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Quando acordei no dia seguinte o sol da manhã batia em meu rosto, estava quente, mas um ar condicionado refrescava o quarto, com sua congelante brisa batendo em meus pés. Levantei sonolenta ainda, olhei o quarto em volta e vi sua fantástica decoração, na noite anterior não tinha reparado pela falta de luz e grande sono. Era, como já dito, grande e com luzes com cores quentes, mas seus armários e mobília eram todos brancos, igual suas paredes e teto, no criado mudo uma estranha estatua de cristal refletia a luz do sol em meus olhos, representava uma agonia intensa de pessoas fundidas umas nas outras, era repugnante e bela ao mesmo tempo, virei-a em minha mão para ver sua base, existia a assinatura de Ras, Deus! Tinha me esquecido que ele estava me esperando.

Levantei-me rápido, peguei minhas roupas das malas, ainda intocadas até então, tomei um rápido banho, escovei os dentes e me troquei. Sai do quarto rápido e fui pelos corredores para a mesa do dia anterior. Andando pelos longos corredores não tinha percebido outras estatuas, do mesmo estilo da outra, e vasos de longas samambaias. Chegando na longa sala, Ras estava com as mesmas roupas do dia anterior, porém mostrava a mesma imponência, comia no mesmo canto do dia anterior, estava tomando um café com leite, junto a torradas com molho de tomate, o mesmo prato estava servido do outro lado da mesa.

Sentei e me servi, novamente estava delicioso, até agora não tinha visto nenhuma cozinha, nem nenhum robô.

-Sr. Ras, me diga como consegue...

-Ras, somente Ras, Sr. Ras me faz parecer mais velho do que já sou.- me interrompeu com um sorriso no rosto.

-Tudo bem então, Ras como você consegue administrar essa enorme casa?- estava com um gravador relatando nossas falas.

-Tenho ajuda de alguns robôs limpadores, eu faço a comida e eles fazem o resto.

Olhei para a comida e tive outra pergunta quase imediatamente.

-E como você consegue esses ingredientes?

-O mesmo helicóptero que te trouce aqui para a minha ilha normalmente deixa as coisas básicas, água, óleo, farinha etc. Tudo produzido com extrema qualidade em minhas fazendas na Europa, menos os peixes e frutos do mar, pesco eles por conta própria num barquinho encorado no cais, perto do heliporto, tenho varias historias sobre esses dias, quer ir pescar um dia desses? Ia ser maravilhoso, ah me desculpe eu acho que falei de mais.

-Não, não falou não, eu gosto disso, é bom para meu emprego, tanto que estou gravando essa conversa, se me deixar.

-Ah, mas é claro que deixo, vem vou te mostrar a casa em quanto conversamos- se levantou e deixou a comida no prato, dei uma ultima mordida e segui-o.

Passamos a manhã e a tarde toda nos aventurando na mansão, era mais surpreendente por dentro do que por fora, me mostrou uma linda cozinha onde preparava os pratos, era enorme para uma única pessoa cozinhar, porém o mais agradável foi nossas conversas, me disse todo seu pensamento sobre seu trabalho, criando robôs e androides, argumentou também sobre culinária, ciência e filosofia, todos os seus pensamentos, sua forma de falar, de andar e de respirar me faziam parecer uma mera bactéria perto dele, Ras um criador, um inovador, um filho dos deuses na terra.

Caminhando pelo castelo branco, reparei numa estranha porta de metal, na parte norte da casa, ela era negra, com saliências formando desenhos, era uma simetria de meros cinco círculos unidos, parecia símbolos celtas antigos, me hipnotizava aquela porta, queria saber o que estava do outro lado, coloquei minha mão para abri-la, Ras imediatamente segurou minha mão e me puxou para longe dela, disse que não estava na hora de ver o que estava do outro lado da porta, me olhou com seus olhos negros e brilhantes, e imediatamente voltei a segui-lo sem nem argumentar sobre a porta voltamos a falar sobre sua enorme quantidade de obras de artes que vinha produzido recentemente, dizia que esculpir em cristal era milagroso, difícil, porém trazia enormes resultados se unir a obra com uma fonte de luz certa, parecia um pedaço de céu, de acordo com suas palavras, assim me esqueci da porta.

De noite quando terminamos a nossa viagem pela casa e pelas palavras, ele me pediu para eu esperar o jantar numa pequena sala perto da enorme mesa, sentada num sofá branco, ouvia Bach, Allegro para ser mais exata, ouvindo em silencio apreciava as imagens de ondas se debatendo pela janela, me lembrei da estranha caixa negra do dia anterior, não se lembrava dela o dia todo, nem me passou pela cabeça perguntar sobre ela. Senti um leve cheiro de massa e molho de tomate, o cheiro me seduziu e fui até a mesa, lá Ras já servia os pratos, era um simples, porém delicioso espaguete com molho de tomate.

Comi a comida, e depois subi com Ras até o terceiro andar, onde ficava meu quarto. Ele disse que tinha insônia e que ficaria um tempo acordado, resolvendo assuntos pessoais. Fechei-me lá dentro pronta para escrever e-mails e mensagens para os editores do jornal preparar a reportagem mostrando o áudio da entrevista, fiquei um bom tempo falando sobre isso com eles, também falei com a minha família, sobre como estava a minha viagem e como era Ras.

Até que uma nova mensagem chegou, de um numero desconhecido, só dizia uma simples frase:

"Olá, como está".

"Quem é?" respondi.

"Sou um grande admirador Sra. Mona"

Estranhei, o que seria um grande admirador? E como sabia meu nome? Pensei em bloquear ele, mas queria saber mais, infelizmente nasci com uma grande curiosidade.

"Como sabe meu nome? E me admira pelo que?"

"Como já disse sei seu nome por ser um admirador, como um fã não iria saber o nome de seu ídolo? Admiro-te pelo seu trabalho na TV, nos jornais e tantos outros lugares em que seu nome já esteve"

"E como conseguiu meu numero?"

"Bem quanto a isso, consegui com certos amigos de bom coração, interessante como a internet é vasta, se acha de tudo nela, desde a coisa mais santa até a mais demoníaca"

Senti medo, ele teria hackeado meu celular? Ou algo mais sinistro, a palavra demoníaca em sua mensagem piorava meus pensamentos, cada ideia e sentimento me ajudavam a temer mais ainda, quem era ele? Onde estava? Uma agonia intensa correu pelo meu corpo, ele voltava a escrever. Escrevendo... Escrevendo... Escrevendo... Num impulso de meu corpo bloqueei o contato, sem receber nenhuma resposta sobre a pessoa do outro lado da tela. Depois disso, me troquei rápida deitei e apaguei as luzes, olhando pra estatuazinha do lado da cama, adormeci.

JazzWhere stories live. Discover now