ondas de calor - dnf [ heat w...

By pllvss_exe

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Tradução ao português da fanfic Heat Waves por tbhyourelame. Parte 1/2 da série "Dreamland." TERMINADA. Con... More

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By pllvss_exe

n/a: história não autoral, apoiem a obra original se possível. sugestões, dúvidas e críticas, podem me chamar no inbox. votos e comentários são apreciados e me encorajam a continuar :)

desculpem pelo atraso. aqui onde eu estou não tem internet decente e também não vai melhorar logo não, o próximo também vai demorar KKKK. mas espero que valha a espera ;)

esse aqui é grande. vão aos poucos, bebam água, e segurem firme, ok?

boa leitura :)

———

Com uma cuidadosa troca de honestidade e de palavras, Dream e George finalmente trazem tudo à tona.

———

"Dream," George diz, "posso falar com você?"

Seu coração despenca no peito. Ele sente os nervos que tinha conseguido acalmar quebrarem em sua garganta. As árvores na tela balançam com um movimento nauseante.

Ele não pensou que doeria tanto ouvir seu nome deixar a boca de George. Todos os momentos em que foi pronunciado com carinho, irritação, paciência ou frustração passam por ele em uma lembrança fugaz.

Ele sonhou com isso. Ele ansiou por isso.

Dream abre os lábios na tentativa de ultrapassar o obstáculo pressionado contra o silêncio, onde a voz de George reverbera.

"Oi," ele consegue forçar para fora.

É fraco, e superficial—George não perde tempo antes de responder, "agora, por favor."

George desconecta da chamada.

Os olhos de Dream fecham enquanto os outros ouvintes se metem com perguntas confusas e risadas nervosas. O barulho enche seus headphones e ele quase levanta uma mão para arrancá-los; empurrar a cacofonia ansiosa para longe.

Uma mensagem de Callahan aparece no chat: iiiiih se ferrou.

"Ih, Dream, cara," Tommy diz entre risadas, "parece que te chamaram pra secretaria. Que porra você fez?"

"Tommy—parou," Wilbur diz rápido, pulando entre aviso sutil e repreensão lúdica, "quer que sua mãe venha e brigue com você de novo?"

"Ela não faz isso há eras, idiota."

Eles despencam em uma briga irrelevante, guiando a atenção para outro tópico que Wilbur insiste em discutir.

Dream se sente dormente. Seu avatar permanece imóvel em sua inatividade crescente.

Você sussurrou para WilburSoot: obrigado.

Ele observa a janela do Discord em seu segundo monitor, a lista de nomes, o canal de voz privado onde o ícone de George espera pacientemente.

Problema. Perigo. O que eu fiz?

Sapnap o retira de seus pensamentos embaçados enquanto ordena, "depois a gente se fala, Dream."

Seu peito se aperta.

Ele sai do jogo, e murmura, "vai se ferrar."

Seus amigos se juntam em despedidas rápidas, e Dream não consegue responder qualquer palavra antes que a sobreposição de vozes seja cortada rigidamente por sua desconexão.

O cursor flutua sobre o nome de George.

Ele sabe que não pode fugir disso. A inevitabilidade volta com tudo para assustar e acalmar, guiando seus dedos contra o plástico de seu mouse para selecionar o canal com um pequeno clique.

Dream entra na chamada.

O silêncio lhe dá boas-vindas, e ele remexe nas cordas de seu moletom ansiosamente. A mera presença de George é ensurdecedora.

"Você voltou," Dream diz finalmente, incerto de onde começar.

Inexpressivo, George responde, "voltei."

"Quando você chegou em—"

"Duas horas depois de conseguir sinal," George interrompe.

A pulsação de Dream acelera com a rigidez em seu tom.

George diz, "você não tava atendendo. Eu tive que entrar na chamada porque assim você respondia."

Dream faz e refaz nós nos cordões. Ele se sente desidratado, seco—sem mais lágrimas, sem mais sorte, sem mais tempo. Palavras morrem antes que Dream consiga envolvê-las nas camadas mais finas de coerência.

"Eu preciso que você explique pra mim," George diz, e Dream lentamente se agarra ao tecido em seu tórax, "o que quer que seja aquela porra que eu tô encarando no meu celular desde manhã."

