Cap 57 - "Meus Sentimentos"

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Fiquei com o rosto inexpressivo quando deixei o cômodo de cor clara. Fui até a sala e em seguida para a cozinha, vendo minha avó no segundo cômodo sentada na cadeira, apoiando os braços na mesa. Um copo do que reconheci ser café em sua frente com fumaça e ao lado dele, duas chaves em um chaveiro de ursinho.

  - Acordou um pouco mais tarde que o normal, hum - Ergueu uma sobrancelha e começou a olhar em volta. - Vejo que arrumou a casa inteira. Inclusive cuidou do quintal e da minha roseira também. Deve estar exausta, não é?

Dei de ombros. Não faz diferença estar ou não, meu dia hoje é de folga.

  - Então não tem muito o que fazer, além do almoço, é claro - Concordei. A Nathalina pegou o chaveiro e ergueu na minha direção.

Franzi as sobrancelhas, inclinando calmamente a cabeça para o lado, sem entender.

Antes que ela pudesse dizer algo, começou a tossir descontroladamente, pondo uma toalhinha vermelha sobre a boca. Seus olhos começaram a ser encher d'água por causa de sua garganta inflamada.

  - O que houve? - Perguntei calmamente.

A mulher terminou de tossir e dobrou o pequeno pano no meio em sua mão, bebericando o café logo em seguida. Quando sua garganta finalmente se acalmou, ela voltou a erguer as chaves com uma cara nada boa.

  - Aqui, vá limpar e organizar o galpão. Está cheio de ferramentas perigosas, então cuidado e não retire nada de lá, ouviu? Coloque as coisas maiores com as outras, e as pequenas em caixas. Se estiver faltando, pegue mais caixas no sótão. Termine isso antes de meio dia para vir fazer o almoço.

Encarei o chaveiro em minha mão por um bom tempo, com a mente borbulhando sem parar um só segundo. Várias dúvidas começaram a surgir, e um nó apareceu em minha garganta também. Ergui o rosto, vendo Nathalina me encarar com uma sobrancelha erguida, talvez se perguntando o porquê eu ainda estou aqui, parando na sua frente ao invés de fazer o que ela pediu.

  - M-Mas... - A palavra saiu devagar.

Um enjôo me percorreu.

  - O que foi? Já devia estar indo. - Minha avó encarou o relógio preso na parede. - Já são nove horas. Vai logo ou então o almoço vai ser atrasado

  - Eu arrumei a casa inteira ontem, fiz absolutamente tudo. Por que tenho que limpar o galpão?

  - Está achando que só porque limpou o resto das coisas, as tarefas acabaram? Eu digo quando acabaram, e você ainda tem coisa para fazer. Se vai ficar nessa casa, na minha casa, então sugiro que faça por onde. Está aqui por favor que eu fiz a sua mãe, então não tem o direito de parar antes que eu diga que sim - Falou séria. - Não vou repetir, Amber. Limpe esse galpão agora mesmo se não quiser as consequências

Minha cabeça começou a doer, e uma vontade anormal de me jogar no chão me atingiu com tudo. Virei as costas e comecei a andar na direção da porta, querendo fazer o que a mesma me disse.

Lembrei de todas as vezes que fui tratada como uma idiota e parei no mesmo lugar. Quando Sebastian ficou mentindo pra mim por anos, quando me coloquei em situações que hoje em dia me dão nojo só de lembrar, das vezes que eu fui tratada como uma criança injustamente pelos meus pais, quando joguei ótimas oportunidades no lixo por apenas pensar que no fundo eu realmente não era capaz. Tudo isso está caindo sobre mim agora, como uma bomba prestes a explodir. Saber que todo o esforço que fiz aqui não apenas para agradar Nathalina, mas para me fazer acreditar que no fundo eu sirvo para alguma coisa não serviu de merda nenhuma aumenta a minha frustração de uma maneira absurda.

Meu "Babá"? (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora