27 • À luz do dia

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Os dias passaram tranquilos como domingos na praia. Eu e Gregory estávamos sentados na frente da escola e cochichando quando Amy apareceu muito contente, mesmo depois do teste de álgebra que havíamos acabado de fazer. Ela estava radiante como eu não via há algum tempo, toda feita sorrisos e alegria.

— Parece que alguém fez um bom teste hoje. — Gregory sugeriu, fazendo sinal para que Amy repousasse nos degraus conosco.

— Hmm... também. — Ela concordou, sentando-se. — Na verdade, estou mais contente por outra coisa.

— Eu acho que essa felicidade tem nome, então — insinuei, a encarando com um sorriso malicioso.

Amy não redarguiu. Ao invés disso, ela somente gargalhou baixinho e deu de ombros, apoiando as mãos no chão e pendendo a cabeça para trás com um sorriso.

— Tem sim. — Ela confirmou. — Louise me disse que a esperasse aqui. Ela quer me levar para algum lugar — emendou, os olhos como os de uma criança que acabara de ganhar um doce.

Eu e Gregory nos entreolhamos, confusos. Até onde sabíamos, elas infelizmente ainda saiam às escondidas e não costumavam estar juntas em público. Naquele dia, no entanto, parece que Louise buscaria Amy à luz do dia, e isso deixava minha amiga com o humor radiante. Seu cabelo esvoaçava para trás com o vento, deixando o rosto miúdo e os traços bonitos expostos e iluminados pelo sol do fim da tarde. Ela estava especialmente bonita ali, e eu quase me distraí quando, pelo canto da vista, vi que Louise vinha até nós — e com um enorme buquê de rosas brancas nas mãos.

Eu cutuquei Gregory, fazendo com que ele olhasse na mesma direção, o mostrando a bela garota vindo com um sorriso tímido e nervoso. Logo, Amy também a viu, levantando-se num pulo para recebê-la. Sua surpresa foi tanta pelo buquê que ela deixou a mochila cair no chão, não se importando em apanhá-la. Era o tipo de cena que eu só havia visto em filmes românticos: Louise com flores, congelada na frente de Amy. As pessoas parando o que faziam para as olhar, cochichando e se amontoando ao redor. O sol se pondo atrás dos prédios da cidade, fazendo tudo parecer mágico.

Eu olhei para Gregory, o perguntando silenciosamente o que estava acontecendo, mas ele balançou a cabeça como quem não sabia, tão surpreso quanto eu.

— Lou, o que é isso? — Amy indagou, os olhos arregalados e as mãos trêmulas.

Isso... — Louise começou, respirando fundo. — Isso sou eu sendo corajosa como você me faz querer ser, Amy — disse com o tom firme, mas os olhos ansiosos e marejados.

— Louise, você... — Amy balbuciou, a voz baixa, vacilante e receosa. — As pessoas, os seus pais... — E olhou ao redor, preocupada.

— Eu sei. — Louise respondeu, no entanto. — Eu quero que todos vejam.

A respiração de Amy pareceu ficar presa na garganta e suas mãos vacilaram. Ela quase não piscou quando Louise a entregou um sorriso apaixonado e disse em alto e bom som:

— Eu não quero mais me esconder com você, Amy. Não quero mais me esconder. Eu passei os últimos anos da minha vida pensando no que todos diriam, no que pensariam de mim, mas agora não dou mais a mínima para isso! Eu só quero ficar com você à luz do dia. Quero andar de mãos dadas e dançar com você em público. Eu não me importo com o que vão achar sobre isso. — E suspirou, lágrimas ameaçando seus olhos. — Eu quero que todos saibam que estou apaixonada por uma garota, e o nome dela é Amelie Li. Ela é engraçada, sensível e tão corajosa... o coração mais corajoso que já conheci. Eu quero ficar com ela de verdade. De todos os jeitos que esta vida possa permitir.

Louise pausou, respirando fundo e enxugando as lágrimas com o dorso da mão antes de abrir um sorriso de orelha a orelha, meneando o buquê de flores em direção à minha amiga.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora