Rainy Day [Mewgulf]

2 🌩️

Mew

A chuva caia impiedosa do lado de fora, enquanto no conforto do meu quarto e no calor das cobertas One Piece passava na tv. Resmunguei ao ver tudo se apagar indicando uma queda de energia, e a julgar pelo estado do tempo lá fora, eu já sabia que não iria voltar nem tão cedo. Busquei pelo meu celular a cifra de uma música, e fui atrás do violão, isso serviria como distração no momento.

Ao passar próximo a janela pude ouvir um som que me chamou atenção. Alguém chorava muito alto, um choro sofrego e com muitos soluços, era incômodo e agonizante ouvir aquilo. Me aproximei mais da janela, podendo descobrir o dono daquele choro.

No apartamento do prédio ao lado, com a janela de frente para a minha pude notar um rapaz encolhido sobre a cama. Sua respiração era forte e rápida, seu corpo tremia e seus soluços se faziam cada vez mais altos. Tentei chamar sua atenção, e somente depois de muitos gritos ele abriu seus olhos, que estavam vermelhos e inchados devido ao choro, notando minha presença.

Só então pude ver seu rosto, era Gulf, o ômega gentil e educado, que todas as manhãs me iluminava com seu sorriso enorme e seus olhinhos brilhantes. O conheci quando ele chegou ao condomínio, o encontrei tentando equilibrar várias caixas para subir até seu apartamento, uma delas ia direto ao chão quando consegui pegar no ar. Naquele dia o ajudei com a mudança, conversamos bastante e ele se tornou um bom amigo de vizinhança.

As vezes pela janela do meu quarto eu o via dançar, fazendo passos engraçados enquanto arrumava a própria bagunça. Eu adorava observar aquele ômega doidinho. Sempre o encontrava quando saia para trabalhar, e era incrível como o sorriso nunca abandonava seu rosto. Gulf era lindo, por dentro e por fora, e sua presença sempre afetou o meu lobo. Mas eu nunca fui corajoso o suficiente para tentar alguma coisa.

Vê-lo dessa forma acabou comigo.

O ômega assustado se aproximou da janela com muito cuidado, suas lágrimas não paravam de descer descontroladas, e seu corpo tremia de maneira assustadora. Indiquei que ele fosse até a porta e me esperasse no corredor, ele apenas assentiu com a cabeça saindo do meu campo de visão.

Peguei um casaco e desci as escadas correndo. Usei o capuz pra tentar me proteger da chuva, mas foi impossível. A chuva não dava trégua alguma. Com pressa atravessei até o prédio de Gulf, subindo as escadas com rapidez. No terceiro andar pude ver a luz se seu celular iluminando o corredor, Gulf estava encostado no batente da porta, e quando me viu chegar não pensou duas vezes antes de correr para me abraçar.

Fui pego de surpresa pela reação, já que não tínhamos tanta intimidade, mas não hesitei em o abraçar forte de volta, sentindo os tremores fortes de seu corpo, e minha camisa molhar com seu choro. Caminhei devagar o levando comigo para dentro, acariciei seus cabelos enquanto liberava meus feromônios de proteção sobre ele. Pareceu funcionar, já que aos poucos seu corpo foi se acalmando.

Seu cheirinho de baunilha e framboesa invadiu minhas narinas, era um cheiro tão bom. Meu lobo estava feliz por ter conseguido efeito sobre o ômega, que agora apenas suspirava próximo ao meu pescoço, provavelmente buscando mais do meu feromônio, que não hesitei em liberar em maior quantidade.

Levou um tempo até que o ômega pudesse finalmente me olhar, o escuro dificultava minha visão, mas eu ainda assim conseguia notar o inchaço em seus olhinhos. Limpei suas lágrimas com todo carinho o ouvindo suspirar alto.

- Desculpa... - Foi o que ele disse, sua voz embargada pelo choro recente.

- Shh, ta tudo bem agora, eu tô aqui com você - Respondi calmamente, deixando um carinho leve no rosto do ômega, que no mesmo instante pareceu ronronar, esfregando seu rostinho contra a minha mão, como um gatinho.

Um trovão alto interrompeu o momento, fazendo Gulf pular de susto, antes de me agarrar novamente num abraço desesperado. Então era isso? Ele tinha medo de trovão, e esse queda de energia só serviu pra piorar tudo, pobre ômega.

O peguei no colo caminhando devagar até o sofá, ele ainda se encolhia esfregando seu rostinho molhado contra meu pescoço. O deitei sobre o sofá e me sentei no chão a sua frente, segurei suas mãos apertando de leve, apenas para garantir que eu não sairia do seu lado.

- Mew... Deita comigo, por favor... Seu cheiro me acalma - Ele pediu com a voz tão fraca que eu mal pude ouvir, tenho certeza que se houvesse luz, eu poderia enxergar seu rosto completamente vermelho agora.

Subi me deitando ao seu lado no sofá, o ômega então deitou sua cabeça em meu ombro, enterrando seu rosto contra meu pescoço mais uma vez. Abracei sua cintura fininha o colando a mim, e confesso que meu coração descompassou com a proximidade, seu cheirinho parecia fazer tanto efeito no meu corpo, quanto o meu fazia ao dele nesse momento.

Levei minha mão até seus cabelos iniciando um cafuné, o ouvir ronronar suavemente bem próximo ao meu ouvido, me causando um arrepio. Um nervosismo se apossou do meu corpo ao notar sua presença cada vez mais forte, e eu tenho certeza que ele podia ouvir o meu coração batendo.

- Eu estou te afetando, alfa? - Perguntou virando seu rosto na minha direção, ficando próximo demais, ao ponto de sentir sua respiração bater no meu rosto.

- Não faz ideia do quanto - Suspirei ao sentir seu carinho no meu rosto, fechando levemente os olhos.

- Eu quero te agradecer... sabe, por se importar, por me proteger e me fazer sentir que estou seguro - Ele disse baixinho, abri meus olhos novamente encarando seus olhinhos brilhantes.

- Me agradeça ficando bem, já é o suficiente pra mim - Senti meu coração errar a batida ao ver aquele sorriso lindo tão de perto.

Foi difícil desviar meus olhos dos seus lábios, mas o fiz, encontrando seus olhos brilhantes me encarando como quem podia ver minha alma. Nos encaramos por longos minutos, até que ele se aproximou calmamente, acariciando meu rosto devagar, me roubando um beijinho na bochecha.

Meu lobo parecia dar cambalhotas, era surreal o efeito que esse ômega tinha sobre mim. Não tive reação a princípio, mas logo abri um largo sorriso que foi retribuído.