Seu aperto aumenta enquanto dor manda agulhas para seu peito. Tá acontecendo. Tá acontecendo.

"Tá—tá tudo ali, George," ele diz fracamente, "o que precisa explicar?"

"O que—o que precisa," George repete com frustração estridente, "meu Deus do céu."

Depois de uma pausa cuidadosa, a voz de Dream fica baixa, e tensa, "eu senti muito a sua falta."

Ele ouve George soltar uma respiração instável. "Dream. Dream. Eu tô tentando—fazer isso, não deixa difícil. Por favor, só, explica isso. Eu não tô doido. Explica."

Seus olhos se fecham.

"Posso só...escutar sua voz, por um segundo?" Dream pergunta, e seu desespero desliza choque através da linha telefônica, "por favor. Me fala sobre sua viagem, e a gente conversa. Pode ser?" Ele traz seus punhos e tecido embrulhado à sua boca. "George?"

Suas inspiradas tremem contra seus dedos, enquanto ele espera a resposta de George com paciência abrasadora. Dias e noites se doendo por isso, mas não dessa forma, zombam de sua angústia.

Por favor, ele implora internamente, por favor.

"Não," George diz.

Os olhos de Dream se abrem. "N-não?"

"Não consigo acreditar em você," ele murmura, "eu não acredito. A gente não se fala a semana toda, e assim que eu volto, você me dá essa—essa—confissão? Carta de ódio? Eu nem sei."

Carta de ódio.

"Olha—" Dream tenta, mas as palavras rápidas de George.

"Não, não, você acha que eu ia querer falar da minha viagem? Que você merece tudo isso?" George questiona com raiva espinhenta, cuspindo, "eu não te entendo. 'Talvez eu só devesse foder com tudo,' vai se foder. Vai se foder."

Sua voz é feia.

Dream murcha. "Eu só queria falar com você."

"Você quer uma distração. Não vou te dar isso."

"Não é isso," Dream diz, mas tem gosto de mentira. "Eu sei que você não tá feliz comigo agora mas—"

"Mas é claro," George interrompe rispidamente, "é claro que não tô feliz, Dream. Você escreveu essa bagunça toda e me ignorou o dia inteiro. Quer que eu fique como?"

"George—"

"Com certeza você pensou em mim, né? Sobre como eu ia me sentir, lendo aquilo e tentando descobrir o que era, sozinho," George fervilha, "você deve ter pensado sobre como eu me sentiria. Como eu me senti." Sua voz de repente perde o ardor, "você...você sabe como eu me sentia. Você sabe o que eu falei pra ele. Então...por quê?"

Cantos frios de egoísmo e culpa são prensados nos espaços entre suas costelas. Ele pensa em como isso teria sido se ele não tivesse deixado sua destruição capturá-los—trocando pedaços de suas semanas, colocando assunto em dia, ficando próximos, compartilhando risadas.

A maneira estrangeira com que George fala com ele agora é suficiente para fazê-lo se perguntar se eles voltarão para isso algum dia.

"Eu..." Dream suaviza os vincos enrugados de seu peito, "eu fiquei perdido depois que Sap disse aquilo. Eu não sei. Comecei a escrever textos pra mim mesmo que eu não queria mandar—foi sem querer." Mais ou menos. "Desculpa."

"Não parece que você tava escrevendo pra si mesmo."

"Eu sei," Dream repete, "desculpa."

"Fala outra coisa, por favor."

"George, eu—" Ele deixa sair uma respiração frustrada, se afastando de sua mesa. "Eu tô apavorado, agora. Eu nem sei por onde começar."

"Escolhe algum lugar," George dispara.

Dream fica de pé. "Não é tão fácil assim."

"Não é tão fácil? Então por que você mandou—"

"Foi sem querer."

"Ah, foi sem querer," George diz, a voz pingando com sarcasmo queimado, "ahã. Tá. O mínimo que você devia fazer é assumir o que fez."

Amargamente, Dream rosna, "Eu tô. Confia em mim."

George fica em silêncio.

Dream odeia o jeito que isso entalha seu peito, arrependimento já se infiltrando nele como se cada palavra que saísse de sua boca os empurrasse para longe um do outro.

A borda cortante na voz de George aparece em suas conversas com Sapnap, mas Dream ouvira as lâminas de prata dirigidas a ele apenas uma vez, anos atrás.

Os três estavam mergulhados de cabeça em uma chamada longa de competição de jogos, lançando palavras tóxicas e insultos vazios atolados de palavrões. Determinado a achar um ponto de pressão depois de ser atormentado a noite inteira, Sapnap tinha disparado uma série de comentários relacionados a relacionamentos sobre paixões e sentimentos e o estilo de vida solteiro de George que atingiu o limite inesperadamente.

George ficou bravo.

Sapnap continuou empurrando e Dream seguiu, entretido pela reação que eles raramente viam. Depois de ter um dia de merda, ele caiu na diversão de se juntar contra George até que sua língua escorregou e fraturou o espaço entre eles.

Dream tinha dito uma corda de palavras cruéis das quais não se lembra—elas saíram de sua boca mais rápido do que ele poderia espantá-las—e George quebrou.

Ele se virou contra Dream em julgamento mordaz; dor inesperada. George sufocara a ligação em uma temperamental tangente sobre como a opinião que Dream tem dele importa, o que ele diz importa, o conceito se retorcendo em seu pescoço e pausando o jogo imediatamente.

Foi suficiente para que Dream tirasse George da chamada, e ficassem sozinhos por quarenta minutos para desfazer seu comentário áspero e se desculpar. Desde então, Dream esteve atento para manter seu tom gentil e as brincadeiras impessoais—para nunca ouvir esse lado da voz de George de novo.

Ainda assim, agora Dream está parado em seu quarto observando a tensão em seus punhos, e a raiva de George revela o tom de fragilidade escondido quando ele diz baixinho, "só admite que você me odeia."

O rosto de Dream vira para cima rápido. "Eu não odeio você." Seu coração aperta com a pausa vazia que se segue. "George. Você não acredita nisso."

"É pra eu acreditar no quê? Por que você escreveria essas coisas tão irritadas pra mim?"

A fraqueza da pronúncia de tão irritadas atinge Dream com melancolia profunda. Sua mente pesarosamente repassa as palavras ardentes que ele enroscou nas anotações. Não consigo continuar fazendo isso. Eu devia foder com tudo. Você me machucou, não machucou? De propósito, você faria, não? Dói que ele meramente um dia as escreveu; dói que George poderia interpretá-las dessa maneira. Que ele poderia sequer pensar que fosse odiado.

As noites mal dormidas e febres solitárias de Dream abraçam a tensão em sua mandíbula, relaxando o ponto onde articulação encontra bochecha. Sua boca afrouxa.

"Porque," ele solta, "eu fico pensando em você o tempo inteiro, e eu não me lembro a última vez que me senti assim, com qualquer um."

Seu coração acelera. Ele se inclina lentamente, suas palmas pressionando a mesa.

"Se sentiu," George diz, "como."

"George," diz a respiração leve de Dream, "alguma parte de mim precisa de você."

Sua cabeça balança entre seus ombros tensos. O teclado e tela iluminam suas mãos esticadas. A superfície escura sob elas é arranhada e desgastada por anos de uso.

"Mas..." As palavras de George quebram enquanto ele recita, "eu te amaldiçoo. E te machuco."

Dream se pergunta quantos fantasmas ele juntou em sua vida; quantos ele criou de poeira e cartas não enviadas.

Ele quer escapar para a negação. Ele quer que o arrependimento roube tudo. "Sim."

A dor desliza baixo, e profundamente. "Por que você ia querer alguém que faz isso com você?"

"Você vale a pena," Dream diz, "cada segundo. Você vive em mim, George."

Ele ouve o oxigênio de George ficar preso em sua garganta.

Por um momento, ele quase consegue ver, a silhueta oscilando do outro lado do campo de fogo que surgiu na distância deles. A miragem quase o deixa de joelhos. As labaredas sobem.

Ele tira as mãos da mesa para esfregar o vazio de suas bochechas. Seus pés o levam sem direção para longe dos monitores.

"Quando a gente se conheceu," George diz com cautelosa, inesperada ternura, "eu tava tão caidinho por você."

Dream fica imóvel, seus dedos ficando quietos contra o tapete macio. Seus calcanhares e estômago e ombros tensionam.

"Tudo que você dizia," George continua, "tudo que você fazia, toda vez que você só falava comigo ou dizia meu nome. Eu queria te fazer rir. Queria estar contigo, toda hora, todo dia."

Calor arrepiante floresce nas bochechas de Dream e desce por seu pescoço, se juntando em seu peito com sensação vívida. Seus lábios se separam impotentes.

O oscilar na voz de George aumenta, "E você passou direto por mim."

Seus olhos se arregalam.

George pigarreia, e retorna com um tom estável, "e daí eu cresci. E a gente ficou mais próximo. E eu te consegui te conhecer como, hã, você—idiota e audacioso, extremamente carinhoso, um pouquinho maluco." Ele hesita. "Mas eu superei."

Terror, e medo, e confusão se acumulam no estômago de Dream. Ele tenta agarrar a cadeira atrás dele, os dedos apertando o plástico com força.

"Daí a gente...começou a mudar," George diz, "eu te segurava à distância de um braço, mas você aprendeu a me girar. E foi divertido, e-e emocionante, e uma parte de mim percebeu que eu ainda..." ele desvia, e inunda com emoção fervorosa. "O que eu faço agora, Dream? Por que você tá fazendo isso comigo agora?"

A dor em sua voz é saturada com decepção, chuva fria, ninhos vazios. Fraqueza arranca o ar do corpo de Dream.

"George," Dream tenta, "eu não—"

"O que você quer que eu faça?" Ele suspira, soando totalmente impotente. "Que eu volte—que eu me deixe voltar pra lá?"

Ele ouve George fungar, e o plástico em seu aperto começa a tremer.

"É diferente dessa vez," Dream pleiteia.

"Por quê?"

Paixão dolorida cai de seus lábios, "Porque eu te vejo agora, e eu quero isso."

"Você quer?" George pressiona com raiva, "O que é 'isso' pra você, Clay?"

Mil e um desejos e necessidades correm por sua mente com fúria brilhante. São manhãs claras, noites tardias, toques ternos e conversas suaves, luz e risadas e escuridão e profundidade, "É—é—"

"Não podia ser 'alguém pra vida inteira,' né?" George pergunta, sua voz trêmula cortando os pensamentos de Dream em dois, "não podia ser isso, podia?"

Uma respiração estremecida rasga os pulmões de Dream.

Alguém pra vida inteira.

Não, suas memórias tolas recontam com miséria profunda, acho que isso não é pra mim.

"É," George agulha, "é. Eu vi isso. Quando eu tava começando a me sentir um pouquinho melhor, sei lá, sem tanta vontade de vomitar. Não sei dizer se qualquer parte disso é sério pra você, ou se é só um tipo de—de joguinho solitário."

George pensou que as notas eram metade-declaração, metade-adeus raivoso—e agora, pensa que Dream quer algum casual namorico centrado em si mesmo. Ao perceber, ele é empurrado mais ainda para a destruição; quando ele estragou tudo nesse nível?

O mundo de Dream gira com pânico e vergonha abrupta. "Era mentira," ele implora, "eu menti."

Ele joga a cadeira de suas mãos ásperas e toma alguns passos cambaleantes.

"Você...o quê?"

"Eu tava com medo do quanto eu queria," ele confessa, se carregando para o lado oposto de seu quarto enquanto isso o cruza, "aquilo me derrubou, George, e eu menti. Eu tava tentando fugir daquilo porque eu já vi como pode acabar. Eu vi com meus pais." Sua movimentação morre enquanto ele deixa o peso o enraizar firmemente ao chão. "Mas...você. Eu quero você de todo jeito que eu posso te ter."

No silêncio que reverbera na ligação, o peito de Dream sobe e desce rapidamente. Seus músculos tensionam e relaxam. A liberdade fecha suas feridas.

"Você não tá brincando?" George pergunta devagar.

Seus olhos tremem enquanto a raiva acalma a si mesma perante as palavras de George.

"Meu Deus, não," Dream respira, "realmente, de verdade—não."

"Faz...faz quanto tempo que você não tá mais brincando?"

Dream olha para o espelho pendurado acima de seu armário. Seu rosto está vermelho, seu cabelo bagunçado pelos fones robustos cobrindo seus ouvidos, o logotipo de uma chama em seu moletom centralizado bem em seu coração.

"Por um tempo, sem perceber," ele diz, "mas eu comecei a me soltar por volta da stream de xadrez."

"...Ah."

Qualquer chance que eu tinha, ele pensa. "Eu te perdi?"

George suspira. "Não é tão fácil, Dream." Depois de um instante, ele murmura, "eu vou matar o Sapnap."

Dream sorri secamente. "Não se ele matar a gente antes."

George faz um barulho em aprovação, e o peito de Dream ansia. Ele quer pegar a oportunidade e correr com ela—tirá-los desse caminho e se esconder no tranquilo arbusto de piadas astutas e leve normalidade.

A distração apenas atrasaria mais, porém, e os últimos sete dias de suspense já tinham sido o suficiente para Dream.

"Eu tava esperando pra falar contigo assim que eu chegasse, você sabe," George diz baixinho, "a semana inteira. Tudo que eu vi que era bonito ou achava engraçado eu queria te contar."

Me conta, Dream quer dizer, tira a gente daqui. "Desculpa."

As palavras de George caem de sua boca cuidadosamente, como se fossem segredos, "Choveu quanto eu tava lá, Dream. Eu...não tava dormindo direito, e eu acordei por causa disso. A grama tava cheia de orvalho. Eu deitei ali, por um tempo."

Dream se lembra de escorregar para seu gramado no calor barulhento, vazio depois de dias de silêncio de George. Será que a mesma dor o empurrou para sentir as úmidas terras agrícolas, também?

Ele imagina George enrolado em pijamas e roupas quentes, deixando pegadas escuras na grama perambulando sob a chuva. Ele consegue vê-lo afundando no chão, gentilmente deitado na terra e no verde.

Dream gostaria de ter visto as gotas se agruparem em suas bochechas. Gostaria de poder ter se deitado a seu lado, debaixo de um carregado céu inglês ao invés de seu ardente sol floridiano. Ele poderia ter pressionado uma mão no tecido molhado do peito de George, ou retirado a névoa de sua pele.

"Continuou chovendo," George diz, "e eu continuei sentido sua falta. Eu me senti seguro, sentindo sua falta. E daí..." sua suavidade vira granizo, "daí são seis da manhã, e você me manda algo que é perigoso. Você normalmente sabe quando parar mas isso—isso?"

Dream tenta não pensar em George segurando as notas em sua mão aberta, os olhos brilhando com as palavras enquanto o autor sussurrava em seu ouvido.

"Achei que você ligasse mais," George termina com tom baixo, "pra fazer algo assim."

Os dedos trêmulos de Dream apertam o meio de seu nariz. "Deixa eu explicar," ele diz, "eu ligo tanto que tá me matando. Quando eu disse que nunca me senti assim antes eu falei sério—não consigo comer ou dormir ou pensar direito quando é você." Seus dedos rastejam por seus olhos para apertar suas têmporas, sua visão presa em uma leve sombra. "É como se eu precisasse te respirar pra não perder a cabeça. Eu tô obcecado com você. Aí...aí quando ele disse que eu podia ter perdido os seus sentimentos, pertos pra caralho dos meus próprios, eu só..."

Ele expira com dificuldade com os nódulos se formando em sua garganta.

George o deixa se contorcer em silêncio.

"Eu odeio ter te machucado," Dream diz, "eu odeio tanto. Eu sei que senti até lá atrás—queria poder colocar algum juízo na cabeça do meu eu antigo por ser um completo idiota. Eu tenho sido um idiota, George." Ele o ouve bufar baixinho. "Desculpa que isso veio de um lugar tão escuro, eu...eu não queria que você descobrisse assim." Seu choque se derrete em um murmúrio solene, "eu teria feito tudo tão diferente."

O cansaço em seu tom apazigua os dois.

George hesita antes de perguntar, "como você teria feito?"

"Eu podia ter te mandado uma carta bonita," Dream diz, suas palavras suaves, "Meu Deus, eu escreveria à mão se eu soubesse que—que isso..."

"O que—o que você escreveria?" George pronuncia com hesitação tímida, então adiciona, "isso se eu conseguisse entender sua letra."

A mudança gentil vem pelos fones de Dream para brilhar como luz entre eles. Seu coração alcança um tamborilar esporádico.

"Um registro de tudo que Patches faz, por hora," ele oferece delicadamente, e George murmura em aprovação, "ou quantas vezes eu queimei minha boca na comida, porque eu sei que te deixa feliz, por algum motivo."

