Prólogo

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O Imperador estava lhe esperando.

Poucos eram os que tinham aquela dádiva de estar no mesmo salão que Sua Santidade – muitos de seus servos morriam sem ao menos ter a dádiva de ver o seu rosto – e ainda era menor o número de conselheiros que debatiam abertamente com Ele. Quando recebeu aquela carta selada com a águia em carmesim – a cor e o Símbolo Sagrado do Nosso Império – o coração de Lodrok sentiu uma súbita parada. Era um dos servos mais fieis ao Império desde que nascera no berço da nobre família Leondone, os principais governantes da Província de Pretus, vassalos diretos d'O Imperador. Durante sua vida, Lodrok viveu sempre as sombras de seu irmão mais velho; Rodrok, o primogênito, Rodrok, o Herdeiro, Rodrok, o "Perfeito". Vinte e cinco anos atrás, decidiu seguir os passos do irmão e ser um conquistador. Enquanto seu irmão usava espadas e carnificina para estender as fronteiras do Império, Lodrok usava outras armas (bem mais eficientes): conquistava com palavras e fé e intrigas políticas. "Palavras podem cortar mais do que espadas", dizia o seu velho pai, o Governador Leonpold, assim como seu mentor o Inquisidor Ridmus, e eles tinham razão.

Desde que escolhera os livros ao invés das espadas, Lodrok fez grandes conquistas, das quais o seu irmão jamais ousaria sonhar. Dominou os assireus do leste, o povo bárbaro da Costa Rochosa, o principado de Bertha, os Homens Abissais e os Gigantes das Terras Sem Fim por meio da "pregação" da Verdadeira Religião – esta sempre resultada de intrigas políticas, revoluções ou golpes de Estado.

Talvez fosse este o motivo de Vosso Imperador estar lhe convocando pessoalmente fora da época da Santa Ceia. Fosse para parabenizá-lo ou para qualquer outra coisa, já era uma grande honra estar a caminho de Castelo Branco, na grandiosa e ornamentada Cidadela dos Deuses – um nome pagão mantido apenas pela regência da Divindade que ali vivia.

Sua carruagem parou no inicio dos degraus do grande palácio do Império. Quando desceu, percebeu que estava tremendo. Não de frio ou medo, mas nervosismo. O pátio onde ele se encontrou era um grande espaço cinza, com centenas de milhares de estandartes vermelhos bordados com fios de ouro, mostrando a orgulhosa águia símbolo do Nosso Império. E para cada estandarte, havia pelo menos um Cavaleiro do Templo em armaduras cerimoniais, revestidas em camadas de ferro e aço negro, com longas capas vermelhas e elmos que apenas deixavam uma sombra por detrás da viseira daqueles homens, membros das Ordens Militares subordinadas à Igreja. Lodrok sempre se perguntou se aqueles homens eram realmente homens depois de ouvir sobre os massacres em tempos de Cruzada...

Subiu a imensa escadaria, escoltado por dois serventes do Imperador. Lodrok sabia que eram serventes pessoais Dele. Era mais que óbvio pelo silêncio mantido pelos seus votos sacramentais de servir pessoalmente ao Filho de Deus. Lodrok engoliu a seco. Sentiu todos os olhos escuros dos guardas sobre ele, e também os olhos dourados das águias que estavam estampadas em cada estandarte carmesim. Estaria ele tão mau vestido assim? Escolhera os melhores trajes que tinha consigo desde que fez os seus Votos Sacramentais. Uma batina num tom vinho, bordada com a mais pura seda da Rota da Traça vinda dos países do Extremo-Leste. Botas do couro mais fino e luvas de um tom negro e brilhante completavam as suas vestimentas, isso junto é claro, ao seu cordão feito em ouro-de-sangue, com o símbolo pendido no meio da ramificação mais importante da Religião fundada pelo Imperador, um braço forte e exclusivo da Fé que havia lhe trazido todas aquelas conquistas e vitórias ao vasto Império. Trazia com ele, o símbolo da Santa Inquisição; uma cruz formada por duas serpentes enroscadas uma na outra, com os "braços" da cruz sendo suas cabeças. No mundo, apenas outras onze pessoas portavam o título de Inquisidor.

O Príncipe ErranteWhere stories live. Discover now