ondas de calor - dnf [ heat w...

By pllvss_exe

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Tradução ao português da fanfic Heat Waves por tbhyourelame. Parte 1/2 da série "Dreamland." TERMINADA. Con... More

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By pllvss_exe

n/a: história não autoral, apoiem a obra original. sugestões, dúvidas e críticas, podem me chamar no discord ou inbox. votos e comentários são apreciados e me encorajam a continuar :)

MUITO obrigada pelas 1000 leituras e 100 votos! não consigo expressar em palavras quão feliz eu estou de conseguir compartilhar essa história e ver que vocês estão gostando. novamente, muito obrigada.

bastante flashback dos últimos capítulos e referência da música nesse aqui.

aproveitem, boa leitura :)

aviso de angst/comportamento depressivo, linguagem imprópria

———

O mundo interno de Dream é desafiado quando ele cai ainda mais.

———

Seus ombros doem.

Dream afunda na grama de seu quintal debaixo do sol de meio-dia. Está úmido, luminoso, e silencioso. O solo cheira a merda.

Seus músculos doloridos relaxam no berço de lâminas verdes e terra macia, ferroando sua pele. Emaranhados de raízes e capim se juntam sob seus dedos afobados.

Ele levanta os olhos para as nuvens brancas que cruzam o céu azul lentamente.

O mecânico o visitara há dois dias e meio, e desde que o fluxo suave de ar frio retornou para as pontas de seus dedos e voltou a traçar arrepios em sua nuca, Dream se sente vazio. Se encontrando no meio de cobertores e casacos, ou parado no vapor do chuveiro, ele se agarra ao calor que o escapa.

Ele cansou de procurar algo que o destrói até que ele fique em silêncio puro, queimado até o núcleo.

Dream suspira sob os raios de sol.

Apenas seus sonhos ofereceram um intervalo, de dois gumes, da solidão que o consome. Seu ser é engolido por imagens de águas cor de carmim e o balançar de seu machado bárbaro. Ele acorda com medo de mãos machucadas até acender o abajur, e ver seus punhos limpos tremendo.

Ele tem vencido. De novo, de novo e de novo.

Dream acordou na cozinha hoje, com suas bochechas pressionadas contra o chão de azulejo e uma caixa de leite perto de seu peito. Ele não se lembra de adormecer ali. Ele não queria se lembrar de dormir.

Você tenta me alcançar, George tinha dito entre lençóis calmos e toques reconfortantes.

Tweets e capturas de tela inundam sua vida. Perguntas de onde ele está, incontáveis horas de "saudade do Dream", centenas de fãs se perguntando por que, por dias, seu Spotify tinha congelado em uma única música em repetição. Por que ele se senta em seu quarto escuro, ou em seu sofá vazio, ou no quarto de visitas, escutando heat waves heat waves heat waves sem parar.

Estou tentando alcançar, Dream colocou em sua horrenda coleção de notas em uma noite que estava exausto demais para comer, não consigo parar de tentar te alcançar.

Seu telefone vibra em seu bolso. Ele solta a terra.

Tá bom Dream, lê de Sapnap com seu telefone bloqueando o olhar das nuvens, me responde quando conseguir.

Ele não sente a culpa, não mais. A preocupação implácavel de Sapnap foi reduzida a silêncio com o passar do tempo.

Ele arrasta para cima, e vê as mensagens a que se dedicou com esforço minucioso. No ínicio, era a cada dez minutos que ele obedecia ao puxão nauseante de reler a destruição vinda de George, então a cada trinta minutos, então a cada sessenta. Era como se esperasse que as palavras mudassem, de alguma forma; que as letras derretessem na tela e revelassem novos segredos que antes deixou escapar. Embaça demais para que ele saiba.

Você que sabe se quer me falar ou não, Dream tinha enviado.

A parede de bolhas de Sapnap começa com: Beleza.

Não queria que as coisas ficassem bagunçadas, ele escrevera, mas vc parece ruim agora então é tudo que eu tenho. Na noite anterior que a gente fez o negócio do xadrez eu tava em ligação com o George, e a gente tava zoando algo que vc tinha dito sobre a câmera dele mais cedo. Ele comentou sobre como ele tava "feliz que esse tipo de coisa não incomoda mais ele" e quando eu perguntei o que isso queria dizer, ele disse que sentia alguma coisa por você quando vocês tinham acabado de virar amigos. Ele foi bem claro que foi algo curto, que foi embora completamente, e que ele tá feliz que foi.

A gente não falou sobre desde então. Uns dias depois vc me disse oq tava rolando e eu não sabia oq fazer. Achei que você gostaria de saber. Desculpa se isso é meio bosta e eu só piorei as coisas.

Dream lembra de sentir seus pulmões colapsarem. Traços de esperança e horror ainda persistem.

Tá td bem? Sapnap enviou depois de alguns minutos de silêncio absoluto.

Dream? eu fiz merda?

Dream levou quatro horas para responder com: ok.

Ok??

O telefone fixo começou a tocar depois das doze. Ele ouvia, por vezes, recados acumulando em grupos de luz vermelha. Machucou não responder, mas no momento em que seus dedos passavam pelas teclas para desistir de uma parte de si, pavor esmagador o afastava.

Ei. Desculpa continuar te enchendo de mensagem mas eu tô mt preocupado. Me liga.

Isso não é legal. De vdd. Atende.

Ele só conseguiu escrever para George, trancado em um lugar onde ninguém o encontraria, criando uma poço sem fundo de dúvida e culpa e aspiração dolorosa.

Você tinha sentimentos por mim, ele se lembra de escrever, tarde da noite, depois de escavar a mensagem de Sapnap em busca de cada mínimo detalhe, e eles te deixaram. Na noite que eu sonhei com você, você disse que eles te deixaram. Foi ao mesmo tempo, George? Você sentiu acontecer? Dream se recusou a deixar frustradas lágrimas silenciosas quebrarem seu rosto impassível. Qualquer chance que eu tinha, eu perdi. Eu perdi. Eu perdi.

Eu te perdi, não perdi?

Ele desliga o telefone. A exaustão gruda em seu crânio pelas ondas de emoção que o encapsularam nas longas reviravoltas de dias recentes.

Depois que o choque inicial diminuiu, Dream foi inundado com orgulho arrogante pela forma que seus gracejos casuais e linguagem paqueradora faziam George se sentir. Mesmo que não soubesse, antes, porque falava o que falava. Mesmo que tenha vindo, e ido—Dream sentiu como se tivesse sido provado correto, e isso pingou em sua garganta como glória.

Então o amargor de desejo atemporal o empurrou até as profundezas de sua curiosidade. O que exatamente George costumava querer dele? Enlaçar seus dedos juntos, pressionar seus lábios em sua mandíbula, ou destravar metal frio e deslizar o cinto de couro dos ganchos da barra de sua calça? Desespero atingiu Dream com fúria escura, remanescente de quando ele ansiava saber com o que George sonhou tanto tempo atrás.

O aeroporto vazio, a máscara de cerâmica, George se atropelando em suas palavras sendo breve o suficiente para que Dream se perguntasse. Sua boca conectada com a testa de George—mas qual era a probabilidade do beijo ter permanecido, escorregado, arrastado nos lábios do castanho e ter roubado o ar de seus pulmões em segundos?

E ainda assim, aconteceu antes—antes do pesadelo, dos jogos de xadrez, das ligações tardias e da chuva que assoviava. Em questão de dias, horas, minutos separados, George disse a Sapnap que não sentia nada enquanto Dream começava a sentir tudo.

George mentiu, também? Dicas gentis diziam sim, diziam me prenda, diziam me faça seu.

A umidade do chão morno se infiltra na parte de trás de sua blusa. Ele encara a terra debaixo de suas unhas.

George era uma cuidadosa construção de barreiras, armas imaginárias, escudos silenciosos. Seus flertes cômicos eram protegidos; poucos e com espaço entre eles. As insinuações de Dream ricocheteavam e ele aprendeu com tentativa e erro o que passa, o que não passa. Ele empurra, e George rebate—constantemente.

Dream não consegue se forçar a acreditar que não era a verdade.

O suor agracia sua pele.

Ele se cansou de se perder nesses pensamentos repetitivos, desde que George saiu daquelas palmeiras verdes direto para seu coração.

O chat continuou me falando pra perguntar sobre seu sonho, ele se lembra da voz de George, tão claramente que dói.

Sua vazia mentira de olhos cansados murcha em seu peito: não tem muito mais coisa pra dizer. Não aconteceu nada demais.

Se ele só tivesse sido mais forte, ele poderia ter puxado George para perto. Se só tivesse sido mais sábio, poderia ter se empurrado para longe.

O sol deforma sua visão. Folhas balançam à distância.

Se ele só pudesse voltar, e observar tudo, tudo de novo—para saber se ele realmente, de verdade, tinha perdido.

———

"Eu consigo ver você passeando com o seu bispo, mas mexe o peão, por favor. Dream, me ajuda!"

O áudio do desespero de Sapnap grita freneticamente dos alto falantes do monitor de Dream. A luz ricocheteia de suas paredes escuras.

Cerâmica quente dá agulhadas em suas mãos enquanto ele puxa a tigela de lámen para seu peito, girando seu garfo no caldo fumegante. Ele leva o macarrão à boca, e o deixa queimar sua língua.

"Você quer que eu faça o quê?" Ele ouve a própria voz dizer.

"Distrai ele, eu sei lá! Faz alguma coisa!"

O pescoço de metal do garfo descansa no canto do pote.

Em sua tela, o rosto de George brilha, "Isso não vai funcionar—"

Dream faz uma careta enquanto ele pronuncia zombeteiro, em uníssono consigo mesmo, escutando a confissão medonha, "eu sonhei com você."

Ele observa, de perto, a surpresa que ergue as sobrancelhas de George e desvia seu rosto do monitor. Seus olhos escuros brilham em confusão. A mesma vergonha que Dream sentiu naquele momento revira em seu estômago novamente, até que ele percebe o que não tinha notado antes.

Ele vê, reconhece. A maneira que George segurou a respiração.

Seu peito dói.

"Você já colocou, já colocou..."

O vídeo desaparece.

Ele odeia que se arrastou até aqui, assistindo a reprodução automática recarregar, deixando o aroma quente de sal e óleo permear seu quarto fechado. Dream observara o pôr-do-sol alaranjado deixar o céu silenciosamente por sua janela, e se debruçara na mesa. Ele sentia saudade da voz de George. A coleção de vídeos em seu canal era uma mina de ouro para ouvi-lo rir, gritar, brincar, e reclamar—anos de piadas memoráveis e momentos suaves que os definem.

Foi um alívio, inicialmente, quando Dream começou a perceber padrões antigos em sua fala e pausas estranhas em suas conversas que ele nunca realmente registrou. Elogios rápidos, espalhados aqui e ali, surtos que não tem justificativa completa, murmúrios que indicam uma profundidade que Dream não enxergava antes.

Por um momento, ele se convenceu de que consegue escutar: o carinho confidente na voz de George quando ele diz seu nome.

Então Dream perambula, de novo, e os cortes de livestreams continuam passando até que ele está no fundo de uma playlist recente de DNF em que esteve exausto demais para ler os detalhes sobre.

Ele olha para o título do próximo vídeo—George e Dream brigando, seguido de uma série de pontos de interrogação—e fica tenso, sentando abruptamente e apertando pausa.

A tigela é apoiada em sua mesa com precaução lenta. Ele seca a condensação acumulada em suas palmas do exterior da cerâmica no tecido de suas calças.

Será que eu posso fazer isso, ele se pergunta. A imagem congelada de George em seu moletom escuro, inclinado na cadeira, espera pacientemente.

Ele não tem certeza se reviver isso é uma boa ideia. As queimaduras ainda tem que cicatrizar. Ele morde a língua.

"Para de ferrar comigo," a voz instável de George satura os fones de Dream no momento que ele aperta o play.

Seus olhos tremulam. Merda.

"Você sempre faz isso." Ele vê medo irritado no olhar de George, e engole isso com ardor. "Dream...ai, meu Deus—Dream."

Seu coração acelera. Dream se aproxima do monitor.

"Vou desligar," George murmura.

Os dedos de George alcançam o botão para encerrar a chamada, a mandíbula tensionada, e Dream saboreia o momento exato em que as chamas de suas próprias palavras se arrastam até os ouvidos de George e acendem algo em sua alma.

O celular cai de suas mãos, seus lábios se separam, seu peito se eleva—e Dream pausa o vídeo.

Seu punho se cerra. Depois de um momento, Dream o bate contra a mesa com uma pancada.

"Merda," ele suspira.

Ele abre as anotações com raiva.

Eu vi, desabafa, na sua carinha bonita e estúpida, eu vi que por um segundo, você queria que fosse verdade. Você queria que fosse eu, beijando você. Não é?

Ele levanta o olhar para a imagem de puro choque e olhos arregalados em sua tela, o peito levantando e abaixando rapidamente. Seus olhos voam pela expressão do castanho.

...Não é? Sua cabeça cai devagar. Ou...eu tô fazendo isso, de novo? Você nunca falou sério sobre me querer. Até quando eu perguntei. Até quando você mentiu.

Seu coração afunda.

Você mentiria pra mim, George?

Ele encara o macarrão flutuando no caldo marrom claro. Seu apetite se foi.

Ele arrasta para baixo para escapar do rosto complicado de George, e encontra uma barricada de comentários abaixo do vídeo. Muitos deles são uma estranha confusão de letras em caixa alta, acompanhadas de observações preocupadas.

Um usuário escreveu: sla o George parecia muito bravo e aí ficou quieto do nada...Eu acho que as passagens de avião eram p distrair a gente ou algo assim. Todos os três sumiram.

Suas sobrancelhas franzem. Todos os três?

Ele morde o lábio. Sapnap aguentou o peso tanto do comportamento preocupante de Dream, e a confissão vulnerável de George. Não deveria ter sido fácil quando ele recebeu a chamada de Miami—paralisado por lealdade e perda em uma situação que não cabia a ele resolver, e então ser pedido para amortecer dois meses antecipadamente.

As respostas abaixo leêm: nn, eu acho que vc tá olhando demais. O que quer q tenha sido essa conversa, foi bem estranha, mas a viagem vai acontecer com crtz.

O cursor de Dream flutua para fechar a aba antes de seus olhos encontrarem um comentário que o força a congelar.

Eu sou a única que pensa que George tá...sabe, escreveu, parece que ele tá derretendo.

Dream se lembra da escuridão. Ele quase consegue sentir o cheiro da cera derretendo.

Então você só queria assistir, sua mente ecoa—

"Chega," ele implora para si mesmo.

É isso? Sua garganta dói. Minha voz?

Acho que você ia, "meu Deus," deixar marcas.

Sua cabeça cai entre suas mãos.

Isso seria bom, não seria?

As imagens colapsam em sua mente; pele nua, mãos esguias, lábios suaves. Confissões sussuradas, o tremor na linha telefônica; sons fantasiosos, doces.

Novamente, isso se transforma em uma dor diferente, uma que ele está começando a se acostumar, que vai além de querer sabores proibidos e toques autoritários. Se Dream pudesse recriar os momentos gentis em seu sonho, com o coração de George batendo contra o seu próprio. Se pudesse fazer George sorrir. Mostrar que ele é amado.

Os dedos de Dream se enrolam em seu cabelo.

Ele acha patético que isso é tudo o que ele tem.

———

Água morna escorrega por seus pulsos, enxaguando espuma ralo abaixo e acalmando os calos em suas palmas. As mangas pretas de seu casaco foram puxadas até os cotovelos. Ele fecha a torneira, repousando os antebraços na pia da cozinha.

Seu macarrão foi engolido pela lixeira.

Ele coloca os pratos no escorredor preguiçosamente, enxugando gotas de suas mãos, e o telefone fixo começa a tocar.

Ele encara a caixa escura empoleirada no balcão com os números brilhando em verde. Arrependimento fervilha em seu peito enquanto deixa-a reverberar pela cozinha vazia, ecoar nos tetos altos, e eventualmente desaparecer em outro recado cintilante.

Ele se aproxima do telefone.

Sapnap disse que pararia de ligar. Seria o telefonema tardio realmente uma emergência?

Dream esfrega a tensão acumulada em sua mandíbula, e aperta nervosamente o botão para escutar o recado chegando.

"—querido, o Nick me deixou uma mensagem perguntando se eu ouvi de você e ele pareceu bem tenso. Queria verificar e ter certeza que tá tudo certo. Eu sei que vocês dois tiveram seus problemas no passado, e eu queria te lembrar que essas coisas tem um jeito de se resolverem sozinhas—"

Dream pega o telefone em reflexo, "o-oi? Mãe?"

"Ah" Clay, que surpresa agradável," ela diz, "pensei que você tinha escapado."

O quarto esfria.

"Mãe," ele repete baixinho.

Sua voz suaviza. "O que foi?"

"Eu—hã," as palavras ficam presas em sua garganta, e desespero molhado o enche sem aviso. A água cresce ameaçadoramente perto da borda, até que ele agarra o balcão frio, e lembra com quem está falando.

"Desculpa te preocupar," ele diz, "não precisava ligar."

"Não precisava atender," ela repreende.

Ele estremece.

"Olha," ela diz, "eu sei que você consegue se cuidar. Não precisa ficar provando isso pra mim." Seu tom de voz começa a ficar cuidadoso. "Mas da última vez que ele me ligou assim, você não estava muito bem. Você não me deixou ajudar, na época."

"Não precisava da sua ajuda," ele garante. Dream não gosta de pensar sobre seus dramas de adolescente de anos atrás.

"E agora?" Sua pergunta encara o silêncio. "Não se machuque mentindo, Clay."

"Não me afasto por querer," ele murmura, "só acontece. Me sinto mal de colocar isso no Sap. Acontece demais com ele."

"Ele pareceu preocupado," ela diz, "não cansado de você."

Dream cerra a mandíbula. "A gente não brigou."

"Tá. Então o que aconteceu?"

Tensão aperta suas têmporas enquanto ele procura o tópico correto—o início correto.

"Eu voltei pra Matheson," ele sussurra, os olhos arregalados quando sua boca começa a derramar, "eu comecei a dirigir no meio da noite e não conseguia parar, eu dormi na areia e eu—eu quase não tinha gasolina pra voltar pra casa mas eu só...eu só..." sua voz some.

Depois de um momento, sua mãe diz, "por que você fez isso?"

Seu coração martela. "Você amava ele, mãe?"

"Filho, você—" ele ouve seu suspiro. "Claro que sim."

"Ainda dói?" Ele pergunta. "Você ainda sente saudade?"

"Ah," ela murmura, "...de vez em quando, sim. Mas...eu liberei essa dor, e estou mais feliz agora. E faz tanto tempo, sabe." Silêncio tímido estica entre eles. Com cuidado, ela indaga, "por que pergunta?"

Ele aperta o plástico fino, fechando os olhos. Ele pensa na praia, no sorriso de George, no calor, na risada de George, na chuva, na voz de George.

Dream abre seus lábios, e conta tudo.

Ela aceita com solenidade gentil.

Ele se senta na mesa de sua cozinha enquanto eles falam, por horas, sobre memórias felizes e fotos antigas e dores recentes. Ela diz para ele que acidentalmente pediu seu prato preferido de um restaurante quando foram jantar algumas noites atrás. Ele diz para ela que Patches continua trazendo brinquedos em um canto específico de seu quarto apesar de seus protestos. Aparentemente, sua irmã estava pensando em pintar o cabelo. Aparentemente, ela está preocupada com ele, também.

"Diz pra ela que eu sinto saudade," Dream diz, "tá? Por favor?"

"Ela sabe, acredite." Um momento passa antes de sua mãe pronunciar lentamente, "às vezes, você segura nas pessoas mais do que você precisa. Eu sei que é difícil. Mas tá...tudo bem em—"

"Perder," ele murmura, "tudo bem perder. Eu ainda tô...aprendendo a fazer isso."

"Dê tempo ao tempo."

"É," ele diz, "sim. Te amo, mãe."

A noite pesa em sua voz depois de discutirem a próxima vez que ele vai visitar, e ele deixa ela terminar a conversa.

Ele recua para o silêncio de seu quarto desolado, e se arrasta para as anotações que só aumentam.

Falei de você pra minha mãe, ele escreve. Um sorrisinho se forma em seu rosto. Ela ainda quer te convidar pra jantar.

A cama suspira sob ele enquanto o loiro se reclina contra a cabeceira, o telefone suspenso em seus dedos inertes.

Ele quase consegue agarrar as tranças cor de ouro penduradas da marquise de sua mente. Se ele as seguir para fora da grama escura, haverá um futuro ensolarado cheio de esperança e calor, aguardando logo acima da superfície. George segurando Patches em seus braços, respondendo ao bombardeio de perguntas curiosas de sua irmã, elogiando educadamente o bife grelhado que sua mãe fez. Passar guardanapos, servir água, pedir receitas.

Esfregar suas meias de algodão juntas debaixo da mesa, pés entralaçados e leves apertos em coxas. Sorrisos rápidos, risadas doces, seus lábios tocando as bochechas de George.

Algo doméstico. Algo amoroso.

Isso corrói nos músculos de suas costelas terrivelmente.

Às vezes, ele digita, só consigo pensar em você.

Seu rosto afunda com pavor amargo. Se George realmente está feliz que o que quer que tenha sentido se foi, então nada vai importar. Ele não vai poder abraçá-lo em tardes de feriado, ou ficar acordado até tarde aprendendo histórias de sua infância, ou apoiar o queixo em seu cabelo enquanto eles assistem à chuva.

Ele se volta ao teclado do telefone com miséria abrupta. Por que você me mandou aquela música, George? De verdade? Não consigo tirar ela da cabeça. Sua respiração fica curta. Foi só uma piada? Você sabia que me quebraria? Você tentou me machucar?

Ele lê a trilha de palavras que seus dedos frenéticos criaram, e exala em sofrimento cansado.

Isso não é justo, eu sei, ele confessa. Eu só tô tão bravo, o tempo inteiro, porque eu—ele hesita—tô mais próximo de você do que sempre pensei que estaria. E isso me dava medo. Ainda dá, mas...você não tá aqui, não mais. Você não tá aqui, e eu não consigo pensar, e eu não consigo continuar fazendo isso.

Ele quer que seu ódio pela saída de George seja justificado, mas não consegue fazer os sentimentos ficarem. Como seria, quando ele voltasse?

Dream empalidece. Em todos os anos que se conheceram, qualquer situação que teve que jurar segredo contra George foi por água abaixo em minutos.

Ele conseguirá ouvir sua voz, sabendo o que sabe agora, sem quebrar? Ver seus olhos, daqui a dois meros meses, e mentir com cada célula de seu ser, com cada deslize de sua língua, sem falhar?

A impossibilidade o deixa fraco. Eles estão condenados a falhar; a quebrar. Se ele não for forte o suficiente, sua amizade não será, também.

Se foi tudo pra nada, seus dedos tremem contra a tela, então talvez eu devesse te falar tudo. Talvez eu devesse foder com tudo.

Ele arrasta o toque pelo vidro, selecionando cada fragmento de texto acumulado na loucura dos últimos dias.

Ele copia o texto.

Ele abre a conversa deles.

Ele cola o texto.

Eu tenho mais alguma coisa a perder?

Dream encara a mensagem à espera por mais um momento, antes da adrenalina e realidade lhe socarem no estômago agilmente.

"Mas que porra eu tô fazendo," ele chia, passando uma mão por seu cabelo. Ele não pode, não no impulso do momento, nunca—seu coração habita nessas palavras, sua alma está enroscada entre essas linhas, sangrando em cada pútrida vogal.

Dream deixa o telefone cair de suas mãos. Ele não pode. Ele precisa voltar à superfície. Ele precisa se acalmar.

O silêncio de seu quarto é quebrado por um pequeno ting.

Seus olhos descem para sua conversa com George, e acima das anotações, uma nova mensagem apareceu.

Seus olhos se arregalam.

Uma nova mensagem de George.

Oi, diz.

Confusão e euforia sobem para esquentar suas bochechas. Seu cérebro se embaralha para recontar os dias que escorregaram por ele—quando esteve sozinho, e sonhou, e esteve sozinho, e fez live, e então sozinho de novo.

Uma semana já tinha se passado?

Ele pega seu telefone, as mãos trêmulas se mexendo rápido para deletar as palavras copiadas e coladas, e vacila com o som de um whoosh gentil.

O desastre brilhante se esparrama em sua tela.

Ele clicou errado.

Ele apertou enviar sem querer.

A mensagem foi recebida.

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