7 - Second Round 💣

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Miranda caminha pelos corredores do hotel com a sensação de que explodiria a qualquer momento. Aquela sensação dolorosa em seu peito e que subia para sua garganta e dificultava a respiração. Ela encosta o corpo em uma parede e tenta controlar as emoções dentro de si. Não iria se deixar desmoronar agora.

Ela respira fundo e as palavras de Andrea insistem em ecoar em sua mente "Eu estraguei minha vida inteira por causa do jeito que você declama." O maior medo de Miranda, sua maior insegurança jogada em sua face pelos lábios de quem ela ama.

Poucos minutos depois, Miranda entra novamente no quarto. Andrea está deitada no sofá, olhando para o teto.

MIRANDA - Você acha que está ganhando?! Poucas pessoas percebem o que é para uma mulher ativa ou apaixonada pela carreira ter um filho. Alguns amigos me disseram: "você verá, você vai querer jogá-las pela janela". Okay, mas a verdade é que eu nunca quis machucá-las nenhuma vez, mas pensei em acabar com tudo sozinha uma centena de vezes. Eu estava tão confusa, e você sempre estava fora em uma excursão idiota de livro, reuniões de publicidade e naquela Universidade, que eu não queria ser um fardo. Agora eu sei por que Sylvia Plath enfiou a cabeça na torradeira.

ANDREA - Era um forno.

MIRANDA - Não brinque com as palavras. Você sabe o que quero dizer - torradeira, forno. Mesma coisa. Sabe quantas vezes eu fiquei sozinha com as garotas precisando de mim e a Charlotte chorando e eu sem ter ideia do que fazer? Você conhece a culpa que uma mãe sente quando não sabe o que fazer?

ANDREA - Você acha que é a única proprietária desse sentimento? Eu também sou mãe!

MIRANDA - Eu não acho que você entendeu, Okay? Você sabe qual é o meu medo secreto? Com todas as pessoas que me relacionei? É que elas queiram me transformar em uma dona de casa submissa.

ANDREA - Okay, ninguém jamais poderia fazer isso, certo? Eu prometo, seria mais fácil colocar sua cabeça em uma torradeira do que transformar você em alguém submissa.

Miranda ri e esfrega os olhos, Andrea senta abrindo espaço e Miranda senta ao seu lado. Toda a conversa assumiu um tom mais calmo.

MIRANDA - Eu nunca gostei de falar sobre meu primeiro casamento, mas você sabe por que eu me casei com Thomas? Eu estava quebrada naquele ano, sentia que havia algo com defeito dentro de mim, não foi um ano normal, eu não estava normal. Então ele estava lá, todo protetivo e preocupado. Eu me apeguei a ele por ser o único que sabia dos meus problemas, e ele me aceitava mesmo toda deprimida. E de todos os homens com quem dormi, ele havia sido o único a me tratar com respeito e carinho, mesmo sendo algo casual, sem paixão. Esse medo de me submeter a um homem não existia com ele, era o contrário. Ele cozinhava para mim, limpava e arrumava o que sujava. Eu sempre me surpreendia com isso, já que meu pai não lavava o próprio prato.

Ela olha para Andrea, que escuta atentamente suas palavras.

MIRANDA - Acho que não me recuperei desde o parto. Quando Lolly nasceu, eu não tinha ideia do que fazer. Com Caroline e Cassidy foi mais fácil, o pai delas deixou o trabalho para ficar com elas nos primeiros anos. As pessoas esperam que as mulheres tenham instintos maternais que entrem em ação, como uma babuína. Mas eu não tinha ideia de como fazer nada com mais duas crianças precisando de mim. Na primeira vez, com a gêmeas, eu tive tanta ajuda, que com Lolly eu não quis terceirizar meu papel de mãe. Eu as amava muito, mas estava fazendo tudo errado com as três. E você estava ausente com tanta frequência, me ligando, perguntando como foi meu dia, e eu não conseguia nem dizer isso para você porque me sentia muito envergonhada de ser tão sem noção.

ANDREA - Olha, acho que você foi ótima.

MIRANDA - Não, não acha.

ANDREA - Não, você foi. Bem, você fez um bom trabalho fingindo, então. Eu deveria estar lá, eu sei. Não deveria esperar que você pedisse ajuda.

Antes Da Meia-Noite (Intersexual - Mirandy)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora