- Não faço a menor ideia. – Evito contato visual com ela e folheio as matérias. Ela realmente não estava exagerando quando disse que tinha bastante matéria. 

- O que aconteceu? – Ela puxa o caderno da minha mão e fecha. 

-Ei! O que aconteceu o que? Me devolve o caderno! – Tento puxar o caderno dela, mas ela segura ele firmemente contra o peito. 

- Sua cabeça estava praticamente atravessando o caderno e você está evitando contato visual. Sua postura mudou completamente quando falei do Brian e até seu tom de voz. – Olho assustada pra ela. Como alguém com um rostinho tão inofensivo pode ser um gênio assim? Nem eu mesmo percebo as minhas alterações! 

Dou um suspiro derrotado e na mesma hora que abro minha boca o sinal toca estridente. Olho ao redor e percebo que o pátio está cheio de gente. 

- Quanto você pagou para a escola para eles sempre te livrarem quando tem algo importante para me dizer? – Ela joga o caderno dentro da sua mochila vermelha, que é uma camuflagem perfeita para seu cabelo e me ajuda a andar, já que deixei as muletas em casa. Basicamente ela vai tentar me proteger de mim mesma. 

Subimos a escada para o andar do terceiro ano com toda e maior dificuldade do mundo. Perdi a conta de quantas vezes levei um empurrão no ombro e quase desci escorregando pela escada junto com a Penélope. A escada não é muito grande – para minha sorte! –, mas mesmo assim demoramos mais do que todo mundo para subir e quando finalmente tínhamos chegado à sala já estava quase todo mundo, tirando o professor, o Brian e a Cecilia. 

Assim que nos sentamos em nossos lugares o Brian aparece. Ele passa direto por nós, mas então volta alguns passos e coloca uma mão na minha mesa e a outra na da Penélope. Ele abre um sorriso, mas não falo nada, nem faço nada. A voz da Cecilia fica ecoando por minha mente. 

E se algo acontecer na vida do Brian e você tenha a ver com isso, você não vai querer estar por perto quando eu descobri. 

Não é que eu esteja com medo dela. Ou estou. Mas o que acontece realmente é que já provei do amargo veneno da Cecília algumas vezes. E olha que todas elas foram apenas amostra grátis. E eu realmente não quero pagar para ver. Sem contar que só faltam nove meses para que eu volte para São Paulo e não escute nunca mais falar de Brian. 

- Alô? Terra- Rebeca – Câmbio. Alô? – Meus olhos finalmente focam o rosto do Brian, que está assustadoramente perto do meu e sua mão que balança. 

- Desculpa, me distrai. – Tento relevar o olhar especulador que a Penélope me lança. Ela está analisando meu comportamento e o do Brian e fazendo uma analise. Aposto que já está até mesmo montando teorias de como foi que voltamos a nos falar. Dá para perceber apenas pela forma como ela nos olha: sobrancelhas curvadas e um pouco mais juntas, e o seus olhos enormes que estão semicerrados. – O que foi? 

- Estávamos querendo combinar logo como vai ficar o trabalho, já que terminei minha parte. – A Penélope diz. 

- Estava pensando se não podia ser lá em casa, hoje. – Ele dá um sorriso e evita contato visual comigo. Aí tem! 

- Por que não na minha? É mais perto que a sua. – Dou um sorriso e percebo que o sorriso dele se desfaz rapidamente e de forma bem sutil. 

- Porqueeeee - ele prolonga os “e” como se tivesse pensando ainda em uma justificativa. – Bom, meu pai acha que eu não estudo e não faço nenhum trabalho. 

- Seu pai não vai estar trabalhando? – Pergunto e vejo que ele se agita um pouco. 

- Para de ser chata, Rebeca! Tudo bem. Às 15 horas. – A Penélope me interrompe e tenho vontade de mandar ela ficar a dela, mas acredito que isso seja rude demais. 

Just a Year - (COMPLETA)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن