Assim que as portas se abrem eu puxo o Guilherme pelo braço e não posso deixar de ver a forma como os olhos do Brian faíscam. Ele está com o mesmo olhar quando esbarrei com ele há muitos sábados atrás, quando tinha acabado de voltar do luau.

- Vou buscar o gelo. – Digo enquanto caminho até a cozinha e percebo que deveria ter acrescentado um “espera aqui”, já que o Guilherme me acompanha. Seu rosto está como o de um cachorrinho que sabe que fez besteira. Tento reprimir um riso.

- Eu não sei o que me deu. – Ele diz enquanto se senta na cadeira. Pego o gelo e coloco em um pano de prato, da mesma forma que minha mãe fazia sempre que me machucava, quando criança. – Nem sei o que te falar.

- Pronto, coloca em cima desse olho. – Estendo o pano para ele e me sento em uma cadeira, ao seu lado. – Você pode começar me falando o que está fazendo aqui. E depois me dizer como essa briga começou.

Ele respira fundo e faz uma careta quando pressiona o pano com gelo no olho. Demora alguns minutos, até que ele consiga falar e se acostumar com o gelo, que deve estar queimando na pele sensível da pálpebra machucada.

- Eu ainda nem acredito que te acertei um soco.

- Está tudo bem Guilherme, não está doendo. Nem vou precisar colocar um gelo. E sei que esse soco não foi para mim. Apesar disso não diminuir a gravidade. Odeio violência.

Ele assente e eu sei que está fugindo do assunto ou tentando achar palavras.

- Acho que todo o foco está no seu acidente. – Ele tira o gelo do rosto por alguns segundos, então coloca de novo. – Eu vim aqui porque estava preocupado e queria te fazer uma surpresa. Então eu perguntei para o porteiro sobre você e ele me falou sobre o acidente, e então ele me contou da sua briga com o tal do Brian, a forma como ele te desprezou e como você saiu correndo e então foi atropelada. E então esse idiota apareceu na minha frente e, pela cara do porteiro, eu sabia que era ele mesmo e sem pensar eu bati nele.

Ele balança a cabeça em negativa e solta um suspiro exasperado.

- Eu realmente não estava pensando, eu apenas senti uma raiva fora do comum. E não conseguia acreditar que ele era o culpado pela sua perna. E então vou eu e te machuco também.

Pego o gelo da sua mão e aperto em seu olho. Não é para machucar, mas ele faz uma cara feia.

- Se você não colocar isso direito, vai piorar. – Digo. – Olha, eu nem sei o que esse porteiro língua solta te disse, mas a culpa não foi do Brian, ok? Eu aí correndo igual uma louca, pois estava possessa de raiva e a culpa foi minha por ser estupida e ter cedido as provocações dele. – Suspiro fundo e tiro o gelo um pouco do seu rosto. Seus olhos me fitam e uma linha fina forma em sua boca. – O que você estava pensando quando veio para o Rio no meio do mês de março?

Ele dá um pequeno riso sem humor e seus olhos ficam um pouco menos, no mesmo instante faz uma careta e percebo que deve doer até mesmo para rir. Sinto uma vontade enorme de beijar seu olho, e isso me assusta. Aperto novamente o pano com gelo em seu olho o que faz com ele solte um grunhido de dor.

- Não estava pensando. Apenas falei para meus pais que ia passar o fim de semana no litoral com alguns amigos. Sai de lá ontem depois da escola e já comprei a passagem de volta para amanhã de manha. – Seu olho bom me fita e eu não consigo desviar o olhar. Percebo que estou prendendo a respiração e até a saliva é engolida com dificuldade. – Acho que você não gosta muito de surpresas. – Ele dá um sorriso triste e sinto meu coração se contorcer.

- Não vou te fazer voltar para casa, e eu adorei sua surpresa. Apesar de ter te encontrado em uma situação péssima. – Sorrio e sua expressão também se alivia. Colo o pano com gelo em sua mão e me levanto. – Coloca isso no rosto e escolhe um filme enquanto eu faço uma pipoca.

A tarde passou rapidamente. Vimos alguns filmes, mas se me perguntarem a história não saberei dizer nada. Nunca me senti tão próxima do Guilherme como nesse momento. Ele com seu olho machucado e eu com minha perna engessada. Ele me fazendo rir com qualquer bobeira ou história que desconfio que sejam inventadas.

O Guilherme tem um jeito que faz tudo parecer mais simples. É como se para ele não houvesse momento ruim. Toda hora é hora de rir, ser feliz. Como se os problemas pudessem ser solucionados com uma piada. Tempestade vira dia ensolarado. Lagrimas em sorrisos. Tensão em crises de risos.

Percebo que olhos pousam sobre ele admirados, como ele fosse uma dessas pessoas raras que encontramos apenas uma vez na vida e temos medo de deixar que ela escape de nossas mãos. E ele realmente é alguém assim.

Mas, mesmo com todo seu jeito brincalhão e de criança - no melhor dos sentidos-, não consigo vê-lo como outra coisa a não ser como um amigo. O que é extremamente trágico. A forma como ele me faz rir, me faz prestar atenção às conversas triviais como se fossem os assuntos mais importantes do mundo, a forma como parece que estamos em uma bolha quando ele está por perto, tudo isso faz com que eu sinta meu coração aumentando. Tudo fica leve. Mas é só isso.

Quando estou perto do Guilherme fico feliz, mas não sinto as palpitações nem a corrente elétrica que deixa cada parte do meu corpo em alerta como quando estou com o Brian. E isso só prova como meu coração é estupido.

Tem um garoto na minha frente, de olhos azuis e jeito suave, que tenta me beijar e tudo que eu consigo pensar é no que está alguns andares acima da minha cabeça, fazendo sabe se lá o que com uma loira maravilhosa.

As sobrancelhas do Guilherme se unem em uma expressão confusa e eu finjo que não notei que seus lábios estivessem vindos à direção da minha boca. Movi minha cabeça da forma mais sutil que consegui em limite de tempo recorde.

Eu adoraria que meu coração disparasse com a proximidade dele, adoraria que sentisse meu estomago dar cambalhotas só de sua boca estar próxima a minha. Adoraria sentir qualquer alteração de humor que indicasse que eu sinto por ele a mesma coisa que, aparentemente, ele sente por mim.

Mas não sinto nada. E por isso acho que a melhor forma é o deixar saber disso.

Ele sorri levemente e então sua boca fica um pouco torta, mostrando que está chateado. Então espero ele entrar no elevador e então fecho a porta.

Em menos de dois minutos, quando já estou jogada confortavelmente no sofá, catando as pipocas que ainda resta, a campainha toca. Assim que abro a porta novamente, uma onda de surpresa me invade.

É a Cecília.

De novo. 

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Just a Year - (COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora