dois | evelyn rose

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Quando saí do meu apartamento, em uma quinta-feira, acabei encontrando com o novo vizinho estranho, que também parecia estar de saída. Com pressa, enfiei as chaves na minha bolsa e dei um passo em direção às escadas ao mesmo tempo em que ele deu um passo em minha direção.

Nós dois paramos e ficamos um de frente para o outro. Analisei seu rosto. As concussões não estavam mais tão acentuadas quanto na semana passada, já tinham quase desaparecido. Estava na cara que ele era um grande causador de problemas, o que um motivo bom para me manter longe.

O desconhecido usava uma camiseta preta e jeans rasgadas nos joelhos. Os cabelos pretos feito penas de corvos estavam uma bagunça, a cor dos fios se contrastando com sua pele branca. Suas íris pareciam cautelosas enquanto me perscrutavam. Me remexi, desconfortável por ele estar no meio do meu caminho para a escada e me encarando por tempo demais.

"Meu nome é Humano Frito" foi a primeira frase que ele disse para mim. "Somos inimigos" foi a segunda. Arqueei as sobrancelhas, ajeitando a alça da bolsa em meu ombro.

Senti vontade de dar risada porque sabia que não era aquilo que ele queria dizer, só que eu era péssima em fazer leitura labial. Suspirando, abri minha bolsa e busquei por meu caderno e uma caneta. Apoiei-o contra a parede e escrevi rápido, não me importando com a letra desleixada. Depois, virei a folha para meu vizinho.

Seu rosto foi preenchido por surpresa e compreensão quando ele leu a frase que eu havia escrito com pressa. "Eu sou surda".

Ele demorou alguns momentos para reagir, piscando lentamente. A maioria das pessoas ficavam constrangidas quando descobriam que era surda, já estava habituada com reações como aquela. Enfiei o caderno de volta na bolsa. Estava prestes a guardar minha caneta e dar o fora dali quando ele se aproximou, fechando o espaço entre nós e segurando a palma de minha mão, impedindo-me.

Meu coração disparou. Com a mão livre, ele pegou o tubinho de tinta preta e começou a escrever algo no interior de meu pulso. Quando ele terminou, fixei meus olhos nas letras tortas. Hunt Finley. Fazia mais sentido que Humano Frito. Ele se afastou, o local em que havia tocado queimava um pouco. Que esquisito.

— Eu disse que somos vizinhos. — Ele sinalizou.

Ele sinalizou.

Nem tentei esconder o meu choque. Sabia que meus lábios deviam estar entreabertos no momento e minhas íris cheias de incredibilidade. Hunt Finley além de ser um rosto bonito e parecer encrenqueiro, sabia a língua de sinais. Ele não parecia alguém que se empenhou anos para aprendê-la. Mas bem, eu não o conhecia. Empurrando os pensamentos estereotipados para o fundo de minha mente, senti-me meio mal por tê-lo julgado pelas tatuagens e os piercings.

— Bem-vindo. — Foi tudo o que consegui sinalizar de volta, depois de colocar a caneta na bolsa.

— Obrigado. — Hunt sorriu torto. — Você está indo para algum lugar?

— Estou. E atrasada, por sinal. — Fiz uma pausa, parando de mover as mãos. — Podemos nos falar depois?

— Tudo bem. — Ele sinalizou de forma deliberadamente lenta, parecendo pensar por alguns momentos. — Nos vemos depois.

Com isso, Hunt se virou e começou a descer as escadas. Soltei um suspiro longo e desci um momento depois. Não nos esbarramos lá fora, ele tinha desaparecido. Saí com meu carro, indo em direção ao campus. Cheguei quinze minutos atrasada.

Die For You (completo na Amazon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora