O que fazer quando sua vida está de pernas pro ar?
Camila Díaz tem uma vida muito boa, com um bom emprego, um namorado afetuoso e um melhor amigo com quem pode contar pra tudo. Porém, um dia sua vida vira, literalmente, de pernas pro ar!
S...
Eu sabia que deveria ter voltado pra casa. Parecia que meu corpo e o universo estavam me avisando que algo muito ruim iria acontecer, mas não dei ouvidos e segui o dia sentindo aquela sensação estranha no peito. Se eu soubesse... ah se eu soubesse! Minha vida estava prestes a virar de cabeça pra baixo e não havia nada que eu pudesse fazer.
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— Silêncio! — peço pela segunda vez em menos de 10 minutos. Seguro firme a ponte do nariz, com o polegar e indicador, e fecho os olhos, respirando fundo em seguida. Meu Deus, essa dor de cabeça não vai passar nunca? Expiro com força e quando abro os olhos, 23 crianças estão me encarando.
— Agora, peguem seus livros e abram na página 16. — digo com a voz firme e me viro de frente para o quadro negro. Escrevo o número da página com o giz e volto para minha mesa.
Agora você me pergunta: "Por que escrever se você já falou o número da página pra eles?" Se você se perguntou isso, provavelmente você nunca lidou com crianças. Devo dizer que você é uma pessoa muito, mas muito sortuda.
Eu sempre escrevo porque não importa quantas vezes eu diga, sempre, SEMPRE vai ter alguém que vai perguntar: "Que página mesmo, professora?''. E são nesses momentos que eu me questiono o porquê de ter escolhido essa profissão.
— Qual página, prof?
Respiro fundo. A porcaria do número está desenhado tão grande que até as pessoas que passam lá embaixo na calçada conseguiriam ler. Será que perguntam só pra me tirar do sério?
— Está ali no quadro, Ian. — respondo apontando para o quadro na parede.
— Tá cego, Ian? — Sofia pergunta com deboche, sentada em sua carteira ao lado do colega.
— Cala boca! — ele grita com raiva.
— Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu! — ela retruca muito rápido e mostra a língua para ele.
Os dois agora se encaram com ódio nos olhos e os braços cruzados na frente do peito. Alguns colegas também observam a cena e involuntariamente um sorriso brota em meu rosto.
— Muito bem, muito bem. Agora já chega! — digo sorrindo e os dois viram pra frente com as expressões carrancudas. — Já abriram seus livros? — pergunto e todos assentem com a cabeça. Com tudo pronto, inicio a aula.
— Nós vamos ler juntos o texto ''Mumuru - A Estrela dos Lagos". A leitura vai começar pelo Lucas na primeira fileira e ele vai parar de ler quando aparecer um ponto final. Todos vocês irão fazer assim. Quando terminar de ler, o próximo da fila continua. Ok? — Todos assentiram. Indiquei com a mão que o primeiro começasse a leitura e me levantei.