"Só espera esfriar," George diz gentilmente, "você é impaciente demais."

Os cantos de sua boca se levantam, e ele diz, "eu escreveria sobre o quanto eu quero ouvir você sorrir, tipo agora." Ele hesita, seu tom ficando mais baixo com afeição, "e te contar quantas saudades eu sinto de ver isso. O quanto eu quero—quero...te beijar, como eu fiz nos meus sonhos."

Seus olhos se voltam ao ventilador girando em seu teto branco. A sensação de falar isso enfim é bela.

"Você sonha com isso?" George expira.

Dream pressiona uma mão vazia contra sua bochecha. "O tempo todo."

O fogo entre eles crepita com direção desconhecida, intenção imprevisível.

Ele ouve George suspirar, e a brisa deixa faíscas em seu rosto.

"O que a gente faz, Dream," George pergunta com tremores de medo longíquo, "a essa distância, com as nossas vidas diferentes?"

Sua mão cai para se conectar com a outra em um aperto nervoso atrás de suas costas. "Eu não sei," ele diz.

Dream pensa na amizade deles, nas longas noites de madrugada e horas de ligação e piadas íntimas e discussões frustradas. As desajeitadas gambiarras de fuso-horário, cronogramas, zonas cinzas pessoais. Os momentos acidentais que o ser ambicioso de Dream empurrou o de George ao silêncio, à invisibilidade.

Ele pensa em quantas vezes ele foi, longe demais, rápido demais ao extremo da audácia.

Com suas palavras, Dream se curva com remorso perante o trono dourado. "Você sabe?"

Ele sabe que não há mais espaço para desculpas. A arma que descansa em sua nuca foi segurada em seu próprio aperto por tempo demais, e deveria repousar nas mãos de George, e nas dele apenas.

"Eu..." George encosta o machado gentilmente na base do crânio de Dream. Com um movimento fatal, Sapnap poderia estar certo—a destruição dele é a ruína deles. A justiça é quem os destrói.

O sussurro de George balança, "Acho que é demais." Sua voz quebra, "acho que isso é coisa demais."

A lâmina corta osso.

A cabeça de Dream cai.

Fatiado, machucado; ele sente sangue correr para suas orelhas.

"Como assim," ele diz, olhos mortos encarando o tapete, "o que isso significa."

"Dream, eu—"

"Você—você me superou? É por isso, então, aí a gente não vai nem tentar, você—você decidiu?"

"Não," George garante fervorosamente, "não. Eu não quis...Eu só não quero mentir pra você. Eu sei quão importante honestidade é pra você."

Dream amolece em questão de rápidos, atropelados segundos. Com a garganta apertada, ele consegue soltar, "então me diz."

"Eu tenho tanta coisa," George diz, "por você. Não consigo explicar. É como se fosse—é maior que eu, e eu me ensinei a lidar com isso. Tava tudo certo, desse jeito."

Dream afunda ao chão, enfraquecido pelas torrentes de emoção lavando seu corpo cansado. Seus cotovelos afundam nos joelhos enquanto ele pressiona seus punhos contra sua boca.

"Isso é rápido demais," George continua trêmulo. "Tanta coisa mudou e minha cabeça tá doendo, eu—você disse, também, que você tá bravo e...e arruinado. Por minha causa." Dream reconhece a tensão de lágrimas em sua voz frágil. "Não sei se tô pronto pra isso. Pra você."

As palavras enchem seu crânio com impiedosa, vulnerável força. Seu rosto cai entre suas mãos.

George sussurra, "Não tô pronto pra você."

No silêncio frio que envolve seu mundo submerso, a pulsação de Dream bate pesada em seus ouvidos. A escuridão de suas palmas ricocheteia suas respirações quentes em seu nariz e boca.

Antígona, sua cabeça badala com melancolia retorcida, me enterre, também.

Ele quer deslizar de volta no tempo, para o momento em que se agachou debaixo da lua curvada na costa adormecida. Tivesse ele ido mais devagar, e levado George onde a água roxa batesse apenas em suas cinturas, talvez eles pudessem ter afundado com graça ao invés de fúria.

Por que eu tive que queimar tudo?

"...Você tá aí?" George pergunta.

Suas mãos deslizam de seu rosto. "Só...me dá um segundo."

"Ok."

