20. tell me I've been lied to, cryin' isn't like you pt. 1

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— Eu não quero ser uma amiga.

— Então você não é uma amiga — Leo soprou, sentindo o canto dos seus lábios subirem em um sorriso discreto.

Era a primeira vez que ele se envolvia daquele jeito com alguém e era muito bom saber que estava na mesma página que Nina. Conseguia se lembrar de pelo menos três rolos mais sérios que tivera nos anos que estivera em Silvermount, mas nenhuma pessoa além de Nina aparecia em seus pensamentos quando ele pensava em sentimentos mais fortes. Como a vontade de falar o dia inteiro com ela. E a de vê-la a cada segundo do dia. Isso deveria significar alguma coisa.

Todos os outros se pareciam como gotas d'água se comparadas ao oceano que eram seus sentimentos por Nina. Com aquela maldita correnteza que parecia levá-lo cada vez mais para o fundo. Para perto dela.

A alemã desviou o olhar, mexendo-se desconfortavelmente no banco do carona. Era, quase, uma cena típica de filme, com direito a uma trilha sonora bonita. A janela dela abaixada, os braços apoiados na porta, a cabeça em cima deles e os cabelos esvoaçantes por todo lugar pela alta velocidade. Nina mantinha os olhos fechados e, quando resolvia abri-los, se deparava com a bela vista da costa que aquela viagem os privilegiava. Observava a água bater nas pedras com pressa, os poucos turistas que se aventuravam na praia de areia escura, a vegetação que começava a tomar as rochas à medida que o tempo avançava. E, quando desviava seu olhar para o outro lado, tinha a visão de Leo.

Tão despreocupado. Cantando baixinho a música, tamborilando os dedos no volante enquanto os olhos castanhos estavam firmes na estrada. Os cabelos escuros penteados para trás, a blusa branca folgada deixando pouco a vista de Nina e ao mesmo tempo marcando os músculos do seu braço. A alemã sorriu, sozinha, um pouco antes de voltar a olhar para a frente.

— Eu podia fazer isso um milhão de vezes — comentou, fechando os olhos mais uma vez.

— Uma viagem de carro? — Leo questionou, olhando-a de canto de olho. — Você não está totalmente entediada nessa altura?

Ela negou com a cabeça, mantendo o sorriso nos lábios rosados. Estava longe de estar entediada. Bem ao contrário disso, sentia que aquela era a primeira vez que ela sentia paz em muito tempo. Desde o acontecido do ano anterior, especificamente.

Não tinha tomado mais nenhum comprimido azul naquele dia. Não precisou. As milhares de coisas que costumavam estar na sua cabeça — lutando por espaço e atenção — pareciam estar dormentes, longe dali. Seus pensamentos não corriam a mil por hora, nem mesmo tentavam distorcer suas ideias. Ela se sentia tranquila. Como se nada além daquela música bonita e da companhia daquele homem bonito ao seu lado fosse importante. Gostava da maneira que seu coração batia daquela maneira — sem parecer que estava disputando uma corrida, como toda vez que usava o Adderall. Mas, ainda assim, forte o suficiente para ela saber que era culpa da presença inebriante de Leo Hawkins.

— Isso é exatamente o que eu precisava depois... Depois daquele dia.

Aquele dia. Era a única forma que Nina se sentia segura de mencionar a sua última crise, que terminou com um choro nada contido dela nos braços de Leo. Não tinham conversado ainda sobre aquele assunto e sempre que ele tentava chegar até lá, ela começava a falar sobre outra coisa.

— Fico feliz de ouvir isso — Leo murmurou, assentindo sozinho. — Como você está desde lá?

— Bem — Nina foi sincera, engolindo em seco. — Acontece... algumas vezes, Leo. É sempre como se o mundo fosse acabar, mas depois tudo volta ao normal. Até acontecer novamente.

— Quando foi a primeira vez?

Nina apertou os lábios em uma fina linha, engolindo em seco novamente. Era como se, subitamente, sua garganta tivesse ficado seca e um pigarro insistente estivesse parado ali. Odiava falar sobre aquele assunto, odiava se sentir tão vulnerável durantes seus ataques de pânico. As únicas pessoas que ela já tinha conversado sobre isso eram seu pai, sua psicóloga e, agora, Leo. Nem com sua mãe conseguia falar sobre, mesmo quando ela implorava por isso.

Dirty Laundry ✅Where stories live. Discover now