uma menina, um conceito

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menina bonita, menina fácil, jovem, ousada.
é fácil desejá-la:
aqueles olhos de criança assustada, o cheiro de clima tropical, pele quente de índia latino-americana, sangue escaldante correndo pelas veias.
uma menina, um conceito:
menina amaldiçoada, espirituosa, depravada.
sorriso felino, pensa vagamente em suicídio nas noites de lua cheia, sussurra cantigas em francês, sempre beija com os olhos fechados.
uma menina, um conceito:
desconhecida como o interior do crânio de um estranho, cabeça pregada com parafusos de ouro, dentes feitos de fumaça.
ela tem hematomas em todo lugar, anda sempre com a própria tristeza imaculadamente guardada dentro do bolso, comete auto-genocídio todas as noites, cita Fernando Pessoa quando se apaixona.
menina bonita,
menina meticulosa,
tão vazia quanto a própria mente em dias de domingo.
vai ao inferno e volta cada noite, deixa que homens desconhecidos rasguem sua pele, idealiza tragédias distantes sem sequer tê-las vivido.
uma menina, um conceito:
meio maníaca, desequilibrada, carrega planetas inteiros nas órbitas roxas ao redor dos olhos.
leva navalhas com ela para onde for, engole pedaços de vidro para se manter interessante, lava a boca com vinho sagrado, dança com o diabo.
menina bonita, menina confusa, tem um naufrágio abandonado em algum lugar dentro dela.
caminha pela rua vazia, cospe sangue da boca e chama de poesia, espera por algo que não volta mais.
trágica, efêmera, fugitiva.
a menina, o conceito.
era menina tão bonita.
era tão bonita.
era tão menina.
agora nunca mais.
tchau.

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