VINTE E DOIS

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VICTOR HUGO
— Você também teve alguém? — as palavras de Helena ecoam em minha mente enquanto decido se conto ou não sobre Jaqueline, o grande amor da minha vida. — Se não quiser falar sobre, não precisa.
Mas como falar sobre ela enquanto Helena se aconchega tão confortavelmente em meu peito? No momento, seu cheiro é uma mistura floral com ressaca, é tão estranho como essa mistura me deixa tão confortável e vulnerável.
— O nome dela era Jaqueline. — digo após o silêncio preencher o pequeno e aconchegante quarto do casebre em que ela está morando. — Ela estava doente, mas eu dei mais atenção aos negócios que a ela. Um dia ela... Nós estávamos visitando um apartamento, ela começou a falar sobre não estar certo... que não me amava e que odiava nossa vida. E ela pulou da janela do vigésimo terceiro andar.
— Meu Deus. — Helena levanta cobrindo seu corpo com a coberta e eu me sento a beira da cama.
— Íamos ter um filho. Ela estava grávida de um menino. — digo e sinto Helena me abraçar.
Falar sobre a Jaque com qualquer pessoa para mim é muito difícil.
— Quando nos conhecemos, ela era uma pessoa. Talvez tenhamos feito isso rápido demais, mas estávamos apaixonados. Eu estava, pelo menos. — Helena não fala nada, seu rosto está apoiado nas minhas costas e seus braços em volta do meu peito. — Ignorei alguns sinais de que ela não estava bem. Priorizei o trabalho. Pedi para a mãe a acompanhar em momentos que eu deveria.
— Tenho certeza de que fez o que podia para isso não acontecer.
— Eu deveria... eu poderia ter feito mais. Somente depois que tudo aconteceu que eu descobri a verdade, Helena. Ela estava doente e eu viajando a trabalho.
— Victor Hugo, — ela me solta e desce da cama se ajoelhando na minha frente enquanto segura minhas mãos. — eu sei que é doloroso. O do Mauro foi um acidente provocado por outra pessoa e eu nunca consegui me perdoar. Não sei o que você sente, só posso imaginar. Mas você não pode se deixar ser definido por isso. Você é um bom homem. Difícil, turrão, mas um bom homem. — diz me arrancando uma risada. Helena tem o dom de me fazer rir.
— Você é incrível. Não sei o que fiz para que alguém como você aparecesse na minha vida.
— Colocou um anúncio para vaga de limpeza de palácio. — sorri. Até a sua risada é atraente.
O que você está fazendo comigo, Helena?
Mesmo quando me irrito com ela, como quando pensou que eu ia demiti-la por não termos transado ou quando estava no jardim entregando sua doce risada ao novo jardineiro ou mesmo quando, só para me irritar, decidiu sair com ele... Mesmo assim, não consigo deixar de pensar nela.
— Você é linda!
— Você já me disse isso antes. — seu sorriso, dos percalços que a vida tem colocado para ela, é contagiante.
— Vou dizer o quanto você deixar... — beijo a ponta do seu nariz.
— Isso é novidade!
— Sai comigo hoje?
— Eu... não posso. — parece nervosa.
— Então janta em casa comigo.
— Eu quero, mas não posso.
— Helena, estamos pelados aqui no seu quarto. Não é porque estaremos na minha casa que vou te desvirtuar. Já fiz isso. — ela ri e é impossível eu não acompanha-la.
— Outro dia. Prometo. E jantar não.
— Por que não?
— Porque... — levanta evitando contato visual comigo. — porque... estou começando uma dieta. — puxo o lençol que ela mantém enrolado em seu corpo e rapidamente o vejo. Não existe um defeito ali. — Victor Hugo! — protesta se enrolando novamente na coberta.
— Você está perfeita, por que está fazendo dieta?
— Para continuar perfeita, ué. — responde mostrando a língua e puxo o lençol novamente, dessa vez com o objetivo de trazê-la para perto e ela vem.
— Sai comigo, vai.
— Saio. — sorri encostando seus lábios nos meus. — Mas não hoje.
— Helena! — a derrubo na cama e cubro seu corpo com o meu: — Vamos lá, eu sei ser bem persuasivo.
— Não duvido das suas habilidades de persuasão. Eu realmente não posso esse fim de semana.
— Tem planos? — mordisco sua orelha. Já percebi ser o seu ponto fraco.
— Mais ou menos. Tenho que ir no meu antigo bairro.
— Posso te levar...
— Nem pensar. Imagina só eu chegando lá com meu patrão no volante? Não, não. Fora que fica do outro lado de São Paulo, você provavelmente nem conseguiria chegar lá...
— Não me desafie.
— Não tô — passa os braços por trás do meu pescoço. — Mas prefiro iro sozinha.
— Quando então, Helena? — beijo o seu pescoço. — Quando poderei te levar para um encontro?
— Eu te aviso... — diz puxando meu cabelo fazendo meu rosto ir na direção do seu. — senhor!
Sorrindo, deixo meus lábios encontrarem os seus. Os lábios de Helena são macios e o gosto da sua boca é único. Ela inteira não é como ninguém que já conheci. Sua língua desliza em minha boca se enroscando com a minha e não tenho outra escolha que não retribuir tudo o que ela está me fazendo sentir aquele momento.
~*~
Antes das nove da manhã, Helena me expulsou da sua casa prometendo que logo me passaria a data de quando finalmente sairíamos. Eu estava me sentindo simplesmente um adolescente imaturo e ansioso.
Durante todo o fim de semana não nos vimos, mesmo que tenhamos trocado algumas mensagens, não foi a mesma coisa. Até mesmo minha irmã a visitou, mas Helena recusou qualquer uma das minhas sugestões de vê-la. Queria dormir com ela, como fizemos de sexta-feira para sábado. Estranhamente senti sua falta de uma forma que nunca senti a  falta de ninguém. Nem mesmo da Jaque.
E não era porque queria transar com Helena. Eu queria. EU QUERO. Mas dormir com ela foi bom e tranquilo. Foi reconfortante e só acordei quando a ouvi falando sozinha embaixo da coberta.
Helena é simplesmente perfeita. Tudo o que eu não sabia que eu estava procurando.
— Oi, Hugo! — Cláudia atende rapidamente, apesar de passar das dez da noite de domingo.
— Desculpa pelo horário, Clau.
— Como posso te ajudar?
— Como poderia esquecer de alguém tão querida?
— Eu queria dar um presente, um vestido. Preciso de você para isso. Sei que provaram dezenas da última vez antes de chegarem a algo que ela gostou. Poderia me ajudar com isso? — sei que a essa altura Cláudia já está tirando as próprias conclusões, mas é discreta demais para falar qualquer coisa.
— Para quando?
— Consegue para amanhã?
— Com certeza!
— Obrigado, Cláudia. Fico te devendo uma! Boa noite! — desligo animado com o que estou planejando.

Meu Viúvo - (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora