Temporizador de corações quebrados em uma vida (inteiramente) vazia.

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O aparelho de barbear desliza pelo meu rosto lentamente, mesmo sempre tendo paradas para passar mais creme, sem puxar meu rosto ou correr o risco de me cortar. Tento lembrar de algo, mas falho logo no início. Quando a espuma se dissipa, restando apenas pequenos traços brancos mal desenhados, recuo para trás. Vejo no espelho o reflexo de meu corpo magro, minhas olheiras profundas e meus olhos com uma cor verde tão sem graça.

Abaixo o olhar e observo minhas pernas. Gotejando a água. Minha coxa tem lesões e cortes tão finos, que não chego de fato a sentir a dor.

É, talvez ela mereça uma resposta.

...

A mesa do meio acaba sendo levada - o que sobrou dela: basicamente. O gerente veio e deixou uma conta – exorbitante demais - informando certas coisas e tentando entender o motivo de eu ter quebrado a. Não poderia dizer "Estava pensando em uma garota e simplesmente caí em cima da mesa. Ah, estava totalmente bêbado e sem noção de nada ao meu redor. Também é bom anotar que ela me deixou sozinho aqui, com a conta". Ele automaticamente pensaria que estava me divertindo sozinho e caí. Infelizmente, minha desculpa foi pior ainda. Inclusive para um mentiroso como eu.

- Eu estava tentando fazer umas coisas. Com uma pessoa.

O cara balançou o pescoço e enrugou a testa e finalmente percebi que ele é novo demais para ter esse cargo. Ele não tinha cara de velho, as roupas o deixavam assim, eu acho.

- Sr. Styles...

- Uma mulher. - Finalizei minha mentira e mantive o olhar fixo.

- Sr. Styles, era apenas uma pergunta para a direção do hotel e para preparar toda a papelada que você irá assinar. Quando fizer o cheque, voltarei aqui com essa pequena papelada. totalmente sigilosa.

- Faça com o cartão registrado. Pode ser?

- Sim... Vou me retirar, mais tarde traremos outra.

Apenas sorri e vi o homem mais arrumado em mais de um mês sair para longe, de cabeça baixa com um sorriso terno no rosto.

Meus machucados ainda sangram e minha calça só fica mais suja ainda. Assim como todo início, tive que jogar coisas velhas fora. Limpei todo o quarto, tirei toda a bebida, joguei-as por ralo abaixo, abri as cortinas, joguei o CD dela pela janela, troquei todas as minhas roupas - aproveitei que a lavanderia estava vazia e botei uma música super alta e as lavei -, pedi cinco buquês de flores e espalhei pelo quarto todo, chamei o serviço de quarto e pedi metade do cardápio - comi sorvete de menta como nunca - e comprei diversos cremes para a pele, passei todos e me joguei na cama. Onde ainda permaneço.

O alarme do meu celular toca fazendo eu lembrar que é a hora de eu aparecer no encontro com Taylor. Pego-o e atiro-o pela janela. Ele se estilhaça fazendo todo o chão ao seu redor ficar cheio de fragmentos da tela vidro. Todos que passam na rua, olham para o prédio, procurando de janela em janela, um rosto para culpar, quando todos eles me acham aqui em cima, grito.

- Bom dia! Usem máscara e por favor: se afastem!

Volto para dentro e sorrio quando me surpreendo ao ver a pessoa mais indesejada no momento, parada ali com um vestido de festa.

- Você realmente não tem culhões, Styles. As lojas estão praticamente todas fechadas. Onde vai comprar outro?

Sinto meu creme facial se craquelando ao tentar falar.

- Posso pedir pela internet. Ou coisa do tipo, sabia?

- Agora parece um Harry que eu já ouvi falar no qual eu não gosto nem um pouco, muito menos viveria com ele: raivoso, chato e nada tímido. Cadê o Harry que cora por tudo?

31 de 1989Onde as histórias ganham vida. Descobre agora