Hetran I

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Uma fonte de luz vindo do alto da janela ofuscou seus olhos pesados de sono. Os esfregou, ainda sonolento e se viu sentado em uma das mesas da grande biblioteca do senhor seu pai. Raios!, pensou, outra noite virado em minhas pesquisas. Bocejou e esticou os braços até sentir os estalos das juntas. Do seu lado havia uma pilha de diversos livros, de cores e tamanhos diversos, todos lidos e relidos por ele. O mestre dos livros do Castelo, senhor Pendrnir - Um ancião nos seus quase oitenta anos, corcunda com uma longa barba Branca digna de um mago das fábulas, andava com uma bengala de madeira de lei, fazendo toc toc toc quebrando a regra do silêncio na biblioteca. Pedrnir tinha um apelido para Hetran. Olhos famintos. Nas palavras do próprio, nunca havia visto um jovem ter tanta sede de livros que não fosse um eunuco!

Levou uma livrada na nuca - para aqueles que acham que livros não podem ser usados como armas, Rovial achava o contrário. Hetran tomou susto do golpe, apresentando seu meio-irmão Rovial, sorridente.

- Você foi livropeado! - disse, tentando algum trocadilho horrível com livro e golpe. Rovial assim como todos os jovens da idade dele e de Hetran, adorava o campo, a caça, cavalgar cavalos e homens (tudo sob sigilo dos olhos atentos do Clero). De cabelos castanhos escuros até os ombros e o rosto liso de quem pouco se encontrou com uma navalha.

- Belo golpe. - disse Hetran, de braços cruzados. - Rovial era seu melhor amigo e (dizem alguns) o melhor espadachim das planícies de Adelara. Hetran recolheu os livros. - Não devia estar treinando com o Capitão Herd?

- Sem meu irmãozinho? - disse Rovial rindo. - Jamais! E... além do mais você anda muito sumido nas práticas de esgrima... até Rufford percebeu. - Hetran encolheu os ombros. - Vamos lá treinar um pouco, aquecer as juntas!

- Você quer dizer apanhar de uma espada de madeira?

- Quero dizer ganhar resistência de golpes de madeira!

Caminhavam pelos corredores. A cada passo e menear da cabeça dos guardas do Castelo aos dois, Hetran pensava em alguma forma de faltar o treino de esgrima novamente. Hetran era muito diferente dos jovens da sua idade, muitos que anseiam batalhar, guerrear, aprender os golpes viscerais que partem inimigos no meio e derruba cavaleiros da suas estribes! Hetran sempre teve uma preferência maior aos livros e as letras quando, o jarl Keltus o reconheceu como filho e as ensinou. Fascinava-se como aquelas palavras criavam imagens em sua mente, via dragões, cavaleiros, guerras entre o bem e o mau tudo por sua imaginação. De certo modo, Hetran não havia perdido ainda aquela sede de leitura, e sendo franzino se comparado ao resto dos rapazes da sua idade, era sempre um saco de pancada nos treinos em esgrima - mas o jovem se garantia no arco e flecha, o que era inútil, dizia o capitão e mestre Herd, se seu adversário estivesse a menos de seis metros de distância.

A mão de Rovial segurava firme o ombro de Hetran, como se prevenindo ele de escapulir dos treinos. Era um filho de Keltus, e tinha que agir como tal ou era isso que todos pensavam.

- E se... - ele disse, vacilando por um momento. Ainda tinha tempo de convencer o meio-irmão de escapulir da esgrima aquela manhã. - disser que eu estou doente?

- Como da vez que você pintou o rosto aquelas pintas rosadas dizendo ter peste? - disse Rovial rindo.

- Eu posso ser mais radical. - pensou um momento. - Febre grega! Que tal?

- Nunca ouvi falar dessa doença...

- Exatamente! - Hetran disse, sorridente em sua genialidade.

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⏰ Last updated: Nov 01, 2020 ⏰

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O Príncipe ErranteWhere stories live. Discover now