Coincidência

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Eu acordei e me sentei na cama enquanto os meus olhos percorriam a extensão do quarto do Flávio, meu namorado e logo mais, meu futuro noivo. Revirei os olhos tentando organizar as coisas, como homens podem ser tão desorganizados?

— Amor, vem para a cama. — Pediu ele me encarando.

— Você deveria me agradecer, Flávio! O que minha sogra vai achar se entrar nessa casa e ver essa zona? — Pousei as mãos na cintura e olhei para ele que tinha um olhar divertido e a cara amassada pelos travesseiros. — Levanta, estou com fome. Enquanto organizo aqui, você pode muito bem ir preparando o nosso café.

— Tudo bem, senhorita. — Ele se aproximou e me beijou saindo em seguida.

Assim que consegui organizar o apartamento, tomei um banho e coloquei uma camiseta do Flávio, seguindo para a cozinha.

— Que café da manhã gourmet. — Disse irônica sorrindo. — Vejamos, café fraco, pão de forma velho e manteiga.

— Não fiz compras, Mel. Pode parar de me zoar? É isso ou pizza fria! — Resmungou ele pegando um pacote de biscoitos. — Vamos fazer compras logo após nosso café da manhã gourmet. — Disse.

— Ótimo. Que horas sua mãe chega?

— O voo dela está previsto para hoje às 18h. — Ele se sentou e me olhou. — Tem certeza que prefere cozinhar?

— Acha que serei julgada pela dona Marta? — Perguntei olhando para ele.

— Provável. Minha mãe cozinha muito bem.

— Pois saiba que eu também. — Respondi orgulhosa. — Vou mostrar a ela que você será bem cuidado por mim.

Tomamos café provocando um ao outro como sempre fazíamos. Flávio era engenheiro recém formado, mas com uma sorte daquelas de quem nasce com a bunda virada pra lua, bons contatos o fizeram conseguir um emprego muito bom em uma empresa renomada. Eu por outro lado não tinha tanta sorte profissional assim, sou formada em pedagogia, mas nunca exerci, e estou finalizando agora o curso de arquitetura na universidade pública em que nos conhecemos, encarando um estágio cansativo que mantém o meu aluguel e contas básicas.

Eu tentei não pensar muito na visita de Marta, será que ela vai me achar velha demais para o filhinho dela? Eu tenho quase trinta anos, enquanto ele vinte e cinco com cara de dezoito. Marta tem a profissão que qualquer pessoa no mundo gostaria de ter, ela é viúva e herdeira duas vezes, herdeira do pai, e também da fortuna do ex marido, meu ex sogro que não chegarei a conhecer, e por isso vive viajando o mundo por aí, mantendo sua residência fixa em Londres, tanto é que em dois anos de relacionamento, e beirando o nosso noivado, ainda não nos conhecemos.

No início eu me questionei o porquê do Flávio manter uma vida sem os luxos que o dinheiro de sua mãe poderia lhe proporcionar, porém soube que dona Marta cuida da fortuna da família de forma inteligente, obrigando o filho a estudar e ter um futuro digno caso queira algum dinheiro, e isso faz dele um pouco menos mimado do que poderia ser.

— Camarão? — Ele perguntou me olhando.

— Sim! Pensei em preparar uma moqueca, sua mãe gosta? — Olhei para ele que parecia pensativo.

— Sim, com certeza.

— Ótimo! Ligue para aquele seu amigo sommelier e pergunte qual vinho pode harmonizar melhor com a moqueca.

— Não é só pegar um tinto qualquer? Para que isso tudo, Mel?

— Me deixe fazer as coisas do meu jeito, sim? Vou pegar umas frutas, não demoro.

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