A Maldição

Capítulo Seis- Jean Oncer.

"Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio." - Pablo Neruda.

   Não falava com Mattew havia dias. ele não falava com ela. Ela não tentava falar com ele, assim como Emmet não se aproximava dela, mas a olhava distante. Não conseguia ler para distrair os pensamentos. Mas algo estava diferente. Normalmente, quando em um conflito amoroso ou em uma situação difícil com a pessoa que gosta, ela faria o maior drama. Mas ela não fez nada. Ou melhor, ela não sentia nada. E nem conseguia sentir algo. Era como se sua alma estivesse distante do corpo cada dia mais, a fazendo sentir como uma peça mecânica que apenas age de acordo com sua necessidade de comer, dormir e treinar. Mas sem sentimentos. 

   Dia após dia, era como se seu coração não batesse mais, apesar dela saber que batia. Sentou no mesmo sofá da biblioteca, onde já havia passado várias horas todos os dias, apenas olhando a paisagem. Os mundanos, vivendo sua vida tão comum e monótona, sem perceber o que andavam a sua frente, vivendo uma grande mentira. 

  Algo quente a tocou. Era Emmet. Ela sempre percebia quando ele se aproximava, pelo cheiro doce forte e o calor anormal. Mas dessa vez não.

"Samantha, estou preocupado com você." Olhou em seus olhos, que ela sempre achou tão perfeitos. "Todos estamos preocupados com você. Está tão estranha. Não está mais falando."

Respirou fundo, mas seu peito não subiu. "Estou ótima. Obrigada pela consideração." 

Emmet parecia furioso com a resposta. "Não." disse, ela nunca o tinha visto nervoso. "Não está ótima. Eu posso não te conhecer tão bem e nem a tanto tempo quanto deveria, mas sei que não é assim. Você era tão radiante, mesmo parecendo sempre chateada e preocupada, era radiante. E engraçada, linda, delicada e ao mesmo tempo parecia perigosa." Ele suspirou. "Não é nada disso agora. Está diferente, e parece muito mal aliás. Se foi por causa do beijo, eu sin..."

"Não." o interrompeu. "Não estou mal, e se estivesse, não teria nada a ver com seu beijo. Não se incomode com isso." 

"Então o que posso fazer para te ver melhor?" Ele realmente estava chateado por ela.

"Me distraia, me faça sentir algo, me faça sentir mais humana." Disse com sinceridade. 

"Tudo bem." Ele levantou do sofá. "Levante." 

 Levantou, ficando de frente a Emmet. Ele a envolveu em um movimento rápido, a beijando de forma bem mais feroz que da última vez. Seus lábios eram tão quentes quanto seu corpo. Depois de um tempo, a soltou devagar. Não tinha sentido nada. Ele a olhou como se esperasse algo. Mas não havia nada que pudesse dizer. Apenas balançou a cabeça devagar.

  Emmet mordeu os lábios que agora estavam vermelhos. "Não sentiu nada." disse seco. "Cruel. Sabe, o que eu sinto por você é tão óbvio, como se estivesse costurado em meu peito. Mas saber o que você sente, Samantha, é algo impossível. Você realmente é como um diário; sempre fechada e cheia de segredos profundos."

"Não é nada pessoal, Emmet. Eu também não sei o que está escrito nesse diário."

   Mattew tinha que admitir, sentia um pouco de saudade de passar dias trancado no quarto. Isso despertava a saudade profunda da família que ele tinha banido para o fundo do coração e pensamentos para não lembrar deles. A diferença era que ali ele saía para comer e treinar. Fazia tudo ao lado de Sam. Vê-la beijando Emmet a alguns dias atrás havia doído, mas não mais que a vontade forte de falar com ela e abraça-la. Será que ela reparava que ele estava sempre a olhando? Sempre admirando seus movimentos perfeitos durante o treino, que ele considerava tão atraente nela.  E ele a olhava o suficiente para reparar que Emmet fazia o mesmo.