UM SINAL

CAPÍTULO XVIII

PdVR

"Aonde a gente 'tá indo?" Bianca perguntou... de novo.

Ela estava se mexendo o tempo todo e brigando com o cinto de segurança, aparentemente não conseguia ficar parada quando se tratava de surpresa.

"Não vou dizer" respondi... de novo.

Eu sabia que ela estava confusa, porque me viu vestida casualmente - calça jeans e um casaco - mas ela não sabia como eu era em encontros. Bom, pra ser honesta, eu mal sabia também, mas por algum motivo estranho, a Bianca me trazia isso à tona.

No passado, eu sempre optei por jantares normais, mas porque eu sempre presumi que era isso que as pessoas queriam. Não era isso que eu queria com a Bianca. Com ela, eu queria ser eu mesma, assim como eu queria que ela fosse ela mesma, e nós não somos pessoas-de-restaurantes. Eu sei disso.

Acho que não estou fazendo muito sentido, mas foda-se.

"Chegamos" murmurei, desligando o motor.

Eu dirigia muito raramente, mas ir ao supermercado era uma exceção.

"Você me trouxe para um encontro aqui?" Bianca respondeu, olhando pra mim como se a minha cabeça tivesse inchado que nem uma Bratz.

Eu dei uma piscadinha pra ela antes de sair do carro, e não respondi até abrir a porta dela. "Você 'tá querendo dizer que tem alguma coisa errada com esse supermercado?" eu provoquei, estendendo minha mão para que ela se apoiasse.

Ela aceitou. Eu não larguei sua mão. Até entrelacei os nossos dedos, e isso era monumental pra mim. Andar de mãos dadas. Merda, podia parecer idiota, mas... Não para mim. Tirando a estreia que eu fui com a Bianca, eu nunca andei de mãos dadas com ela, e isso... é, isso era importante pra mim. Parecia certo. Muito certo.

"Não se preocupa. Essa é só a primeira parte" eu disse enquanto íamos para a entrada. "Eu gostaria de chamar isso aqui de um passeio-no-túnel-do-tempo." acrescentei com uma piscadinha.

Ela estava confusa pra caramba, mas seus olhos brilhavam com curiosidade e felicidade, e isso era o suficiente pra mim. Contanto que ela estivesse sorrindo, e seus olhos estivessem felizes, as coisas iam bem.

Depois de pegar um cesto, eu nos guiei à parte de sorvetes - o lugar onde vi Bianca pela primeira vez.

"Você lembra disso?" perguntei quando a gente parou de frente para um dos freezers, apertando de leve a sua mão só para... sei lá, lembrar a mim mesma de que ela estava aqui?

"Sim" ela sussurrou, olhando-me com aqueles seus olhos lindos. "Foi onde a gente se viu pela primeira vez".

Eu assenti com a cabeça, me segurando para não partir pra cima dela, abri a porta com Ben & Jerry's e continuei. "Essa noite vai ser eu sendo honesta." Eu peguei um sabor Phish Food (chocolate com caramelo e marshmallow) pra mim e um Cherry Garcia (cereja) pra Bianca, porque eu sabia que esse era o favorito dela. "Bem... eu sou uma safada, Srta. Andrade" sorri, meio sem graça, apoiando-me no freezer. "A primeira coisa que eu pensei de você..." É, eu deixei no ar.

"Ah, me diz, Srta. Kalimann" ela sorriu, entendendo que eu não pensei exatamente sobre os seus olhos a primeira vez que a vi.

Porra, ela é linda.

Hora de confessar.

Limpei a garganta e pus os potes de sorvete na cesta, falando de uma vez sem olhá-la nos olhos. "A primeira coisa que pensei de você... é, definitivamente foi sobre a sua bunda."

A sua risada linda me fez olhar pra cima, mas não pude fazer nada que não fosse sorrir para ela. "Bom, fico feliz que esteja sendo honesta, Rafaella. De verdade."