ali. O estagiário entrou timidamente no corredor amplo e formal, frio, procurando a porta do Jungkook e parando, em choque, ao ver o CEO, tão bagunçado quanto ele, observando-o no batente.

Os olhos de Jungkook arregalaram-se ao ver Jimin e ele arquejou baixinho, sem conseguir ocultar a reação. Jimin tinha olhos vermelhos e inchados; bochechas cheias de rastros secos de lágrimas; cabelos emaranhados; nenhum rastro de um sentimento bom. Jimin parecia frágil, quebrado, péssimo... e todo o nervosismo que Jungkook sentia foi transformado em preocupação ao vê-lo tão mal. Ele precisava fazer alguma coisa. Achar alguma forma de compensar toda aquela situação. Mais lágrimas acumularam-se em seus olhos.

— Jimin...? — chamou com a voz hesitante o homem que simplesmente não havia se movido até então, parecendo uma estátua ao encarar-lhe de volta. — Você tá bem?

Arrependeu-se da pergunta assim que a fez. Porque era óbvio que nenhum deles estava.

»»💼««

Sim, o sofrimento continua nos próximos capítulos, esse arco de descoberta do Jimin é meio longuinho

ALERTA DE TEXTÃO! (mas eu amaria que vocês lessem, sério)

Bem, o que acharam do capítulo? Como sempre, vou reforçar que o passado do Jimin por mais que possa explicar as ações deles, NÃO as tornam toleráveis, ok? Ele ainda prejudicou o Jungkook pra caralho e fiquem atentos a isso.

Ao mesmo tempo, é bom lembrar que tudo que a gente vê de podre na sociedade vem de construção. Homens assediam porque são ensinados a isso. Tem tanto a questão da construção da masculinidade como dominância e violência e estes serem comportamentos que eles devem aprender a performar para que sejam respeitados e tenham valor (ou simplesmente de não verem o que tem de errado nesse tipo de atitude abusivo porque sempre foi o "normal"), quanto ao fato de muitas pessoas que cometem assédio terem sido vítimas abuso quando crianças também.

Quer dizer que pessoas que cometeram assédio não devam sofrer consequências pelos seus atos? Não! A impunidade reforça esses comportamentos e traz muitas dificuldades pra vítima poder se proteger, denunciar e garantir seus direitos.

Quer dizer que pessoas que cometeram assédio devem ser perdoadas? Não, isso depende exclusivamente da vítima. A pessoa pode nunca mais cometer esse crime, mas pra vítima, o agressor sempre será um agressor.

CONTUDO também é muito importante que a gente não enfie uma pessoa que cometeu um assédio no balaio de assediador para sempre. Essa pessoa precisa aprender e ser reinserida na sociedade (vou abordar isso na fanfic também aos poucos). Se uma pessoa já for transformada em assediadora; não importa o que ela faça para lutar contra esse problema, ela nunca vai deixar de ser uma assediadora. Quando a gente transforma ela em uma pessoa que cometeu assédio, abre mais portas pra ela não ser mais isso. E, fala sério, você prefere um mundo com assediadores, ou com pessoas que cometeram assédios mas pararam?

E, principalmente, a apresentação do passado do Jimin serve também pra mostrar que não adianta só punir as pessoas. A gente precisa dar um jeito de trabalhar na raiz da questão. Não adianta a gente punir e prender várias pessoas que cometeram assédio se outras continuarão sendo criadas. E a raiz é a educação, principalmente sexual. 

E, sério, como alguém que escreve fanfics com conteúdo sexual há mais de quatro anos, e que também fica observando o universo das fanfics, vejo como é gritante a falta de educação sexual do nosso país e da nossa bolha. Sendo muito sincera, eu já vi vários "Jimins" por aqui e dói pensar nisso. E a gente precisa fazer algo sobre isso, sabe? Pra >nos< proteger e poder proteger os outros também, é um assunto importante que é negligenciado por tabu. Não é questão de culpar quem não sabe, mas tentar trazer aos poucos informações pra essa pessoa também.

Eu tenho tentado fazer isso com várias fanfics, desde conversas sobre sexualidade entre os personagens como por exemplo em (Não) Leia-me! (que nem tem nenhum conteúdo explícito) e futuramente em Uma Suposta Facção de Balé; até foco em sexo como prazer e intimidade acima de performance e essa hipervalorização de penetração que a gente vê por aí, escrevendo smuts "mais leves", muitas vezes sem penetração e que os personagens erram, dialogam e se divertem mais, como Namorado dele aqui!, Um E.T. na minha horta e (D)eficiente. Se eu estou sempre certa e represento perfeitamente? Dificilmente kkkk mas acho que a tentativa de desconstruir aos pouquinhos é válida e também descobri gostar e me divertir mto mais de escrever essas cenas (antes eu escrevia geralmente obrigada e eu achava UM SACO). 

E vocês devem perceber que Empresário não foge dessa ideia e ela existe pra trazer algumas outras perspectivas que eu tenho estudado sobre o assunto (e que podem, e espero que fiquem, obsoletas ao longo do tempo quando a gente avançar no assunto como sociedade! Espero que em breve coisas abordadas aqui sejam óbvias pra todo mundo a ponto de ser chato, e que as coisas evoluam até mesmo pra que esteja "errada" em alguns aspectos). Também não estou tentando apresentar nenhuma verdade, é só o que eu acredito >no momento< com as informações que eu tenho hoje e que eu queria amadurecer e refletir em forma de fanfic, porque sinceramente sempre que eu faço personagens viverem algum contexto eu sinto que eu entro em diferentes perspectivas sobre ele (mesmo que limitadas às minhas experiências de vida e acesso à informação, claro, mas aí acho que entra a parte dos leitores poderem atribuir as próprias experiências e refletirem do próprio jeito também)

Bem, como eu disse, ainda vou apresentar mais coisas na fanfic rondando cultura de estupro, machismo, educação sexual e "reabilitação" sexual. Mas uma grande fonte de diálogos que eu utilizei para construir melhor essas questões foram episódios de um podcast chamado Mamilos, caso alguém queira procurar. Principalmente os episódios "O que é cultura do estupro?" "Assédio sexual: o que fazer?" porque trazem várias pessoas com visões diferentes pra falar do assunto e conversas bem sinceras que a gente não costuma ter contato no dia a dia em que toda discussão é polarizada com certo e errado.

Me perdoem o textão e bora que bora acompanhar os nossos tão problemáticos jikook nessa jornada aqui kkkkkk Obrigada sempre a quem lê, me acompanha e, como sempre, tô de olho na #JKNãoUsaGravata caso queiram trocar ideias e opiniões!

Beijinhos de luz e até dia 20/02 às 19:00! (agora eu conferi duas vezes hihi)

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