𝖙𝖍𝖊 𝖗𝖆𝖎𝖓 𝖆𝖓𝖉 𝖙𝖍𝖊 𝖘𝖚𝖓.

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Após empilhar mais três livros velhos sobre o parapeito da janela, sinto a vidraça tremeluzir suavemente diante do trovão distante que rugiu entre as nuvens do céu cinzento

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Após empilhar mais três livros velhos sobre o parapeito da janela, sinto a vidraça tremeluzir suavemente diante do trovão distante que rugiu entre as nuvens do céu cinzento. Aquela seria a primeira chuva em meses, uma abertura feliz de primavera. Já consigo ver as folhas do ipê ganharem vida do lado de fora, colorindo a rua tristonha de prédios melancólicos de esperança, enchendo a estrada vazia de pequeninos pontinhos de ouro. Um toque suave em meus ombros me desperta para o segundo que flutua nos espaços em branco do relógio. Aprendi a valorizar cada instante, cada sopro de vida em minhas veias. E ele estava ali, dedilhando pontos aleatórios dos meus braços com carinho ao mesmo tempo que mergulha o rosto nas ondas macias e recém-lavadas de meus cabelos.

Sinto seus lábios se curvarem em um sorriso contra minha pele quando capturo seus dedos com os meus, acariciando a palma de suas mãos antes de a entrelaçar com a mimha. Os primeiros pingos de chuva escorrem preguiçosamente pela vidraça, lavando a poeira da poluição para a tubulação que deságua no fim da rua. Felix apoia o queixo em um de meus ombros, assistindo a chuva varrer a calçada solitária.

— Você se lembra daquela promessa? — sua voz soa melosa, um tanto animada, bem pertinho do meu ouvido.

Sem que eu perceba, um sorriso me escapa, puxando meus lábios para cima.

— Como eu poderia esquecer?

Felix me vira para si, estudando meu sorriso, meus olhos, minhas mãos nas suas. Não imaginava ser tão clichê até estar deixando os chinelos em um canto da sala para correr para fora do apartamento, de mãos dadas com o garoto mais lindo do mundo inteiro, respirando suavemente ao sentir os pingos gelados da chuva em contado com a pele descoberta de meus braços. Raios de sol transpassavam as nuvens, fazendo com que parecesse estar chovendo fios de ouro, estrelas celestiais feitas de água.

Estou nos braços de Felix antes mesmo de assistir o arco-íris pintar o céu, tão perto que suas sardas reluziam sob as gotículas que deslizavam sobre suas bochechas. Acaricio seu rosto, afastando alguns fios loiros de seus olhos antes de conectar meus lábios nos seus, quentes e macios, salpicados de chuva de primavera. Suas mãos me acolhem, rodeando minha cintura enquanto seu beijo calmo me envolve em uma bolha de amor inquebrável de garoa fresca e luz do sol.

O beijo acaba em um ponto e vírgula de selinhos doces e meios-sorrisos brilhantes, e sinto que estou vivendo em uma cena de filme, mesmo que por apenas alguns minutos, somos as estrelas principais. Fico na ponta dos pés para olhá-lo melhor sob a paisagem primaveril de uma tarde de sábado à toa, desejando que aquele momento jamais acabasse, para que eu pudesse viver ali para sempre. Eu, ele, a chuva e o sol.


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