Capítulo 43 - Luta pela consciência

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Exatamente no mesmo momento que pensou em estar sendo usado, algo aconteceu dentro do sonho. O assassino, que antes estava com um olhar impiedoso, agora se encontrava de joelhos no chão e chorando feito uma criança que acabara de perder um doce. As lágrimas que escorriam dos olhos sangrentos de Hu Long eram iguais a de um humano qualquer. Salgadas e profundas. Sem pensar em quando parariam de deslizar.

O assassino juntou suas duas mãos, que agora tremiam e as pressionou em seus olhos, dizendo em um tom baixinho, quase imperceptível:

"Me desculpe... Me desculpe... Mas isso dói tanto..."

E assim, a cena mudou novamente. Depois daquelas palavras, o sonho se moveu para uma nova batalha, mas essa tinha uma característica completamente diferente do que a anterior: o Assassino de Olhos Sanguinários estava matando não apenas os inimigos, mas também os guerreiros de seu próprio clã, o clã Hong. Enquanto cortava os membros dos corpos dos guerreiros, Shaoran gritava, extremamente irritado com aquela atitude tão contraditória aos seus ideais. Porém, esses gritos não fizeram as vidas serem salvas.

No final, Hu Long havia matado perfeitamente 1.500 guerreiros do clã Hong, deixando apenas Hong Shaoran em pé, que o olhava sem reação.

"Você não pode mais me controlar, irmão", Hu Long murmurou, caminhando enquanto segurava a cabeça de um dos guerreiros. "Acha mesmo que eu, depois de tudo que me fizeram passar, deixarei esse clã limpo? Não. Eu matarei todos que ousaram ficar contra mim..."

Antes que o assassino pudesse terminar de dizer, Hong Shaoran abriu seu leque e em fração de segundos, um vento forte pressionou contra o corpo de Hu Long, deixando-o tonto e depois desacordado. Era como se Hong Shaoran tivesse utilizado uma grande força para parar seu irmão, sem ao menos se preocupar com a sua saúde e a de seu núcleo.

No final, a cena se distorceu novamente e Hu Long, ainda sonhando, sentiu seu corpo cair em um abismo. Quando suas costas bateram no chão, percebeu que estava exatamente na mesma cela na qual estava antes de cair nesse sonho profundo. A porta se abriu devagar e uma jovem entrou na prisão, indo em direção a um corpo quase imobilizado que se localizava no canto da parede.

Aquele era ele mesmo, mas em um estado aterrorizante. Mal entendia como estava vivo.

"A-Ran não me deixa vê-lo. Mas eu sei de tudo que está acontecendo, Hu Long", a mulher começou a dizer, ajeitando os cabelos que caíam no rosto do homem sujo e desnutrido. "Vamos. Deixe-me ajudá-lo a lembrar de tudo antes que..."

"Antes de que?", o assassino retrucou, cuspindo um pouco de sangue preto que aglomerava em sua garganta. "Não há mais salvação para mim. Eu sou apenas uma besta. Não deveria existir."

"Não diga isso. Eu venho todas as noites tentar ajudá-lo e já está desistindo? Não ouse fazer uma coisa dessas comigo, Hu Long", agora que a jovem continuava a dizer, Hu Long, que estava praticamente invisível dentro da cela, conseguia perceber de quem era aquela voz tão encantadora. Xia Ling. "Falta pouco para restaurar suas memórias por completo. Acredite em mim."

"Líder Hong diz que as memórias fazem mal a mim. Por que está indo contra as regras do líder Hong?"

"Porque...", Xia Ling olhou profundamente para os olhos machucados do assassino, que lutavam para ficarem abertos. "Não somos nada sem nosso passado, Hu Long."

Ela levantou sua mão esquerda e a pousou no lado esquerdo do peito do assassino que, ao sentir aquele atrito, pensou que a jovem estava querendo se matar por ter a ousadia de tocá-lo daquela maneira e sem um pingo de medo das consequências.

"O clã Hong... Machucou muito sua alma e seu corpo. Seu corpo, principalmente, foi bem danificado. Até mesmo sua doce voz. Bem... Usaram sua bondade e o manipularam. E também... Tiraram de sua memória a única coisa que o deixava com vontade de viver e ainda permanecer como humano", Xia Ling voltou a dizer, abrindo um sorriso fraco. "Quando você retornou, me contou um pouco sobre ele. Eu tinha certeza do quanto ele havia lhe marcado e de que nem os piores males do mundo o poderiam retirar de você."

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now