Capítulo 2: Estrelas e faíscas

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Jude ☕


19 de julho

As primeiras notas de Blur, da MØ, me acordam. Me espreguiço enquanto ouço um pouco mais da música.

In to the bad bad moon tonigth...

Com os olhos semiabertos, me levanto sem pressa, indo ao banheiro no ritmo da música, e... bato de cara na parede.

É claro.

Esqueci de um pequeno detalhe. Não estou exatamente "em casa".

Esse era o meu plano A, assim que saí do Tony's lá pela meia-noite (demorei mais pois pedi um petit gatto; uma banana split; e um misto quente para comer no café – ei, não me julgue, terminei um relacionamento de três anos ontem!) e entrei no meu carro.

Assim que eu pus a chave na ignição, percebi que não poderia ir para minha casa, porque aluguei-a faz uns dois anos, e o morador ainda está lá. Não seria agradável para nenhum dos dois nos encontrarmos.

Então fui para o meu lugar favorito: o Café Lírico. E foi assim que eu acabei no chão da despensa.

Como só preciso abrir o Café lá pelas oito horas, para o café-da-manhã, aproveito para fazer minhas coisas com calma. Visto meu uniforme e me penteio no pequeno banheiro, fazendo meu penteado favorito, cabelo meio preso com dois coques em cima, enquanto murmuro o finalzinho da música.

Quando acabo, já está no final da quarta música. Mentalmente vou assinalando o que já fiz para organizar a cabeça.

Organizei o caixa;
arrumei as mesas;
limpei o balcão;
pus os doces e salgados pré preparados para assar;
coloquei os poucos livros de volta na estante;
destranquei a porta e, por fim, virei a plaquinha de FECHADO para ABERTO.

Trinta e dois minutos depois, saio para descansar um pouquinho, antes de ter que voltar a atender algum dos quatro clientes que já estão lá dentro. Em seguida vejo meus dois ajudantes batendo a porta do carro e correndo pela rua, e um Liam de quase 1, 87 tropeçando na própria perna.

— Estão atrasados.

Não costumo ficar irritada tão facilmente por atrasos, já que não me incomodo tanto de trabalhar sozinha, mas eles já sabem que preciso deles em três horários (no café, no almoço, e no jantar), pois é quando o lugar fica mais cheio.

Não fazemos comida, e sim doces, bebidas e salgados, e assim nos tornamos famosos por nossas sobremesas, por isso os clientes costumam vir aqui depois de almoçar e jantar, principalmente.

E também alugamos livros e computadores, em um espaço e estantes reservados só para isso.

O Café Lírico é meu, e sempre foi meu sonho tê-lo, desde os meus dezesseis. E agora, finalmente, eu consegui conquistá-lo.

— Sim, sim, eu já sei, desculpe.

Diz com o elástico de cabelo na boca enquanto faz um meio coque. Sigo-os até a cozinha, e os observo lavar as mãos, vestir o avental e pôr a touca.

— Sinto muito mesmo, eu precisei cuidar dos gêmeos da vizinha no final de semana, e isso me deixou exausta. Ainda por cima, descobri tarde demais que um dos pestinhas tinha desligado meu alarme. Nunca mais deixo eles jogarem no meu celular.

Taryn, minha irmã gêmea mais nova, conta. Reparo bem nela: resquícios de maquiagem borrada. Parece proposital, coisa de revista de moda. Seu cabelo, mesmo estando despenteado e num rabo de cavalo feito às pressas, está hidratado e brilhoso, como se recém saído de um salão. Taryn é linda. Mesmo que sejamos, em teoria, idênticas, nunca nos achei muito parecidas.

O que tem para o café? | Cruel PrinceWhere stories live. Discover now