Prólogo

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Arca – Mecha Station

Ano de 2134


Jacapo Sinclair se jogou na poltrona de seu apartamento solitário. Ele escondeu o rosto cansado entre as mãos e apertou os olhos, como se pudesse impedir as lágrimas de brotarem.

Travis Dawson estava morto. Seu melhor amigo estava morto.

Sinclair sentia o corpo inteiro tremer, o coração diminuía cada vez mais dentro do peito e aos poucos, o espaço ao redor começou a se fechar, a escurecer. Não soube por quanto tempo ficou paralisado naquela posição, talvez por horas, mas não tinha nenhuma intenção ou vontade de se mover.

As batidas incessantes na porta também não foram suficientes para que reagisse. Não iria abrir, não queria ver ninguém, não ainda. As luzes circadianas se apagaram e, eventualmente, as batidas se cessaram e Sinclair pôde ficar novamente sozinho com sua dor e pensamentos.

Deveria ter ouvido as vozes da sua consciência. Deveria ter dado atenção aos seus pressentimentos. Antes de tudo aquilo acontecer, havia algo no plano que o incomodava, um receio que o perseguiu durante semanas e o irritou como uma pedrinha no sapato. Mas ele ignorou. Tanto tempo de preparação para a missão acontecer, tantos cálculos bem sucedidos, as preocupações eram coisa de sua cabeça.

Como estava enganado.

A culpa não era dele. O destino era cruel e a morte chegava sem aviso, e fim, ponto final. Mas por que sentia que uma grande parcela de culpa lhe pertencia?

— Sinclair, abra essa porta!

O grito conhecido o despertou. Não estava disposto a abrir a porta e só resolvera que faria, porque sabia que o individuo do outro lado não o deixaria em paz  tão cedo. Ele se colocou de pé rápido demais e o mundo girou, quase levando-o para o chão. Com a mão segurando a cabeça, Sinclair obrigou seus pés a se moverem até a porta, não se importando em levar o tempo que fosse necessário para agarrar a maçaneta.

O homem diante de si o mediu, os olhos misturavam preocupação e espanto. Ele usava os cabelos escuros bem penteados para trás e aparentemente, a barba havia sido feito há poucos minutos. Sinclair não conseguia entender como o homem conseguia manter as boas aparências em um momento como aquele. Nenhuma olheira arroxeada sob os olhos, nenhuma ruga de expressão nova, nenhum traço que havia sofrido nas últimas horas. Definitivamente, aquelas duas pessoas tinham jeito diferentes de sofrer.

— Você parece péssimo, Sinclair — disse o homem sem rodeios. — Quando foi a última vez que  dormiu?

Sinclair suspirou e apoiou a mão no batente da porta.

— O que você quer, Kane? — o tempo sem falar fez com que a voz arranhasse as cordas vocais e saísse rouca. — A lei diz que tenho direito a três dias de luto. Se não estou ficando louco, não se passaram nem dois.

— Não estou aqui para falar de trabalho — disse Kane calmamente. — Estou aqui para falar de Travis e da filha.

O coração de Sinclair martelou mais forte no peito. O que teria acontecido à menina? Ele semicerrou os olhos e esticou o pescoço na direção de Kane.

— Ela está bem? Blaze está bem?

Kane uniu os lábios em uma linha fina e escorregou os olhos para baixo.

— Posso entrar?

Sinclair ponderou por alguns instantes. Não estava disposto a prolongar uma conversa com Marcus Kane, mas o assunto parecia exigir sua atenção. Ele não respondeu, apenas deixou a porta aberta e deu as costas a Kane, que o seguiu para dentro da casa. Sinclair sentou na poltrona a qual havia passado as últimas horas e o outro homem, como se quisesse demonstrar etiqueta, esperou até que o anfitrião da casa indicasse que podia sentar à sua frente.

Blaze | Monty GreenWhere stories live. Discover now