Leo não tinha tocado no seu café lotado de açúcar — como era de sua escolha —, nem roubado um pedaço do seu pretzel. Toda vez que Nina parava de falar, notava que ele apertava o botão da caneta sem folga, até que o barulho incomodasse e a fizesse perder toda a concentração.

Queria pedir que ele parasse, mas se sensibilizava toda vez que levantava o olhar e percebia as olheiras escuras embaixo dos olhos de Leo e as gotas de suor que começavam a umedecer seus cabelos. Seus lábios pareciam completamente sem sangue e não precisou encará-lo por muito tempo para perceber que ele tremia debaixo do moletom desnecessário para a temperatura ambiente.

— Você está bem? — questionou depois de algum tempo em silêncio, arqueando as sobrancelhas em direção a Leo. — Você está tremendo.

Leo engoliu em seco, passando a mão na testa para retirar as gotas de água que estavam ali. Forçou um sorriso, acenando com a cabeça algumas vezes antes de arrumar sua postura na cadeira.

Odiava hospitais.

Sabia que se confessasse a Nina — ou a qualquer outra pessoa — que estava sentindo uma dor infernal que irradiava por todo o seu tórax, passaria a noite com um acesso venoso na enfermaria do campus, como já acontecera outras vezes.

O jogo do final de semana tinha sido emocionante demais, para dizer o mínimo. Tinham segurado o empate até o terceiro período, quando finalmente Leo conseguiu mandar o puck para o fundo da rede do adversário.

Foi o suficiente para o time da casa entender que era o número doze que eles deviam marcar. Pouco tempo depois o jogo teve que ser parado nos seus momentos finais quando um adversário o endereçou uma cotovelada nada limpa na altura do capacete de proteção.

Leo nunca viu tanto sangue em sua vida. Teve que sair do gelo para que seu nariz parasse de sangrar e o time da Oak teve que terminar o jogo sem ele. Foi direto para seu quarto de hotel quando voltaram para onde estavam hospedados e ele passara quase uma hora completa apertando uma gaze no seu nariz para que o sangue parasse de manchar sua roupa.

Não se sentia bem desde então. Tivera uma péssima viagem de volta, um péssimo domingo e estava tendo uma péssima segunda. Sentia dor em todo seu corpo enquanto patinava, no treino que tivera algumas horas antes, mas não falou uma palavra sobre isso quando o treinador o encurralou e pediu que ele ficasse mais um tempo no gelo.

Não podia demonstrar fraqueza. Não naquela altura do campeonato.

— Devo ter comido algo que me fez mal ou qualquer coisa assim — respondeu, sentindo os lábios tremerem enquanto falava. — Acho que é melhor terminarmos a matéria outro dia.

Estava quase vendo dobrado naquela altura. Sentia que seu corpo fervia e não era de forma satisfatória. Por vezes tentou se concentrar na voz de Nina que chegava aos seus ouvidos, mas todos seus sentidos pareciam diminuídos. O nó na sua garganta e o enjoo que crescia no seu estômago juntos formavam a pior sensação que ele tivera em anos.

— Onde infernos você acha que vai? — Nina perguntou assim que percebeu Leo titubear ao se levantar de uma só vez. Rezou para que ele não caísse na sua frente ou não saberia de onde tiraria forças para levantá-lo.

— Não acho que vou ser útil hoje. Vou para casa, dormir um pouco. Só devo estar... Cansado.

Nenhuma das suas palavras soaram reais. Nina sabia exatamente como cansaço se parecia — já tinha passado mais de quarenta e oito horas acordada — e não era nada perto do que via na frente dos seus olhos.

— Não vou deixar você dirigir assim — o interrompeu, segurando em seu braço. — Você não vai a lugar nenhum.

— É fofo ver você se importando. Mas eu juro que posso me cuidar, Houston.

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