Ele limpa a garganta, e hesita.

Não tô pronto pra você. Não tô pronto pra você. Não tô pronto pra você.

"Então você ainda sente algo por mim," Dream diz finalmente.

A voz de George é vazia. "Claro que sim."

Um suspiro quebrado passa por seus lábios. "Mas você não acha que é uma boa ideia ser... ser..."

"Algo mais que amigos," ele termina com tensão audível.

Seu coração sangra. Lágrimas surgem em seus olhos, e ele tenta afastá-las piscando, mas as gotas grudam mornas em seus cílios. Um sussurro áspero rasga por ele, "merda."

"Desculpa," George engasga enquanto ele repete, "me desculpa."

"Desculpa?" Dream questiona em incredulidade, e George faz um som suave em confirmação. "Não, George. Não pede desculpa. Isso é tudo culpa minha."

"Não é, eu devia ter dito algo antes ou—ou ter sido mais sincero com você, eu—"

"Não não não, você não tinha que fazer nada." Correntes quentes escorregam em silêncio pelas bochechas vibrantes de Dream, sua respiração ameaçando soluçar. "Você fez tudo certo. Você...tá certo." Ele vê pequenas manchas no tapete seco, coração agitado com seus sonhos, sua obsessão, sua imprudência. "Eu não pensei em como você ia se sentir com tudo isso. Eu fiquei tão obcecado com tudo que eu—eu perdi tudo. Eu perdi a gente."

George funga. Suas palavras saem anasaladas, mas caem com suavidade extrema, "Eu gosto muito, muito de você."

Dream fecha seus olhos molhados. "Não—não diz esse tipo de coisa, talvez."

"Desculpa." O eco atrás do sussurro de George entra no peito de Dream, "Só não sei quando vou poder falar de novo, depois disso."

"Ah," Dream diz, "ah."

Quando dividirem a rouca linha telefônica, e ele puxar os fones de seu crânio, o que seria deles? Dream observará sua própria queda no poço desconhecido de noites sem ligações e conversas censuradas—fechando cortinas e ligando para sua mãe e se forçando a não sonhar com George.

Para onde suas palavras iriam, então?

"Tá—e se a gente...fizer isso agora?" Dream sugere fracamente, esperando que traços de medo não pesem muito em seu apelo. "Colocar tudo pra fora, não importa o que aconteça quando terminar."

Depois de um breve silêncio, George pergunta, "s-sério?"

Dream quase sorri com a esperança sutil em sua voz. "Talvez seja bom pra gente. Não sei."

"Ok," George diz.

"Ok," Dream suspira, "ok." Ele pisca para afastar os borrões em sua vista. "Quero falar tanta coisa, você nem sabe."

George expira. "Escreve outro texto pra mim."

"Ei. Isso é tão, mas tão sem graça."

"Me dá um tempo, cuzão," George murmura, então hesita. "Eu posso...perguntar sobre isso?"

"Claro." Dream seca seu rosto com o antebraço. "Vai me deixar nervoso pra caralho—mas claro."

"Seus...sonhos são realmente pesadelos quanto eu tô lá?" George pergunta. Silêncio passa por ele. "Um tempo atrás você disse que era o contrário."

"Eu não sei," Dream admite, enroscando suas mangas em seus dedões. "Não é nem um pouco parecido com meus outros pesadelos, mas eu odeio tanto a sensação de acordar sem você aqui que pode muito bem ser um sim."

Ele quase não ouve a pequena voz de George pronunciar, "Ah."

Dream junta suas mãos ansiosamente. "Tem certeza que quer falar sobre isso?"

"Sim," George diz, então adiciona baixinho, "por favor."

Dream congela com a súbita falta de fôlego que o lembra de linhas de luz derrubadas e velas piscando. "...Tá bom. O que mais você quer saber?"

"Como foi o seu sonho?"

Seu estômago revira com a intimidade estranha que a pergunta carrega. Ele gostaria de saber por que eles inevitavelmente se comunicam dessa maneira—na crua, desenfreada realidade de pensamento inconsciente e coração mudo.

"Você tava na Flórida de novo," ele diz. "Mas dessa vez era na minha casa. No quarto do outro lado do corredor." Seus dentes afundam em seus lábios momentaneamente, e ele sente gosto de sal. "Você tinha uma mala e sapatos marrons e uma faca de caça. Eu...eu não sabia que não era real, no começo."

Dream aceita as horas que passou esparramado na cama daquele quarto, o telefone deitado no colchão vazio, os fios de seus fones se encaracolando no espaço em que George esteve.

"Eu queria tanto que fosse real," ele sussurra. "E quando eu comecei a te beijar eu não conseguia parar. Ou foi o que eu pensei, até que eu parei e...te abracei. Forte."

"Isso parece muito, muito bom." George diz suavemente.

"Me assustou de verdade." Dream brinca com suas mangas. "Eu...eu percebi quão profundo isso que eu tenho por você é. Mais do que só—só—"

"Querer me derreter?" George oferece com um leve atrevimento em sua voz.

As mãos de Dream param.

"É," ele diz, "exatamente. Quando eu acordei, eu queria falar com você. Mais do que tudo. Eu tinha que te alcançar de algum jeito."

"Me alcançar," George diz em um tom que Dream não reconhece, "você repetiu isso algumas vezes. Por quê?"

"Você disse algo do tipo no sonho," ele revela baixinho, "que o motivo de você continuar aparecendo é porque eu tentava te alcançar."

"Não acho que alcançar seja a palavra certa," George reflete.

Dream joga sua cabeça pra trás em diversão, e funga para se livrar das ferroadas salgadas em seu nariz. "Ah é? Tem alguma melhor?"

"Você se faz parecer mais suave do que é de verdade."

"Talvez você só veja o pior em mim," Dream diz. Um sorriso sobe nos cantos de sua boca quando a ligação fica muda.

As palavras de George pesam com decepção afiada. "Isso não tem graça."

"É meio verdade."

"Não é," George diz como se eles tivessem tido essa conversa mil vezes antes.

Dream espera ouvir a generosidade resguardada de George, ou elogios com armadilhas.

"Você é doce," George diz, "mas também gosta de brigar. Bastante. Eu vejo quando você escorrega e esquece que você sempre tá tentando me acompanhar." Os lábios de Dream se dividem em réplica chocada, mas George termina rápido, "por isso não é alcançar, quando você faz algo assim. É mais tipo...agarrar. Ou pegar."

"Você que deixa," Dream diz, pego de surpresa com sua tenacidade, "me fazendo pensar sobre marcas e essas coisas."

George bufa. "Você começou."

"E você ficou com medo de mim," ele pressiona.

"Não fiquei."

O coração de Dream bate com emoção enosada. "Então por que você fugiu?"

"Porque eu uso meu cérebro," George diz, "e eu não queria que fosse longe demais." Tipo agora.

Ele se lembra de como foi ficar parado no seu banheiro escuro, celular na mão e intenções perigosas na cabeça. Ele teria feito qualquer coisa por George.

Talvez esse seja o problema.

Dream grunhe, "Você e seu hábito de me deixar na expectativa."

"Você é ridículo," George diz, mas Dream consegue ouvir traços de leve diversão. "Você que tem o mau hábito de tentar pegar coisas, o tempo inteiro. Como se você fosse algum tipo de herói grego."

Um sorriso afiado enche o rosto de Dream de satisfação aquecida, e ele murmura, "Não posso pegar o que não é meu."

'"Dream," George alerta.

"Eu sei," ele diz leve, e se retém.

Silêncio reconfortante os aconchegam por alguns cuidadosos instantes. Dream fica grato por ter o que tanto cobiçava desde que a falha recepção de George interrompeu suas conversas.

Dream sabe que partir disso poderia ser um adeus doloroso. Ele caminha no ouro estranho que eles criaram, aproveitando o que pode ser o último gosto de paraíso por muito tempo.

A voz de George vem por seus fones com surpresa, as palavras mornas e hesitantes quando ele diz, "Ainda não, talvez."

"Ainda não?" Dream ecoa, sobrancelhas desorientadas se juntando devagar.

George pega sua confusão e o guia, pacientemente, para o recém-descoberto intermediário. "Mesmo que não seja seu agora, não significa que nunca vai ser."

Esperança e dor se misturam em um meio passo sem fôlego de seu coração acelerada. Parecem ser uma só—feitas do mesmo pó, do mesmo amor.

"Isso não é um 'não,' Dream," George continua, "é um 'ainda não.'"

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